GEORGE FORMBY

maio 24, 2010

“Eu não era bom, mas as pessoas parece que gostavam de mim”, exclamou George Formby e durante muitos anos  ele foi o astro mais popular do cinema britânico e um dos mais bem pagos.

Formby, cujo verdadeiro nome era George Hoy Booth, nasceu em Wigan, Lancashire em 26 de maio de 1904 . Seu pai, George Formy, Sr. (James Booth), cujo nome artístico foi inspirado pela cidade de Formby em Lancashire, havia sido um dos grandes artistas do music-hall de sua época. Formby, Sr, que não queria que seu filho nem sequer assistisse às suas representações, mudou-se com a família para Hindley, perto de Wigan. Em Hindley Formby Jr. aprendeu a profissão de jóquei, estreando nos prados aos dez anos de idade. Posteriormente, a família transferiu-se para Warrington e ali Formby, Jr. iniciou sua carreira no ramo do entretenimento.

Quando o pai faleceu em 1921, Formby abandonou o ofício de jóquei e iniciou sua própria trajetória no music hall. Em 1924, ele se casou com a dançarina Beryl Ingham e ela passou a gerenciar a carreira do comediante.

Formby cativou o público com o seu humor insolente e sua simpatia, personificando um rapaz modesto, propenso a sofrer acidentes, que tentava vencer em várias atividades (como, digamos, ciclista ou jóquei). Apesar de todas as expectativas em contrário, ele atingia sempre os seus objetivos, conquistando inclusive o coração de uma jovem invariavelmente assediada por um patife.

Entretanto, Formby se distinguia mais interpretando canções cômicas muito agradáveis, cheias de duplo sentido, acompanhando-se no banjolele, para o qual ele desenvolveu um estilo musical muito sincopado, a sua marca registrada.  Vale registrar que o conteúdo sexual malicioso de algumas de suas canções era neutralizado pelo seu ar inocente, seu sorriso dentuço e sotaque nasal típico de Lancashire.

Por outro lado, as narrativas simples e despretenciosas eram habilmente entremeadas com as canções, estabelecendo-se um equilíbrio perfeito entre as cenas de comédia rasgada e as cenas de ação. As cenas de amor, com parceiras como Phyllis Calvert, Dinah Sheridan, Linden Travis, Kay Walsh e Googie Withers eram, segundo consta, controladas cronometricamente pela sempre vigilante Beryl, que contracenou com o marido em Boots!, Boots! / 1934 e Off the Dole / 1935. Infelizmente o vício da bebida, contraído por sua falecida esposa, foi aos poucos corroendo o seu matrimônio.

Outra característica dos filmes de Formby eram os jargões que ele dizia durante o desenrolar das histórias. O mais famoso foi sem dúvida “Turned out Nice Again!” (Tudo acabou Bem!”) dito geralmente na primeira ou na última cena de cada filme. Formby costumava também exclamar: “Haha! Never touched me!” (Haha! Você não me pegou!”, após ter levado uma surra ou sofrido um acidente e “Ooh, mother!”, quando escapava de uma  encrenca.

Formby vinha gravando discos para o Gramofone desde 1926; seu primeiro sucesso ocorreu em 1932 com a Jack Hilton Band e seu filme de estréia, Boots!, Boots! em 1934. O espetáculo teve um grande êxito e ele assinou contrato para fazer mais onze com a Associated Talking Pictures, o que lhe proporcionou a renda então astronômica de cem mil libras por ano. Entre 1934 e 1945, Formby era o maior comediante do cinema britânico e, no auge de sua popularidade (1939, quando foi apontado como o astro número um de todos os gêneros), seu filme Let George Do It foi exportado para a América. Embora seus filmes sempre tivessem uma boa acolhida na Grã Bretanha e no Canadá, eles nunca “pegaram” nos Estados Unidos. Os seus últimos sete filmes, de  O Palhaço faz o Artista / South American George / 1941 a George in Civvy Street / 1946 foram produzidos pela Columbia Pictures e, aparentemente, não lançados por ela nos Estados Unidos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Formby prestou relevante serviço para a Entertainments National Service Association (ENSA) divertindo as tropas na Europa e no Norte da África. Seu filme mais popular e até hoje considerado como seu melhor trabalho, foi a comédia de espionagem, Let George Do It, no qual ele é um músico confundido durante um blecaute com um agente secreto, que é contratado para tocar banjolele na orquestra do navio, no qual entrara por engano. O músico vai parar na Noruega, onde acaba desbaratando um bando de espiões nazistas, que enviam mensagens em código através do rádio enquanto a orquestra está se apresentando. Uma seqüência de sonho na qual ele dá um sôco no nariz de Hitler é um dos momentos mais engraçados da comédia cinematográfica.

