CLARENCE BROWN I

abril 15, 2016

Submisso aos propósitos e à estética de um poderoso estúdio – a MGM – ele serviu aos seus astros mais populares, procurando sempre contar uma história de maneira límpida e fluente com vistas ao sucesso comercial.

Como realizador, Brown não tinha algo para dizer, porém dotado de um senso plástico apurado, enriqueceu os variados temas de sua longa filmografia com momentos privilegiados de mise-en-scène, nos quais transparece também o seu virtuosismo técnico.

Clarence Brown

Clarence Brown

Cineasta romântico e sentimental, pelo estilo discreto e elegante e pela beleza visual de suas imagens ele se tornou um dos diretores mais refinados de Hollywood, mas subordinando o formalismo à narrativa. No melhor esquema narrativo clássico, Brown fazia com que os espectadores ficassem completamente envolvidos pelo enredo e pelos personagens.

Ele logo começou a ser conhecido como um “women’s director” por causa do seu trabalho na Universal, onde dirigiu Pauline Frederick em À Míngua de Amor e Louise Dresser em Mãe é sempre Mãe, reputação confirmada pela orientação dada a Greta Garbo e mais tarde a Joan Crawford na MGM. Brown fez sete filmes com Garbo e cinco filmes com Crawford.

Clarence Brown em ação

Clarence Brown em ação

Apesar de seu renome como “diretor de mulheres’, Brown extraiu um dos melhores desempenhos de Rudolph Valentino em A Águia e dirigiu Clark Gable mais vêzes do que qualquer outro diretor, lançando a personalidade fílmica de Gable como “homem durão com as mulheres” em Uma Alma Livre, o primeiro dos oito filmes que fez com ele. Brown demonstrou ainda um talento raro para despertar as emoções de astros infantís como, por exemplo, Butch Jenkins em A Comédia Humana, Elizabeth Taylor e Mickey Rooney em A Mocidade é Assim Mesmo e Claude Jarman Jr. em Virtude Selvagem.

Stevens Duryea Company

Stevens Duryea Company

Clarence Brown nasceu em Clinton, Massachussets, onde seus pais trabalhavam em uma manufatura de algodão. Quando Brown tinha onze anos de idade, a família se estabeleceu em Knoxville no Tennessee. Alí ele completou os estudos secundários e se formou em engenharia mecânica e elétrica. Apaixonado por automóveis, arrumou emprego na Moline Auto Company. Depois, trabalhou na Stevens Duryea Company e, mais tarde, abriu uma concessionária, a Brown Motor Car Company em Birmingham, Alabama.

Os negócios iam bem, mas Brown começou a se interessar por outra coisa: todos os dias, na hora do almoço, ia ver os filmes produzidos pelos estúdios Peerless, onde funcionavam como diretores Frank Crane, Albert Capellani, Emile Chautard e Maurice Tourneur.

Estúdio da Peerless

Estúdio da Peerless

Maurice Tourneur

Maurice Tourneur

Repentinamente, decidiu largar o que estava fazendo e partir para Fort Lee, New Jersey, onde se situava a séde da Peerless, tendo a sorte de ser logo contratado como assistente de Tourneur. “Em menos de seis meses eu já redigia os títulos e filmava todas as tomadas em exteriores. Tourneur detestava as externas, porque não podia controlar as condições de filmagem como em um estúdio. Ele me ensinou o que se deve saber sobre a fabricação de um filme: a composição de um plano (Touneur era um verdadeiro pintor, capaz de compor os mais belos enquadramentos) e o ritmo. Devo tudo o que sei a este grande artista” (Entrevista concedida a Kevin Brownlow, reproduzida em The Parade’s Gone By). A primeira intervenção de Brown deu-se em Lágrimas e Risos da Boemia / Trilby / 1915, interpretado por Clara Kimball Young, e ele ficou com Tourneur cerca de seis anos.

Ao retornar da primeira Guerra Mundial, durante a qual serviu como instrutor de vôo, dirigiu sozinho, mas supervisionado por Tourneur, Sublime Redentor / The Great Redeemer / 1920, co-dirigiu com Tourneur Mulheres Levianas / Foolish Matrons / 1921 e, quando o mestre se acidentou após duas semanas de filmagem de O Último dos Moicanos / The Last of the Mochicans / 1921, assumiu a direção, realizando provavelmente três quartos do filme.

