CANTORAS DE ÓPERA NO CINEMA AMERICANO II

fevereiro 20, 2015

 

Neste artigo, apresento , em ordem alfabética,  biografias resumidas das principais cantoras de ópera que trabalharam no cinema sonoro americano no período clássico:

Mary Ellis

Mary Ellis

MARY ELLIS (1897-2003). Nome verdadeiro: May Belle Elsas. Local de nascimento: Nova York, N.Y., EUA. Iniciou sua carreira de soprano em 1918 no Metropolitan Opera House, interpretando a noviça Genovieffa em Suor Angelica de Giacomo Puccini e no mesmo espetáculo, composto por três óperas de um ato, assumiu o papel de Lauretta em Gianni Schicchi, também de autoria de Puccini. No decorrer de sua carreira, Mary cantou com grandes artistas do canto lírico como Feodor Chaliapin e Enrico Caruso. Na ópera Boris Godunov de Modest Mussorgsky, ela cantava como Fyodor, o filho de Boris Godunov (Feodor Chaliapin) e em L’elisir d‘amore de Gaetano Donizetti, era Giannetta, uma das raparigas que corriam atrás do inocente Nemorino (Enrico Caruso), herdeiro de uma fortuna. Em 1921, ela resolveu se tornar atriz, mas foi atraída de volta para o palco musical em 1924, quando Rudolf Friml compôs a opereta Rose Marie para ela. Em 1930, Mary foi para Londres na companhia de seu terceiro marido, o ator inglês Basil Sydney, com o qual havia se casado em 1929. Em 1934, ela fez seu primeiro filme britânico, Bella Donna, dirigido por Robert Milton com Conrad Veidt e Cedric Hardwicke, cuja história girava em torno de um arqueólogo cuja esposa tentava envenenar seu marido pelo amor de um egípcio. Mary não cantava no filme.

Mary Ellis e Conrad Veidt em Bella donna

Mary Ellis e Conrad Veidt em Bella donna

No ano seguinte, ela foi convidada pela Paramount para ir a Hollywood, a fim de aparecer, ao lado de Carl Brisson, em uma opereta de capa-e-espada, Os Cavaleiros do Rei / All the King’s Horses /1935 e A Dama Fatídica / Fatal Lady / 1936, no qual fazia o papel de uma diva (ao lado de Walter Pidgeon), acusada de assassinato. Nessa época, era comum a atriz cantar em cima do playback durante a filmagem – Maria surpreendeu o diretor, insistindo em fazer tudo ao vivo. Ela continuou sua carreira cinematográfica na América fazendo Primavera em Paris / Paris in Spring / 1936 (com Tullio Carminati) dirigido por Lewis Milestone e Glamorous Night / 1937 (com Barry McKay) dirigido pelo irlandês Brian Desmond Hurst. Nos palcos londrinos, atuou cantando como a heroína de três operetas de Ivor Novello: Glamorous Night (que chegou à tela com Barry McKay no lugar de Novello), The Dancing Years e Arc de Triomphe.

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Mary Ellis e Ivor Novello em Glamorous Nights

Mary Ellis e Ivor Novello em Glamorous Nights

Durante a maior parte da Segunda Guerra Mundial, Mary abandonou o teatro, visitando feridos em hospitais e dando concertos para os membros das forças armadas. Retornando a ribalta após o fim do conflito mundial, ela participou de peças como Point Venture de Noel Coward, The Browning Version de Terence Rattigan, Coriolanus de Shakespeare etc. Em 1952, integrou o elenco do musical de Noel Coward, After the Ball, porém sua voz tinha se deteriorado drasticamente e boa parte das músicas que cantava foi extirpada da encenação. No cinema, ela fez pontas em Amor e PecadoThe Astonished Heart / 1949 e The Magic Box / 1951 e apareceu no papel da Rainha Brobadingnag em As Viagens de Guliver / The 3 Worlds of Gulliver / 1960. Mary Ellis faleceu aos 105 anos de idade, deixando um livro de memórias, “Those Dancing Years” e uma autobiografia, “Moments of Truth”.

