GEORGE STEVENS

maio 20, 2020

George Stevens (1904-1975) nasceu em Oakland, Califórnia filho de Landers Stevens e Georgie Cooper, ambos atores de teatro, e fez sua estréia no palco aos cinco anos de idade, aparecendo na ribalta ao lado da atriz dramática Nance O´Neill em “Sapho” no Alcazar Theatre de San Francisco. Aos nove anos de idade, George ganhou de presente da mãe uma câmera Brownie e filmou boa parte da temporada itinerante que seus progenitores fizeram por algumas cidades dos EUA e Canadá. Em 1921, quando George tinha dezesseis anos de idade, a família chegou em Glendale, perto de Los Angeles, onde o primo de Georgie, James Horne, já era um diretor de sucesso no Hal Roach Studios. Landers também tinha amigos na indústria de cinema inclusive David Wark Griffith, Alla Nazimova, Bert Lytell, e Hobart Bosworth, e eventualmente conseguiu trabalho em alguns filmes da Universal e da RKO.

George Stevens

Depois que chegou em Glendale, George teve que deixar o colégio, a fim de levar seu pai de carro para os testes nos estúdios. Nesta ocasião, ele iniciou um negócio de tirar e vender fotografias dos moradores e comerciantes locais e, com a ajuda de seu primo James Horne, ingressou em 1922 na Warner Bros. como aprendiz e assistente de câmera (O filme era Os Heróis das Ruas / Heroes of the Street, dirigido por William Beaudine).

Entre 1924 e 1932, Stevens trabalhou no Hal Roach Studios como assistente de câmera, cameraman, gag writer e então diretor. Como cameraman funcionou em 18 comédias curtas silenciosas e 16 faladas de O Gordo e o Magro (Stan Laurel e Oliver Hardy), 16 comédias curtas de Charley Chase, 4 comédias curtas da série Os Peraltas / Our Gang, 6 comédias curtas da série Max Davidson, 8 comédias curtas da série All Star, 13 comédias curtas de Harry Langdon e, como diretor, em 7 comédias curtas  – e mais 4 comédias sem ser creditado – da série The Boy Friends.

Entre 1932, Stevens deixou Roach e foi para a Universal, onde se revezou com James Horne e Fred Guiol como argumentista e diretor em 12 comédias curtas da The Warren Doane Comedy Series e, finalmente, dirigiu seu primeiro longa-metragem,  Abraços Traiçoeiros / The Cohens and Kellys in Trouble / 1933.

The Cohens And The Kellys In Trouble, poster, George Sidney, Charles Murray, Maureen O’Sullivan, 1933. (Photo by LMPC via Getty Images)

O filme foi bem recebido pelos comentaristas e trouxe o reconhecimento de que Stevens necessitava, mas antes que ele pudesse se beneficiar dele e assinar um contrato com o estúdio para realizar longas-metragens como havia sido prometido, a Universal interrompeu suas atividades devido ao fechamento dos bancos. Sem trabalho novamente, Stevens contratou um agente  (Milton Bren da Frank Orsatti Agency) e este lhe conseguiu um contrato com a RKO, onde ele dirigiu primeiramente 16 comédias curtas. Em setembro de 1933, a RKO emprestou-o à MGM para dirigir Laurel e Hardy em um segmento de Festa de Hollywood / Hollywood Party, lançado em 1934. Quando Stevens retornou para a RKO, o estúdio precisava de um diretor para uma comédia com Stuart Erwin, Bachelor Bait / 1934, e o convocou para esta tarefa.

Lupe Velez, Oliver Hardy e Stan Laurel em Festa de Hollywood

Seguiram-se mais duas comédias, Em Palpos de Aranha / Kentucky Kernels / 1934 e Na Pista da Viúva / The Nitwits  / 1935 ambas com a dupla Bert Wheeler e Robert Woolsey e uma comédia dramática, Nobreza Americana  / Laddie / 1935, sobre uma família da Indiana do final do século dezenove, focalizando o romance entre o filho mais velho da família, Laddie Stanton (John Beal) e Pamela Pryor (Gloria Stewart), filha do fazendeiro vizinho (Donald Crisp).