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Produzido pela Associated Producers, O Último dos Moicanos manteve o máximo de fidelidade ao romance célebre de James Fenimore Cooper e explorou magnificamente a paisagem a ar livre do Big Bear Valley e do Yosemite National Park. Brown forjou planos em silhuetas e de interiores escuros enquadrados em contraste com a luz, de grande beleza pictórica. Ele usou potes com fumaça para criar a ilusão de raios de luz atravessando a neblina e acionou um carro de bombeiros e suas mangueiras para providenciar uma tempestade na floresta. As sequências mais emocionantes são o massacre no Fort Williams e a perseguição de Cora (Barbara Bedford) por Magua (Wallace Beery) e o seu salto para a morte do alto de uma colina.

Cena de O Último dos Mohicanos

Cena de O Último dos Mohicanos

Cena de O Último dos Mohicanos

Cena de O Último dos Mohicanos

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Cena de O Último dos Mohicanos

Cena de O Ultimo dos Mohicanos

Cena de O Ultimo dos Mohicanos

Quando Brown se desligou de Tourneur, fez A Luz nas Sombras / The Light in the Dark / 1922 para Jules Brulatour e Não Case por Dinheiro / 1923, para a Preferred. Ele depois assinou um contrato com a Universal e fez cinco filmes, todos de muito sucesso: Libelo Tremendo / The Acquittal / 1923, Heroismo Sublime / The Signal Tower / 1923, A Borboleta / Mademoiselle Butterfly / 1924, À Míngua de Amor / Smouldering Fires / 1925 e Mãe é Sempre Mãe / The Goose Woman / 1925, filme que o ajudaria a conseguir um contrato com a United Artists.

Lon Chaney em A Luz nas Sombras

Lon Chaney em A Luz nas Sombras

Esta companhia deu a Brown a oportunidade de dirigir o grande sedutor da tela Rudoph Valentino em A Águia / The Eagle / 1925 e Norma Talmadge em Kiki / Kiki / 1926. Os últimos quatro filmes citados foram os mais importantes desta fase da carreira de Brown.

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Cena de A Míngua de Amor

Cena de A Míngua de Amor

Cena de A Míngua de Amor

Cena de A Míngua de Amor

À Mingua de Amor é um estudo psicológico que chama a atenção pela esplêndida caracterização de Pauline Frederick como Jane Vale, mulher de negócios quarentona, enérgica e exigente, que se rende a um amor impossível. Jane casa-se com Robert (Malcolm McGregor), jovem empregado da fábrica que dirige mas depois, percebendo a diferença de idades entre eles e que sua irmã Dora (Laura La Plante) o ama, abre mão da felicidade. Em uma cena de mau presságio Brown enquadra o triângulo amoroso atrás de um lindo arranjo de flores (Jane no centro, juntando seu rosto aos de Dora e Robert, que a ladeiam). Jane diz: Nós vamos ser as pessoas mais felizes do mundo” e espeta o dedo em um espinho. O filme acaba com outro three shot (planos com três pessoas dentro do quadro), mas desta vez Jane está conformada e feliz com a união de Dora e Robert.

Louise Dresser em Mãe é Sempre Mãe

Louise Dresser em Mãe é Sempre Mãe

Mãe é Sempre Mãe é um melodrama sentimental tendo como figura central, Marie de Nardi (Louise Dresser), cantora de ópera de fama internacional. Ela dá a luz um filho ilegítimo e, em consequeência, perde a voz no auge de uma carreira brilhante. Amargurada, começa a beber e depois, para sobreviver, passa a criar gansos, morando em uma choupana miserável em lugar afastado. Sob o nome de Mary Holmes, educa o filho Gerald (Jack Pickford), culpando-o sempre pelo seu declínio. Gerald fica noivo de uma atriz, Hazel Woods (Constance Bennett). Quando um milionário que patrocina o teatro local é assassinado, Marie vê a chance de se projetar de novo diante do público e inventa uma história sobre o crime, colocando-se como testemunha-chave: porém seu depoimento prejudica Gerald, acusado do crime. Percebendo isso, o seu amor suprimido vem à tona, e ela se retrata, aparecendo depois o verdadeiro culpado.

