JAMES CAGNEY II

maio 7, 2013

Durante o período em que James Cagney esteve afastado da Warner, seu irmão William estava preparando a volta do ator ao grande estúdio com melhores condições de trabalho e um aumento de salário robusto de salário.

Seu primeiro filme neste novo retorno foi Comprando Barulho / Boy Meets Girl / 1938 (Dir: Lloyd Bacon), contando as maluquices de dois roteiristas Robert Law (James Cagney) e J.C. Benson (Pat O’Brien), que levam ao desespêro o responsável pelo estúdio (Ralph Bellamy) e um vaidoso astro dos filmes de faroeste (Dick Foran). Eles criam um papel para o filho de uma garçonete (Marie Wilson) e a criança se torna uma sensação, roubando as cenas do galã. Cagney e O’Brien ocuparam o lugar antes reservado para a dupla Olsen e Johnson e tiveram atuações impagáveis nesta comédia satírica de andamento ligeiríssimo.

No mesmo ano, Cagney brindou o público com uma de suas performances mais perfeitas (pondo todo o corpo para representar) em um clássico do filme de gângster, Os Anjos De Cara Suja / Angels With Dirty Faces / 1938, narrado naquele modo de exposição cinematográfica exuberante de Michael Curtiz – o ritmo e as sombras controladas por Sol Polito, assumindo particular relêvo.

Na trama, o gângster Rocky Sullivan (James Cagney) retorna ao bairro onde nasceu e verifica que é idolatrado pelos jovens delinquentes do lugar (Leo Gorcey, Huntz Hall, Bobby Jordan, Billy Halop, Bernard Jordan, Gabriel Dell). A influência de Rocky não agrada ao padre Connelly (Pat O’Brien), seu amigo de infância, que inicia uma verdadeira cruzada contra o criminoso. Depois de acertar contas com os antigos sócios (Humphrey Bogart, George Bancroft), Rocky é preso e condenado à cadeira elétrica. O padre pede-lhe que destrua a adoração nefasta dos rapazes pela sua pessoa. Rocky a princípio recusa mas, na hora da execução, pratica um gesto nobre, fingindo acovardar-se.

Cagney conquistou o prêmio dos críticos de Nova York e recebeu a sua primeira indicação para o Oscar, perdendo para Spencer Tracy pelo seu Padre Flanagan em Com Os Braços Abertos / Boys Town / 1938.

Antes de ser indicado novamente para o prêmio da Academia, Cagney participou de nove filmes: A Lei Do Mais Forte / The Oklahoma Kid / 1939 (Dir: Lloyd Bacon), A Morte Me Persegue / Each Dawn I Die / 1939 (Dir: William Keighley), Heróis Esquecidos / The Roaring Twenties / 1939 (Dir: Raoul Walsh), Regimento Heróico / The Fighting 69th / 1940 (Dir: William Keighley), Zona Tórrida / Torrid Zone / 1940 (Dir: William Keighley), Dois Contra uma Cidade Inteira / City for Conquest / 1941 (Dir: Anatole Litvak), Uma Loura Com Açucar / The Strawberry Blonde / 1941 (Dir: Raoul Walsh), A Noiva Caiu Do Céu / The Bride Came C.O. D. / 1941 (Dir: William Keighley) e Capitão Das Nuvens / Captain Of The Clouds / 1941 (Dir: Michael Curtiz).

A Lei Do Mais Forte mostra Cagney como Jim Kincaid, conhecido como “Oklahoma Kid. Ele faz a sua própria lei, roubando dos ricos para dar aos pobres e vinga a honra da família, matando o líder (Humphrey Bogart) do bando que linchara seu pai. Cagney não deu sorte nesta sua primeira intervenção no faroeste. O filme tem ação, mas é ridículo e cheio de clichês.

Em A Morte Me Persegue vemos Cagney como Frank Ross, um repórter condenado  injustamente, que faz amizade na prisão com Hood Stacey, um ex-chefão do submundo (George Raft) e os dois planejam a fuga. A Warner pôs George Raft (depois de cogitados John Garfield e Fred Mac Murray) ao lado de Cagney, tentando formar uma dupla de sucesso. Entretanto, os atores nunca mais fariam outro filme juntos.

