HAL ROACH

março 8, 2014

Hal Roach funcionou ininterruptamente de 1914 até 1960 como produtor de comédias curtas, filmes independentes de longa-metragem, featurettes e séries de televisão, uma sobrevivência impressionante de sessenta e seis anos de sucesso no mundo do cinema. Seu estúdio nunca alcançou a proeminência de uma grande companhia de Hollywood, porém alavancou  a carreira de Harold Lloyd e da dupla Stan Laurel e Oliver Hardy, que compõem o quarteto de maiores comediantes do cinema ao lado de Charles Chaplin e Buster Keaton.

Hal Roach

Hal Roach

Hal Roach (1892- 1992) nasceu em Elmira no Estado de Nova York. Aos 17 anos de idade, foi para o Alasca, a fim de trabalhar em uma via férrea. Depois rumou para Seattle, Washington, onde exerceu a profissão de motorista de caminhão de uma fábrica de sorvete. Após trabalhar como supervisor dos caminhoneiros que transportavam canos para uma firma petrolífera, no percurso de Bakersfield – San Pedro na Califórnia, ele chegou em Los Angeles, a fim de se empregar na construtora Stone Weber. Mas então viu um anúncio no jornal, que dizia: “Um dólar e almoço para trabalhar em filmes. Esteja em frente à agência dos correios às sete horas da manhã”. Roach sabia andar a cavalo muito bem e tinha um chapéu de abas largas, botas de vaqueiro e um lenço colorido, que ele vestiu quando apareceu na frente da agência dos correios, sendo logo escolhido como figurante da 101-Bison Company.

“Eles me conduziram para o estúdio, onde havia um cenário enorme de saloon, com uma mesa de roleta. Bem, ninguém sabia como operá-la, o que eu havia aprendido no Alasca. Disse a eles que estavam fazendo tudo errado, estavam girando a roda e a bola na mesma direção, e o diretor me perguntou se eu conhecia o jogo. Respondí  que conhecia tudo sobre roleta. Ele então me mandou ficar perto do crupiê, porque eu era muito moço para ser um crupiê, e ensinar para ele, o que tinha de fazer. O personagem principal do filme deveria ganhar muito dinheiro e depois perder tudo. Às três horas e meia da tarde – como nos velhos tempos do cinema mudo não havia luzes, apenas o sol, a filmagem tinha que terminar às quatro da tarde -, o assistente de direção  perguntou meu nome e disse: ’Esteja no estúdio às oito da manhã’. Falei: ‘Esta manhã eu estava na porta dos correios às sete’. Ele retrucou: ‘Não me interessa o que você era ontem. Hoje você é um ator’. Foi assim que eu comecei no negócio de cinema”.

Em 1914, o ex-figurante Roach já fazia parte de um grupo de atores de papéis pequenos usados regularmente nos westerns da Universal, onde conheceu Harold Lloyd, de quem se tornou um grande amigo. Em pouco tempo, Roach tornou-se assistente de direção e exerceu várias funções administrativas. Excitado com essa experiência e graças a uma herança que recebeu, ele organizou sua própria companhia produtora, a Rolin Film Company, denominação derivada da combinação das primeiras letras do seu sobrenome e do seu principal sócio, Dan Linthicum.

Rolin Company

Rolin Company

A Rolin começou produzindo algumas comédias de um rolo, que tinham como atores alguns de seus companheiros do tempo em que era figurante, entre eles Harold Lloyd. O desejo de Lloyd era apenas tornar-se ator de cinema. Ele não tinha nenhum interesse particular pela comédia e, ao contrário da maioria dos outros atores do gênero nessa época, Lloyd não vinha de uma carreira como cômico no vaudeville ou music hall. Roach notou suas habilidades atléticas e o arrastou para a comédia de pastelão.