Jack Pickford e Constance Bennett em Mãe é Sempre ãe

Jack Pickford e Constance Bennett em Mãe é Sempre Mã

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Clarence Brown na filmagem de Mãe é Sempre Mãe

Clarence Brown na filmagem de Mãe é Sempre Mãe

Brown repete suas composições triangulares para sugerir emoção e pensamentos e usa o simbolismo como, por exemplo, em uma cena na qual Gerald acidentalmente quebra a unica gravação registrando a voz da sua mãe famosa. Mas a dona do espetáculo é Louise Dresser com a sua representação de uma atriz decaída e sua impressionante transformação de megera desgrenhada, suja e maltrapilha para uma mulher redimida pelo poder do amor.

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Na trama de A Águia, Vladimir Dubrowski (Rudolph Valentino), jovem tenente cossaco, rejeita os avanços amorosos da Czarina Catarina II (Louise Dresser), torna-se “A Águia”, defensor do pobres e oprimidos, e jura vingança contra Kirilla Troekouroff (James Marcus), que se apoderara dos bens de sua família. Disfarçando-se como o professor particular francês da filha de Kirilla, Mascha (Vilma Banky), apaixona-se pela moça. Aprisionado pelas tropas do governo, é sentenciado à morte, casa-se com Mascha na prisão e, no último momento, ele e Mascha são salvos graças à Czarina.

Louise Dresser e Valentino em A Águia

Louise Dresser e Valentino em A Águia

Rudolph Valentino e Louise Dresser em A Águia

Rudolph Valentino e Louise Dresser em A Águia

O script de Hans Kraly tomou emprestado a máscara negra do Zorro, a audácia física, e o tema da dupla identidade; mas foi além, dando ao herói não duas, mas três personas: o tenente cossaco da Guarda Imperial Vladimir Dubrowski, o bandido mascarado tártaro Águia Negra, e o professor particular francês Marcel Le Blanc de cartola e colete. Kraly e Brown temperam o romantismo da história com um leve humor satírico (Valentino zomba de sua imagem fílmica – tentando tirar com dificuldade um anel que ficou emperrado no seu dedo ou quando põe pimenta demais na sua sopa porque ele está olhando estupidamente para a sua deslumbrante pupila etc.).

Vilma Banky e Rudolph Valentino em A Águia

Vilma Banky e Rudolph Valentino em A Águia

Clarence Brown dirige Valentino em A Águia

Clarence Brown dirige Valentino em A Águia

Cena de A Águia

Cena de A Águia

William Cameron Menzies caprichou na decoração de interiores, Adrian fez o mesmo com o vestuário, o astro encarnou um herói de ação em movimento perpétuo (perseguindo uma carruagem conduzida por cavalos desembestados, escapando por uma janela, lutando contra um urso ameaçador), e Vilma Banky formou com ele uma dupla romântica ideal.

Vilma Banky e Valentino em A Águia

Vilma Banky e Valentino em A Águia

O filme continha ainda um dos travelings mais famosos da História do Cinema, quando a câmera desliza para trás sobre uma mesa de banquete enorme. A câmera inicia seu percurso a partir de um personagem, Kirilla, comendo em uma das extremidades da mesa. Montada em cima de uma ponte de madeira construída sobre dois carrinhos colocados em cada lado da mesa, a câmera desliza pelo meio da mesa, passando por outros ocupantes, até a sua outra extremidade. Para não obstruir a passagem da câmera, os aderecistas iam retirando os candelabros e os recolocando nos seus lugares depois que a câmera passasse por eles. O mesmo efeito seria repetido em Anna Karenina.

