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JOHN GILBERT REDESCOBERTO

John Gilbert parece que está esquecido hoje ou, quando se lembram dele, é como um astro do cinema mudo que não se adaptou aos filmes sonoros. É uma pena, porque Gilbert era um ator muito talentoso e seus melhores filmes como A Viúva Alegre / The Merry Widow / 1925 (Dir: Erich Von Stroheim), O Grande Desfile / The Big Parade / 1925 (Dir: King Vidor), O Diabo e a Carne / The Flesh and the Devil / 1926 (Dir: Clarence Brown) são verdadeiras obras-primas da 7ª arte.

Embora o declínio artístico do maior galã romântico de sua época após a morte de Rudolph Valentino tivesse sido atribuído publicamente à sua voz estridente e incompatível com a imagem que criara na tela, quem estava por dentro dos bastidores de Hollywood sabia da verdade – Gilbert foi vitima do enorme poder e influência de Louis B. Mayer, que sempre o odiara.

Anos depois de sua morte, o roteirista e produtor contratado da MGM, Carey Wilson, contou a Leatrice Fountain, filha de Gilbert, que Mayer havia lhe dito: “Eu odeio o bastardo porque ele não gosta da mãe dele”. Carey acrescentou para Leatrice: “Nunca vi tanto ódio na minha vida. Era algo assustador”.

Portanto, Mayer já não ia com a cara de Gilbert há muito tempo e aquele murro que levou do ator, quando fez um comentário desagradável sobre Greta Garbo, depois que esta deixou o seu apaixonado Gilbert esperando no altar, foi o apenas o estopim que desencadeou a vingança. Mayer fez de tudo para arruinar a carreira de Gilbert (maiores detalhes no livro de Leatrice Gilbert Fountain, “Dark Star:The Untold Story of the Meteoric Rise and Fall of John Gilbert”, St. Martin Press, 1985) e este acabou morrendo de um ataque cardíaco aos 38 anos de idade.

Estou me lembrando de John Gilbert ainda sob a emoção de ter assistido dois filmes dele absolutamente imperdíveis: O Cavalheiro dos Amores / Bardelys the Magnificent /1926 (Dir. King Vidor), dado como perdido mas recentemente restaurado a partir de uma cópia em 35 mm encontrada na França e Madame e seu Chauffeur / Downstairs / 1932.
O primeiro é um capa-e-espada baseado em um romance de Rafael Sabatini com a dose exata de ação, romance e humor para criar um espetáculo muito agradável. Gilbert assume magnificamente as feições de um inveterado conquistador e exímio espadachim, nada ficando a dever ao Douglas Fairbanks. No meio da trama, surge aquela seqüência antológica do passeio de barco, filmada por Vidor com intuição poética e pictórica.

O segundo é um melodrama mordaz sobre diferenças de classe filmado com a liberdade de um filme pre code, ou seja, anterior a 1934, quando foi adotado o Código de Auto Censura. Desta vez Gilbert compõe de maneira irretocável um personagem contra o seu tipo, um gigolô que usa a chantagem e o charme para conseguir o que quer.

A história foi escrita pelo próprio John Gilbert (ele queria tanto fazer este filme que a vendeu por um dólar para a MGM). E querem saber de uma coisa? Não há nada de errado com a sua voz.

AC

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  • Em Rainha Cristina, Gilbert comprova que fez a transição para o cinema sonoro de maneira que poderia muito bem continuar sua carreira, se não fosse a canalhice de Mayer. Gilbert e Garbo brilham na tela sonora, do mesmo jeito que na muda. Sensacional saber que esta cópia de Bardelys foi localizada. Uma pena que tenhamos que importá-la, pois acho muito pouco provável que alguma distribuidora nacional a lance no Brasil. Viva Gilbert, obrigado por tantos momentos inesquecíeis eternizados no nitrato!

  • Semana passada, aqui em Paris, juntei-me a uma platéia numerosa para um par de horas passadas na companhia de Bertrand Tavernier. A paixão de Tavernier pelo cinema desconhece limites e a palestra versava sobre meia dúzia de filmes resgatados do esquecimento. Um deles, O CAVALHEIRO DOS AMORES, sobre o qual o cineasta-cinéfilo discursou com o entusiasmo que o filme merece. O seu título original é muito apropriado, pois a obra de Vidor é, realmente, magnífica. Assim como a restauração promovida pelo incansável Serge Bromberg da Lobster Films. Ao falar sobre a vingança de Mayer contra Gilbert, Tavernier citou MADAME E SEU CHAUFFEUR como prova do talento do ator. É um filme que merece ser amplamente visto.

  • Obrigado Sergio. Comentários como este enriquecem o blog. É como se você estivesse completando o meu artigo.

  • "Bardelys the Magnificent" é provavelmente meu filme silencioso favorito, numa escolha afetiva e pessoal!

    • Olá, Igor. Também gosto muito de Bardelys e aguardo com ansiedade The Cossacks, também com Gilbert, que acabou de ser lançado em blu-ray nos EUA.

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