Katharine Hepburn  e Fred MacMurray em A Mulher Que Soube Amar

Embora já tivesse demonstrado  ser um diretor capaz de abordar um assunto mais sério em Nobreza Americana, foi quando Stevens dirigiu Katharine Hepburn em A Mulher Que Soube Amar / Alice Adams / 1935, que ele ingressou nas fileiras dos diretores mais importantes da RKO. Baseado em um romance de Booth Tarkington, esta sátira social comovedora conta a história de uma jovem pobre (Katharine Hepburn), que deseja ascender socialmente, mas é vítima do esnobismo de uma pequena cidade americana. Quando Arthur Russell (Fred MacMurray), rapaz da classe média alta, se interessa por Alice, ela pensa que deve esconder dele a situação financeira de sua família, mas finalmente é obrigada a encarar a vida de frente. O filme foi indicado para o Oscar e deu a Katharine Hepburn uma indicação para Melhor Atriz.

 

Fred Astaire e Ginger Rogers em Ritmo Louco

Katharine Hepburn e Franchot Tone em Rua da Vaidade

Ainda na RKO, Stevens fez: 1935 – A Mira de um Coração / Annie Oakley, rápida e agradável cinebiografia ficcionalizada da    exímia atiradora de Dark County, Ohio  (Barbara Stanwyck) que se tornou estrela do Wild West Show de Buffalo Bill no final do século dezenove e seu romance com o colega e competidor Frank Butler (no filme chamado de Toby Walker), interpretado por Preston Foster; 1936 – Ritmo Louco / Swing Time, boa comédia musical com a dupla Fred Astaire – Ginger Rogers   dsestacando-se a dança solo de Astaire em homenagem a Bill Robinson, “Bojangles in Harlem” (em que Astaire dança com sua sombra triplificada); “ A Fine Romance”  (com Astaire e Ginger cantando em dueto em um cenário de inverno e “Never Gonna Dance” (com Astaire fazendo uma serenata para Ginger). Dorothy Fields e Jerome Kern ganharam o Oscar de Melhor Canção (“The Way You Look Tonight”) e Hermes Pan teve um indicação para a categoria Melhor Direção de Dança. 1937 – Rua da Vaidade / Quality Street comédia romântica de época, adaptada de uma peça de J.M. Barrie conta – vagarosamente, apesar dos esforços do diretor para disfarçar a teatralidade – a história de Phoebe Throssel (Katharine Hepburn) que aguarda ser pedida em casamento pelo Dr. Valentine Brown (Franchot Tone) mas em vez disso ele parte para as guerras Napolônicas por dez anos. Quando retorna, encontra uma Phoebe envelhecida como diretora de uma escola para crianças. Para reconquistá-lo, ela se faz passar por sua sobrinha Livvie, mas descobre que o Capitão Brown prefere a verdadeira Phoebe no final. Cativa e Cativante / A Damsel in Distress, comédia musical com Fred Astaire sem a sua parceira habitual Ginger Rogers (substituída por Joan Fontaine depois de ter sido cogitada a britânica Jessie Mathews), mas com um score de George e Ira Gershwin e a dupla George Burns-Gracie Allen, que tem os seus fãs. Foi um fracasso de bilheteria, mais provavelmente pela ausência de Gingers embora o coreógrafo Hermes Pan tivesse obtido um Oscar pela sequência no parque de diversões (“Stiff Upper Lip”) e o Diretor de Arte Carroll Clark recebido uma indicação.

Nos seus três últimos filmes na RKO, 1938 – Que Papai Não Saiba / Vivacious Lady; 1939 – Gunga Din / Gunga Din. 1940 – Noites de Vigília / Vigil in the Night, Stevens acumulou as funções de produtor e diretor.

James Stewart e Ginger Rogers emQue Papai Não Saiba

O primeiro filme é uma comédia romântica aprazível (apesar de certas situações muito longas) na qual James Stewart interpreta o papel de um professor de botânica de uma cidade pequena chamado Peter Morgan Jr., que vai para a cidade de Nova York, conhece e se casa impetuosamente com uma cantora de cabaré chamada Francey (Ginger Rogers), mas não consegue dar a notícia para seu pai (Charles Coburn), o severo e autoritário reitor da universidade. Fotografia (Robert De Grasse) e som mereceram uma indicação para o Oscar.