Formby sofreu seu primeiro ataque cardíaco em 1952. Sua esposa Beryl morreu de leucemia em 1960. Formby planejava casar-se com Pat Howson, uma professora vinte anos mais nova do que ele, na primavera de 1961, mas teve um outro ataque de coração e faleceu no hospital em 6 de março de 1961 aos 56 anos de idade.

Eu não conhecia os filmes de Formby, até que saiu em dvd uma caixa contendo sete dvds (No Limit / 1936, It’s in the Air / 1938, I See Ice / 1939, Come on George / 1939, Let George Do It / 1940, Tudo Acabou Bem / Turned Out Nice Again / 1941, Spare a Copper / 1941), imediatamente comprada por este fã de cinema, que lhes fala.

Para mim, além de Let George Do It, as melhores das sete comédias da caixa Formby são No Limit, It’s in the Air e Come on George.

Em No Limit George é um limpador de chaminés que constrói sua própria motocicleta e entra numa conhecida competição de ciclismo na Ilha de Mann. O clímax do filme ocorre quando o jovem amador está na reta final e fica sem gasolina. Estimulado pelo incentivo da multidão que assiste à corrida, ele empurra a motocicleta pelos derradeiros 50 metros até a linha de chegada, ultrapassando-a poucos segundos antes de seu rival anti-esportista passar por ele a toda velocidade.

Come on George mostra George como um vendedor de sorvetes na pista de corridas de cavalos. Ele eventualmente acalma um cavalo até então indomável e em conseqüência arruma emprego como cavalariço. Ele acaba montando o cavalo – um papel feito sob medida para o ex-joquei – e vencendo o grande prêmio numa corrida muito engraçada e excitante.

No enredo de It’s in the Air George sonha em ser piloto da RAF, mas não consegue nem ser admitido para servir na Defesa Civil. Depois de uma trapalhada no posto de recrutamente, George não resiste e veste o uniforme do namorado de sua irmã, que é piloto mensageiro da Força Aérea.Britânica. Num dos bolsos do uniforme George encontra uma correspondência oficial classificada como urgente e resolve entregá-la ele mesmo às autoridades. No decorrer dos acontecimentos George se vê dentro de um avião sem piloto, que, descontrolado, faz incríveis piruetas no ar. Finalmente, não se sabe como, o avião aterrissa, George é levado à presença do Comandante e este, impressionado com a suposta perícia do aviador, anuncia que George será aceito como piloto da RAF. Porém, na cena seguinte, vemos George no palco de um teatro, pilotando um avião de brinquedo e cantando uma das suas canções.

São, de fato, histórias típicas de baixa comédia, tantas vezes repetidas em filmes com outros cômicos, porém muito divertidas e movimentadas, constituindo-se num bom passatempo e numa mensagem de otimismo principalmente naqueles dias dolorosos para a Inglaterra.

2 Responses to “GEORGE FORMBY”

  1. Realmente Fromby foi um achado. Agora, quais seriam os verdadeiros motivos para os filmes não terem êxito nos Estados unidos? Seria a má distribuição, ou o medo de mais um concorrente para os comediantes norte-americanos? Não me vem à memória nenhum comediante estrangeiro que tenha feito sucesso, como protagonista, na época áurea do cinema dos Estados Unidos.

  2. Houve, de fato, uma má distribuição dos filmes de Formby por causa da Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, nesta mesma época, havia vários comediantes fazendo muito sucesso de público nos EUA como Abbott e Costello, Danny Kaye, Bob Hope e Red Skelton. Com o seu sotaque de Lancashire e tipo de humor associado com o pessoal do norte da Inglaterra, Formby não resistiu à forte oncorrência americana.

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