VINCENT PRICE

setembro 24, 2020

Vincent Leonard Price Jr. (1911-1993) nasceu em St. Louis, Missouri filho de Vincent Leonard Price, presidente da National Candy Company e Marguerite Willcox Price. Seu bisavô, Vincent Clarence Price, inventou o “Dr. Price´s Baking Powder”, o primeiro fermento em pó, e garantiu a fortuna da família. Vincent estudou no St. Louis Country Day School e na Milford Academy em Milford, Connecticut. Formado em História da Arte pela Universidade de Yale, após lecionar durante um ano, ele ingressou no Courtauld Institute of Art em Londres, para fazer o mestrado em Belas Artes, mas foi atraído pelo teatro, aparecendo profissionalmente no tablado em 1935 na peça “Chicago”.

Vincent Price

Em 1936, Price desempenhou o papel do Príncipe Alberto na peça de Laurence Housman “Victoria Regina”, depois encenada na Broadway, onde repetiu seu personagem ao lado de Helen Hayes, tendo sido muito elogiado pelos críticos, pelos colegas e pelo público. Ele trabalhou em mais algumas peças incusive “Parnell”, desta vez contracenando com Edith Barrett. Em 1938 Vincent foi convidado por Orson Welles para ingressar na companhia Mercury Theater, onde rencontrou Edith e se casou com ela. Neste mesmo ano, iniciou sua carreira cinematográfica na comédia romântica da Universal Serviço de Luxo / Service de Luxe ao lado de Constance Bennett, Charles Ruggles e Helen Broderick.

Vincent Price e Constance Bennett em Serviço de Luxo

Até 1945, Price interpretou somente papéis secundários, embora importantes, nos seguintes filmes: 1939 – Meu Reino por Um Amor / The Private Lives of Elizabeth and Essex. A Torre de Londres / The Tower of London 1940 – A Volta do Homem Invisível / The Invisible Man Returns, Inferno Verde / Green Hell, A Casa das Sete Torres / The House of the Seven Gables. O Filho dos Deuses / Brigham Young. 1941 – O Renegado / Hudson´s Bay 1943 – A Canção de Bernadette / The Song of Bernadette. 1944 – A Véspera de São Marcos / The Eve of St. Mark. Wilson / Wilson. Laura / Laura. As Chaves do Reino / The Keys of the Kingdom. 1945 – Czarina / A Royal Scandal. – Amar Foi Minha Ruína / Leave Her To Heaven.

Bette Davis e Vincent Price em Meu Reino por um Amor

Vincent Price e Jennifer Jones em A Canção de Bernadette

Gene Tierney e Vincent Price em Laura

Gene Tierney e Vincent Price em Amar foi Minha Ruína

Em 1946, Price interpretou seus  primeiros papéis principais em Choque! / Shock e O Solar de Dragonwick / Dragonwick) e prosseguiu como coadjuvante sempre eficiente em: 1947- Uma Aventura Arriscada / The Web. Noite Eterna / The Long Night. Rosas Trágicas / Moss Rose. 1948 – Um Sonho Distante / Up in Central Park. Legião Sinistra / Rogue´s Regiment. Os Três Mosqueteiros / The Three Musketeers. Ainda em 1948, ele emprestou sua voz para Às Voltas com Fantasmas / Abott and Costello Meets Frankenstein. 1949 – Lábios Que Escravizam / The Bribe. Bagdad / Bagdad. Em 1949 Vincent divorciou-se de Edith (com quem teve um filho, Vincent) e se casou com a figurinista Mary Grant (com quem teve uma filha, Victoria).

Lynn Bari e Vincent Price em Choque!

Vincent Price e Gene Tierney em O Solar de Dragonwick

Edmond O´Brien, Ella Raines e Vincent Price em Uma Avenrura Arriscada

Lana Turne e Vincent Price em Os Três Mosqueteiros

Nos anos cinquenta, Price brindou o público com três atuações memoráveis: em O Barão do Arizona / The Baron of Arizona / 1950 como James Addison Reavis, o aventureiro audacioso e arrogante que através de documentos falsos tentou se apropriar de todo o território do Arizona; em Champagne para Cesar / Champagne for Caesar / 1951 como Burnbridge Waters, o fabricante de sabonetes patrocinador de um programa de rádio de perguntas que vê a cada minuto o seu fim, quando um sabetudo vai respondendo tudo corretamente e com certeza  ganhará o prêmio milionário; em Seu Tipo de Mulher / His Kind of Woman / 1951 como Mark Cardigan, o ator cabotino e fanfarrão, que se jacta de exímio caçador e tem oportunidade de demonstrar esta habilidade, ao fazer na vida real o que fazia como herói na tela, recitando Shakespeare e desbaratando uma quadrilha de malfeitores no final do filme.

