AS BIOGRAFIAS HISTÓRICAS DE GEORGE ARLISS

março 7, 2015

George Arliss foi um grande ator e merece ser redescoberto. Após ter conquistado a popularidade nos palcos, principalmente por suas interpretações de personalidades célebres, ele transferiu essa especialidade para o cinema, estrelando uma série de biografias históricas, tendo sido o precursor desse gênero em Hollywood. Além dos dramas históricos, Arliss emprestou seu talento para outros tipos de filmes, mostrando sempre a sua dicção perfeita, senso de humor e perfeccionismo.

arliss pose melhor

Arliss nasceu em 10 de abril de 1868 no distrito de Bloomsbury em Londres.  Em 1887, assumiu seu primeiro compromisso como ator no Elephant and Castle Theater e depois teve a chance de interpretar papéis de destaque, excursionando pelas províncias das Ilhas Britânicas em pequenas trupes. Posteriormente, Arliss ingressou na companhia de repertório do Theatre Royal, situado na cidade balneária de Margate.  O teatro funcionava em associação com a Miss Thorne’s Academy of Acting e a escola precisava dos serviços de um ator para interpreter as “velhas comédias”, das quais Arliss não tinha a menor experiência. Porém um amigo mútuo de Arliss e Miss Thorne garantiu à mestra da escola que Arliss era “o homem certo”, e ele foi contratado. Uma das alunas da Miss Thorne’s Academy era uma jovem chamada Florence Montgomery, com quem Arliss se casou em 16 de setembro de 1899 na igreja Anglicana em Harrow Weald. Pouco depois do matrimônio, o casal passou a integrar a companhia de Mrs. Patrick Campbell, que atuava no West End em Londres, e eventualmente os levou para Nova York em 1901.  Nesta cidade, Arliss depois trabalhou com os empresários David Belasco e Charles Dillingham e com a companhia de Mrs. Minnie Maddern Fisk.

Edmund Lowe e George Arliss em The Devil

Edmund Lowe e George Arliss em Satanás

O primeiro filme de Arliss,  Satanás /  The Devil, foi uma adaptação, feita por Edmund Goulding, de uma peça de Ferenc Molnar, na qual ele havia atuado na Broadway em 1909, dirigida por James Young, produzida pela The Associated Exhibitors, Inc., e distribuída pela Pathé, a partir de janeiro de 1921.  No mesmo ano, ele repetiu outro sucesso da Broadway na versão silenciosa de Disraeli, acompanhado por sua esposa, creditada como Mrs. George Arliss, no papel de Lady Beaconsfield. Seguiram-se mais quatro filmes mudos (The Ruling Passion / 1922, The Man Who Played God / 1922, A Deusa das Delícias / The Green Goddess / 1923, e $20 a Week / 1924, antes de seu grande êxito na versão sonora de Disraeli / Disraeli em 1929, arrebatando o Prêmio da Academia como Melhor Ator.  Com este filme, ele iniciou um ciclo de dramas ou biografias históricas – Alexander Hamilton / Alexander Hamilton / 1931, Voltaire / Voltaire / 1933, A Casa de Rotschild /The House of Rotschild / 1934, O Duque de Ferro / The Iron Duke / 1934, Cardeal Richelieu / Cardinal Richelieu / 1935 – que se sucederam na sua carreira intermitentemente entre outras produções (A Deusa Verde / The Green Goddess / 1930, Old English / 1930, O Milionário / The Millionaire / 1931, O Homem Deus / The Man Who Played God / 1932, Manias de Gente Rica / A Successful Calamity / 1932, Amor na Côrte / The King’s Vacation / 1933, Negócios em Família / The Working Man / 1933, O Último Gentilhomem / The Last Gentleman / 1934, O Vagabundo Milionário / The Guv’nor / 1935, Oriente contra Ocidente /  East Meets West / 1936, Sua Excia., o Ministro / His Lordship / 1937 e Doctor Syn / 1937). O Duque de Ferro e os quatro últimos foram produzidos na Inglaterra, pela Gaumont British.  Os demais, pela Warner Bros. (dez filmes entre 1929 e 1933) e Twentieth Centuury (três filmes entre 1934 e 1935), todos com o apoio entusiasta de um jovem produtor, Darryl F. Zanuck.

