FILMES PERDIDOS DO CINEMA MUDO AMERICANO

maio 12, 2017

A era do cinema mudo americano durou mais ou menos de 1912 a 1929. Durante esse tempo, os realizadores de filmes criaram a linguagem cinematográfica, os filmes que eles fizeram atingiram o auge da perfeição artística e, com seus astros e estrelas e altos valores de produção, espalharam a cultura americana através do mundo. Com o advento do som, os filmes silenciosos sumiram de vista, e muitos desapareceram para sempre.

Houve diversas causas para este desaparecimento:

  1. Era caro armazenar os filmes (se os estúdios quizessem fazer isto de maneira apropriada) e como muitos não tinham mais valor comercial, eles simplesmente os jogavam fora. Quando o longa-metragem se consolidou como formato preferido pelo público, não havia sentido para os produtores manter em estoque os velhos filmes de um ou dois rolos, pois não havia mais mercado para eles. E com o advento do som a partir de 1927, os filmes mudos tornaram-se um estorvo, ocupando espaço sem gerar nenhum lucro.
  2. Os filmes costumavam ser destruídos em incêndios, porque eram feitos de nitrocelulose, que tinha a mesma estrutura química do algodão-pólvora, usado em explosivos. Em consequência, o filme de nitrato era extremamente inflamável e tinha a tendência de sofrer combustão espontânea; uma vez inflamado, criava seu próprio oxigênio enquanto queimava, desprendendo fumaça tóxica. Apesar de regulamentações como o Cinematograph Act de 1909 que estipulava que um projetor devia ser conservado em uma cabine à prova-de-fogo, durante as primeiras seis décadas de vida do cinema, durante cada segundo de quase toda exibição de filme no mundo, uma substância altamente combustível estava passando a milímetros de distância de uma fonte de luz excepcionalmente quente, situada logo atrás de uma sala escura cheia de gente.
  3. Os filmes eram reciclados para o reaproveitamento de sua matéria-prima, dissolvendo-se as películas para a reobtenção da prata ou fornecimento de celulose para a fabricação de vassouras.
  4. Os filmes apodreciam. Mesmo se escapava de pegar fogo, ele ainda se decompunha até literalmente ser reduzido a pó. Muitos tesouros tiveram este triste destino. Por exemplo, a atriz Colleen Moore havia depositado seus filmes silenciosos no Museu de Arte Moderna de Nova York, e eles, sem o necessário cuidado na sua conservação, eventualmente se deterioraram.

Em 2013, em um estudo pioneiro “The Survival of American Silent Feature Films: 1912-1929”, comissionado pela National Film Preservation Board da Biblioteca do Congresso, o historiador e arquivista David Pierce (que entre outros méritos teve o de ser o fundador da Media History Digital Library, projeto que digitalizou e permitiu o acesso grátis a dezenas de revistas de cinema americanas) elaborou um relatório e formou um banco de dados, contendo informações valiosas sobre quase 11 mil títulos de filmes de longa-metragem americanos lançados entre 1912-1929.

Arquivo de Filmes da Biblioteca do Congresso

Não existe um único número para filmes mudos americanos existentes, porque as cópias sobreviventes variam de formato e de inteireza. A pesquisa mostrou que: 1) apenas quatorze por cento (1.575 títulos) dos filmes de longa metragem produzidos e distribuidos no âmbito doméstico de 1912 a 1929, ainda existem no seu formato original de 35 mm. 2) onze por cento (1.174 títulos) dos filmes que estão completos somente existem como versões estrangeiras ou em formatos de baixa-qualidade como 28 mm ou 16mm. 3) cinco por cento (562 títulos) estão incompletos, faltando alguma parte do filme ou existindo apenas como uma versão condensada. 4) dos 3.311 filmes que sobreviveram em qualquer formato, 886 foram encontrados no exterior (destes, vinte e três por cento (210 títulos) já foram repatriados para os Estados Unidos). Os remanescentes 70 por cento são considerados perdidos.