Heróis Esquecidos gira em torno da vida de três soldados, Eddie Barlett (James Cagney), George Hally (Humphrey Bogart) e Lloyd Hart (Jeffrey Lynn), que retornam da Primeira Guerra Mundial. Eddie torna-se traficante de bebidas, apaixona-se por uma jovem corista, Jean (Priscilla Lane) e a emprega em uma boate, graças à sua amiga Panama Smith (Gladys George). Posteriormente, associa-se a George e vem a descobrir que Jean ama Lloyd. Com a crise de 1929, Eddie se arruína. Tempos depois,  Jean procura-o, implorando-lhe que convença George a não matar Lloyd, que se fizera promotor e iria acusá-lo de vários delitos. Eddie mata George, mas também é ferido e morre em plena rua nos braços de Panama.

Raoul Walsh reconstiui com rara felicidade dez anos de vida americana naquela sua maneira de dizer tudo sinteticamente e Cagney tem um desempenho magistral, sublinhado pelos seus célebres maneirismos de gângster. Quando, anos depois, o ator Dick Wesson, que o estava imitando, lhe pediu para explicar como criou aquele maneirismo em que puxa as calças com os punhos cerrados, ele abriu seu paletó e disse: “Simples. Não uso cinto”.

Em Regimento Heróico, Cagney é o irlandês Jerry Plunkett que, durante a Primeira Guerra Mundial, se alista no 69º Regimento. A princípio, não se adapta e demonstra covardia em combate. Depois, com o auxílio espiritual do capelão, Padre Duffy (Pat O’Brien), encontra a fé e morre heroicamente. Apesar dos feitos heroicos providos pelo entrecho soarem falso, esse drama de militarismo patriótico, focalizando o famoso regimento de Nova York composto de imigrantes irlandêses, vale pelas cenas de batalha e pela interpretação de Cagney e O’Brien.

Zona Tórrida tem como local de ação a América Central, onde o dono de uma plantação de bananas, Steve Case (Pat O’Brien) usa uma atriz fracassada, Lee Donley (Ann Sheridan), para persuadir seu ex-capataz Nick Butler (James Cagney), a voltar ao emprego e ajudá-lo  na colheita, enfrentando os bandidos da região. Foi o último filme de Cagney com Pat O’Brien, enriquecido pelas piadinhas sarcásticas da “oomph girl”.

A trama de Dois Contra Uma Cidade Inteira é esquematizada, mas foi bem tratada cinematograficamente. Para impressionar a namorada (Ann Sheridan), Danny  Kenny, chofer de caminhão, vira um pugilista; porém ela parte em uma excursão com um dançarino (Anthony Quinn). Danny fica cego em uma luta, passa a vender jornais para sobreviver e encoraja o irmão (Arthur Kennedy) a realizar seu sonho de se tornar um compositor erudito.

Segundo consta, Cagney ficou desapontado com o filme, porque achou que na montagem foram extirpadas as melhores cenas, a fim de que fosse realçado o sentimentalismo do roteiro. Elia  “Gadge” Kazan aparece como ator no papel de Googi, um gângster amigo de Danny.

Uma Loura Com Açucar transcorre no princípio do século XX. Biff  Grimes (James Cagney) ambiciona formar-se em odontologia e se apaixona por uma bela garota, Virginia (Rita Hayworth); mas ela foge com seu amigo Barnstead (Jack Carson), que enriquecera. Biff casa-se com Ann (Olivia de Havilland) e Barnstead convida-o para trabalhar na sua firma, envolvendo-o em um acidente. Biff vai preso, tira seu diploma por correspondência e, ao sair da cadeia, abre um consultório. Apesar de viver feliz com Ann, ainda nutre uma paixão por Virginia; porém quando revê o casal Barnstead, compreende que se casou com uma moça muito melhor e resolve esquecer tudo.