Cena de Kiki

Cena de Kiki

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Ronald colman e Norma Talmadge em Kiki

Ronald Colman e Norma Talmadge em Kiki

No filme restante, uma jovem parisiense vendedora de jornais, Kiki (Norma Talmadage), tentando ser corista, vive brigando com Paulette (Gertrude Astor), a estrela e namorada do gerente do teatro, Monsieur Renal (Ronald Colman), e acaba conquistando o amor dele. Brown dirigiu esta comédia romântica gostosa – escrita por Hans Kraly – na qual Norma, apesar de não ter a mocidade que o papel requeria, demonstra seu talento histriônico. Brown declarou em uma entrevista, que Norma possuia um dom natural para a comédia, e serve como um exemplo disto a sequência na qual ela finge que está inconsciente e dura como uma tábua e o doutor diagnostica um ataque de catalepsia. O seu timing enquanto o médico levanta e abaixa sua perna e seu braço se levanta é perfeito e o efeito cômico, engraçadíssimo. As outras cenas da estratégia da jovem jornaleira para chegar ao empresário também são muito divertidas.

Norma Talmadge e Ronald Colman em Kiki

Norma Talmadge e Ronald Colman em Kiki

Da United Artists, Brown transferiu-se para a MGM onde (com exceção de quando a MGM emprestou-o para a Twentieth Century–Fox como diretor de E as Chuvas Chegaram), ficaria pelo resto de sua carreira e, se tornaria um de seus top directors.

Três grandes filmes marcaram o início da trajetória artística do diretor na “Marca do Leão”: A Carne o Diabo / Flesh and the Devil / 1926, Ouro / Trail of the ’98 / 1927 e Mulher de Brio / A Woman of Affairs / 1928.

Clarence Brown dirige Greta Garbo e John Gilbert em A Carne e o Diabo

Clarence Brown dirige Greta Garbo e John Gilbert em A Carne e o Diabo

Na sinopse de A Carne e o Diabo, Leon von Sellenthin (John Gilbert) e Ulrich von Kletzigk (Lars Hanson) nasceram juntos e fazem um pacto de eterna amizade. Leo encontra Felicitas (Greta Garbo) em um baile. Quando o marido dela surpreende os dois a sós, trava-se um duelo, e o marido é morto. Forçado a partir em missão no exterior, Leo pede que Ulrich console a viúva. Ao retornar, três anos depois, perdoado pelo imperador, Felicitas está casada com Ulrich. Leo tenta em vão refutar as tentativas dela em reviver o antigo romance, e afinal os dois amigos se defrontam em duelo, cada qual incapaz de desferir o tiro fatal. Correndo para o local do confronto, Felicitas cai em um rio gelado e morre, e os dois amigos se reconciliam.

Cena de A Carne e o Diabo

Cena de A Carne e o Diabo

Cena da comunhão em A Carne e o Diabo

Cena da comunhão em A Carne e o Diabo

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Greta Garbo e John Gilbert em A Carne e o Diabo

Greta Garbo e John Gilbert em A Carne e o Diabo

Cena de A Carne e o Diabo

Cena de A Carne e o Diabo

Neste primeiro dos sete filmes que fez com Garbo, Brown compôs cenas de raro esplendor plástico, sendo muito lembradas as do primeiro duelo, com os contendores fotografados em silhueta e a fusão para Garbo experimentando seu chapéu preto; a de Gilbert acendendo o cigarro de Garbo e jogando um reflexo luminoso no rosto de sua amada; a da sincronização do nome de Felicitas nos títulos com as imagens dos cascos do cavalo, do apito da barca e das rodas do trem que conduzem Gilbert, cada corte mais curto, à medida que o meio de transporte é mais veloz; a da comunhão – ao mesmo tempo erótica e sacrílega – quando Garbo vira o cálice com a hóstia e beija o lugar onde Gilbert colocara seus lábios. Sem dúvida alguma, um dos melhores filmes do cineasta.

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Ouro focaliza a febre do ouro, que se espalha por toda a nação, atiçando os homens a partirem para o Alasca. Um grupo de pessoas, incluindo a jovem Berna (Dolores Del Rio) e seu avô cego, ruma para o Klondike, onde impera a vontade e a lei do cruel Jack Locasto (Harry Carey). Berna enamora-se de um jovem aventureiro, Larry (Ralph Forbes), e tenta convencê-lo a voltar; mas o rapaz quer tentar a sorte mais uma vez e, juntamente com o grandalhão Lars Petersen (Karl Dane), Salvation Jim (Tully Marshall) e Samuel Foote, conhecido como “O Verme” (George Cooper), acha um veio de ouro. Enquanto Lars e Jim vão à cidade registrar seus direitos, Larry é atacado por “Verme” que, ao fugir, é devorado pelos lobos. Na cidade, Larry encontra Berna prostituída e, depois de liquidar com Locasto, reúne-se com a amada, Jim e Lars.