Nenhuma dessas primeiras comédias da Rolin conseguiu distribuição, até que a Pathé se interessou por uma delas, Just Nuts / 1915, na qual Lloyd interpretava um personagem chamado Willie Work. Embora este filme contivesse os mesmos traços amadorísticos encontrados nas  outras comédias – inclusive uma imitação óbvia de Lloyd do vagabundo criado por Chaplin – a Pathé encorajou Roach a produzir mais filmes na mesma linha, corrigindo os defeitos apontados.

Em outubro de 1915, a Pathé assinou um contrato de longo prazo com a Rolin para a distribuição de uma série de comédias de um rolo, intitulada Phunphilm, com Lloyd como Lonesome Luke (conhecido no Brasil como Hipólito), um personagem (vestido com roupa bem justa e um bigodinho que consistia em dois pingos de maquilagem), que era exatamente o oposto de Carlitos.

Tendo encontrado um distribuidor permanente para os seus filmes, Roach resolveu expandir sua produção, a fim de que sua companhia não ficasse a mercê de um único astro, sujeito a sofrer um acidente ou ser atraído por um estúdio poderoso.

Dee Lampton

Dee Lampton

O primeiro esforço nesse sentido ocorreu em abril de 1916, quando Roach tentou contratar Arnold Novello, um palhaço de circo italiano, que estava trabalhando no teatro burlesco americano com o nome artístico de Toto; porém  os compromissos dele com o tablado não lhe permitiram aceitar o convite. Roach então decidiu realizar uma série em torno de Dee Lampton, um ator de dezoito anos, gorducho como Fatty Arbuckle. A série de Lampton, intitulada com ironia Skinny Comedies, fracassou, mas na primavera de 1917, Toto Novello estava agora disponível.

Roach e Harold lloyd

Roach e Harold lloyd

O plano de Roach era manter uma unidade de produção separada daquela que cuidava dos filmes da série de Lloyd. Roach permaneceu como produtor supervisor de ambas as séries, mas dirigiu somente a série de Toto com a assistência de Fred Newmeyer, ficando Alf Goulding, Gilbert Pratt e  inicialmente J. Farrel MacDonald como diretores da série de Lonesome Luke. Com Roach se concentrando na série de Toto, Lloyd passou a ter um controle maior sobre suas própria série. Roach fez mais duas tentativas antes de 1920 para lançar séries adicionais: uma com Snub Pollard, outra com Stan Laurel, porém ambas não tiveram êxito. Eles teriam mais sorte no futuro.

A essa altura, Lloyd, insatisfeito  em arrancar o riso pela sua aparência grotesca ou excêntrica, começou a construir um novo tipo, um jovem comum que usava óculos, que ele interpretaria pelo resto de sua carreira. Na primavera de 1919, Rolin e a Pathé concordaram em iniciar a produção de comédias de Lloyd em dois rolos. O primeiro filme com o personagem de óculos foi Over the Fence / 1917.

Harold Lloyd e Bebe Daniels

Harold Lloyd e Bebe Daniels

Mildred Harris e Harold Lloyd

Mildred Harris e Harold Lloyd

Após o término da segunda comédia de dois rolos, a leading lady de Lloyd, desde os primeiros tempos de Lonesome Luke, Bebe Daniels, deixou o estúdio e foi substituída por Mildred Davis, que se casaria com o grande cômico. A nova parceria funcionou muito bem e a popularidade de Lloyd continuou a subir  até que, no dia 24 de agosto de 1919, na sala do Witzel Photography Studio em Los Angeles, Lloyd posava para uma foto de publicidade, acendendo um cigarro no pavio de uma bomba, quando esta explodiu na sua mão. Ela tinha sido colocada por engano em uma caixa que supostamente só continha modelos não explosivos, e dali foi parar nas mãos do ator. Quando a fumaça se espalhou, Lloyd estava vivo, mas sofrera queimaduras sérias na face, teve a sua visão afetada, e perdeu o polegar e o dedo indicador de sua mão direita.