George Arliss em A Deusa Verde

George Arliss em A Deusa Verde

George Arliss em Amor na Côrte

George Arliss em Amor na Côrte

Bette Davis e George Arliss  em O Homem Deus

Bette Davis e George Arliss em O Homem Deu

arlisss sucessful calamity poster

Contribuindo na redação dos roteiros, podendo aprovar ou não o elenco, insistindo em duas semanas de ensaio “ao vivo” antes da filmagem de qualquer cena na presença do diretor, fotógrafo, cenógrafo, montador e outros membros de sua unidade de produção – com os quais discutia a sua visão do espetáculo embora nada disso estivesse previsto no seu contrato -, Arliss sempre foi a força criativa atrás de seus filmes, espécie rara de ator como autor.  Sua interpretação teatral pode parecer datada, mas a personalidade marcante do ator continua fascinando o público. Arliss escreveu duas autobiografias, Up the Years from Bloomsbury (1927) e Ten Years at the Studios (1940).  Sua esposa Florence, trabalhou com ele em vários filmes. Arliss retirou-se das telas em 1937, quando ela começou a perder a visão. O filho deles era Leslie Arliss, realizador entre outros de dois clássicos dos melodramas da Gainsborough, O Homem de Cinzento / The Man in Grey / 1943 e Malvada / The Wicked Lady / 1945.

Neste artigo vou relembrar apenas as biografias históricas de George Arliss, que pude assistir recentemente em três dias seguidos. Porque quando a gente fica conhecendo esse artista inimitável, dá vontade de ver todos os seus filmes.

DISRAELI / DISRAELI / 1929. Dir: Alfred E. Green.

Joan Bennett e George Arliss em Disraeli

Joan Bennett e George Arliss em Disraeli

Em 1874, a ambiciosa política exterior de Benjamin Disraeli, Primeiro Ministro da Grã Bretanha (George Arliss), visando criar um Império Britânico, é rejeitada pela House of Commons, após um discurso de seu maior rival, William Gladstone. Mais tarde, Disraeli recebe a boa notícia de que o Quediva do Egito está precisando de dinheiro e disposto a vender suas ações do Canal de Suez. A compra do Canal iria assegurar à Grã Bretanha o controle da India, mas Lord Michael Probert (David Torrence), presidente do Banco da Inglaterra, deixa claro para o Primeiro Ministro que ele se opõe veementemente a tal plano. Disraeli então convoca Sir Hugh Myers (Ivan F. Simpson), jovem banqueiro judeu e ainda encontra tempo para servir de casamenteiro para dois jovens, Lady Clarissa Pevensey (Joan Bennett) e Lord Charles Deeford (Anthony Bushell), que ele admite como seu secretário. Enquanto isso, a Russia, ansiosa para se apoderar da India para si mesma, designa dois espiões, Mrs. Travers (Doris Lloyd) e Mr. Foljambe (Norman Lannon), para vigiar Disraeli. Este usa suas habilidades para enfrentar os russos e resolver o problema do dinheiro. Ele desmascara os espiões e obriga Probert a dar um crédito ilimitado para Myers – que, vítima de uma sabotagem por parte dos russos, tivera que pedir falência -, sob pena da carta-patente do Banco da Inglaterra ser revogada pelo Parlamento. Depois que Probert sai da casa de Disraeli, este confessa para sua esposa, Mary Anne, Lady Beaconsfied (Florence Arliss) e Clarissa – que estava blefando.