Esta comédia sentimental e nostálgica, foi dirigida com boa percepção de época, interessante pintura de tipos e a maravilhosa simplicidade narrativa de Raoul Walsh, que extraiu de Cagney e de todo o elenco atuações humanas e convincentes.

Em A Noiva Caiu Do Céu, o locutor de rádio Steve Collins  (James Cagney) rapta uma herdeira, Joan Winfield (Bette Davis), que fugira de casa para se casar com um band-leader (Jack Carson) e pede ao seu rico papai uma recompensa para devolvê-la … solteirinha. Protagonizando uma história comum, Cagney e Bette mostram sua versatilidade na comédia. Entretanto, Bette não gostava do filme e Cagney disse que não o assistiu depois de pronto.

Capitão Das Nuvens, focaliza um dos pilotos da Força Aérea Canadense, Brian MacLane (James Cagney), que se rebela contra a rígida disciplina e depois prova sua bravura em uma perigosa missão. Foi o primeiro filme de Cagney em Technicolor e um tributo à FAC. Os verdadeiros astros são os fotógrafos em terra (Sol Polito, Wilfred M. Cline) e no ar (Elmer Dyer, Charles Marshall, Winton C. Hoch). Polito e Cline foram indicados para o Oscar.

No verão de 1940, Cagney soube por um repórter que estava sendo apontado, juntamente com outras celebridades do cinema, como simpatizante do Partido Comunista. Diante desta notícia, ele convocou uma reunião com os jornalistas, para declarar que era um democrata e que aquela acusação provavelmente derivou do fato dele ter doado uma ambulância para a American Abraham Lincoln Brigade, que lutava pelos Legalistas na Espanha e por ter contribuído para o fundo de socorro social de alguns colhedores de algodão famintos em Salinas, anos atrás. “Olhem, eu pertenço ao Screen Actors Guild e nós somos um sindicato trabalhista. Eu estava tentando ajudar alguns trabalhadores”, ele disse.

No dia seguinte, Cagney compareceu perante o Dies Committee, que estava investigando as atividades comunistas entre o pessoal de Hollywood, para contar a mesma história e Dies acreditou na veracidade de sua declaração.

Para dissipar a impressão causada por esse incidente, nada melhor do que fazer um musical sobre o maior patriota do show business: George M. Cohan. Este queria ver a história de sua vida filmada e procurou vários estúdios, entre eles o de Samuel Goldwyn, que submeteu a idéia a Fred Astaire; mas este achou que o papel não era para ele. Finalmente, Cohan e a Warner escolheram Cagney e o resultado foi sensacional.

Na cinebiografia, Cohan (James Cagney) é chamado à Casa Branca e, animado com a acolhida calorosa do Presidente, narra sua vida desde os primeiros dias, em que formava com os pais (Walter Huston, Rosemary de Camp) e a irmã (Jeanne Cagney) um quarteto de canto e dança, “The Four Cohans”, no vaudeville. No final de cada apresentação, Cohan – Cagney  dizia aquelas palavras que se tornaram antológicas: “My mother thanks you, my father thanks you, my sister thanks you and I thank you”.

O ator recordaria: “Psicologicamente não precisei de preparação para A Canção Da Vitória / Yankee Doodle Dandy / 1942 nem profissionalmente. Não precisei fingir que era um cantor e dançarino, pois é isso que sempre fui”. A fim de imitar perfeitamente o estilo do biografado, Cagney recorreu ao dançarino Johnny Boyle – seu ídolo – , que havia feito coreografias para Cohan e conhecia o seu jeito de dançar e, sob sua orientação, teve um desempenho extraordinário. Cagney adorava o papel  “porque era show business americano de verdade” e sempre o considerou  seu favorito. A Academia ratificou a escolha, outorgando-lhe o Oscar de Melhor Ator e, ainda hoje o filme agrada intensamente.

Em 30 de março de 1942, William Cagney anunciou para a imprensa especializada que ele e seu irmão haviam fundado a William Cagney Productions Inc., para fazer seus próprios filmes, que seriam financiados pelo Bankers Trust de Nova York e distribuídos pela United Artists.