Snub Pollard

Snub Pollard

Como a convalescença de seu astro poderia ser muito demorada, a Rolin começou uma nova série de comédias com o cômico australiano Harold Fraser  que, sob o nome artístico de Snub Pollard, já pertencia à stock company de Harold Lloyd praticamente desde o início dos Lonesome Luke. A série, denominada New Rolin Comedies, estreou com Start Something / 1919 e, desta vez, Pollard  foi muito bem recebido pelos exibidores e pelo público, que apenas lamentaram a tentativa de Roach de tirar o seu bigode, que era a sua marca registrada. Como consequência, Roach colocou o bigode de novo no rosto de Pollard. Um elemento vital para o sucesso das novas comédias de Pollard foi a presença de Ernie “Sunshine Sammy” Morrison, que depois alcançaria maior fama na série Os Peraltas / Our Gang.

Sunshine Morrison

Sunshine Morrison

Com o retorno de Lloyd na sua primeira comédia de dois rolos, Através da Broadway / Bumping into Broadway / 1919, tornando-se um astro da comédia de primeira grandeza, e o êxito das novas comédias de Pollard com Morrison, Roach preparou a expansão tanto da sua linha de produção como de seu espaço físico. Em novembro de 1919, Roach comprou um terreno para construir um estúdio em Culver City, inaugurado oficialmente no verão de 1920 e, em 16 de agosto, a Rolin Film Company foi rebatizada Hal E. Roach Studios.

No mesmo ano, Roach introduziu uma segunda série de dois rolos para alternar com as comédias de Pollard, intitulada Vanity Fair Maids (depois, Vanity Fair Girls), uma pálida variação da velha Bathing Beauties de Mack Sennett, protagonizada por Eddie Boland, interpretando um personagem tímido envolvido com  “não uma, mas seis estrelas”. Em abril, a série foi reintitulada Eddie Boland Comedies, mas foi logo cancelada tendo em vista a sua baixa lucratividade e problemas de saúde do ator.

Eddie Boland

Eddie Boland

Um projeto interessante que infelizmente não pôde ser realizado,  foi um filme de longa-metragem com Al Jolson. Sete anos depois, a performance exuberante de Jolson em O Cantor de Jazz / The Jazz Singer, o colocaria como um dos primeiros astros do cinema sonoro.

Em 7 de julho de 1923, Harold Lloyd e Hal Roach decidiram terminar suas relações amigavelmente. A separação seria boa para ambos, dando mais tempo para Roach se concentrar nos seus outros projetos e maior liberdade para Lloyd (que já vinha fazendo longas-metragens desde Marinheiro de Água-Doce / A Sailor-Made Man/  1921) na produção de seus filmes.

 Glenn Tryon

Glenn Tryon

Após a saída de Lloyd, Roach contratou um ator Glenn Tryon (o Jim de Solidão / Lonesome / 1928 de Paul Fejos), colocando-o em duas comédias de longa-metragem, Os Filhos de Hércules / The Battling Orioles e A Boa Ovelha / The White Sheep (ambas de 1924), e lançou também Arthur Stone; porém nenhum dos dois chegou perto de Harold Lloyd.

Roach e Os Peraltas

Roach e Os Peraltas

Roach anunciou ainda a produção de uma nova série de dois rolos, que seriam dirigidas por Robert F. McGowan. A série (cujo elenco mudou várias vezes à medida em que as crianças foram crescendo: vg. Sammy Morrison, Allen “Farina” Hoskins, Joe Cobb, Mickey Daniels depois George “Spanky” McFarland, Carl “Alfafa” Switzer) foi inicialmente denominada Hal Roach’s Rascals, porém o título do primeiro filme, Our Gang, eventualmente tornou-se a sua designação oficial. No Brasil foi exibida como Os Peraltas mas, mais tarde, quando veio a ser exibida na televisão como The Little Rascals, recebeu o título em português de Os Batutinhas. Ela foi produzida por Roach até 1938 e depois a MGM continuou a produção até 1944, vinte e dois anos depois do primeiro filme, transformando-a em uma das séries de comédia curta mais longas da História do Cinema.