Clarence Brown na filmagem de Ouro

Clarence Brown na filmagem de Ouro

Dolores Del Rio e Ralph Forbes em Ouro

Dolores Del Rio e Ralph Forbes em Ouro

Filmagem de Ouro

Filmagem de Ouro

Brown e sua equipe tiveram muitos obstáculos durante a filmagem, entre eles a grande altitude e o frio nas locações em Denver. Ele relatou para Kevin Bronlow que esse foi o filme mais difícil que fez. Quando deixou o Colorado, parte da companhia ficou para trás, para fazer algumas tomadas extras, e “uma avalanche matou dois ou três homens”. No Alaska, onde levou uma unidade para filmar a sequência nas correntezas, mais três homens foram perdidos. Porém o diretor conseguiu reviver com eficiência a epopéia da corrida do ouro. Desde a partida do navio com seus milhares de figurantes à uma avalanche espetacular, o filme é soberbo. Ainda mais, suponho, visto no processo chamado Fantom Screen, a resposta da MGM para o processo Magnascope da Paramount (um dos vários processos de tela larga desenvolvidos nos anos vinte).

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Greta Garbo e John Gilbert em Mulher de Brio

Greta Garbo e John Gilbert em Mulher de Brio

Em Mulher de Brio, a linda e elegante Diana Merrick (Greta Garbo) apaixona-se pelo aristocrático Neville Holderness (John Gilbert), mas o pai dele desaprova o casamento, e Neville obedece. Diana casa-se com David Furness (Johnny Mack Brown), amigo de seu irmão Geofrey (Douglas Fairbanks, Jr.), sem saber que ele é um ladrão. Durante a lua-de-mel, ao saber que a polícia anda atrás dele, David se mata, e Diana indeniza as vítimas de seus crimes. Retornando à Inglaterra depois de alguns anos, não consegue salvar Geofrey do alcoolismo; e quando Neville tenta voltar para os seus braços, Diana o repele, influenciada pela atitude do pai dele, e porque ele está casado com Constance (Dorothy Sebastian). Diana então joga seu carro contra uma árvore, debaixo da qual ela e Neville declararam amor um pelo outro pela primeira vez, e morre.

Douglas Fairbanks Jr. e Greta Garbo em Mulher de Brio

Douglas Fairbanks Jr. e Greta Garbo em Mulher de Brio

Cena de Mulher de Brio

Cena de Mulher de Brio

Greta Garbo e Lewis Stone em Mulher de Brio

Greta Garbo e Lewis Stone em Mulher de Brio

Duas cenas em particular tornaram-se clássicas. A primeira passa-se no quarto de Gilbert. Garbo se estende sobre um divã, faz girar distraidamente seu anel demasiado grande em torno de seu dedo, e observa: “Disseram-me que eu era como este anel – pronto para cair”. Em câmera baixa, sob uma iluminação expressionista, vemos Gilbert se inclinar lentamente sobre ela; eles se confundem em um beijo e, da mão abandonada de Garbo, cai o anel. Imagem altamente metafórica. O segundo instante antológico sobrevém perto do final, quando Garbo no hospital, após uma depressão nervosa, recebe um buquê de flores de Gilbert e o afaga em uma ardente pantomima de amor. Filmada mais uma vez em low angle, ela projeta seu desejo sobre as flores que envolvem seu rosto. Brown dá o sopro passional a este drama, cuja personagem tem remota ressonância ibseniana.

Greta Garbo em Mulher de Brio

Greta Garbo em Mulher de Brio

Depois de realizar duas produções de pouca envergadura, O Prodígio das Mulheres / Wonder of Women / 1929 e Turuna da Marinha / Navy Blues, Brown foi convidado para dirigir Greta Garbo no seu primeiro filme falado, Anna Christie / Anna Christie / 1930, adaptado por Frances Marion com uma fidelidade surpreendente à peça de Eugene O’ Neill, ganhadora do Prêmio Pulitzer em 1921, mas um tanto “envelhecida” em 1930.