Sam Jaffe

Douglas Fairbanks Jr, Victor MacLaglen,Eduardo Ciannelli e Cary Grant em Gunga Din

O segundo filme (com Douglas Fairbanks Jr., Cary Grant e Victor Mac Laglen nos papéis principais) é um clássico no gênero de aventura, tendo  como pano de fundo o colonialismo britânico. Os executivos do estúdios vinham pensando em realizá-lo desde 1936 e escalaram Howard Hawks como diretor. Depois, achando que ele trabalhava lentamente, entregaram o projeto a Stevens e, para surpresa de todos, este era ainda mais lento, por causa do seu perfeccionismo. O filme acabou custando quase dois milhões de dólares, a produção mais cara da RKO até então. O argumento da dupla Ben Hetcht-Charles MacArthur, sugerido por um poema de Rudyard Kipling, foi adaptado por Joel Sayre, Fred Guiol e, no anonimato, William Faulkner, entre outros. A área próxima de Lone Pine, na Califórnia foi transformada em um autêntico cenário indiano. Todo o elenco, que parece ter sido escolhido a dedo, atua com muita energia e entusiasmo, destacando-se Sam Jaffe (depois de ter sido cogitado Sabu) pela maravilhosa composição do fiel e valoroso aguadeiro.

O terceiro filme, baseado em um romance de A. J. Cronin, é um drama sombrio e absorvente sobre a vida de duas irmãs enfermeiras em um hospital do interior da Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial. Anne Lee (Carole Lombard) é conscienciosa e dedicada e Lucy Lee (Ann Shirley), imatura e irresponsável, causa a morte de uma criança logo no início do relato. Anne assume a culpa para proteger a irmã, é demitida, e vai para uma outra cidade e um novo hospital, onde ao lado de um médico devotado (Brian Aherne) enfrenta com sacrifício e heroísmo uma epidemia.

Stevens assinou contrato com a Columbia em maio de 1940 e dirigiu e produziu três filmes neste estúdio: 1941 – Serenata Prateada / Penny Serenade. 1942 – E A Vida Continua / The Talk of the Town. 1943 – Original Pecado / The More the Merrier. Mas, entre a filmagem do primeiro e do segundo filme, ele deixou Harry Cohn enfurecido por ter ido á MGM dirigir A Mulher do Dia / Woman of the Year.

Cary Grant, Edgar Buchanan e Irene Dunne em Serenata Prateada

Serenata Prateada é um melodrama comovente e lacrimogêneo sobre um casal,  Julie e Roger (Irene Dunne, Cary Grant), que enfrenta uma dor contínua: perde um filho ainda por nascer em um terremoto no Japão e depois uma filha adotiva em um acidente. Stevens empregou bem uma idéia original a saber as lembranças evocadas pela audição sucessiva de vários discos e essas lembranças sendo vividas de novo e inseriu no dramalhão algumas cenas humorísticas como aquela, antológica, em que Julie não consegue dar banho na filhinha até que o tio Applejack  (Edgar Buchanan) se encarrega da tarefa maravilhosamente. O filme ensejou a Cary Grant uma indicação para o Oscar.

Cary Grant, Ronald Colman eJean Arthur em E A Vida Continua

E A Vida Continua é uma comédia dramática verbosa – mas atraente pela competência interpretativa do seu trio de astros e pelo comentário social -, envolvendo três personagens: Leopold Dilg (Cary Grant), fugitivo da polícia por ter cometido um incêndio causador da morte de um homem, que se refugia na casa de Nora Shelley (Jean Arthur), a qual ela acabara de alugar para o jurista, Michael Lightcap (Ronald Colman). Perturbada, ela esconde Dilg no sotão e o faz passar por Joseph, o jardineiro. Eventualmente os dois homens se encontram e se respeitam embora cada qual tenha uma visão radicalmente diferente do mundo enquanto Nora se envolve romanticamente com os dois. O espetáculo suscitou várias indicações ao Oscar: Melhor Filme, Fotografia em Preto e Branco, História Original, Direção de Arte em Preto e Branco, Música de Filme Não Musical.