Um lançamento de Roach na mesma ocasião foi a série de um rolo, The Dippy Doo Dads, estrelada por um elenco todo de animais, vestindo roupas humanas e cabriolando em cenários de miniaturas. Embora considerada inteligente por alguns comentaristas, a série ficou em cartaz apenas um ano. Outras séries de um rolo, como as de Will Rogers, Stan Laurel (em nova tentativa) e The Spat Family, duraram somente uma ou duas temporadas.

Cena de um filme da série Dippy Doo Dogs

Cena de um filme da série Dippy Doo Dogs

Muito mais populares foram as comédias de Charles Chase que, usando seu nome verdadeiro, Charles Parrott, havia sido diretor supervisor de algumas séries do estúdio. Seu irmão, Paul Parrott, ator de uma série de Roach de breve duração, voltou a usar seu nome verdadeiro, James Parrott, para escrever e dirigir comédias, inclusive várias da dupla O Gordo e o Magro. As comédias de Charles Chase fizeram tanto sucesso que, apenas um ano depois (1925), ele foi promovido para ser o astro em comédias de dois rolos, que seriam feitas até 1936.

Charles Chase

Charles Chase

James Parrott, Stan Laurel e Oliver Hardy

James Parrott, Stan Laurel e Oliver Hardy

Roach não estava satisfeito com seu status de produtor de pequeno porte e, para atingir maior projeção, inaugurou sua carreira de produtor dramático através de um par de seriados com Ruth Roland,  A Águia Branca / White Eagle e A Rainha dos Bosques / The Timber Queen, ambos de 1922. Ele produziu mais um seriado, Her Dangerous Path / 1923, com Edna Murphy, antes de abandonar o formato, para dar o próximo passo:  a produção de dramas de longa-metragem.

O primeiro desses filmes foi uma adaptação do romance de Jack London, Call of the Wild, cuja recepção favorável levou à realização de um segundo filme de ação-aventura em 1924, O Rei dos Cavalos / King of the Wild Horses, estrelado por Rex, the Wonder Horse. Este filme foi votado pelos exibidores um dos dez melhores do ano e proporcionou três continuações: Tufão Negro / Black Cyclone / 1925, The Devil Horse / 1926 e No Man’s Law / 1927.

Dois outros longas-metragens dramáticos de Roach, O Vale do Inferno / The Valley of Hell e O Tributo do Deserto / The Desert’s Toll foram as suas primeiras produções feitas para serem distribuídas pela MGM, a companhia que cuidaria da distribuição de toda a produção do estúdio de 1927 a 1938, o que garantiu a sua estabilidade durante a Depressão. Entretanto, a MGM , com exceção desses dois westerns, estava interessada apenas nos filmes curtos de Roach e não em longas-metragens.

Roach então se empenhou em uma nova série de dois rolos com atores característicos usados em cenas de comic relief, tais como Lucien Littlefield, Al St. John e Clyde Cook. Dentro de um ano, esse conceito havia evoluído para as All Star Comedies. A idéia básica dessa série era simples: Roach faria comédias curtas estreladas por artistas bastante conhecidos dos longas-metragens e montadas com maiores valores de produção, capazes de competir com os features. Infelizmente, esses artistas (entre os quais Theda Bara, Mildred Harris, Lionel Barrymore, Harry Myers) estavam no fim de suas carreiras, desesperados por qualquer espécie de trabalho no cinema ou em uma fase desfavorável na vida profissional.

Outro projeto relacionado de alguma forma com as All Star Comedies foi o retorno de Mabel Normand às telas em uma série, depois do escândalo que a envolveu na morte do diretor William Desmond. Após a realização de dois filmes de três rolos e mais dois de dois rolos, a série foi extinta inexplicavelmente e substituída por uma com o cômico Max Davidson.

No começo da temporada de 1927-1928, Roach abandonou suas altas aspirações para a All Star Comedies e a série ficou mesmo na mão de atores coadjuvantes  do elenco permanente do produtor. Contudo, a diferença desta vez é que a companhia tinha como contratados Stan Laurel e Oliver Hardy.