George Arliss em Disraeli

George Arliss em Disraeli

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Cena de Disraeli

Cena de Disraeli

A peça “Disraeli”, escrita por Louis N. Parker, foi adaptada para a tela por Julian Josephson, sob a supervisão de Maude T. Howell, diretora de cena de Arliss desde 1920. Uma das responsabilidades de Howell era monitorar a filmagem das cenas nas quais Arliss não aparecia, particularmente com relação à caracterizacão. Ela eventualmente recebeu crédito como roteirista e/ou diretor associado em outros filmes de Arliss. Disraeli é um espetáculo estático revelando a sua origem teatral e a dificuldade de movimentação da câmera nos primeiros tempos do cinema sonoro; mas, como todos os filmes de Arliss, foi construído com inteligência e um bom encadeamento das cenas. Seus autores reduziram um fragmento complexo da História em uma simples história de espionagem e cometeram um erro fatual: não foi Hugh Meyer quem financiou o esquema do canal de Suez como descrito no filme, mas sim a família Rotschild. Apesar dessas falhas, George Arliss, com sua voz bem treinada no palco e gestos expansivos, brilhou no papel principal (que ele havia interpretado no palco e na versão muda de 1921), e arrebatou o Oscar de Melhor Ator da Academia.Disraeli agradou a todos os tipos de público e a Warner percebeu que havia adquirido um novo astro popular na pessoa de um inglês de 61 anos de idade, embora a publicidade do estúdio o descrevesse como “o distinto ator americano”.

ALEXANDER HAMILTON /ALEXANDER HAMILTON / 1931. Dir: John G. Adolfi.

George Arliss em Alexander Hamilton

George Arliss  como Alexander Hamilton

O enredo se concentra em dois acontecimentos aparentemente não relacionados entre si: os esforços do Secretário do Tesouro dos Estados Unidos (George Arliss) para aprovar seu projeto de lei, que estabeleceria um sistema bancário federal para assumir as dívidas dos Estados, especialmente as pensões que não haviam sido pagas aos veteranos das guerras revolucionárias e a tentativa de seus oponentes políticos – Thomas Jefferson (Montagu Love), Dudley Digges (James Roberts), James Monroe (Morgan Wallace) – de desacreditá-lo, difundindo um caso de adultério, no qual ele se envolvera. O episódio, historicamente conhecido como “O Caso Reynolds”, relacionava Hamilton com uma Mrs. Reynolds (June Collyer), cujo marido, James Reynolds (Ralf Harolde) subsequentemente o chantageara e usara o dinheiro para comprar as pensões dos velhos soldados por preço vil, prevendo que lucraria muito, quando elas fossem resgatadas pelo governo. Os dois elementos da trama convergem quando Hamilton é acusado de usar Reynolds como seu agente, na compra dos títulos, para enriquecer a si próprio enquanto garantia a aprovação de seu projeto de lei. A única maneira de provar sua inocência, seria revelar publicamente que o dinheiro que ele dera a Reynolds fora apenas para encobrir seu adultério com Mrs. Reynolds, uma declaração que poderia destruir seu casamento com sua fiel esposa Betsy (Doris Kenyon).

