Arquivo diários:maio 13, 2025

DOUGLAS SIRK

Hans Detlef Sierck (1897-1987) nasceu em Hamburgo na Alemanha, filho de pais dinamarqueses. Serviu na Marinha na Primeira Guerra Mundial e estudou Direito, Filosofia e História da Arte em várias universidades na Alemanha. Assistente de diretor no teatro Deutsches Schauspielhaus em Hamburgo, começou a dirigir em 1923. Até 1938 Sierck trabalhou como diretor em teatros em Chemnitz e Bremen. Entre 1929 e 1935 foi gerente e diretor artístico do Altes Theater em Leipzig, mas por problemas com os nazistas, em parte devido ao fato de que sua esposa, Hilde Jary, era judia, rescindiu seu contrato.

Douglas Sirk

Em1934 /35 ele realizou três filmes curtos para a Ufa, seguidos por uma comédia, April, April! e dois dramas passados na Escandinavia: a adaptação da peça teatral de Henrik Ibsen, Stützen Der Gesellschaft e Das Mädchen Vom Moorhof, um Heimat film (gênero muito popular na Alemanha do final dos anos 40 ao início dos anos 60, que pode ser traduzido como Filme de Pátria) baseado numa história de Selma Lagerlöf.

Seu primeiro grande sucesso foi o melodrama A Nona Sinfonia de Beethoven ou Últimos Acordes / Schlussakkord / 1936, sobre um maestro dividido entre sua esposa e a babá do filho adotivo deles que vem a ser a mãe da criança. No mesmo ano fez A Canção da Lembrança / Das Hofkonzert, que teve também uma versão francesa, La Chanson du Souvenir.

Subsequentemente, Sierck foi fundamental em transformar a cantora sueca Zarah Leander em uma das maiores estrelas da Ufa em dois melodramas exóticos. Em Recomeça a Vida / Zu Neuen Ufern, Leander interpretou uma cantora inglesa do século XIX que é inocentemente enviada para uma colônia penal na Australia enquanto em La Habanera / La Habanera (ambos de 1937), ela foi escolhida para ser uma turista sueca que se apaixona por um proprietário de terras impetuoso em uma viagem a Puerto Rico.

Cena de La Habanera

Após uma viagem a Roma em 1937, Sierck não retornou para a Alemanha, deixando para trás seu filho de seu primeiro casamento, Klaus Detlef Sierck (1925-1944), que atuou em vários filmes de propaganda nazista no final dos anos trinta e início dos anos quarenta, e morreu como soldado no na Frente Oriental.

Cena de O Capanga de Hitler

Enquanto estava filmando Boefje / 1939 na Holanda obteve um contrato com a Warner Bros e partiu para os Estados Unidos. Mudando seu nome para Sirk, foi escolhido pelo produtor emigrado Seymour Nebenzahl como diretor de O Capanga de Hitler / Hitler’s Madman / 1942, filme que relatou o assassinato do oficial superior alemão governador de Praga Reinhard Heydrich (John Carradine) e o subsequente massacre nazista na aldeia theca de Lidice.

 

Cena de Vidocq – Um escândalo em Paris

No restante dos anos quarenta Sirk manteve-se ocupado dirigindo O Que Matou Por Amor / Summer Storm / 1944, Vidocq – Um Escândalo em Paris / A Scandal in Paris / 1946, Emboscada / Lured / 1947, Sonha, Meu Amor / Sleep, My Love / 1948, Era Somente Amor / Slightly French /1949 e Apaixonados / Schockproof / 1949. Os dois melhores são VidocqUm Escândalo em Paris, baseado nas memórias de Eugène-François Vidocq, o criminoso que se tornou policial e inspirou escritores como Victor Hugo, Balzac, Edgar Allan Poe e Conan Doyle e Emboscada, refilmagem de Ciladas / Pièges / 1939 de Robert Siodmak, que tem como figura central uma jovem recrutada pela polícia para servir de isca na tentativa de captura de um assassino em série.

Seus filmes realizados na metade dos anos cinquenta foram O Poder da Fé / The First Legion / 1950, Fantasma do Mar / Mystery Submarine / 1950, Agonia de uma Vida /  Thunder on the Hill / 1951, Resgate Sublime / The Lady Pays Off / 1951, Feitiço de Amor / Weekend With Father / 1951, Sinfonia Prateada /  / Has Anybody Seen My Gal / 1952, E O Noivo Voltou / No Room for the Groom / 1952, Música e Romance / Meet Me at the Fair / 1953, Mulher de Fogo / Take me To Town / 1953, Desejo Atroz / All I Desire / 1953, Herança Sagrada / Taza, Son of Cochise / 1945, Sublime Obsessão / Magnificent Obsession / 1954, Átila, Rei dos Hunos / Sign of the Pagan / 1954, distinguindo-se: O Poder da Fé, sobre um padre jesuíta (Charles Boyer) que tem dúvidas sobre um milagre que teria ocorrido em sua cidade; Agonia de uma Vida, sobre uma freira (Claudette Colbert) que procura provar a inocência de uma jovem acusada de assassinato e, principalmente, Sublime Obsessão, com o qual Sirk provou ser um especialista em melodramas lacrimogêneos exuberantemente produzidos, digno sucessor de John M. Stahl, mestre do melodrama do Cinema dos anos trinta e quarenta.

Cena de Imitação da Vida

No restante dos anos cinquenta, entre alguns filmes de outros gêneros (Sangue Rebelde / Captain Lightfoot / 1955, Hino de Uma Consciência / Battle Hynn / 1957), Sirk dirigiu uma série de melodramas (Tudo Que o Céu Permite / All That Heaven Allows / 1955, Chamas Que Não se Apagam / There’s Always Tomorrow / 1956, Palavras ao Vento / Written on the Wind / 1956, Sinfonia Interrompida / Interlude / 1957; Almas Maculadas / The Tarnished Angels / 1957; Amar e Morrer / A Time to Love and a Time to Die / 1958; Imitação da Vida / Imitation of Life / 1959). Este último foi seu  filme derradeiro em Hollywood e muitos o consideram sua obra mais bem realizada.

Deixando Hollywood por Lugano em 1959, Sirk dirigiu ocasionalmente produções teatrais em Munique e Hamburgo entre 1963 e 1969. Em 1971, o livro de entrevista “Sirk on Sirk” de Jon Halliday deu início a uma série de retrospectivas, redescoberta internacional e atenção acadêmica.

De 1975 a 1978, supervisionou a produção de três filmes de curta-metragem realizados pelos estudantes da Academia de Televisão e Cinema de Munique: Sprich zu mir wie der Regen, Sylvesternacht e Bourbon Street Blues, trabalhando com Rainer Werner Fassbinder, que o adotou como figura paterna artística e se tornou seu amigo íntimo.