Alice Gentle

Alice Gentle

ALICE GENTLE (1885-1958). Local de nascimento: Chatsworth, Illinois, EUA. Iniciou sua trajetória artística em 1908 como membro do côro da Manhattan Opera Company (MOC) de Oscar Hammerstein I (avô do letrista Oscar Hammerstein II). Impressionado com o talento da jovem meio-soprano, Hammerstein começou a incluí-la em papéis secundários nas produções da MOC (v.g. Mercédès na ópera Carmen de Georges Bizet) e depois na sua Philadelphia Opera Company (v.g. Emilia em Otello de Giuseppe Verdi). Em 1918, Alice cantou uma temporada no Metropolitan Opera House, como Preziosilla em La forza del destino de Giuseppe Verdi e, em 1923, percorreu os Estados Unidos como Carmen com a San Carlo Opera Company.

Alice Gentle ao fundo entre Noah Beery, Alexander Gray e Bernice Claire em A Flama

Alice Gentle ao fundo entre Noah Beery, Alexander Gray e Bernice Claire em A Flama

No começo dos anos trinta, Alice apareceu em três filmes: como Natasha em A Flama / The Song of the Flame / 1930 (Dir: Alan Crosland com Alexander Gray, Bernice Claire, Noah Beery); como Mooda em Deusa Africana / Golden Dawn / 1930 (Dir: Ray Enright com Walter Woolf King, Vivienne Segal, Noah Beery), ambos rodados no sistema Technicolor bicolor; e em uma breve aparição como cantora no filme Voando para o Rio / Flying Down to Rio / 1933 (Dir: Thorton Freeland com Dolores del Rio, Gene Raymond, Raul Roulien, Fred Astaire, Ginger Rogers).

Miliza Korjus

Miliza Korjus

MILIZA KORJUS (1909-1980). Nome verdadeiro: Miliza Elizabeth Korjus. Local de nascimento: Varsóvia, Polonia (então parte do Império Russo). Seu pai, um estoniano de descendência sueca, era Artur Korjus, tenente coronel do Exército Imperial Russo e mais tarde Chefe do Estado-Maior do Ministro da Guerra da Estonia e sua mãe, Anna Gintowt, descendente da nobreza Lituano-Polonesa. Seus pais se separaram durante a Revolução Russa de 1917 e, em 1918, Miliza mudou-se de Moscou para Kiev com sua mãe e irmãs, onde iniciou seu aprendizado musical. Ainda adolescente, ela integrou o Côro Dumka em Kiev e percorreu com ele a União Soviética. Em 1927, durante uma temporada em Leningrado, Miliza atravessou a fronteira e se juntou ao pai, que havia se instalado ali, depois que a Estonia ficou independente da Russia. Ela estudou com a eminente professora Barbara Malama e começou a percorrer os Estados Bálticos e a Escandinávia. Na Estonia, Miliza casou-se em 1929 com o Dr. Kuno Foelsch, um físico, mudando-se com ele para a Alemanha, onde ganhou o apelido de “O Rouxinol de Berlim”. Em 1933, foi contratada pela Ópera Estatal de Berlim (Staatsoper unter den Linden), alcançando seu maior sucesso como A Rainha da Noite em A Flauta Mágica (Die Zauber flüte) de Wolfgang Amadeus Mozart. Entre 1934 e 1936, Miliza fez 42 gravações para a Eletrola na Alemanha. Segundo algumas fontes, Irving Thalberg ouviu esses discos e, “sem conhecê-la pessoalmente”, contratou–a para a MGM.

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Miliza Korjus em A Grande Valsa

Miliza Korjus em A Grande Valsa

Em A Grande Valsa / The Great Waltz / 1938, dirigido por Julien Duvivier, Miliza faz o papel de Carla Donner, uma prima donna que se apaixona por Johann Strauss II (Fernand Gravey, anunciado nos Estados Unidos como Gravet e dublado pelo violinista russo Toscha Seidel); ele corresponde ao seu amor, mas acaba se casando com Poldi (Luise Rainer), sua namorada desde a infância. Miliza foi indicada para o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante e encantou o público particularmente na cena em que canta “Tales from the Vienna Woods”. Embora Duvivier tivesse sido creditado como diretor, consta que ele foi repreendido pela MGM, por estar fazendo um filme mais sobre Mrs. Strauss do que sobre Johann. Victor Fleming substituiu-o no final da filmagem e Josef von Sternberg concebeu e dirigiu a sequência final do espetáculo. Em 1940, um segundo filme com Miliza, Guns and Fiddles, baseado na história de Sandor Rozsa (uma espécie de Robin Hood húngaro) começou a ser produzido na MGM; porém, algumas semanas antes de começar a filmagem, ela sofreu um acidente de automóvel sério e quase teve a perna amputada. Um ano depois, já suficientemente recuperada, Miliza empreendeu uma excursão de concertos pela America Latina e, em 1942, fez um filme no Mexico, Caballeria del Imperio, dirigido por Miguel Contreras Torres.