arliss alexande hamilton poster

June Collyer e George Arliss em Alexander Hamilton

June Collyer e George Arliss em Alexander Hamilton

A peça de George Arliss e Mary Hamlin foi adaptada por Julian Josephson e Maude Howell, expandindo-se o título original de “Hamilton” para “Alexander Hamilton”. Algumas liberdades foram tomadas com o fato histórico, porém a maior delas foi com relação à discrepância entre a idade do verdadeiro Hamilton e a do astro. Arliss tinha cinquenta anos de idade quando interpretou o Hamilton com cinquenta e cinco anos no palco. Em 1931, Arliss tinha sessenta e três anos. Entretanto, o seu físico esguio, uma peruca escura, e uma iluminação cuidadosa, disfarçaram a idade real do ator.Alexander Hamilton é um pouco menos estático do que Disraeli e começa com o “Farewell Adress” de George Washington aos seus soldados, dito magnificamente por Alan Mowbray. Washington não era um personagem na peça, mas é tratado quase que reverencialmente no filme, aparecendo na primeira e na última cena do espetáculo, quando Hamilton recebe a visita do presidente, que lhe diz que sua lei foi aprovada e renova a sua confiança nele.Pela primeira vez, a música de fundo foi usada dramaticamente em um filme de Arliss em duas cenas: quando Hamilton se despede de Betsy que está viajando para a Inglaterra, a fim de cuidar de sua irmã doente, ouve-se a melodia “Drink to Me Only with Thine Eyes”. Hamilton dá a Betsy uma flor de lembrança, um lance sentimental tomado emprestado de Disraeli. Mais tarde, o mesmo tema é usado eficazmente na cena climática em que Betsy esta arrumando as malas para partir, depois de saber do caso Reynolds. Hamilton traz de novo uma flor para Betsy e, sem ser visto, deixa-a para ela. Quando Betsy a descobre, se emociona, e decide ficar ao lado do marido.Alexander Hamilton não provocou o mesmo impacto que Disraeli e seu desempenho nas bilheterias foi modesto, mas Arliss, como sempre, teve uma interpretação magnética.

VOLTAIRE / VOLTAIRE / 1933.Dir: John G. Adolfi.

George Arliss como Voltaire

George Arliss como Voltaire

Na França pré-revolucionária, Voltaire (George Arliss, através de seus panfletos anônimos, tenta advertir o Rei Luis XV (Reginald Owen) sobre a crescente inquietacão entre seus súditos. O escritor e filósofo iluminista tem uma poderosa aliada na amante de Luis XV, Madame Pompadour (Doris Kenyon), porém o Conde de Sarnac (Alan Mowbray) é seu inimigo. Quando Voltaire pede ao rei pela vida de Jean Calas, um prisioneiro político, Sarnac convence o monarca de que isto seria um sinal de fraqueza e o acusado é executado. Incapaz de impedir a execução de Calas, Voltaire protege a filha dele Nanette (Margaret Lindsay), abrigando-a em sua casa. Enquanto isso, Sarnac tenta persuadir o rei de que Voltaire é um traidor, citando sua conhecida amizade com Frederico o Grande e insinuando que é ele que está revelando os segredos militares francêses para o soberano da Prússia. Louis XV não está inteiramente convencido, mas expulsa Voltaire de sua corte em Versailles. Madame Pompadour intercede em favor de Voltaire para que o rei permita que ele encene uma nova peça em Versailles. A peça é uma descrição ligeiramente disfarçada da execução de Calas transposta para um cenário exótico, em uma tentativa de obter o perdão póstumo do executado e a restauração de suas terras em nome de Nanette. O rei está gostando da representação, não se reconhecendo como opressor, mas Sarnac o faz ver que está sendo atacado e Louis XV ordena que Voltaire seja conduzido para a Bastilha. Entretanto, ao saber de um rico presente que foi dado a Sarnac por Frederico, Voltaire desmascara o conde como o verdadeiro traidor. Sarnac é preso, e Nanette empossada nas suas terras.

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George Arliss e Doris Kenyon em Voltaire

