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LÍDA BAAROVÁ E JOSEPH GOEBBELS

Lída Baarová, cujo verdadeiro nome era Ludmila Babková (1914-2000), foi uma das atrizes mais célebres da Checoslováquia nos anos trinta e trabalhou também em filmes alemães, italianos e espanhóis, conquistando maior popularidade no período em que atuou como contratada da UFA. Porém Lída ficou mais conhecida por sua vida fora das telas como amante de Joseph Goebbels, o poderoso Ministro da Propaganda e Informação do regime hitlerista.

A carreira de Lída Baarová começou em 1931, quando tinha 17 anos. Ela era muito bonita e possuía o que se chama hoje de sex appeal. Portanto não podia deixar de ser notada pelos realizadores de filmes. Lída queria ser atriz e foi estudar interpretação no Conservatório de Praga; mas não terminou o curso, porque foi convidada para fazer o primeiro filme no seu país natal, Kariéra Pavla Camrdy (ao pé da letra, A Carreira de Pavel Camrda), dirigido por Miroslav Krnansky.

Em 1935, Lída aceitou a oferta da UFA, o grande estúdio da Alemanha, para protagonizar, ao lado de Gustav Fröhlich, o filme Barcarola / Barcarole, dirigido por Gerhard Lamprecht, que se converteu num sucesso de bilheteria. O ator era casado e tinha uma filha, mas Lída e Gustav se apaixonaram e foram morar juntos.

O destino da jovem atriz poderia ter sido diferente se um dia ela não tivesse encontrado Joseph Goebbels, quando este acompanhava Hitler numa visita aos estúdios da UFA. Goebbels ficou fascinado pela jovem atriz e louco de amor por ela. Um dos personagens mais sinistros da Segunda Guerra Mundial, Goebbels tinha um corpo franzino, pequena estatura e um pé aleijado; porém, apesar destas desvantagens, ele fascinava as pessoas por seu carisma e sua inteligência incontestáveis.

Goebbels era casado e já pai de três filhos. Ele começou o seu plano de conquistar Lída, convidando o casal Baarová-Fröhlich para diferentes reuniões sociais e durante meses assediou Lída implacavelmente.

Em 1937, depois de ter feito dois filmes “patrióticos” sob a direção de Karl Ritter, muito apreciados no Brasil, Traidores / Verräter e Entre Duas Bandeiras / Patrioten, Lida recusou uma proposta vantajosa da Metro-Goldwyn-Mayer, decisão da qual se lamentaria anos mais tarde: “Eu poderia ter sido tão famosa quanto Marlene Dietrich”. Goebbels jamais a deixaria abandonar a UFA para fazer cinema em Hollywood e ela se conformou, alegando para a imprensa que não queria se separar de seus pais.

Finalmente, Goebbels deu um beijo em Lída, dizendo: “Nunca tive na minha vida um amor por uma mulher como o que tenho por você”. A atriz sucumbiu ao charme do braço direito de Hitler e os dois concordaram que continuariam se encontrando às escondidas de Magda e de Fröhlich.

Os rumores deste relacionamento chegaram até Magda que, a princípio, decidiu ignorar o fato, acostumada com as aventuras do marido. Os mesmos rumores chegaram também a Fröhlich, apesar dos esforços de Lída para manter sua relação com Goebbels em segredo. Diferentemente da esposa de Goebbels, Fröhlich não ficou de braços cruzados. Seguiu os dois amantes, surpreendendo-os na entrada do chalé que Goebbels tinha comprado para seus encontros amorosos.

 

A vida de Lída está cercada de lendas. Para um biógrafo, Lída contou que Fröhlich esbofeteou Goebbels e, para outro, que Fröhlich esbofeteou-a quando soube de tudo. Consta ainda que, por vingança, Goebbels suspendeu a isenção do serviço militar que Fröhlich tinha em virtude de sua condição de ator e mandou-o para a frente de batalha.

No outono de 1938, tocou o telefone de Lida: era Goebbels, que se encontrava muito excitado, porque acabara de confessar para sua esposa o romance que ele e Lída mantinham.