Havia uma área onde os estúdios de Hollywood frequentemente perdiam o contrôle do seu produto: a distribuição internacional. Os filmes americanos rapidamente se tornaram as atrações mais populares nos cinemas do mundo inteiro e os estúdios enviavam seus títulos para todo o mercado estrangeiro que ansiava por eles. O problema era trazer as cópias de volta, considerando que o transporte transoceânico era feito por navio e que a comunicação telefônica entre continentes era rara, dificultando o contato com os representantes estrangeiros que cuidavam do lançamento dos filmes de Holywood. Por causa disso, muitas cópias de filmes americanos permaneceram no exterior.

Entre os filmes mais importantes que sobreviveram fora do país após terem desaparecido no âmbito doméstico e muitos anos depois foram recuperados, estavam: Ridi, Pagliacci ! / Laugh, Clown, Laugh / 1928 de Herbert Brenon – encontrado no Reino Unido; A Torrente da Fama / Upstream / 1927 de John Ford – encontrado na Nova Zelândia; O Monstro do Circo / The Unknown / 1927 de Tod Browning – encontrado na França; Rosita / Rosita / 1923 de Ernst Lubitsch – encontrado na Russia; Oliver Twist / Oliver Twist / 1922 de Frank Lloyd – encontrado na Sérvia; Esposa Mártir / Beyond the Rocks / 1923 de Sam Wood – encontrado na Holanda.

A maior coleção de filmes americanos exportados veio do Národní Filmovy Archiv da República Theca, fundado em 1943. A sua primeira grande aquisição foi no final dos anos quarenta, uma coleção de cerca de 400 filmes mudos de curta e longa-metragem do Sr. Bouda, gerente de um cinema itinerante. Em 1966, o Národní Archiv respondeu um telefonema do Sr. Pisvejc, outro exibidor ambulante, que havia armazenado seus filmes em uma fazenda de criação de galinhas, entre eles 80 longas-metragens dos anos vinte, a maioria westerns estrelados por Tom Mix, Buck Jones, etc.

Nos Estados Unidos, a maioria dos filmes sobreviventes estão na posse de cinco grandes arquivos: The Packard Campus for Audio Visual Conservation, que faz parte da Biblioteca do Congresso; Museum of Modern Art; George Eastman House; UCLA Film & Television Archive; The Academy Film Archive, setor da Academy of Motion Picture Arts and Sciences.

Uma arquivista mostra uma pequena porção do UCLA Film and Television Archive

UCLA Film and Television Archive

Alguns estúdios perceberam que seus filmes silenciosos tinham valor e tentaram preservá-los. A MGM possui mais dos seus filmes de longa-metragem mudos do que qualquer outro grande estúdio de Hollywood, porque nos anos sessenta decidiu preservar tudo o que ainda estava disponível.

Realizadores e artistas como, por exemplo, Douglas Fairbanks, Charles Chaplin, William S. Hart, D. W. Griffith, Mary Pickford, Cecil B. DeMille e Harold Lloyd preservaram seus filmes por conta própria (embora Lloyd tivesse perdido boa parte de sua obra em um incêndio no seu acervo no início dos anos quarenta).

John Hampton na sua cabine de projeção

A coleção de filmes em 16mm mais importante fora de um arquivo ou de um estúdio foi formada por John Hampton que, com sua esposa Dorothy, administraram o Silent Movie Theater de Los Angeles de 1942 a 1979. Ela faz parte agora da Stanford Theatre Collection no UCLA Film & Television Archive. Outra grande coleção é a de David Bradley – um fã que se tornou diretor de cinema -, hoje guardada na Lilly Library da Indiana University.