Hal Roach com Laurel e Hardy

Hal Roach com Laurel e Hardy

Embora ambos tivessem mais de uma década de experiência nenhum deles havia atingido uma posição de astro. Hardy parecia destinado a não ser nada mais que um vilão confiável enquanto que Laurel até então não havia causado uma forte impressão no público. De fato, após os dois insucessos prévios de suas séries, a Pathé havia expressado reservas quanto à volta do cômico para uma terceira tentativa. Todavia, reunidos na All Star Comedies, Laurel e Hardy alcançaram um entrosamento perfeito em cena e, na temporada de 1928-1929, foram oficialmente lançados como astros de sua própria série.

Sob o refletor: Laurel e Hardy e Hal Roach

Sob o refletor: Laurel e Hardy e Hal Roach

Com o advento do cinema falado, a produção de comédias curtas foi prejudicada, porque os custos aumentaram, diminuindo as margens de lucro. Além disso, a adição do diálogo exigiu que os scripts fossem melhor preparados, pondo um fim na improvisação, que havia sido predominante durante na cena silenciosa. Outro trauma que afetou a produção de comédias curtas no começo dos anos trinta foi a adoção do programa duplo, deixando menos tempo para as comédias de dois rolos. Diante dessas mudanças na indústria, Roach pensou em ingressar novamente na produção de longas-metragens, e até em encerrar definitivamente a produção de filmes curtos, mas acabou entrando na era do cinema falado com as mesmas quatro séries que constituíam a sua produção no último ano do cinema mudo: Laurel e Hardy, Charles (ou Charley) Chase, Os Peraltas e as All Star Comedies.

Roach decidiu fazer all-talking comedies no sistema em disco, com a supervisão da Victor Talking Machine Company.  Com a saída de Leo McCarey no final de 1928 para desfrutar de uma carreira de diretor de longas-metragens, as comédias do Gordo e o Magro ficaram sob o controle criativo de Stan Laurel. As comédias de Charles Chase ficaram sob responsabilidade dele próprio. Seu controle sobre a série foi formalizado em 1933, quando começou a dirigir seus filmes sob seu verdadeiro nome, Charles Parrott. Robert McGowan continuou a produzir e dirigir a série Os Peraltas até 1933, quando foi substituido por Gus Meins. Em 1936, Meins foi sucedido por Gordon Douglas, que serviu como produtor-diretor da série até 1938, quando Roach  transferiu a produção da mesma para a MGM. Em 1936, Douglas dirigiu Fugindo da Escola / Bored of Education, agraciado com o Oscar de Melhor Curta-Metragem, um dos dois prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas recebidos por Roach.

The Boy Friends

The Boy Friends

The Taxi Boys

The Taxi Boys

Thelma Todd e Zasu Pitts

Thelma Todd e Zasu Pitts

Ele produziu ainda uma série falada estrelada por Harry Langdon e mais estas cinco: The Boy Friends, concebida como uma versão adolescente de Os Peraltas com dois de seus membros Mary Kornman e Mickey Daniels no elenco, Grady Sutton como Alabam, e George Stevens na direção de vários filmes; Os Chauffeurs de Taxi / The Taxi Boys com Ben Blue e Billy Gilbert; continuação das Hal Roach Comedies com Billy Nelson, Douglas Wakefield e Don Barclay; uma série com o humorista Irving S. Cobb; a série Thelma Todd – Zasu Pitts (substituída depois por Patsy Kelly), da qual participou como diretor Marshall Neilan, cuja carreira estava então em declínio; seis comédias musicais nas quais atuaram Eddie Foy Jr., Billy Gilbert e Billy Bletcher (a voz do Lobo Mau de Disney).