George Arliss e Doris Kenyon em Voltaire

Em 1933, a Warner estava procurando uma história para um novo filme de Arliss e este sugeriu a Darryl Zanuck a peça de E. Lawrence Dudley e George Gibbs, que ele havia representado no teatro. Zanuck ficou interessado na idéia, porém a realidade financeira do país, obrigou o estúdio a adotar algumas medidas de economia, e um filme de época precisava da aprovação dos irmãos Warner. Para surpresa de Arliss, e considerando o lucro medíocre de Alexandre Hamilton, eles concordaram, sendo designado Paul Greene para escrever o roteiro, que seria revisado por Maude T. Howell. Mal Greene acabara de terminar seu trabalho, os Warner voltaram atrás, e decidiram arquivar o projeto, quando consideraram a necessidade de recriar a faustosa corte de Luis XV. Depois, o estúdio verificou que a decoração de interiores do século dezoito criadas para o filme de 1927 de John Barrymore, Quando o Homem Ama / When a Man Loves, poderia ser reutilizada para Voltaire, proporcionando-lhe uma opulência pictórica por um preço razoável, e a produção foi avante. Tanto a Warner quanto Arliss temiam que um filme girando em torno de um homem que somente escrevia durante todo o tempo, seria anti-cinematográfico e muito intelectual para o gosto popular. Entretanto, o fato de que Voltaire “não faz nada” em termos dramáticos foi artisticamente dissimulado e Arliss conseguiu dar vida a essa figura ímpar que domino, com sua defesa intransigente contra a superstição e a injustiça, todo o século XVIII.  O velho irascível, propenso a acessos de cólera quando não consegue achar a peruca certa para usar, realiza algumas de suas proezas mais notáveis vestido com seu roupão. Ele não tem medo de incorrer na fúria do rei – ”O rei desafia meu poder”, diz ele a certa altura da trama -, mas é intimidado pelo seu médico.Os chefões da Warner devem ter ficado satisfeitos quando resolveram fazer o filme, porque ele obteve um resultado financeiro apreciável. Ironicamente, quando os irmãos Warner verificaram o lucro vultoso do espetáculo, eles haviam deixado Arliss escorregar pelos seus dedos. Voltaire foi o último filme de Arllis para o estúdio, encerrando uma relação harmoniosa de cinco anos.

A CASA DE ROTHSCHILD / THE HOUSE OF ROTHSCHILD / 1934. Dir: Alfred Werker (substituido brevemente por Sidney Landfield).

Arliss, Loretta Yong e Robert Yong em uma cena de A Casa de Rotschild

Arliss, Loretta Yong e Robert Yong em uma cena de A Casa de Rothschild

Em Frankfurt, que, em 1780, fazia parte da Prussia, os judeus eram proibidos de aprender uma profissão, cultivar terras, e sair da “Rua dos Judeus” após o pôr do Sol. Quando o coletor de impostos chega na casa do cambista Mayer Rothschild (George Arliss) e exige uma taxa mais alta do que a devida, seu filho, Nathan, ajuda o pai a subornar o coletor. Pouco depois, Mayer fica sabendo que o homem que teria que lhe trazer dez mil gulden de Hamburgo, foi emboscado e roubado por agentes do tesouro, Então ele se enfurece com a situação dos judeus, e sofre um colapso. No seu leito de morte, Mayer aconselha seus cinco filhos a, cada um, abrir uma casa bancária em países diferentes e permanecerem unidos. Eles os adverte de que devem se lembrar do gueto e lhes diz que nada lhes trará felicidade, até que seu povo tenha igualdade, respeito e dignidade. Trinta anos mais tarde, depois que Napoleão assolou a Europa, Nathan (George Arliss), em Londres, recebe uma petição trazida pelo Capitão Fitzroy (Robert Young), enviado do Duque de Wellington (C. Aubrey Smith), pedindo-lhe que permita a seus irmãos (Paul Harvey, Ivan F. Simpson, Noel Madison, Murray Kinney) em Viena, Nápoles, Paris e Frankfurt, emprestarem dinheiro para impedir o avanço de Napoleão. Depois que este é derrotado, Fitzroy e a filha de Nathan, Julie (Loretta Young), planejam contrair matrimônio e, embora Nathan prefira que ela se case com um judeu, ele dá seu consentimento, porque acredita que o mundo está mudando. Em gratidão, Wellington fornece a Nathan uma informação secreta relativa a um empréstimo necessitado pela França para se recuperar da guerra. Sabendo que o empréstimo tornará o Rothschild o banco mais poderoso da Europa, Nathan fica perturbado quando um Conselho Aliado, liderado por um anti-semita virulento, Conde Ledrantz (Boris Karloff), recusa sua oferta, que era a melhor de todas, e favorece um de seus rivais, com os quais pretende oferecer títulos do governo ao público, para pagar o empréstimo. Furioso, Nathan compra títulos do governo previamente e ameaça oferecê-los ao público a um custo baixo, forçando os membros do conselho a vender seus titulos para ele. Em represália, Ledrantz incita tumultos anti-semitas por toda a Prússia e, ao saber que Nathan está em Frankfurt, impede sua saída da cidade. Quando Napoleão foge da Ilha de Elba, Ledrantz é forçado a procurar Nathan em sua casa no gueto para persuadí- lo a não emprestar dinheiro para o imperador e concorda em aceitar os termos de Nathan exigindo liberdade, respeito e dignidade aos judeus. Em 22 de março de 1815, Napoleão chega a Paris, Luis XVIII foge, e a Europa é mobilizada. Em junho, após algumas vitórias de Napoleão, a Bolsa de Londres entra em pânico, e circulam rumores de que possa fechar. Para impedir seu fechamento, enquanto todos estão vendendo ações, Nathan continua a comprar, apesar dos boatos da derrota de Wellington, até que a guerra termina com a vitória de Wellington em Waterloo. Julie e Fitzroy se casam e Nathan é feito barão pelo Rei da Inglaterra.