A firma dos Cagney produziu apenas três filmes: Sempre Um Cavalheiro / Johnny Come Lately / 1943 (Dir: William K. Howard), Sangue Sobre O Sol / Blood On The Sun / 1945 (Dir: Frank Lloyd) e Um Momento Em Cada Vida / The Time of Your Life / 1948 (Dir: H.C. Potter). No primeiro filme, cuja ação transcorre no século XIX, Cagney é Tom Richards, jornalista itinerante, leitor apaixonado de Charles Dickens, que é preso por vadiagem. Libertado sob a custódia de uma velha senhora (Grace George), editora de um jornal, ele a ajuda a desmascarar os políticos corruptos do lugar. No segundo filme, Cagney é Nick Condon, editor americano de um jornal de Tóquio nos anos trinta (e bom lutador de judô) que revela um plano militar japonês para a conquista do mundo e luta com todas as suas forças para impedí-lo de concretizar-se. No terceiro filme, baseado em uma estranha fantasia filosófica de William Saroyan, Cagney é Joe, ricaço alcoólatra  e amável, que estimula um grupo de excêntricos frequentadores de um bar de San Francisco, a realizarem seus sonhos.  Sangue Sob o Sol tem seus atrativos como filme de ação, porém quanto aos outros dois, apesar dos bons propósitos de seus realizadores, faltou inspiração artística, resultando espetáculos frustrados.

Nenhum dos três foi melhor do que Rua Madeleine 13 / 13 Rue Madeleine / 1946 (Dir: Henry Hathaway), produzido pela Twentieth Century-Fox, no qual Cagney atuou no intervalo entre o segundo e o terceiro filme da Cagney Productions. Conta a história que quatro agentes americanos da contra-espionagem (James Cagney, Annabella, Frank Latimore, Richard Conte) localizam uma base nazista de foguetes na França e entre eles há um espião. Cagney recusou filmar para Twentieth Century-Fox The Life of O. Henry mas aceitou substituir Rex Harriison nesse thriller de espionagem em tom semi-documentário, conscienciosamente dirigido por Henry Hathaway.

Em 6 de maio de 1949, Cagney retornou à Warner assinando um contrato segundo o qual ele só precisaria fazer um filme por ano, poderia comprar histórias e supervisionar os roteiros. A Cagney Productions tornar-se-ia uma unidade ativa na área do estúdio e ele poderia fazer também filmes para ela. Para cada filme da Warner, Cagney receberia 250 mil dólares. Poucos astros em Hollywood tinham tal poder naquela época.

O  primeiro filme para a Warner sob o novo ajuste foi Fúria Sanguinária / White Heat / 1950, em cujo enredo Cody Jarrett (James Cagney), gângster psicopata, age sob influência da mãe (Margaret Wycherly), por quem nutre forte fixação Edipiana. Um dos elementos do bando, Big Ed (Steve Cochran), ambiciona tomar-lhe o posto de chefe e também sua mulher, Verna (Virginia Mayo). Depois  de cometer vários crimes, Cody entrega-se por um roubo que não cometeu, a fim de forjar um álibi. Enquanto está na penitenciária, Verna foge com Big Ed e sua mãe, que os perseguia, é eliminada.  Cody escapa da prisão, vinga-se de Bid Ed e assalta um laboratório químico onde, traído por um agente da lei (Edmond O’Brien), que se infiltrara entre seus comparsas, é abatido no alto de um dos depósitos de gás, morrendo no meio das chamas.

Nesta obra-prima de Raoul Walsh, Cagney teve a atuação mais fascinante de sua carreira. Como gângster psicopata e perverso, ele está eletrizante. Seus ataques de loucura, principalmente aquele ocorrido na penitenciária, quando é informado sobre a morte de sua mãe e o final apocalíptico no “topo do mundo”, são momentos cinematográficos inesquecíveis.