Miliza Korjus em Caballeria del Imperio

Miliza Korjus em Caballeria del Imperio

A trama mostrava Miliza como Vera Dona uma cantora de ópera ligada sentimentalmente a Johann Strauss II, que viaja para o México no tempo do Império de Maximiliano, onde transcorre uma intriga envolvendo uma baronesa fisicamente parecida com a Imperatriz Carlota (Medea de Novara), o general austríaco Von Schultz (René Cardona), e o chefe juarista Ramón Alvarado (Julien Soler). Mas quem cantava mais no filme era o tenor mexicano Pedro Vargas. Em 1944, Miliza retornou aos Estados Unidos, para se apresentar no Carnegie Hall com a New York Philharmonic Symphony Orchestra, cumpriu mais alguns compromissos através da América durante o final dos anos quarenta e, eventualmente, fixou residência em Los Angeles. Em 1952, casou-se novamente, desta vez com o Dr. Walter Shector, um médico – e se afastou do palco, preferindo gravar discos.

Jeanette MacDonald

Jeanette MacDonald

JEANETTE MACDONALD (1903-1965). Nome verdadeiro: Jeanette Anna MacDonald. Local de nascimento: Filadélfia, Pennsylvania, EUA. Desde criança começou a estudar canto e dança. Aos nove anos de idade, participou de shows infantís, encabeçando o grupo “Six Little Song Birds”, formado pelo seu professor de dança, Al White. Em novembro de 1919, reuniu-se com sua irmã mais velha, a atriz Blossom Rock em Nova York, onde arrumou um emprego no côro de The Demi-Tasse Revue, um entretenimento musical apresentado no intervalo entre dois filmes no Capitol Theatre na Broadway. Nos anos vinte, trabalhou em vários musicais como coadjuvante, depois como atriz principal, e finalmente chegou ao cinema em 1929, quando o diretor Ernst Lubitsch, examinando um teste que Jeanette havia feito na Paramount (para um possível filme com Richard Dix Nothing but the Truth, afinal realizado com Wynne Gibson e Helen Kane), escolheu-a para estrelar, ao lado de Maurice Chevalier, seu primeiro filme sonoro, Alvorada de Amor / The Love Parade / 1929.

Jeanette MacDonald e Maurice Chevalier em Alvorada do Amor

Jeanette MacDonald e Maurice Chevalier em Alvorada do Amor

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Jeanette MacDonald e Jack Buchanan em Monte carlo

Jeanette MacDonald e Jack Buchanan em Monte Carlo

Os primeiros discos gravados por Jeanette foram dois sucessos da trilha musical: “Dream Lover” e “March of the Greandiers”. Seus próximos filmes na Paramount foram: O Rei Vagabundo / The Vagabond King / 1930, versão em Technicolor de duas cores da opereta de Rudolf Friml com Dennis King no papel de François Villon e MacDonald como a Princesa Katherine (e Lillian Roth como Huguette, a garota das ruas que dá sua vida para salvar a do poeta); Naufrágio Amoroso / Let’s Go Native / 1930 (James Hall, Jack Oakie, Kay Francis), comédia dirigida por Leo McCarey; Monte Carlo / Monte Carlo / 1930, dirigida novamente por Lubitsch, contracenando com o astro do musical inglês, Jack Buchanan, e introduzindo a canção “Beyond the Blue Horizon”, que ela gravou três vezes durante a sua carreira; uma prevista aparição em Paramount em Grande Gala / Paramount on Parade / 1930, musical-revista cheio de astros e estrelas da companhia para o qual ela chegou a filmar um dueto de “Come Back to Sorrento” com Nino Martini, mas este trecho foi extirpado por ocasião do lançamento do filme. Jeanette foi para a United Artists, a fim de fazer A Noiva 66 / The Lottery Bride / 1930 (John Garrick, Joe E. Brown, ZaSu Pitts), porém, apesar da música de Rudolf Friml, o espetáculo não deu o lucro esperado. Ela então se transferiu para a Fox Film Corporation, onde fez: Paixão de Mulher / Oh, for a Man! / 1930 (Reginald Denny, Marjorie White); Não Apostes nas Mulheres / Don’t Bet on Women / 1931 (Edmund Lowe, Roland Young); Anna Belle  ou Intrigas de Annabelle / Annabelle’s Affairs / 1931 (Victor MacLaglen, Roland Young). Em 1931, Jeanette interrompeu seu trabalho em Hollywood, para participar de uma tournée de concertos pela Europa,. No ano seguinte, voltou para a Paramount, onde fez duas comédias românticas musicais inesquecíveis com Maurice Chevalier: Uma Hora Contigo / One Hour With You / 1932 (Dir: George Cukor, orientado por Ernst Lubitsch) e Ama-me Esta NoiteLove Me Tonight /1932 (Dir: Rouben Mamoulian).