Mais adiante, Magda telefonou para Lída e tiveram uma conversa, na qual Magda disse: “Sou a mãe dos filhos dele e estou somente interessada no que ocorre na casa onde ele vive, tudo o que sucede fora dela não tem nada a ver comigo”. Magda só pediu a Lída uma coisa: “Deves prometer-me que não terás um filho dele”.

Passaram-se os dias, mas Magda sofria, vendo seu esposo loucamente enamorado de Lída Baarová. A situação terminou por explodir, quando Magda soube que Goebbels havia presenteado Lída com uma linda pulseira de ouro. A esposa do gênio da propaganda, com as provas do adultério colhidas pelo secretário de Goebbels, Hans Hanke (amigo íntimo de Magda e dizem que seu amante), resolveu então recorrer a Hitler, expondo-lhe todo o caso. Hitler se mostrou compreensivo, recusando a todo momento a sua proposta de divórcio, até convencê-la de que, para o bem do partido e de seus próprios filhos, deveria ficar junto de Goebbels.

Dois dias após o encontro com Magda, Hitler mandou chamar seu Ministro para reprovar a sua conduta. Para surpresa de Hitler, Goebbels se mostrou determinado a renunciar à sua carreira no partido nazista, oferecendo seus serviços como cônsul em Tóquio, para onde estava disposto a viajar, supostamente na companhia da jovem amante. Hitler rechaçou esta idéia absurda – não queria que o matrimônio dos Goebbels, que encarnava o protótipo da família nazista, se rompesse.

Lída, que havia acabado de filmar Preussische Liebesgeschichte (História Prussiana de Amor), dirigido por Paul Martin e co-estrelado por Willy Fristch, foi chamada para uma delegacia de polícia, onde foi intimidada, proibida de trabalhar nos estúdios cinematográficos da Alemanha e de participar de qualquer ato social. Em março de 1941, desobedecendo às ordens de permanecer no país, Lída deixou Berlim, regressando para Praga. Ali, graças ao produtor Miloù Havel, participou de alguns filmes checos e peças teatrais. O filme com Fritsch foi proibido e seria lançado somente em 1950, recebendo outro título: Liebeslegend (Lenda de Amor).

Com a ocupação alemã na sua pátria, Lida foi proibida de trabalhar também em Praga e então viajou para a Itália, a fim de continuar sua carreira de atriz, vindo inclusive a fazer um filme com Fellini, Os Boas Vidas / Vitelloni em 1953. Depois, ela prosseguiria diante das câmeras no cinema espanhol até 1957.

Lída viu Goebbels pela última vez no Festival de Veneza de 1942. Segundo Baarová escreveu em suas memórias – “Die süsse Bitterkeit meines Lebens’ (A Doce Amargura de Minha Vida), publicada postumamente – Goebbels, ao vê-la, não lhe deu a menor atenção. Ela contou:“Ele deve ter me reconhecido, mas não fez o menor gesto. Era o mestre do auto-contrôle”.

Quando os russos estavam se aproximando, os Goebbels abandonaram sua residência em Schwanenwerder. Ajudado por um colega do partido, Goebbels eliminava a sua correspondência e certos documentos pessoais, entre os quais aparece uma foto que lhe havia sido dedicada por Lida Baarová. Antes de jogá-la no fogo, Goebbels teria exclamado: “Aquí está uma mulher de beleza perfeita”.

Em 1945, Lída foi presa pelos americanos e brevemente encarcerada por colaboração. Sua mãe teve uma crise cardíaca no curso do interrogatório. A irmã, Zorka Janú, que também era atriz, se suicidou em março de 1946. Goebbels e sua esposa ficaram com Hitler no bunker, tirando suas próprias vidas e as de seus seis filhos.

Em 1949, Lída casou-se com Jan Kopecký, do qual se divorciou em 1956. Em 1959, ela emigrou para a Áustria, onde contraiu matrimônio com o médico sueco, Dr. Kurt Lundwall, e permaneceu até o fim de seus dias.

Lida sofria da doença de Parkinson e faleceu no ano 2000, em Salzburg, na propriedade que herdou após a morte de seu último marido.

AC

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