Cena de A Caixa de Música

Cena de A Caixa de Música

No começo do cinema sonoro, Roach foi o único produtor de curtas-metragens que fez versões múltiplas de seus filmes nos idiomas Espanhol, Alemão, Italiano e Francês  e, nessa época, ele não somente experimentou também o formato de três rolos (Uma dessas comédias, A Caixa de Música ou Entrega a Domicílio / The Music Box, da série Laurel e Hardy, ganhou o Oscar de Melhor Curta-Metragem de 1931-1932) como também lançou em 1931, Perdão para Dois / Pardon Us, o primeiro longa-metragem do Gordo e o Magro. Um segundo longa-metragem da dupla, Procura-se um Avô ou Acabaram-se as Encrencas / Pack Up Your Troubles, apareceu em 1932, seguido por um terceiro, Fra Diavolo / Devil’s Brother em 1933. Embora os dois primeiros tivessem tido um orçamento modesto, o derradeiro era um verdadeiro filme classe “A” de época. O quarto feature de Laurel e Hardy, Filhos do Deserto / Sons of the Desert / 1934 contou com a presença de Charles Chase ao lado deles

Cena de A Dupla do Outro Mundo

Cena de A Dupla do Outro Mundo

Roach faria com a MGM mais 15 longas-metragens com atores variados, entre eles, Cary Grant, Constance Bennett e Roland Young em  A Dupla do Outro Mundo / Topper / 1937, grande sucesso de bilheteria, que daria ensejo a duas continuações.

Aceitando uma oferta generosa da United Artists, que lhe oferecia um contrato de distribuição, prometendo-lhe  maior percentagem sobre a renda da bilheteria e a possibilidade de produzir mais filmes do que a MGM estava disposta a aceitar, Roach desligou-se da “Marca do Leão”, vendendo-lhe a franquia de Os Peraltas. Charles Chase não atuava bem em filmes mais longos e  ele e Roach concordaram em se separar. Laurel e Hardy fizeram seu último filme para Roach, Marujos Improvisados / Saps at Sea /1940, e foram para a Fox.

Lon Chaney Jr e Burgess Meredith em Ratos e Homens

Lon Chaney Jr e Burgess Meredith em Ratos e Homens

Victor Mature e Carole Landis em O Despertar do Mundo

Victor Mature e Carole Landis em O Despertar do Mundo

Com a United Artists, Roach fez 14 longas-metragens, entre os quais se destacam Carícia Fatal / Of Mice and Men / 1939 com Burgess Meredith e Lon Chaney Jr. e O Despertar do Mundo / One Million B.C. / 1940 com Victor Mature e Carole Landis. O primeiro, baseado no best seller de John Steinbeck e dirigido por um diretor do porte de Lewis Milestone, foi indicado para o Oscar de Melhor Filme de 1939, ano considerado dos mais férteis artisticamente de Hollywood; o segundo, trouxe de volta de uma aposentadoria forçada o legendário David W. Griffith. Porém o envolvimento do “Pai do Cinema’ na produção foi mínimo e serviu mais para promover o filme. Um anúncio de O Despertar do Mundo de página inteira no Hollywood Reporter indicava que o filme era uma ‘Produção de D.W. Griffith, Dirigida por Hal Roach”. Griffith não aprovou o uso do seu nome e, quando o filme foi lançado efetivamente, os créditos mencionaram somente Hal Roach como produtor, dividindo a direção com Hal Roach Jr.

Hal Roach e D. W. Griffith

Hal Roach e D. W. Griffith

Infelizmente, no final de 1940, o Hal Roach Studios (conhecido pelo apelido de “Lot of Fun”), estava à beira da falência, porque o lucro de seus longas-metragens não foi suficiente para cobrir os custos das produções e, ainda por cima, a comunidade financeira estava apreensiva sobre o resultado da ação anti-truste movida pelo governo contra as grandes companhias e restringiu seus empréstimos a todos os produtores independentes. A idéia que salvou o estúdio foi a de produzir featurettes ou streamliners, filmes mais baratos de 30, 45 ou 50 minutos, que poderiam preencher o programa duplo no lugar dos filmes “B” , resolvendo assim o problema de sua longa duração.