Vincent Price em O Barão Aventureiro

Vincent Price e Ronald Colman em Champagne para Cesar

Robert Mitchum, Vincent Price e Jane Russel em Seu Tipo de Mulher

No restante da década Price continuou se apresentando como coadjuvante em filmes de vários gêneros (1950 – Arrojado Embuste / Curtain Call at Cactus Creek. 1951 – Aventuras do Capitão Fabian / Adventures of Captain Fabian. 1952 – A Caminho do Pecado / The Las Vegas Story. 1954 – Tenho Sangue em Minhas Mãos / Dangerous Mission. A Grande Noite de Casanova / Casanova´s Big Night. 1955 – O Filho de Sinbad / Son of Sinbad. 1956 –Serenata / Serenade. No Silêncio de uma Cidade / While the City Sleeps. Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments. 1957 – The Story of Mankind, somente exibido na TV como A História da Humanidade. 1959 – O Grande Circo / The Big Circus) e iniciou sua trajetória exitosa no campo do horror (1953 – Museu de Cera / House of Wax. A Máscara do Mágico / The Mad Magician. 1958 – A Mosca da Cabeça Branca / The Fly. 1959 – A Casa dos Maus Espíritos / House on Haunted Hill. Força Diabólica / The TinglerO Monstro de Mil Olhos / Return of the Fly. Nas Garras do Morcego / The Bat). Museu de Cera e A Mosca da Cabeça Branca foram duas produções classe A de muito sucesso, o mesmo ocorrendo com duas produções classe B, A Casa dos Maus Espíritos e Força Diabólica.

Vincent Price em Museu de Cera

Museu de Cera (Warner Bros.) é uma refilmagem de Os Crimes do Museu / The Mystery of the Wax Museum / 1933 com roteiro de Crane Wilbur e direção de Andre de Toth, utilizando o Natural Vision, sistema que, por exigir óculos polarizados e ampliar a perspectiva visual, garante uma sensação ótica tridimensional (acentuada quando objetos saem da tela, projetados à face do espectador). Em um ambiente de mistério da Nova York de 1900, um escultor de figuras de cera, Henry Jarrod (Vincent Price), enlouquecido com o incêndio do seu atelier por um sócio inescrupuloso, procura reconstituí-lo e, apaixonado pela idéia de uma galeria de personagens históricas famosas, utiliza criaturas reais como matéria-prima. Entrementes, uma das visitantes do atelier verifica que uma figura assemelha-se com sua amiga que fôra assassinada, o que dá margem a uma investigação policial, que culmina com a morte do escultor ao cair em um recipiente de cera em ebulição. A narrativa do tema truculento proporciona uma série de momentos de terror que o diretor Andre De Toth – integrando-se no espírito do novo processo – maneja muito bem, mantendo o suspense e a ação movimentada.

Herbert Marshall e Vincent price em A Mosca da Cabeça Branca

A Mosca da Cabeça Branca (Regal, 20thCentury-Fox), filmado em CinemaScope, é um filme de horror acrescido de ficção científica, com roteiro de James Clavell, que tem início quando o vigia noturno de um grande laboratório, atraído pelo funcionamento da prensa, depara-se com uma cena espantosa – da máquina baixada até o ponto zero, pendem as pernas de um cientista Andre Delambre (Al Hedison) enquanto uma mulher, visivelmente transtornada, abandona às pressas o local. A polícia, na pessoa do inspector Charas (Herbert Marshall) interroga Helene (Patricia Owens), esposa do morto, supostamente a autora do crime. Em um retrospecto, o espectador é levado, com o inspector Charas (Herbert Marshall) e o cunhado de Helene (Vincent Price), para os antecedentes do fato: o cientista morto inventara um processo de desintegração e reintegração sucessiva para transportar os corpos no espaço: ao testá-lo consigo próprio viu-se misturado com uma mosca que, sem ser pressentida, entrara na câmara desintegradora. Voltando ao presente, sem que mais ninguém saiba do ocorrido, a esposa procura desesperadamente localizar o inseto para salva o marido. O diretor Kurt Neumann constrói o suspense, primeiro deixando-nos imaginar o que aconteceu no laboratório e depois adiando o desmascaramento de Andre o máximo possível. O som estereofônico (desde o ruído da prensa elétrica, ao zumbido de uma mosca) é usado para se criar o clima assim como a tela larga, como naquela cena em que vemos imagens múltiplas de Helene de uma maneira que supomos uma mosca veria e ouvimos o seu grito de terror. E quem pode esquecer a cena final quando a aranha se aproxima da mosca e ouvimos a súplica desta pedindo socorro?