Jean Arthur, Charles Coburn e Joel MacCrea em Original Pecado

Original Pecado é uma comédia romântica deleitosa com um roteiro inteligente, passada em Washington na época da Segunda Guerra Mundial quando, devido a  escassez de moradia, o industrial Benjamin Dingle (Charles Coburn) aluga metade do apartamento de uma funcionária do governo, Connie Miligan (Jean Arthur) e depois subaluga metade de sua parte a um sargento da Força Aérea, Joe Carter (Joel McCrea) e o resultado é que Connie logo se apaixona por Joe com a conivência de Benjamin. O filme funciona muito bem graças sobretudo às performances dos seus três intérpretes centrais enquanto Stevens mantém o ritmo sempre vivo, resultando várias indicações para o Oscar: Melhor Filme, Direção, Atriz, Ator Coadjuvante (Charles Coburn), História Original (Robert Russell, Lewis R. Foster, Frank Ross, Richard Flournoy) saindo vencedor apenas Coburn, merecidamente pelo seu papel de cupido.

A Mulher do Dia é uma comédia sobre a guerra dos sexos, enfocando o  relacionamento muito competitivo entre dois jornalistas, Tess Harding (Katharine Hepburn) e Sam Craig (Spencer Tracy). O casal discute, depois se casa e luta para ver quem (metaforicamente) usa as calças na família. Stevens dirigiu muito bem seus intérpretes, porém os diálogos, por sua abundância, retardam frequentemente a ação apesar de uma montagem hábil. Ficou famoso o final do filme, quando Tess tenta frustadamente – em uma sequência digna de Laurel e Hardy – providenciar o café da manhã como prova de sua intenção séria de que está domada. Hepburn foi indicada para o Oscar de Melhor Atriz e Ring Lardner Jr. e Michael Kanin conquistaram o Oscar de Melhor Roteiro Original. A alquimia entre Tracy e Hepburn é evidente neste seu primeiro dos nove filmes que fizeram juntos.

Stevens deixou Los Angeles na segunda semana de fevereiro de 1943 para servir como major no U.S. Army Signal Corp, que estava responsável por fotografar a atividade das Fôrças Aliadas durante a guerra. Ele cobriu primeiro o combate na campanha do Norte da África, depois, sediado em Londres, filmou cenas enquanto estava no teatro de guerra europeu e fotografou algumas das operações estratégicas do conflito mundial inclusive a invasão da Normandia, a libertação de Paris, a Batalha do Bulge e, finalmente, a libertação do campo de concentração de Dachau. Stevens ficou na Alemanha quase até o final da guerra em 1945, quando preparou, como o escritor Budd Schulberg, cenas filmadas em Dachau para o documentário The Nazi Plan, que foi apresentado como prova no Julgamento de Nuremberg.

Irene Dunne em A Vida de um Sonho

Ao retornar para a América, Stevens formou com Frank Capra, William Wyler e o produtor Sam Briskin a Liberty Films. A companhia conseguiu fechar um acordo de distribuição com a RKO em troca de 15 milhões de dólares para a produção de três filmes, um para cada realizador. Devido a problemas financeiros, a Liberty acabou sendo vendida para a Paramount Pictures e Stevens, Wyler e Capra tornaram-se diretores contratados deste estúdio. Stevens foi emprestado para a RKO por um ano, para dirigir A Vida de um Sonho / I Remember Mama, que deu início ao ciclo do pós-guerra de filmes mais sérios e cada vez mais pessoais do cineasta. O filme é um retrato episódico e sentimental dos altos e baixos de uma família de imigrantes noruegueses na San Franciso da primeira década do século vinte, unida por uma matriarca (Irene Dunne) forte e sábia. Gerou quatro indicações para o Oscar: Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante (Barbara Bel Geddes e Ellen Corby) e Melhor Fotografia (Nicholas Musuraca).