Dos filmes seguintes de Cagney, Conquistando West Point / The West Point Story / 1950 (Dir: Roy Del Ruth), O Amanhã Que Não Virá / Kiss Tomorrow Goodbye / 1951 (Dir: Gordon Douglas), Degradação Humana / Come Fill The Cup / 1951 (Dir: Gordon Douglas), Estrelas Em Desfile / Starlift / 1951 (Dir: Roy Del Ruth),  Sangue Por Glória / What Price Glory / 1952 (Dir: John Ford), Um Leão Está Nas Ruas / A Lion Is In The Streets / 1953 (Dir: Raoul Walsh) sobressaíram O Amanhã Que Não Virá e O Leão Está Nas Ruas.

Em Conquistando West Point, Cagney é Elwin Bixby, empresário de revistas musicais da Broadway  que se sujeita a ser calouro na Academia Militar de West Point, a fim de ali poder organizar um espetáculo.  Cagney gostava desta comédia musical cheia de disparates mas com boas canções de Jule Styne e Sammy Cahn e que contava ainda com a presença de Doris Day e Gordon MacRae. O melhor número é “B’KLYN”, executado por Cagney e Virginia Mayo.

Em O Amanhã Que Não Virá, Cagney é Ralph Cotter,  criminoso violento, que foge da prisão, mata o sócio, espanca a irmã deste (Barbara Payton), submetendo-a aos seus desejos. Em seguida, pratica um assalto audacioso em pleno dia e se livra de dois policiais corruptos, que o perseguiam, chantageando-os. Neste drama criminal baseado em um romance de Horace McCoy, a Cagney Productions procurou repetir o êxito de Fúria Sanguinária da Warner, fazendo Cagney cometer vilanias com um sorriso nos lábios.

Em Degradação Humana, Cagney é Lew Marsh, jornalista que se cura do alcoolismo com a ajuda de um amigo, ex-alcoólatra (James Gleason) e depois procura libertar do mesmo vício o sobrinho do dono do jornal em que trabalha, um playboy envolvido com gângsteres (Gig Young). Foi Jack Warner que insistiu em introduzir gângsteres no relato, providenciando, como disse McCabe, um final inferior para uma história superior. Entretanto, os bons desempenhos de Cagney, Gleason e Gig Young (este indicado para o Oscar de melhor Coadjuvante) salvaram o filme.

Em Estrelas Em Desfile, na Base Aérea de Travis, ao norte de San Francisco, astros e estrelas do Cinema divertem os soldados que partem para a Coréia. Entre os números musicais, nasce um romance entre uma atriz de Hollywood (Janice Rule) e um cabo (Ron Hagherty). Por dever de ofício, Cagney  e outros artistas da Warner (Virginia Mayo, Ruth Roman, Doris Day, Gordon MacRae etc.) apresentam-se neste musical insignificante e cansativo.

Em Sangue Por Glória, durante a Primeira Guerra Mundial na França, o Capitão Flagg (James Cagney) e o Sargento Quirt (Dan Dailey) comandam a tropa que vai para as trincheiras e, nas horas de folga, brigam pela francesinha Charmaine (Corinne Calvert). Esta refilmagem technicolorida da peça de Maxwell Anderson e Laurence Stallings, realizada por um John Ford desanimado, é inferior à primeira versão de Raoul Walsh, realizada em 1926. Apesar dos esforços de Cagney e Dailey, ambos perdem na comparação com Victor MacLaglen e Edmund Lowe.

Em Um Leão Está Nas Ruas, Cagney é Hank Martin, um vendedor ambulante que se fixa em uma cidadezinha do Sul dos EUA, casa-se com uma professora (Barbara Bates) e é romanticamente assediado por uma jovem (Anne Francis). Depois, defende a causa dos pequenos fazendeiros, descobre que tem queda para a política, candidata-se a governador e se corrompe. O argumento é incoerente mas Cagney compõe bem o tipo do político demagogo enquanto o diretor Raoul Walsh se encarrega de manter a tensão dramática e o fotógrafo Harry Stradling dá uma aula de fotografia.