Roach produziu 20 streamliners: 1941: O Sabichão / Tanks a Million, O Intrometido / Niagara Falls, Pândega Universitária / All American Co-Ed, Travessuras de uma Solteirona / Miss Polly, Dias de Festa / Fiesta (Primeiro filme em cores (Technicolor) produzido por Roach), Sargento Prodígio / Hay Foot. 1942: Orquídeas de Brooklyn / Brooklyn Orchid, Cowboy Apaixonado / Dudes Are Pretty People, Meia-Volta Volver! / About Face, Voando com Música / Flying with Music, Ao Diabo com Hitler / The Devil with Hitler, Os McGuerins do Brooklyn / The McGuerins from Brooklyn. 1943: Xilindró / Calaboose, Fall In, Taxi, Senhor? / Taxi, Mister?, Picardias de Cowboy / Prairie Chickens,  Ianques à Vista Yanks Ahoy, Mais Forte que Hitler / The Nazty Nuisance. 1947: Hal Roach Comedy Carnival (em Cinecolor): Part I – Curley,  Part 2 – The Fabulous Joe. 1948:  Lafftime (em Cinecolor): Part I – Here Comes Trouble, Part II – Who Killed Doc Robbin?

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Governo dos Estados Unidos requisitou o estúdio de Roach para fazer filmes de treinamento militar enquanto o produtor, então com cinquenta anos, servia no centro fotográfico do Signal Corps. em Astoria, Long Island. Além das mensalidades recebidas do Exército, a renda do Hal Roach Studio foi complementada pelo empréstimo de alguns de seus artistas contratados para outras companhias (vg. Victor Mature  cedido para o  produtor Arnold Pressburger para Tensão em Shanghai / The Shanghai Gesture / 1941)  e pelo aluguel dos velhos filmes do estúdio para cinemas (através da distribuidora Film Classics) ou para particulares, universidades, igrejas, etc. em cópias de 8 e 16mm.

Depois da guerra, Roach continuou a fazer filmes (vg. os streamliners em Cinecolor já citados) e, finalmente, em 1948, passou a produzir filmes exclusivamente para a televisão ou alugar espaço no estúdio para produtores independentes do novo meio. No começo de 1955, Roach Jr. assinou contrato com Laurel e Hardy para uma série de quatro programas especiais de uma hora que seriam filmados em cores sob o título de Laurel and Hardy’s Fabulous Fables, mas, lamentavelmente, o projeto nunca foi realizado. No mesmo ano, Roach Sr. se aposentou e, sob a administração tíbia de seu filho, o estúdio foi à falência em 1959.

Hal Roach homenageado

Hal Roach homenageado

Em 1984, Hal Roach recebeu um prêmio honorário da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas “em reconhecimento ao seu recorde incomparável de contribuições à arte cinematográfica”. Porém a grande homenagem aconteceu em 1992, quando se realizou a 64a festa de entrega do Oscar. O pioneiro de 100 anos de idade foi recebido com uma grande ovação ao entrar no palco. Ele tentou falar sem microfone. Como ninguém o escutou, o mestre de cerimônias, Billy Cristal, comentou com bom humor: “Acho que isso é natural, afinal ele começou no cinema mudo, não é?

4 Responses to “HAL ROACH”

  1. “Saudações A. C. Mais uma vez parabenizo á ti por mais uma matéria maravilhosa. Sou muito fã de Harold LLoyd, – gênio que assim como Buster Keaton, acho que foram ofuscados por Chaplin – e vesse a importância de Roach para o Cinema que veio a se perpetuar como a maior indústria de entretenimento do mundo. Abraço!!!”.

  2. Obrigado Edu. Você tem razão, durante muito tempo Chaplin ofuscou gênios como Keaton e Lloyd, mas creio que hoje eles são mais reconhecidos como grandes mestres da comédia. Roach foi um grande produtor.Achei que merecia uma homenagem.

  3. Muito legal !!!

  4. Não há quem não goste de Hal Roach, um grande produtor.

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