Boris Karloff e George Arliss em A Casa de Rotschild

Boris Karloff e George Arliss em A Casa de Rotschild

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A Casa de Rothschild revitalizou a carreira cinematográfica de Arliss, levando-o para a capa da revista Time (de 26 de março de 1934), firmou a nova companhia de Darryl Zanuck (Twentieth Century Pictures), como um estúdio importante na indústria de cinema americana, e foi indicado para o Oscar de Melhor Filme.Primeiramente, Arllss ficou impressionado com a peça “Rothschild”, escrita em 1931 pelo jornalista George Hembert Westley, e propôs a Warner que a comprasse. O estúdio concordou, mas o projeto não foi adiante por motivos financeiros; entretanto, Zanuck se interessou pela idéia e comprou da Warner os direitos de filmagem da peça. Embora Nunnally Johnson apareça nos créditos como roteirista, um esboço anterior do script foi escrito anônimamente por Sam Mintz e Maude T. Howell (creditada como diretor associado), e foi para esta versão que Arliss contribuiu com algumas anotações e recomendações adicionais para a narrativa. Ele sugeriu que se acrescentasse um prólogo à história, no qual a família Rotschild é submetida ao preconceito e leis injustas no gueto judeu de Frankfurt.Paverell Marley, captou com esmêro os interiores da época da Regência assim como o clima opressivo do gueto e Alfred Newman, combinou cantigas ídiches com melodias patrióticas exictantes, tais como “God Save the King, para expressar o relacionamento inquietante entre judeus e gentios. Arliss conseguiu combinar seu senso de humor característico com o tema trágico do anti-semitismo. Quando um cocheiro se queixa de que a filha de Nathan lhe dá maiores gorjetas do que as que ele recebe de Nathan, Arliss responde: “Julie tem um pai rico; eu não”. Em outra fala de diálogo, Arliss comenta, quando uma pedra é arremessada através da janela da casa da família em Frankfurt: “Evidentemente algum gentio se extraviou no nosso bairro”. Não satisfeito com a produção já luxuosa, Zanuck mandou que a cena final, no St. James Palace, quando Nathan é feito barão, fosse fotografada no processo recentemente aperfeiçoado Technicolor de três cores. Embora a cena fosse fictícia – somente um outro Rotschild viria a receber tal honraria – a cena colorida produziu os efeitos esperados.