Por fim, convém lembrar La Giornata del Cinema Muto, um festival de cinema silencioso que, a partir de 1982, acontece todo ano no mês de outubro na cidade italiana de Pordenone, quando são exibidos pela primeira vez novos descobrimentos de cópias dadas como perdidas e que foram restauradas, provenientes de filmotecas inernacionais e colecionadores particulares.

 Selecionei os dez filmes perdidos que mais gostaria de ter visto:

1. ALTA TRAIÇÃO / THE PATRIOT/ 1928. Dir: Ernst Lubitsch.

Florence Vidor e Emil Jannings em Alta Traição

Emil Jannings e Ernst Lubitsch na filmagem de Alta Traição

Na Russia do século XVIII, o Czar Paulo (Emil Jannings) está cercado de intrigas homicidas e só confia no Conde Pahlen (Lewis Stone). Pahlen quer proteger seu amigo, o rei louco, mas por causa do horror dos atos praticados pelo monarca, ele sente que deve removê-lo do trono. Stefan (Harry Cording), açoitado pelo czar por não ter o número correto de botões nas suas polainas, junta-se ao conde na conspiracão. O príncipe coroado Alexandre (Neil Hamilton) fica aterrorizado ao saber dos planos deles e adverte o pai que, não sentindo amor pelo filho, manda prendê-lo por suas acusações tolas. Pahlen usa sua amante, a Condessa Ostermann (Florence Vidor), para atrair o czar ao seu quarto, onde ela lhe fala sobre a trama. O czar exige a presença de Pahlen, que o assegura de sua lealdade. Mais tarde naquela noite, o conde e Stefan entram no quarto do czar e logo ele está morto. Porém momentos depois Stefan aponta uma pistola para Pahlen. Enquanto o conde está morrendo caído no chão, a condessa aparece, abraça Pahlen, e ele diz: “Eu fui um mau amigo e amante – mas eu fui um Patriota”.

Obs. Sobrevivem oito minutos do filme, além do trailer, pertencentes à Cinemateca Portugesa. O fragmento de oito minutos, mostra os momentos de angústia do czar enlouquecido, mandando os guardas procurarem o conde Pahlen, que estaria traindo-o. Quando o conde entra na sala e inicia um diálogo com o czar, garantindo-lhe que não o está traindo, a imagem começa a ter falhas e, subitamente, o fragmento termina. O pedaço de filme, exibido pela única vez na Cinemateca Portuguesa em 2005, pertencia à coleção do cinéfilo e cineclubista do Porto, Henrique Alves Costa e foi entregue à Cinemateca em 2002 pela famíla dele. Trata-se provavelmente do que restou de uma cópia exibida em Portugal, onde The Patriot (como título de O Patriota) estreou no Cinema Tivoli em 4 de novembro de 1929.

2A ILHA DO TESOURO / TREASURE ISLAND / 1920. Dir: Maurice Tourneur.