Como Um Leão Está Nas Ruas foi o último filme feito pela Cagney Productions e o contrato com a Warner havia chegado ao fim, os Cagney tiveram várias opções diante de si. William estava cansado de ser um produtor e voltou a ser o gerente dos negócios de seu irmão. Ele acertou com a Paramount a participação de Cagney em Fora Das Grades / Run For Cover / 1955 (Dir: Nicholas Ray) e assim o ator voltou ao western, desta vez, psicológico. Saindo da prisão, depois de ter sido condenado injustamente, Matt Dow (James Cagney) vai para o Oeste e faz amizade com um rapaz, Davey (John Derek). Os dois são envolvidos inocentemente em um roubo de trem e perseguidos pela lei. Ferido, Davey fica  aleijado, sendo levado para uma fazenda, onde Helga (Viveca Lindfors) cuida dele e se apaixona por Matt. Este torna-se xerife e nomeia Davey seu assistente; mas o rapaz trai Matt, unindo-se aos bandidos locais.

Cagney declarou que ele e Nicholas Ray incutiram alguns toques engenhosos no filme, mas  os responsáveis pela produção não gostavam de idéias novas e mandaram cortar  as novidades. Todavia, estão presentes os temas de conflito de gerações e injustiça social, recorrentes  na obra do diretor.

Os filmes restantes de Gagney nos anos cinquenta  – Ama-me Ou Esquece-me / Love Me Or Leave Me / 1955 (Dir: Charles Vidor), Mister Roberts / Mister Roberts / 1955 (Dir: John Ford, Mervyn LeRoy), Um Coringa  E  Sete Ases / The Seven Little Foys / 1955 (Dir: Melville Shavelson), Honra A Um Homem Mau / Tribute To A Bad Man / 1956 (Dir: Robert Wise), Passado Perdido / Those Wilder Years / 1956 (Dir: Roy Rowland), O Homem Das Mil Caras / Man Of A Thousand Faces / 1957 (Dir: Joseph Pevney), O Rei Da Zona / Never Steel Anything Small / 1958 (Dir: Charles Lederer), De Mãos Dadas Com O Inferno / Shake Hands With The Devil / 1959 (Dir: Michael Anderson) – são de qualidade artística variável, destacando-se  Ama-me Ou Esquece-me, Mister Roberts, Tributo A Um Homem Mau e O Homem Das Mil Caras. Antes de participar dos dois últimos, ele se ofereceu ao amigo A. C. Lyles, produtor da Paramount, para dirigir Atalho para o Inferno / Short Cut to Hell / 1957, refilmagem de Alma Torturada / This Gun for Hire / 1942.

Ama-me Ou Esquece-me é a cinebiografia da cantora Ruth Etting, interpretada com surpreendente eficácia por Doris Day. O entrecho de Daniel Fuchs, premiado com o Oscar,  evolui nos anos vinte quando Ruth Etting, protegida do gângster Marty “The Gimp” Snyder (James Cagney) se apaixona por um jovem compositor (Cameron Mitchell) com consequências trágicas. Como o gângster aleijado, amargo e patético, papel rejeitado por Spencer Tracy, Cagney brilhou intensamente e foi recompensado com uma terceira indicação para o premio da Academia, perdendo para Ernest Borgnine pelo seu trabalho em Marty / Marty / 1955).

Em Mister Roberts, o primeiro oficial J. G. Roberts (Henry Fonda) anseia por entrar em combate e serve de mediador entre o capitão lunático e autoritário (James Cagney) e a tripulação entediada de um cargueiro de abastecimento durante a Segunda Guerra Mundial. William Powell faz sua última aparição na tela, como um médico filósofo e Jack Lemmon teve sua interpretação consagrada por um Oscar como o irreprimível guarda marinha Pulver.

Henry Fonda discutiu com John Ford e, certa vez, agrediu-o fisicamente. Este incidente, mantido em segredo, ocasionou a saída do diretor, que foi substituido por Mervyn LeRoy. Cagney injetou mais humor no papel do que havia na peça que deu origem ao filme e, sem dúvida, retornou à comédia com grande classe como o capitão excêntrico.