O DUQUE DE FERRO / THE IRON DUKE / 1934.Dir: Victor Saville.

George Arliss em O Duque de Ferro

George Arliss em O Duque de Ferro

Com Napoleão, derrotado e exilado, o relutante Arthur Wellesley, Duque de Wellington (George Arliss) é persuadido por Lord Castelreagh (Gerald Lawrence) a representar os interesses da Grã-Bretanha no Congresso de Viena, onde os aliados vitoriosos irão decidir o futuro da Europa. Enquanto ele está lá, durante um baile, sua amiga, a Duquesa de Richmond (Norma Varden) o apresenta a uma admiradora ardente, a linda Lady Frances Webster (Lesley Wareing). No decorrer da noite, Wellington recebe uma mensagem urgente: Napoleão escapou da ilha de Elba e chegou na França. O Rei Luis XVIII (Allan Aynesworth) e sua sobrinha e conselheira Madame, Duquesa de Angoulême (Gladys Cooper), ficam alarmados. Ney (Edmund Willard), ex-marechal de Napoleão, se oferece para reunir uma tropa e capturar seu antigo líder. Porém depois, muda de lado. Napoleão acaba sendo derrotado pelo Duque de Wellington na Batalha de Waterloo. Os aliados ocupam a França e se reunem em Paris para dividir o espólio de guerra. Castelreagh incumbe Wellington de tentar impedir que os outros imponham penas muito severas a França, a fim de assegurar uma paz duradoura. A tarefa de Wellington é dificultada pela oposição da Duquesa de Angoulême, que está certa de que ele mesmo quer governar a França. Wellington adverte Luis XVIII de que o desejo da duquesa de mandar executar por traição o ainda popular Marechal Ney corre o risco de uma nova revolução. Para desacreditar Wellington, a duquesa faz com que ele seja chamado a Londres para responder a uma história publicada pela imprensa segundo a qual ele estaria vivendo um romance adulterino com Lady Frances. Wellington logo desmente a alegação, porém na sua ausência, Ney é condenado e morto por um pelotão de fuzilamento. De volta a França, Wellington obriga o rei a se descartar de seus conselheiros, inclusive a duquesa. De retorno a Londres, ele tem que defender sua decisão de não aceitar ressarcimentos para seu país.

Em um intervalo da filmagem de O Duque de Ferro, Victor Saville explica alguma coisa para Arliss

Em um intervalo da filmagem de O Duque de Ferro, Victor Saville explica alguma coisa para Arliss

arlisss the iron duke caioposrterO Duque de Ferro marcou a estréia de Arliss no cinema britânico. Foi o primeiro filme falado que ele fez sem Darryl Zanuck e sua colaboradora habitual Maude T. Howell. Funcionando como diretor associado, Maude ficou em Hollywood preparando o próximo filme de Arliss na Twentieth Century. O roteiro foi escrito por H. M. Harwood, baseando-se em vários epísódios da vida de Arthur Wellesley enquanto a roteirista americana, Bess Meredith, o assistia na adaptação do script – porém somente Harwood foi creditado. No elenco estavam ainda Farren Soutar (Metternich), ator que raramente aparecia na tela mas era bem conhecido nos palcos londrinos, amigo de infância e padrinho de casamento de Arliss e o jovem talentoso, Emlyn Williams (Bates, o repórter sensacionalista), que depois ganharia fama. A Batalha de Waterloo, que era apenas sugerida em A Casa de Rotschild, recebeu um tratamento mais extenso em O Duque de Ferro, porém a sequência é uma miscelânea de cenas de batalha extraídas de um outro filme, mal encadeadas, e com tomadas de Arliss a cavalo, obviamente filmadas em um set de interiores do estúdio. Este era exatamente o tipo de deficiência técnica que fez Arliss recusar convites para fazer filmes nos estúdios britânicos. Entretanto, as cenas seguintes, quando Wellington chega ao refeitório dos oficiais e vê muitas cadeiras vazias é memoravelmente pungente.Temendo o pior, ele espera que seus comandados estejam meramente atrasados. Seu ajudante chega com uma lista de baixas e enquanto ele lê os nomes dos soldados mortos em combate, Arliss expressa convicentemente a tristeza e a angústia de perder cada colega e amigo.