Shirley Mason e Lon Chaney em A Ilha do Tesouro

Cena de A Ilha do Tesouro

O jovem Jim Hawkins (Shirley Mason) ajuda sua mãe viúva (Josie Melville) a administrar a Estalagem Admiral Benbow na costa oeste da Inglaterra. O capitão de navio, Billy Bones (Al Filson), chega na estalagem e pede a Jim que o avise se aparecer por ali um “marinheiro de uma perna só”. Certa manhã, um marujo violento chamado Black Dog (Wilton Taylor) entra na estalagem e exige que Bones lhe entregue a sua parte do tesouro do Capitão Flint. Bones rechaça o intruso e diz a Jim que, se por acaso for morto, ele pode ficar com tudo o que lhe pertence. Algum tempo depois, Pew (Lon Chaney), um pirata cego e medonho, obriga Jim a conduzí-lo até Bones, que mais tarde é encontrado assassinado. Jim encontra nas roupas de Bones um pacote e o entrega aos amigos de sua mãe, Dr. Livesey (Charles Hill Mailes) e Squire Trelawney (Sydney Deane). Dentro do pacote, eles descobrem o mapa com a localização do tesouro do Capitão Flint. O Squire compra um navio, “The Hispaniola,” e organiza uma expedição para achar o tesouro. Long John Silver (Charles Ogle), um marujo com uma perna-de-pau, é contratado como cozinheiro e Israel Hands (Joseph Singleton), George Merry (Lon Chaney) e Morgan (Bull Montana) estão entre a tripulação. Jim embarca clandestinamente e, em alto mar, ouve secretamente um plano de motim, arquitetado por Long John Silver. Ele informa ao Dr. Livesey, ao Squire e a Smollet (Harry Holden), o capitão do navio e, quando a terra é avistada, os amotinados são mantidos a distância até que os três chegam à ilha e se refugiam em um abrigo com Jim e os membros leais da tripulação. Trava-se uma batalha contra os piratas e o mapa cai nas mãos de Long John Silver; porém os piratas são eventualmente derrotados e Jim e os outros encontram o tesouro através de uma revelação por parte de Ben Gunn (não creditado), um pirata que havia sido abandonado por Flint na ilha.

 3. CASTELOS DE ILUSÕES / THE TOWER OF LIES / 1925. Dir: Victor Sjostrom.

Lon Chaney em Castelos de Ilusões

Cena de Castelos de Ilusões

O lavrador escandinavo Jan (Lon Chaney) trabalha pesado na terra durante longas horas, desconhecendo alegrias ou tristezas. Quando nasce sua filha, Goldie (Norma Shearer), a labuta penosa de sua vida transforma-se em felicidade. Ele e sua filha divertem-se com um jôgo favorito no qual ele é o imperador de um reino fictício. Anos depois, o dono da propriedade morre e seu filho Lars (Ian Keith) logo exige o pagamento imediato dos débitos de seus arrendatários, inclusive Jan. A fim de evitar o despejo de seu pai, Goldie vai para a cidade, prometendo-lhe que retornará dentro de poucos mêses. Quando ela compra a fazenda para seus pais, mas não volta como prometido, Jan perde sua sanidade, e retrocede ao passado, brincando com as crianças da vizinhança, vestido como o imperador imaginário. O tempo passa e Goldie finalmente retorna usando roupas extravagantes, o que deixa os vizinhos com a suspeita de que ela se tornou uma prostituta. Não suportando mais os rumores, Goldie volta para a cidade de barco, sem perceber que seu pai a está seguindo. No píer, Jan tropeça, e morre afogado. Um dia, Goldie retorna e se casa com seu namorado de infância, August (William Haines).

4. VAMPIROS DA MEIA-NOITE / LONDON AFTER MIDNIGHT / 1927. Dir: Tod Browning.

Lon Chaney em Vampiros da Meia-Noite

Cinco anos após a morte de Roger Balfour em sua residência em Londres, o Inspetor Burke da Scotland Yard (Lon Chaney) ainda está investigando o caso, recusando-se a acreditar que Balfour cometeu suicídio. Sir James Hamlin (Henry B. Walthall), o amigo mais íntimo de Balfour; Artur Hibbs (Conrad Nagel), sobrinho de Balfour; Lucille (Marceline Day), filha de Balfour; e o mordomo (Percy Williams) ainda são considerados suspeitos. O inspetor acredita que um criminoso sob hipnose vai recriar seu crime. Exímio hipnotizador, ele testa sua teoria magnetizando os principais suspeitos, colocando-os no cenário do crime e observando suas reações. Vampiros também figuram na solução do mistério e no final do relato, o vampiro vem a ser ninguém mais do que o próprio inspetor.