Elizabeth Taylor e Montgomery Clift em Um Lugar ao Sol

Shelley Winters e Montgomery Clift em Um Lugar ao Sol

Produzido pela Paramount, Um Lugar ao Sol, baseado no romance de Theodore Dreiser,“ An American Tragedy”, foi o primeiro filme que refletiu a transformação pessoal pela qual Stevens passou durante a Segunda Guerra Mundial.  É um drama social e humano, uma história de amor com dimensões trágicas que suscita ao herói  (George Eastman / Montgomery) um problema doloroso:  casar-se com aquela que ama (Angela Vickers / lizabeth Taylor) e satifazer assim suas ambições ou esposar a jovem de condição modesta (Alice / Shelley Winters) que ele seduziu, sem amá-la, e considerar em manter uma situação sem futuro. Contando com as interpretações impecáveis de seus três intérpretes centrais para manter o interesse do espectador  pela ação e utilizando  magnificamente a profundidade de campo, os travelings, os planos sequência e os closes,  sem falar nas longas e belas fusôes, Stevens realizou uma obra-prima do cinema que lhe deu o Oscar de Melhor Diretor. O filme foi indicado para o prêmio da Academia e houve indicações também para Melhor Ator (Montgomery Clift), Melhor Atriz (Shelley Winters), Melhor Roteiro  (Michael Wilson, Harry Brown), Melhor Música para Filme Não Musical (Franx Waxman).

Enquanto Um Lugar ao Sol ainda estava em produção, Stevens aceitou sem hesitação duas histórias que a Paramount lhe ofereceu: elas o ajudariam a cumprir sua obrigação e afrouxar seus laços com o estúdio. Uma história era o romance de Jack Schaefer, “ Shane”. A outra era “Something to Live For”, roteiro escrito por Dwight Taylor e supostamente baseado na vida de sua mãe, a atriz Laurette Taylor, e sua luta contra o alcoolismo.

Em Na Voragem do Vício, melodrama romântico desenvolvido em torno do problema da dualidade amorosa, um desenhista ex-acoólatra (Ray Milland) , designado  pelos Alcoólatras Anônimos (a sociedade que o ajudara a abandonar o vicio) para prestar assistência a uma atriz da Broadway (Joan Fontaine),  descobre uma grande identidade de temperamento entre os dois devido à necessidade que têm de apoio recíproco, surgindo um romance entre eles. Mas então manifesta-se um problema dramático: ele é casado e vive feliz ao lado da esposa (Teresa Wright) e os filhos. Stevens deu ao tema um tratamento a contento do ponto de vista psicológioco, voltando a empregar – como fez em Um Lugar ao Sol – de modo primoroso os closes e as as fusões demoradas.

Brandon De Wilde, Jean Arthur, Van Heflin, Alan Ladd em Os Brutos Também Amam

Jack Palance em Os Brutos Também Amam

Os Brutos Também Amam tem óbvias qualidades: o realismo dos cenários e das vestimentas, os exteriores magníficos, os planos de conjunto cuidadosamente compostos, a narrativa fluente, a grande cena de impacto na qual o pistoleiro (Jack Palance) mata o pobre colono metido a valente (Elisha Cook Jr.) etc. Entretanto, existe algo de forçado no filme, uma visão simplificada e idealizada da vida no Oeste tal como é vista por um menino, Para o crítico francês André Bazin, Os Brutos Também Amam é um “western em segundo grau em que a mitologia do gênero é conscientemente tratada como tema do filme. Procedendo a beleza do western da espontaneidade e da perfeita inconsciência da mitologia nele dissolvida como sal no mar, esta destilação laboriosa é uma operação contra-natura que destrói o que revela. Tanto como idolatria de uma criança por um adulto como tratamento criativo de um mito Os Brutos Também Amam não é uma historia do Oeste; é mais propriamente, o Oeste tal como nós acreditamos que ele deva ter sido”.  O filme teve várias indicações para o Oscar (Melhor Filme, Diretor, Fotografia em cores (Loyal Griggs), Roteiro (A. B. Guthrie Jr.), mas somente Griggs arrebatou a estatueta.

Os quatro últimos filmes de Stevens, 1956 – Assim Caminha a Humanidade / Giant (Warner Bros.) 1959 – O Diário de Anne Frank / The Diary of Anne Frank (Twentieth Century-Fox). 1965 – A Maior História de Todos os Tempos / The Greatest Story Ever Told (United Artists). 1970 – Jogo de Paixões / The Only Game in Town (Twentieth Century-Fox) alcançaram índices artisticos variados.