Jeanette MacDonald e Maurice Chevalier em Ama-me esta Noite

Jeanette MacDonald e Maurice Chevalier em Ama-me esta Noite

Jeanette MacDonald e Ramon Novarro em O Gato e o Violino

Jeanette MacDonald e Ramon Novarro em O Gato e o Violino

Em 1933, Jeanette partiu novamente para a Europa e, enquanto estava lá, assinou contrato com a MGM. Seu primeiro filme na “Marca do Leão” foi O Gato e o Violino / The Cat and the Fiddle / 1934 ao lado de Ramon Novarro. Apesar de ter sido baseado em um sucesso da Broadway de Jerome Kern e de apresentar um final em Technicolor – o primeiro uso do Technicolor de três cores além dos desenhos de Walt Disney – o filme não foi um grande êxito nas bilheterias. Porém o segundo filme de Jeanette no estúdio,

Jeanette MacDonald, Edward Everett Horton e Maurice Chevalier em A Viúva Alegre

Jeanette MacDonald, Edward Everett Horton e Maurice Chevalier em A Viúva Alegre

Maurice Chevalier, Jeanette MacDonald e Ernst Lubitsch  em um intervalo da filmagem de A Víúva Alegre

Maurice Chevalier, Jeanette MacDonald e Ernst Lubitsch em um intervalo da filmagem de A Víúva Alegre

A Viúva Alegre / The Merry Widow / 1934, versão luxuosa da opereta clássica de Franz Léhar, magnificamente dirigida por Ernst Lubitsch e contando com a participação de Maurice Chevalier e um elenco de coadjuvantes admiráveis, agradou plenamente o público e os críticos. Seguiram-se os filmes que Jeanette fez, intermitentemente, com o barítono Nelson Eddy: Oh, Marietta ! / Naughty Maritetta / 1935 (Dir: W. S. Van Dyke e canções como “Ah! Sweet Mystery of Life”); Rose Marie / Rose-Marie /1936 (Dir: W. S. Van Dyke e canções como “Indian Love Call”); Primavera / Maytime / 1937 (Dir: Robert Z. Leonard e canções como “Will You Remember”); A Princesa do El Dorado / The Girl of the Golden West / 1938 (Dir: Robert Z. Leonard e canções como “Obey Your Heart”; Lua Nova / New Moon / 1940 (Dir: Robert Z. Leonard e canções como “Lover, Come Back to Me”); Bitter Sweet / Canção de Amor / Sweethearts / 1938 (Dir: W.S. Van Dyke e canções como “Sweethearts”); Casei-me com um Anjo / I Married an Angel / 1942 (Dir: W. S. Van Dyke e canções como “Spring is Here”).

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Nelson Eddy e Jeanette MacDonald em Rose Marie