Em Um Coringa E Sete Ases, Cagney personifica novamente George M. Cohan  como convidado especial em uma cena breve, sapateando ao lado de Bob Hope, que interpreta outro ator do vaudeville, Eddie Foy.

Em Honra A Um Homem Mau, Cagney é o rancheiro Jeremy Rodock, que abriga em seus domínios um jovem da Pennsylvânia, Steve Miller (Don Dubbins). Steve busca a afeição de Jocasta (Irene Papas), protegida de Rodock, mas percebe que é a este que ela realmente ama. Substituindo Spencer Tracy, Cagney dá vida ao papel e torna o drama convincente, valorizado ainda pela fotografia de Robert Surtees e música de Miklos Rosza.

Em Passado Perdido, Cagney é o industrial Steve Bradford, agora na meia-idade, que volta à sua cidade natal para encontrar o filho  ilegítimo, que havia deixado em um orfanato vinte anos atrás. Logo ele entra em conflito com a diretora atual da instituição (Barbara Stanwyck), que quer impedí-lo de burlar as leis de adoção e possivelmente arruinar a vida do seu filho agora adulto. Cagney e Barbara Stanwyck apenas atuam como bons profissionais neste drama sentimental artísticamente singelo.

O Homem Das Mil Caras é a cinebiografia de Lon Chaney, o grande astro do cinema mudo. Alguns fatos reais foram alterados para fins dramáticos, mas o filme tem dignidade e a interpretação de Cagney é excelente – embora não tivesse a menor semelhança física com o biografado -, servido pelas esplêndidas maquilagens de Bud Westmore e Jack Kevan.


Em O Rei da Zona, Jack MacIllaney (James Cagney), quer ser eleito presidente de um poderoso sindicato dos estivadores e, para isso, comete toda sorte de corrupção. Jack faz amizade com um jovem advogado, Dan (Roger Smith) e se apaixona pela esposa dele, Linda (Shirley Jones). A maior parte do filme consiste nas tentativas de Jack para separar o casal e conquistar Linda; a outra metade, consiste nas chicanas de Jack para fraudar as eleições no sindicato, chegando até ao roubo. Infelizmente Cagney aceitou fazer este drama musical (e amoral) sobre questões trabalhistas com roteiro, direção e canções de segunda classe.

Em De Mãos dadas Com O Inferno, em Dublin, 1912, um americano descendente de irlandeses Kerry O’ Shea (Don Murray) ingressa na rebelião contra a Inglaterra, instigado pelo professor de medicina Sean Lenihan, líder secreto do IRA (James Cagney). Filmada em locação, a narrativa é interessante – embora por vezes um tanto pesada -, reproduz bem o caos perturbador da época e Cagney tem mais uma interpretação vulcânica como o mestre feroz, que adere à revolta pelo prazer da violência,

Nos anos sessenta, Cagney encerrou temporariamente sua carreira no cinema com O Amanhecer da Glória / The Gallant Hours / 1960 (Dir: Robert Montgomery) e Cupido Não Tem Bandeira / One, Two, Three / 1961 (Dir: Billy Wulder). No primeiro filme, sob a direção de seu grande amigo Robert Montgomery, em uma narrativa em geral morosa, Cagney traça com firmeza a figura do Almirante Halsey, que assumiu o comando das Forças Navais Americanas ao Sul do Pacífico e esmagou os japoneses em Guadalcanal. No segundo filme, em hilariante composição sob as ordens de Billy Wilder, ele assume as feições de C.P. MacNamara, representante da Coca-Cola na Alemanha às voltas com o casamento de sua filha (Pamela Tiffin) com um comunista (Horst Buchholz) do setor soviético de Berlim

Cagney era muito admirado pelos seus colegas, dos diretores aos operários cênicos. Em 1974, ele se tornou o primeiro ator a receber o Life Achievement Award do American Film Institute, um prêmio só concedido àqueles artistas “cujo trabalho passou pelo teste do tempo”.