 5. O ROMANCE DE LENA / THE CASE OF LENA SMITH / 1929. Dir: Josef von Sternberg.

Cena de O Romance de Lena

Esther Ralston em O Romance de Lena

Em Viena, por volta de 1894, Lena (Esther Ralston), uma pobre campesina, casa-se secretamente com Franz (James Hall), um oficial do exército devasso e, depois do nascimento do filho, vai trabalhar na casa do marido como empregada, escondendo a verdade do sogro. Este tenta lhe tomar a criança e Franz, sem poder ajudá-la, comete suicídio. Quando a côrte recusa os apêlos de Lena, ela rouba o menino. Ele cresce e marcha para a guerra em 1914 de uma aldeia húngara.

Obs. Um fragmento de quatro minutos do primeiro rolo do filme foi encontrado em Dalian, China, e está agora guardado na Universidade Waseda, no Japão. Este fragmento foi exibido no 22º Festival do Filme Silenciso de Pordenone em 2003.

 6. THE LAST MOMENT / 1928. Dir: Paul Fejós.

Cena de The Lost Moment

Nos últimos momentos de sua vida, uma pessoa visualiza os instantes marcantes de sua existência. A primeira cena do filme mostra um homem (Otto Matteson) debatendo-se na água. Sua mão se ergue, indicando que está se afogando. Segue-se uma série de planos rápidos: duplas e triplas superposições da cabeça de um Pierrot, rostos de mulheres, faróis de automóveis piscando, rodas girando, um punhado de estrelas, uma explosão, um livro de criança. O rítmo do filme desacelera para resumir a vida do homem: tempos de colégio, mãe amorosa, pai severo, uma cerimônia de crisma, uma festa de aniversário, o circo, um romance adolescente com uma atriz do circo, discussão com seu pai, a partida do lar, passageiro clandestino em um navio, perambulando em uma taberna no porto, declamando para os beberrões, sendo atropelado por um carrro, uma operação e a convalescência em um hospital, tornando-se um ator, casando-se com a enfermeira que cuidou dele, uma briga, divórcio, a morte de sua mãe, o enterro, um caso amoroso com uma mulher casada, um duelo com o marido dela, a guerra e seu amigo morrendo em seus braços. Ele retorna à vida civil, retoma sua profissão de ator, apaixona-se pela parceira, se casam, ela morre. Vestido como Pierrot, ele caminha para casa, chega ao lago, olha para seu reflexo, e entra na água até que somente sua mão fica visível. A mão desaparece, e o filme termina com umas bolhas subindo à superfície.

 7. FRÍVOLO AMOR / TRIFLING WOMEN / 1922. Dir: Rex Ingram.

Ramon Novarro e Barbara La Marr em Frívolo Amor

Ramon Novarro e Barbara La Marr em Frívolo Amor

Barbara La Marr em Frívolo Amor

Para dar uma lição à sua filha Jacqueline (Barbara La Marr) sobre os perigos da infidelidade, depois que ela ridicularizou o jovem Henri (Ramon Novarro), porque este a ama loucamente, o romancista Léon de Séverac (Pomeroy Canon) lê para ela sua última história. A cartomante Zareda (Barbara La Marr), mulher formosa e hábil em dominar os homens, recebe em sua residência a alta sociedade de Paris, pedindo previsões do futuro. O jovem Ivan (Ramon Novarro) ama-a com todo o seu coração, mas há um obstáculo para que se una a ela pelo casamento: seu pai, o decrépito Barão François de Maupin (Edward Connelly) também está apaixonado pela cartomante. Esta tolera-o apenas por causa das jóias caras que lhe oferece e, zombeteiramente, as coloca no pescoço do seu macaco de estimação. Quando irrompe a guerra e a perspectiva de uma separação ameaça precipitar o casamento de Ivan e Zareda, o barão joga uma cartada de mestre: apresenta Zareda ao Marquês de Ferroni (Lewis Stone,) que vive em um castelo suntuoso. Depois que o regimento de Ivan parte para o campo de batalha, Zareda fica em Paris a palestrar com o marquês e a sonhar com seu castelo com colunas de mármore e no qual se bebia vinho em taças de ouro. O barão então, para ser o único candidato ao coração de Zareda, derrama veneno na taça destinada a Ferroni. Zareda porém percebe seu gesto traiçoeiro e troca as taças sem que o barão perceba. Durante os quatro anos que Ivan estivera na guerra não recebeu nenhuma notícia de Zareda. Depois do armistício, ele vai procurá-la e a encontra casada com Ferroni. Ela lhe diz que foi insensata, que o ama perdidamente, e que sabe como se libertar de seu esposo: ela lhe dirá que foi insultada por Ivan e o marquês desafiará para um duelo o maior esgrimista do país. No duelo, Ferroni é mortalmente ferido, mas sobrevive o tempo suficiente para matar Ivan e enterrar Zareda viva ao lado do corpo de seu amado morto. Jacqueline fica impressionada por esta história e aceita seu fiel pretendente, Henri.