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Greta Garbo e Marie Dressler em Anna Christie

Greta Garbo e Marie Dressler em Anna Christie

Greta Garbo e Charles Bickford em Anna Christie

Greta Garbo e Charles Bickford em Anna Christie

Tal como os outros filmes do início do cinema falado – este é bastante estático, destacando-se todavia o desempenho de Greta Garbo e seus partners Marie Dessler e Charles Bickford. Aparecendo somente após decorridos quinze minutos de projeção, ela põe fim à ansiedade da platéia de saber se a atriz sueca passaria no teste sonoro, dizendo – com uma voz que se adequava à sua personalidade e à sua aparência – estas primeira palavras memoráveis: “Gimme a visky, ginger ale on the side – and don’t be stingy baby”. Anna Christie obteve um sucesso tal, que a MGM decidiu realizar uma versão alemã, confiada a Jacques Feyder, mantendo-se Garbo no papel principal. Ela, Brown e o fotógrafo William Daniels foram indicados para o Oscar.

Clarence Brown dirige Greta Garbo em Anna Christie

Clarence Brown dirige Greta Garbo em Anna Christie

Infelizmente, os dois filmes seguintes de Brown com Greta Garbo Romance / Romance / 1930 e Inspiração / Inspiration / 1931, apesar do luxo e do glamour providenciados pela mesma equipe de Anna Christie (William Daniels, Cedric Gibbons e Adrian), decepcionaram – em grande parte devido à má qualidade dos seus respectivos roteiros e diálogos ridículos. No primeiro ela contracena com Gavin Gordon; no segundo, contracena com Robert Montgomery: em ambos os filmes, coajuvados por Lewis Stone.

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Uma Alma Livre / A Free Soul / 1931, conta a história de Stephen Ashe, advogado criminalista alcoólatra (Lionel Barrymore), que livra o gângster Ace Wilfong (Clark Gable) da prisão e o convida para uma festinha em sua casa. Ace conquista o coração de Jan (Norma Shearer), a filha de Stephen. Os dois fogem juntos para desespêro do causídico e de Dwight Winthrop (Leslie Howard), jogador de polo que ia se casar com Jan. Dwight mata Ace ao vê-lo maltratar Jan e Stephen o defende no tribunal com tanto entusiasmo, que sofre um ataque cardíaco e morre nos braços de Jan.

Norma Shearer e Clark Gable em Uma Alma Livre

Norma Shearer e Clark Gable em Uma Alma Livre

Norma Shearer, Clark Gable e Leslie Howard em Uma Alma Livre

Norma Shearer, Clark Gable e Leslie Howard em Uma Alma Livre

Lionel Barrymore e Norma Shearer em Uma Alma Livre

Lionel Barrymore e Norma Shearer em Uma Alma Livre

Clarence Brown orienta seus atores na filmagem de Uma Alma Livre

Clarence Brown orienta seus atores na filmagem de Uma Alma Livre

Esse melodrama criminal, repleto de sensualidade, realizado no estilo típico da Metro dos anos 30, assinala o encontro de Brown com Gable e deu o Oscar de Melhor Ator para Lionel Barrymore, notadamente pelo seu monólogo (de 14 minutos) na argumentação jurídica sentimental diante dos jurados. Norma Shearer e Clarence Brown também foram candidatos

Cena de Possuída

Cena de Possuída

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Clark Gable e Joan Crawford em Possuída

Clark Gable e Joan Crawford em Possuída

No mesmo ano, Clark Gable apareceu em mais um filme de Brown, Possuída / Possessed, que marcou o início de outra parceria de sucesso do diretor com uma estrela da MGM, esta vez com Joan Crawford. Ela é Marian, a operária de fábrica cansada da rotina da cidade pequena, que vai para Nova York; lá torna-se amante de Mark Whitney (Clark Gable), um advogado com ambições políticas, e se sacrifica para não lhe atrapalhar a carreira.