Nelson Eddy e Jeanette MacDonald em Rose Marie

Nelson Eddy e Jeanette MacDonald em Primavera

Nelson Eddy e Jeanette MacDonald em Primavera

Nos intervalos entre os filmes que fez com Nelson Eddy, Jeanette contracenou com Clark Gable e Spencer Tracy em A Cidade do Pecado / San Francisco / 1936; (Dir: W. S. Van Dyke); com Allan Jones em O Vagalume / The Firefly / 1937 (DIr: Robert Z. Leonard); com Lew Ayres em Serenata na Broadway / Broadway Serenade /1939 (Dir: Robert Z. Leonard); com Brian Aherne e Gene Raymond em O Amor que não Morreu / Smilin’ Through / 1941 (Dir: Frank Borzage); com Robert Young em Cairo / Cairo / 1942 (Dir: W. S. Van Dyke). Em 1943, Jeanette e Nelson Eddy deixaram a MGM e foram para Universal. Enquanto Eddy terminava, sozinho, O Fantasma da Ópera / Phantom of the Opera / 1943, ela apareceu em Epopéia da Alegria / Follow the Boys / 1944, filme repleto de astros e estrelas de Hollywood entretendo as tropas, no qual cantava ”Beyond the Blue Horizon” em um concerto e “I’ll See You in My Dreams” para um soldado que ficara cego. Entretanto, o projeto de fazer filmes juntos na Universal gorou e, após cinco anos fora da tela, Jeanette voltou sem ele para a MGM, onde fez seus filmes derradeiros, Três Filhas Levadas / Three Daring Daughters / 1948 (Jose Iturbi, Jane Powell) e Sol da Manhã / The Sun Comes Up /1949 (Lloyd Nolan, Claude Jarman Jr. e … Lassie)

Alan Jones e jeanette MacDonald em O Vagalume

Alan Jones e jeanette MacDonald em O Vagalum

O diretor Robert Z. Leonard e Jeanette MacDonald em um intervalo da filmagem de O Vagalume.

O diretor Robert Z. Leonard e Jeanette MacDonald em um intervalo da filmagem de O Vagalume.

Ao contrário de Nelson Eddy, que foi da ópera para o cinema, Jeanette reinventou-se na ópera. A partir de 1940, ela começou a treinar com Lotte Lehmann, uma das cantoras líricas mais prestigiadas do início do século vinte. Jeanette estreou na ópera no Canadá, interpretando Juliette em Roméo et Juliette de Charles Gounod e debutou nos Estados Unidos na Chicago Opera Company, onde repetiu o papel de Juliette e cantou também como Marguerite em Faust do mesmo compositor. Há controvérsias sobre a vida íntima de Jeanette MacDonald, notadamente seu casamento com o ator Gene Raymond e o relacionamento com Nelson Eddy, refletidas nos livros Sweethearts de Sharon Rich (Bell Harbour, 2014) e Hollywood Diva de Edward Baron Turk (University of California, 2000).

Grace Moore

Grace Moore

GRACE MOORE (1898-1947). Nome verdadeiro: Mary Willie Grace Moore. Local de nascimento: Comunidade de Slabtown (hoje considerada como parte de Del Rio) no Cocke County, Tennessee, EUA. Passou sua adolescência em Jellico, estudou brevemente em Nashville, e depois foi para Washington D.C. e Nova York terminar seu aprendizado de canto lírico. Seu primeiro emprego como cantora foi no Black Cat Cafe em Greenwich Village e sua primeira aparição na Broadway deu-se em 1920 no musical Hítchy-Koo de Jerome Kern. Em 1922 e 1923 ela apareceu na segunda e terceira séries das Music Box Revues de Irving Berlin. Depois de se aperfeiçoar sua voz de soprano na França, Grace estreou no Metropolitan Opera House de Nova York em 1928, interpretando o papel de Mimi na ópera La Bohème de Giacomo Puccini. Durante suas dezesseis temporadas no Met, ela cantou várias óperas italianas e francêsas, incumbindo-se dos papéis principais em Tosca de Puccini, Manon de Massenet e Louise de Gustave Charpentier.

cantoras grace more lady's moralsAtraída por Hollywood nos primeiros tempos do cinema falado, o primeiro papel de Grace na tela foi o de Jenny Lind no filme Dama Virtuosa / A Lady’s Morals / 1930 , produzido para a MGM por Irving Thalberg e dirigido por Sidney Franklin. No mesmo ano, ela estrelou com o barítono Lawrence Tibbett, Lua Nova / New Moon, primeira versão cinematográfica da opereta The New Moon, de Sigmund Romberg, sobressaindo as canções “Wanting You”, e “Lover Came Back to Me”). A MGM não renovou seu contrato e ela retornou ao palco, obtendo sucesso na Broadway em 1932 com a opereta Gräfin Dubarry de Carl Millöcker. Irving Thalberg pensou nela para atuar como a viúva rica de Marshovia ao lado de Maurice Chevalier em A Viúva Alegre, mas acabou entregando o papel para Jeanette MacDonald.