Após vinte anos afastado da tela e ter recusado o papel de Doolittle em Minha Bela Dama / My Fair Lady / 1964, Cagney voltou à tela aos 83 anos de idade como o chefe de polícia  Rheinlander Waldo, em um episódio de Na Época do Ragtime / Ragtime / 1981 (Dir: Milos Forman), que não estava no romance de E. L. Doctorow, no qual o filme se baseou. O relato compõe-se de várias tramas paralelas, principalmente a história fictícia de Coalhouse Walker, Jr. (Howard E. Rollins), pianista negro que, após sofrer humilhações e ter seus direitos negados pela polícia, decide fazer justiça pelas próprias mãos e a história verídica de Evelyn Nesbitt (Elizabeth McGovern), dançarina célebre do começo do século, cujo marido milionário Harry K. Thaw (Robert Joy) assassinou seu antigo amante, o arquiteto Stanford White (Norman Mailer). O delegado de polícia de Nova York que Forman pediu para Cagney interpretar, realmente existiu. Cagney leu o script e, apesar de ser um pequeno papel,  aceitou. Forman declarou: “Eu o deixaria fazer até o papel de Evelyn Nesbitt, se ele quisesse”.

Em 1987, depois da morte de Cagney, Ralph Bellamy escreveu um artigo no Reader’s Digest intitulado “Jimmy Cagney Inesquecível”, relembrando um acontecimento singular na vida do ator, ocorrido em 1982, por ocasião do espetáculo “Night of 100 Stars”. Foram estas as palavras de Bellamy: “Cagney, já velho e doente, ficou aguardando durante muito tempo em um quarto abaixo do palco do Radio City Music Hall em Nova York enquanto transcorria o espetáculo. O público estava impaciente. De repente abriu-se um alçapão e aquele homem idoso foi trazido até o nível do palco, sozinho, sob a luz dos refletores. Nada de dança, nenhum discurso, apenas um homem sentado em uma cadeira. Mas ele era Jimmy Cagney. A platéia se levantou, aplaudindo, aclamando. Os olhos de Jim ficaram trêmulos com a surpresa, e se encheram de lágrimas, à medida em que a ovação aumentava. Ele estava afastado dos olhos dos espectadores por mais de duas décadas, mas ficou claro, naquela noite de 1982, que ele nunca esteve ausente no coração do público”.

6 Responses to “JAMES CAGNEY II”

  1. Um grande texto para um dos maiores atores que já vi trabalhar em filmes. O final me emocionou porque Cagney faz parte do que eu chamo de minha “mitologia” cinéfila. Ainda tenho muito o que assistir dele, mas no momento busco pela internet alguma cópia de “Gente Esperta”, de 1931.
    E obrigado pelos elogios, mas vou ficar esperando um artigo do amigo sobre a inesquecível Clara Bow, pois sei que fiquei devendo muitas informações, principalmente o título dos filmes dela em portugues, já que as fontes que pesquisei eram todas em inglês. Grande abaço!

  2. Gente Esperta? Não seria Smart Money? Neste caso a amazon.com está vendendo este dvd.

  3. Bom, em português está com o título errado nos meus arquivos, pois no original chama-se Blonde Crazy, estrelado por Joan Blondell e James Cagney, em 1931. Revendo com calma a parte 1 do seu artigo, achei o título em portugues como Travessuras de uma Loira. Joan Blondell é outra atriz esquecida sobre a qual eu gostaria de escrever, por isso queria tanto ver esse filme pois li comentários de que as atuações dela e de Cagney beiram a perfeição. Obrigado pela resposta e pela correção.
    Abraços

  4. O título em português de Blonde Crazy foi Travessuras de uma Loura.No Imdb tem saído Gente Esperta. Não sei quem pôs este título lá. De qualquer forma vou confirmar com um amigo meu que está revendo os jornais da época, mas vai demorar um pouco porque ele ainda está em 1926.

  5. que ator… que energia em cena

    cumprimentos cinéfilos.

    O Falcão Maltês

  6. Cagney é meu ator predileto.

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