Elizabeth Taylor e James Dean em Assim Caminha a Humanidade

Assim Caminha a Humanidade é um vasto, longo e lento afresco ao mesmo tempo histórico (evolução do Texas) e familiar (três gerações sucessivas de uma família, os Benedict). O diretor encontrou dificuldades com o volume do romance e com um elenco de atores jovens (James Dean, Rock Hudson, Elizabeth Scott|) esforçando-se por passar por pais de outros atores de idades semelhantes, produzindo um espetáculo decepcionante.

Cena de O Diário de Anne Frank

O Diário de Anne Frank mostra, por meio de retrospecto, aqueles dois anos vividos por Anne Frank (Millie Perkins, depois de cogitada Romy Schneider), familiares e amigos (Shelley Winters, Joseph Skildkraut, Ed Wynn, Richard Beymer, Lou Jacobi, Gusti Huber, Diane Baker) na promiscuidade de um esconderijo confinado, sob constante ameaça e em pânico, com choques de toda ordem, provocados pelo medo, pela fome e pela tensão nervosa nascida do pavor da captura. Toda esta situação dramática é mostrada em termos de bom cinema, da utilização inteligente do contraste entre o silêncio e os ruídos e de fusões muito bem imaginadas, que fazem com que o espectador esqueça o tamanho demasiado longo da narrativa. Stevens que fracassou no filme anterior, volta aos seus domínios do cinema-arte nos quais logrou filmes como Um Lugar ao Sol e Os Brutos Também Amam.

Max Von Sydow em A Maior História de Todos os Tempos

A Maior História de Todos os Tempos é uma versão visualmente majestosa (seguindo a linhagem clássica) e por vezes de ritmicamente arrastada da Vida de Cristo, com alguns momentos de grande efeito como a ressureição de Lázaro, cenas de massa eficientemente coreografadas, boa utilização dos cenários naturais, fotografia em cores proporcionada por dois mestres (Loyal Griggs, William C. Mellor) e perfeito apoio musical de Alfred Newman. Ao ator sueco Max von Sydow coube o papel de Jesus, cercado por uma parada de atores bem conhecidos. Jean Negulesco e David Lean filmaram algumas cenas enquanto Stevens estava se ocupando da filmagem em locação.

Elizabeth Taylor e Warren Beatty em Jogo de Paixões

Jogo de Paixões é uma comédia romântica intimista de origem teatral (a peça de Frank Gilroy), quase que inteiramente confinada em interiores, com desenvolvimento lento e intérpretes  principais visivelmente inadequados para os respectivos papéis. A trama tem início quando Fran Walker (Elizabeth Taylor),  corista de boate que há anos espera o divórcio do amante (Charles Braswell) para casar-se com ele, conhece em um bar o jogador e pianista Joe Grady  (Warren Beatty depois de cogitado Frank Sinatra); após os incidentes habituais em qualquer intriga desse tipo, eles se unem para sempre.

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7 Responses to “GEORGE STEVENS”

  1. Prazer em saber que o mestre esta postando nesta quarentena ,nós do grupo de risco temos de ficar atento e o “cinema é a maior diversão “(LSR).
    Sou fã de Shane e que aprendi a gostar com o saudoso Paulo Perdigão e gosto muito dos filmes do George Stevens.
    Parabéns pelas postagens e continue firme que este drama vai passar.

  2. Prezado Eustáquio. Estou de quarentena, mas ativo no mundo do cinema, não somente escrevendo, mas vendo muitos filmes. Obrigado pelas suas palavras amáveis e lhe desejo também boas horas na companhia da “maior diversão” com saúde e paz.

  3. Boa noite

    Que ótimo ver publicações recentes no site.
    Procuro um contato do professor Antônio para convidá-lo a um projeto sobre o cineasta Jacques Feyder (que irá ocorrer ano que vem). O seu livro “Uma tradição de qualidade” está sendo uma ótima referência.

    Cícero

  4. Caro Cícero. Recomendo o dvd Rediscovering Jacques Feyder com 3 filmes magníficos deste grande diretor e o livro Cinéma Notre Métier, escrito por ele e sua esposa Françoise Rosay. Diga-me se precisa mais alguma informação Um forte abraço.CONSULTE TAMBÉM MEUS DOIS POSTS SOBRE JACQUES FEYDER DE 22/12/2013

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