TullioCarminati e Grace Moore em Uma Noite de Amor

Tullio Carminati e Grace Moore em Uma Noite de Amor

Após uma ausência de quatro anos, Grace retornou a Hollywood sob contrato da Columbia Pictures, onde fez: Uma Noite de Amor / One Night of Love / 1934 com Tullio Carminati ( no qual cantava entre outras a ária “La Habanera” da ópera Carmen de Georges Bizet). Foi o seu maior sucesso  de público e de crítica, tendo sido indicado para o Oscar nas categorias Melhor Filme, Direção e Atriz; Ama-me Sempre / Love Me Forever / 1935 com Leo Carrillo; O Rei de Diverte / The King Steps Out / 1936 com Franchot Tone (dirigidos por Josef von Sternberg); Prelúdio de Amor / When You’re in Love / 1937 com Cary Grant (destacando-se o número com Cary ao piano e Grace em uma interpretação extravagante de “Minnie the Moocher” de Cab Calloway); e A Volta do Rouxinol / I’ll Take Romance / 1937 com Melvyn Douglas.

Grace Moore e Franchot Tone em O Rei se Diverte

Grace Moore e Franchot Tone em O Rei se Diverte

O último filme de Grace foi Luíza / Louise / 1939, versão abreviada da ópera de Gustave Charpentier do mesmo nome, dirigida por Abel Gance e contando com a participação de dois renomados cantores francêses: o tenor Georges Thill e o baixo cantante André Pernet. Grace Moore casou-se com o ator espanhol Valentín Parera em 1931, escreveu uma autobiografia: “You’re Only Human Once” em 1944 e teve sua carreira retratada no filme Gloriosa Consagração / So This is Love / 1953, com Kathryn Grayson. Em 1947, ela faleceu em um desastre de avião ocorrido no aeroporto de Copenhagen. Ficou conhecida como “O Rouxinol do Tennessee”.

Lily Pons

Lily Pons

LILY PONS (1928 – 1976). Local de Nascimento: Draguignan, França. Nome verdadeiro: Alice Joséphine Pons. Esta soprano coloratura francêsa arrebatou a platéia quando  estreou no Metropolitan em janeiro de 1931, cantando Lucia di Lamermoor de Giuseppe Donizetti com Beniamino Gigli, e continuou no Met por mais 28 anos, aposentando-se em 1958. A RKO contratou-a para aparecer em Vivo SonhandoI Dream Too Much / 1935,  no qual sua personagem, Annette, é casada com um compositor, Jonathan (Henry Fonda) e, à medida em que carreira dela sobe,  a dele declina, algo que ele acha difícil de aceitar. Sem que Jonathan saiba, Annette decide ajudá-lo, concordando em atuar na sua última ópera, que ela transforma em uma comédia musical de sucesso. A RKO armou uma equipe excelente: John Cromwell, diretor, Max Steiner, diretor musical,  Hermes Pan, coreógrafo, e Jerome Kern foi convidado para escrever algumas canções, tendo Dorothy Fields como sua letrista. Lily Pons cantou a ária com a qual todos a associavam, a “Canção do Sino ” da ópera Lakmé de Léo Delibes assim como a “Caro Nome” da Rigoletto de Giuseppe Verdi. Seu marido na vida real, André Kostelanetz, regeu as sequências de ópera, segundo dizem, por insistência da atriz. Entretanto, apesar de todo cuidado tomado, o filme não foi o êxito de bilheteria esperado pelo estúdio.

cantoras lily pons girl from paris posterNo ano seguinte, a RKO tentou de novo, colocando Lily Pons em  A Parisiense / That Girl from Paris / 1936. No enredo, uma estrela da ópera parisiense foge de um casamento arranjado, embarca como clandestina em um navio para ficar perto do band leader que ela ama, e acaba nos Estados Unidos como imigrante ilegal. Seus co-astros eram Gene Raymond e Lucille Ball, e Lily Pons cantava uma ária do Barbeiro de Sevilha de Gioachino Rossini,  juntamente com uma valsa de Johann Strauss, uma tarantela, e algumas canções.