8. OS QUATRO DIABOS / THE FOUR DEVILS / 1928. Dir: F. W. Murnau.

Cena de Os Quatro Diabos

Cena de Os Quatro Diabos

No circo Cecchi, um palhaço (J. Farrell MacDonald) cuida de duas meninas orfãs, Marion (quando adulta Janet Gaynor) e Louise (quando adulta Nancy Drextel), como se fossem suas filhas. Durante uma temporada, uma mulher entrega ao diretor do circo (Anders Randolf) os garotos Adolf (quando adulto Barry Norton) e Charles (quando adulto, Charles Morton), filhos dos famosos trapezistas Rossy, que haviam perdido a vida, executando um salto mortal. As quatro crianças crescem unidas por uma grande amizade. O tempo passa, e eles se tornam célebres como acrobatas do trapézio chamados de “Os Quatro Diabos”. Marion ama Charles, porém eis que surge uma mulher fatal (Mary Duncan), e Charles não resiste aos seus encantos. Marion, sentindo-se desprezada cai deliberadamente do trapézio. No entanto, ela sobrevive, confessa seu amor a Charles, e ele recupera o juízo diante da tragédia que, por pouco, não ocorreu.

Obs. O documentário em video Murnau’s 4 Devils: Traces of a Lost Film (2003), dirigido por Janet Bergstrom, que saiu como brinde do dvd de Sunrise, em 2003, reconstrói o filme a partir de fotos, desenho de produção e roteiro.

9. BEIJA-ME OUTRA VEZ / KISS ME AGAIN / 1925. Dir: Ernst Lubitsch.

Clara Bow em Beija-me Outra vez

Gaston Fleury (Monte Blue) concorda em se divorciar de sua esposa Loulou (Marie Prevost), que ele acredita estar apaixonada por um amigo dos dois, o professor de piano Maurice Ferriere (John Roche). Para justificar o pedido de divórcio, o advogado Dubois (Willard Louis) tenta encenar uma situação com sua secretária Grisette (Clara Bow) como testemunha, na qual Gaston agride sua mulher; porém Gaston não consegue aceitar a idéia. Em vez disso, ele finge para Loulou que existe alguém na sua vida. Durante algum tempo parece que este alguém é Grisette, um engano que Gaston encoraja, porque causa ciúme em Loulou. Cansada de Maurice, Loulou logo descobre a verdade do suposto romance de Gaston com Grisette, mas se preparando para sua reconciliação com Gaston, Loulou finge acreditar no relacionamento dele com Grisette, para que o seu ego masculino possa ser confortado.