Clarence Brown dirige Joan Crawford e Clark Gable em Possuída

Clarence Brown dirige Joan Crawford e Clark Gable em Possuída

Filmagem de Possuída

Filmagem de Possuída

Joan Crawford e Clark Gable em um intervalo de filmagem de Possuída

Joan Crawford e Clark Gable em um intervalo de filmagem de Possuída

Em uma cena famosa, muito bem armada por Brown,  a operária contempla maravilhada  as representações de riqueza e lazer nos compartimentos luxuosos de um trem que passa e agarra a chance de escapar do seu ambiente triste e monótono, guardando o cartão de visitas que um dos passageiros ricos lhe dá, oferecendo-lhe champagne e convidando-a para ir procurá-lo em Nova York. Trava-se então um diálogo premonitório. Ele diz: “Existem duas espécies de pessoas: as que estão dentro (do trem) e as que estão fora. Ela responde: “Não é fácil (de entrar)”. Ele retruca: “Tudo é fácil para uma mulher”.

Clark Gable e Joan Crawford em Possuída

Clark Gable e Joan Crawford em Possuída

Retratando Marian ocomo uma mulher obstinada e cínica, que obtém sucesso material, Possessed oferece uma saída para as platéias da era da Depressão. Porém a realização de seu desejo de ascenção social tem um preço: ela se afasta da suas raízes da classe trabalhadora enquanto seu status como amante a exclui da sociedade “respeitável”.

Seguiram-se no percurso cinematográfico de Brown vários filmes de rotina, que se equivalem artísticamente: Emma / Emma / 1931, Redimida / Letty Lynton / 1932, Amor de Mandarim / The Son-Daughter / 1932, O Futuro é Nosso / Looking Forward / 1933, Asas da Noite / Night Flight / 1933, Três Amores / Sadie McKee / 1934 e Acorrentada / Chained / 1934.

Marie Dressler e Jean Hersholt em Emma

Marie Dressler e Jean Hersholt em Emma

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Filmagem de Emma

Filmagem de Emma

Em Emma, o destaque vai para Marie Dressler, indicada para o Oscar de Melhor Atriz por sua atuação como a criada, Emma Thatcher, que trabalha durante anos para uma família e cria com carinho maternal os filhos do casal. Quando o patrão, Mr. Fredrick Smith (Jean Hersholt), fica viúvo, ela se casa com ele e, quando ele morre, deixa para ela toda a sua fortuna, ocorrendo graves consequências com relação aos filhos. No meio do drama ocorrem cenas divertidas como aquela passada na estação ferroviária, quando Smith está procurando Emma, comprando a passagem dela e despachando suas malas. Ela está indo para Niagara Falls e, antes de sua partida, Smith lhe propõe casamento, e em seguida acompanha-a na sua viagem, e eles se casam.

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Joan Crawford em Redimida

Joan Crawford em Redimida

Melodrama audacioso em termos de censura, Redimida traz de novo Joan Crawford sob o comando de Brown, desta vez como uma jovem da sociedade, Leticia Lytton, que se envolve com um ricaço americano, Hale Darrow (Robert Montgomery) e acaba envenenando acidentalmente seu ex-amante, Emile Renaul (Nils Ahster) … ficando contente com isso e não sendo punida pela justiça. O que mais chama atenção no filme, além desta impunidade, é o vestido que Adrian criou para a estrela, a fim de tornar seus ombros ainda mais largos, envolvendo-os em volumosos tufos de fazenda. Embora o vestido fosse visto apenas brevemente, ele causou tamanha sensação, que milhares de cópias tiveram que ser feitas, para serem vendidas às fãs no varejo (v. meu post, Grandes Figurinistas do Cinema I). O filme saiu completamente de circulação depois que um tribunal decidiu que seu script era muito semelhante à peça Dishonored Lady (1930).

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Helen Hayes em Amor de Mandarim

Helen Hayes e Ramon Novarro em Amor de Mandarim

Cena de Amor de Mandarim

Cena de Amor de Mandarim

Amor de Mandarim, é uma mistura de história de amor e intriga política, um tanto letárgica, passada na San Francisco de 1911, onde, com a finalidade de angariar fundos para a revolução em seu país, um chinês vende a própria filha Lien Wha (Helen Hayes) em um leilão, frustrando seu ídilio com um jovem estudante universitário pobre, Tom Lee (Ramon Novarro), que é, na verdade, o Príncipe Chun, herdeiro de uma posição importante na rebelião. A melhor cena é a do assassinato do vilão Fen Sha (Warner Oland) por Lien, com a sua trança, no quarto nupcial.