 CARDEAL RICHELIEU / CARDINAL RICHELIEU / 1935. Dir: Rowland V. Lee.

George Arliss como Richelieu

George Arliss como Richelieu

Em 1630, um grupo representando os senhores feudais pede ajuda ao Papa na sua luta contra o Cardeal Armand Jean du Plessis, Duque de Richelieu (George Arliss), que havia preparado um édito para desapossá-los de suas terras, com a intenção de “federalizar” a França, transformando-a de um país de pequenos feudos em um governo unificado, controlado pelo rei Luis XIII (Edward Arnold). Ressentidos com a perda de seus reinos e poder, os nobres partem para a conspiração, celebrando um acordo secreto com a Espanha e a Inglaterra, para derrubar Luis e colocar seu irmão, Gaston (Francis Lister), no trono, como um monarca títere. O complô, liderado pelo Conde Baradas (Douglas Drumbrille), envolve também a própria esposa de Luís, Rainha Ana d’Austria (Katharine Alexander) e por sua mãe, Maria de Médicis (Violet Kemble Cooper). Richelieu enfrenta todos os obstáculos e intrigas, que envolvem ainda um casal de amantes, Lenore (Maureen O’Sullivan), a jovem sob sua guarda e Andre de Pons (Cesar Romero), um huguenote a serviço dos conspiradores, mas que depois passa para o lado do Cardeal.

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Em dezembro de 1934, Arliss estava de volta aos estúdios da Twentieth Century em Hollywood, para a filmagem de Cardeal Richelieu. Ele antecipou para a imprensa que o roteiro de Nunnally Johson seria uma adaptação da famosa peça de Edward Bulwer-Lytton, “Richelieu or the Conspiracy”, escrita em 1839. Entretanto, Johnson resolveu criar um script original, devendo quase nada à obra de Bulwer-Lytton. Quando Arrliss persuadiu Darryl Zanuck de que o roteiro deveria ser rescrito para incluir algumas das cenas mais destacadas da peça, Johnson abandonou o projeto. Ele foi substituido por Cameron Rogers, Maude T. Howell e W.P. Lipscomb, creditados respectivamente como adaptador, roteirista e dialoguista.Zanuck produziu Cardeal Richelieu com muito luxo com a intenção clara de igualar A Casa de Rotschild em termos de valores de prdoução. Embora não tivesse sido usado o Technicolor na cena final, os cenários de Richard Day e Julia Heron e os figurines de Omar Kiam deram ao filme uma opulência visual, lindamente fotografada por J. Paverell Marley.O toque de Arliss, continua presente. Por exemplo, na cena em que Richelieu fica sabendo que seu comandante militar foi proibido por Luís XIII de conduzir o exército para fora de Paris, a fim de repelir as forças inimigas. Decidindo liderar o exército ele mesmo, Richelieu ergue uma espada e proclama: ”A Igreja tornou-se uma Igreja Militante” mas, antes de sair, lembra-se de alimentar seu gato, derramando um pouco de leite para o felino. Cardeal Richelieu foi o derradeiro filme de George Arliss em Hollywood e também o último no qual ele interpretou uma figura histórica.

2 Responses to “AS BIOGRAFIAS HISTÓRICAS DE GEORGE ARLISS”

  1. AGRADEÇO MAIS ESTA POSTAGEM A RESPEITO DO CINEMA EM GERAL.
    G ALVES

  2. Eu que agradeço a você, exemplo do estudioso do cinema autêntico. Um forte abraço.

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