10. O HOMEM MIRACULOSO / THE MIRACLE MAN / 1919. Dir: George Loane Tucker

Lon Chaney em O Homem Miraculoso

Cena de O Homem Miraculoso

Uma quadrilha composta por Frog (Lon Chaney), um contorcionista; Dope (J. M. Dumont), viciado em drogas; Rose (Betty Compson), que finge ser uma prostituta brutalizada por Dope; e o líder, Tom Burke (Thomas Meighan), exploram a compaixão e recebem as contribuições dos otários na Chinatown de Nova York. Ao ler no jornal sobre um surdo, mudo e quase cego, chamado O Patriarca (J. M. Dumont), que seria capaz de curar pela fé, Tom planeja usá-lo, a fim de obter maior vantagem da credulidade das pessoas, e parte com seus cúmplices para a pequena cidade de Fairhope, onde mora o taumaturgo. Quando a população se reune para ver o Patriarca curar os doentes, Frog está ali, fingindo-se de aleijado. Enquanto se arrasta para perto do homem miraculoso, seus membros se endireitam e ele está supostamente curado. Inesperadamente, um menino aleijado de verdade, inspirado ao ver a “cura” de Frog, larga suas maletas e corre em direção ao Patriarca. A história se espalha pelo país e as pessoas afluem de todos os lugares para consultar o milagreiro, fazendo doações para a “construção de uma igreja”. Um milionário, Richard King (Lawson Butt) traz sua irmã Claire (Elinor Fair) e entrega 50 mil dólares para Burke. Durante sua visita, King conhece Rose e os dois se apaixonam. Entrementes, Burke vê seus cúmplices, influenciados pelo Patriarca, se regenerando. Dope livra-se de seu vício; Frog abandona sua vida de crimes e passa a tomar conta de uma viúva; Rose lamenta a partida de King, deixando Burke com ciúmes. Porém, quando King retorna e pede Rose em casamento, ela percebe que ama Burke. O Patriarca morre e Burke se casa com Rose.

Obs. Dois fragmentos do filme sobrevivem: 1. Burke lendo uma notícia de jornal sobre o Patriarca; 2. Frog se arrastando até o Patriarca e depois o menino aleijado ocorrendo a sua cura. Eles aparecem em um short promocional feito pela Paramount para festejar o 20º aniversário de sua fundação, intitulado The House That Shadows Buit (1931) e em um dos segmentos da série Movie Milestones da Paramount, intitulado Movie Memories #2 (1934), mostrando as grandes realizações do estúdio. Nos anos setenta, a Blackhawk Films lançou o documentário Movie Milestones com os fragmentos sobreviventes em formato de 8mm. Estes mesmos fragmentos foram mostrados também no documentário Lon Chaney: Behind the Mask, produzido pela Kino International e incluido na versão em dvd de 2012 do filme The Penalty / 1920.

6 Responses to “FILMES PERDIDOS DO CINEMA MUDO AMERICANO”

  1. Este artigo é precioso. Divulgando para meus alunos. Parabéns!

  2. Obrigado Luiz.Seus alunos estão em boas mãos. Por favor, dê mais uma olhada no post, porque adicionei mais fotos.Um forte abraço.

  3. Excelente artigo.O seu site é um dos melhores da internet para se pesquisar sobre o fascinante mundo do cinema antigo (que é muito melhor que o cinema atual; pois os melhores filmes antigos expressavam ideias por meio de imagens, enquanto que atualmente o cinema é somente barulho, tecnologia e imagens vazias….Professor, o senhor pretende fazer uma segunda parte, a respeito dos filmes mudos perdidos alemães, franceses, ingleses e soviéticos que gostaria de ver? Um abraço.

  4. Prezado Reinaldo. Muito obrigado pelo elogio. É sempre um prazer receber a visita de alguém com a sua cultura e o seu conhecimento do cinema antigo. Sua percepção do cinema atual é certíssima embora, de vez em quando, ocorra alguma exceção. Vou ver se consigo obter boas informações a respeito dos filmes perdidos de outros países. Obrigado pela deixa.

  5. Eu sou apaixonado por esse assunto sobre filmes perdidos e os esforços em encontrá-los e restaurá-los.
    Parabéns pelo texto.

  6. Obrigado Rodrigo. Sua preocupação com os filmes perdidos demonstra sensibilidade e cultura. Um forte abraço.

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