Edward Everett Horton, Jackie Oakie e Lily Pons em Nas Asas da Fama

Edward Everett Horton, Jackie Oakie e Lily Pons em Nas Asas da Fama

Lily Pons interpretou,  ao lado de John Howard, Edward Everett Horton e Jack Oakie, uma cantora de jazz francêsa  em Nas Asas da Fama /  Hitting a New High / 1937, dirigido por Raoul Walsh. Neste espetáculo, ela cantava a ária  “Il Doce Suono”, a cena da “loucura” da Lucia di Lammermoor  e a ária  “Je suis Titania” da Mignon de Ambroise Thomas.  Foi o seu último filme. Desiludida com Hollywood, Lily Pons desistiu da carreira cinematográfica, queixando-se de que os realizadores não levavam a sua capacidade lírica a sério.

Gladys Swarthout

Gladys Swarthout

GLADYS SWARTHOUT (100-1969). Local de nascimento: Deepwater, Missouri, EUA. Enquanto estava estudando no Bush Conservatory of Music em Chicago, um grupo de amigos arranjou um teste para ela na Chicago Civic Opera Company. Para sua surpresa, Grace foi aprovada, embora na época não tivesse nenhum papel lírico no seu repertório. Ela estreou em 1924 como o pastor na ópera Tosca de Giacomo Puccini e, em 1929, estava no Metropolitano Opera House interpretando (com sua voz de meio-soprano) La Cieca em La Gioconda de Amilcare Ponchelli. Grace era uma artista inteligente e bonita mas, até que Hollywood a tornasse famosa, ela cantou apenas papéis secundários tais como Siébel em Faust de Charles Gounod ou Mellika em Lakmé de Léo Delibes. Depois de sua curta carreira no cinema coube-lhe papéis mais importantes, obtendo grande sucesso como Carmen na obra de Georges Bizet.

Gladys Swarthout e John Boles em Rosa do Rancho

Gladys Swarthout e John Boles em Rosa do Rancho

Grace estrelou cinco filmes para a Paramount: Rosa do Rancho / Rose of the Ranch /1936 (com John Boles); Noite Triunfal / Give us This Night / 1936; Valsa da Champanha / Champagne Waltz / 1937; A Princesa e o Galã / Romance in the Dark / 1938; Cilada do Acaso / Ambush / 1939. Rosa do Rancho era um western musical passado em Monterey, sem uma nota sequer de ópera, para o qual Erich Wolfgang Korngold compôs duas canções adicionais: “Fight for the Night” e “Without Freedom”. No enredo, Gladys é Rosita Castro, que se faz passar por Don Carlos, espécie de Zorro, defensor dos rancheiros oprimidos por um latifundiário (Charles Bickford) e se apaixona por um agente federal (John Boles). Noite Triunfal, já tinha mais a ver com ópera, pois Gladys fazia o papel de Maria Severelli, prima donna envolvida com um pescador (Jan Kiepura), que se revelava um grande cantor lírico. A distribuidora no brasil anunciou o filme assim: “Um delicioso poema lírico com duas gargantas de ouro”. Porém a música era de Erich Wolfgang Korngold (incluindo duas belas canções: “Sweet Melody of Life” e “I Meant to Say I Love You” ) e as letras, de Oscar Hammerstein II.

cantoras gladys swarthout posterEm Valsa de Champanha, Gladys é Elsa Strauss, neta do dono de um palácio da valsa em Viena, prejudicado pela existência de um clube jazz, onde toca o trompetista Buzzy Bellew (Fred MacMurray). Em A Princesa e o Galã, Gladys é Illona Boros, jovem camponesa que consegue cantar na Ópera de Budapeste, disfarçando-se como uma princesa egípcia na entrevista com um famoso tenor (John Boles) e seu empresário (John Barrymore). Em Cilada por Acaso, Gladys é Jane Hartman, irmã de um assaltante de banco, obrigada a ludibriar um chofer de caminhão (Lloyd Nolan), para que ele ajude os ladrões a fugir. Nenhum dos filmes de Gladys era particularmente bom nem a tornaram uma grande estrela, Ela retornou à ópera, apresentando-se regularmente no Met até 1945. Gladys Swarthout foi casada duas vezes, a primeira vez com Harry Kern, gerente geral da empresa Hart-Schaffner Marx Company e a segunda vez com o tenor Frank M. Chapman, Jr. Ela conheceu Frank em 1929 na cidade de Florença onde, anos depois, Gladys viria a falecer.

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