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Lionel Barrymore e Lewis Stone em O Futuro é Nosso

Lionel Barrymore e Lewis Stone em O Futuro é Nosso

O Futuro é Nosso, mostra, em chave sentimental, como Gabriel Service (Lewis Stone), dono de uma grande loja de departamentos de Londres, ameaçada de falência, reativa seus negócios graças à ajuda de seu filho Michael (Phillips Holmes) e de um velho empregado, Tim Benton (Lionel Barrymore) que fôra demitido devido à má situação da empresa. Brown trata o assunto com a delicadeza e finura que lhe são peculiares, apresentando cenas de grande sentimento como, por exemplo, o momento em que Service despede Benton e também a chegada deste em casa, dando a notícia à esposa.

John e Lionel Barrymore em Asas da Noite

John e Lionel Barrymore em Asas da Noite

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Myrna Loy e William Gargan em Asas da Noite

Myrna Loy e William Gargan em Asas da Noit

Robert Montgomery e Lionel Barrymore em Asas da Noite

Robert Montgomery e Lionel Barrymore em Asas da Noite

Asas da Noite revive episodicamente, com boas cenas aéreas (a sombra do avião passando sobre os pampas e um cavalo selvagem que corre, um aparelho que sobrevoa a cordilheira dos Andes, perde-se na tempestade, e cai no mar etc.) e certo suspense, os personagens do romance de Saint Exupéry, tendo à frente do elenco John Barrymore como Rivière, o severo e inflexível diretor da linha aérea sul-americana, Lionel Barrymore como o Inspetor Robineau, Clark Gable e Helen Hayes (piloto Fabian e sua esposa), Robert Montgomery (piloto Pellerin), William Gargan e Myrna Loy (piloto brasileiro e sua espôsa).

Cena de Três Amores

Cena de Três Amores

Franchot Tone e Joan Crawford em Três Amores

Franchot Tone e Joan Crawford em Três Amores

Joan Crawford em Três Amores

Joan Crawford em Três Amores

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Franchot Tone, Joan Crawford e Clarence Brown ensaiam

Franchot Tone, Joan Crawford e Clarence Brown ensaiam

Três Amores descreve com uma ousadia própria da era Pré-Código os três relacionamentos de Sadie McKee Brenan (Joan Crawford), copeira de uma mansão na qual a mãe é cozinheira: com um namorado escroque, Tommy Wallace (Gene Raymond) que a abandonou; com um milionário alcoólatra, Jack Brennan (Edward Arnold); e com o filho do seu patrão, Michael Anderson (Franchot Tone), que sempre fôra enamorado dela. O tema desse melodrama é o amor perdido e a recuperação emocional após este trauma; mas percebe-se também na trama alguma análise do mecanismo social. O maior trunfo do filme são os vestidos deslumbrantes de Adrian para Crawford, e os close-ups da atriz, no auge do seu glamour.

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Otto Kruger e Joan Crawford em Acorrentada

Otto Kruger e Joan Crawford em Acorrentada

Clark Gable e Joan Crawford em Acorrentada

Clark Gable e Joan Crawford em Acorrentada

Acorrentada é um drama romântico seguindo a velha fórmula do triângulo amoroso. Dono de uma companhia de navegação (Otto Kruger) enamora-se da jovem Diana (Joan Crawford), mas a esposa dele não quer lhe conceder o divórcio. Diante do impasse, Diana parte para a América do Sul e, na viagem, apaixona-se por Mike Bradley (Clark Gable). Filmado no estilo chique da MGM, o filme realça o magnetismo da dupla Gable-Crawford e foi o primeiro dos oito filmes que Joan Crawford fez com o fotógrafo George Folsey. Folsey descobriu um esquema de iluminação que enfatizava a beleza da atriz. Crawford adorou ver como a sua imagem ficou e pediu o mesmo tipo de iluminação pelo resto de sua carreira.

 

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