 Em A Casa dos Maus Espiritos (Allied Artists) o milionário Frederic Loren (Vincent Price) reúne um grupo de convidados em uma velha mansão, onde ocorreram vários crimes, e oferece 10 mil dólares para quem passar a noite lá. Os hóspedes são assustados por aparições de esqueletos, sangue pingando do teto, uma cabeça cortada etc. Na manhã seguinte, Loren lhges revela que sua esposa e o amante haviam planejado um crime perfeito, do qual ele seria a vítima. A atmosfera de tensão e de terror é bem criada, ganhando intensidade no curso dos episódios, cada vez mais angustiantes. Emergo, o truque publicitário empregado pelo produtor-diretor William Castle – “mais espantososo do que a 3-D”, era simplesmente um esqueleto preso por fios, que delizava sobre a platéia no momento em que Loren fazia com que os dois amantes caíssem em um tanque de ácido, para serem transformados instantaneamente em um monte de ossos.

 

Vincent Price em Força Diabólica

O enredo de Força Diabólica é ridículo, porém original: um médico, Dr. Warren Chapan (Vincent Price), descobre que o medo faz com que um microorganismo, parecido com uma centopéia, cresça dentro de um corpo humano até quebrar a sua coluna vertebral, causando a morte. Ele verifica também que gritar alivia a tensão, sendo, portanto, a única maneira de impeder que o microorganismo cresça. Mais tarde, ao examinar uma surda-muda que morrera aterrorizada, pois não podia gritar, encontra a centopéida dentro do corpo da falecida. Porém o monstro foge e provoca o pânico em um cinema, onde só passam filmes mudos. Esta é a melhor cena do filme: a centopéia aparece enquanto a platéia está assistindo ao clássico bucólico de Henry King, David, o Caçula / Tol’able David / 1921. Neste ponto, algumas poltronas dos cinemas nos quais Força Diabólica estava sendo exibido, previamente eletrificadas por ordem do Sr. Castle, começavam a vibrar, e o horror se transferia da arte para a vida.

 

Vincent Price em O Solar Maldito

 

 

 

VIncent Price em Orgia da Morte

Vincent Price em O Túmulo Sinistro

Nos anos sessenta, período áureo para o horror gótico, Price participou de oito produções dirigidas por Roger Corman em cores e tela larga, adaptados livremente das obras de Edgar Allan Poe e distribuídos pela American International Pictures (AIP). Esta associação de Price com Corman obteve grande êxito comercial e mereceu o respeito dos críticos. Foram sete filmes (1960 – O Solar Maldito / The Fall of the House of Usher. 1961 – A Mansão do Terror / The Pit and the Pendulum.1962 – Muralhas do Pavor / Tales of Terror. 1963 – O Corvo / The Raven. O Castelo Assombrado / The Haunted Palace. 1964 – Orgia da Morte / Masque of the Red Death.  O Túmulo Sinistro / The Tomb of Ligéia). A literatura gótico -romântica de Poe, explorando o lado sombrio da experiência humana – morte, alienação, ansiedade existencial, pesadelos, fantasmas, várias formas de insanidade e melancolia -, apesar de discrepâncias radicais entre os textos dos contos (ou poema) originais e os enredos dos filmes, encontrou um intérprete compreensivo em Corman, que soube manter o espírito do genial escritor. Mas o principal trunfo de Corman foi obviamente Vincent Price, que embora tivesse sido às vezes criticado por superrepresentar, tirou excelente partido de sua voz suave e dicção perfeitas para expressar com perfeição os seres humanos atormentados e excêntricos desses filmes impregnados de terror psicológico, os quais examinei detalhadamente no meu post de 21 de janeiro de 2012.

Vincent Price em O Caçador de Bruxas

Ainda nos anos sessenta Price atuou em: 1961 – Robur, o Conquistador do Mundo / Master of the World. Nefertiti, a Rainha do Egito / Queen of the Nile. O Pirata Negro / Gordon, Il Pirata Nero – Rage of the Buccaneers. 1962 – Vício Que Mata / Confessions of an Opium Eater. A Morte Caminha a Meu Lado / Convicts 4. A Torre de Londres / Tower of London. 1963 – Diário de um Louco / Diary of a Madman. A Praia dos Amores / Beach Party. Nos Domínios do Terror / Twice Told Tales. Farsa Trágica / The Comedy of Terrors. 1964 – Mortos Que Matam / The Last Man on Earth. 1965 – Monstros da Cidade Submarina / War Gods of the Deep. A Máquina de Fazer Bikinis / Dr. Goldfoot and the Bikini Machine. 1966 – Bonecas Explosivas / Le Spie Vengono del  SemifreddoDr. Goldfoot and the Girls Bombs. 1967 – La Casa de Las Mil Muñecas –  House of a 1.000 Dolls. Os Chacais / The Jackals. 1968 – O Caçador de Bruxas(TV) / Witchfinder General. 1969 – Mais Morto Do Que Vivo / More Dead Than Alive. Lindas Encrencas: As GarotasThe Trouble with Girls. O Ataúde do Morto Vivo / The Oblong Box.

 

Dentre estes, merece destaque Farsa Trágica. uma paródia dos filmes de horror com roteiro de Richard Matheson (que colaborou com Roger Corman em quatro exemplares da série Poe), valorizada pela presença de quatro intérpretes famosos familiarizados com o gênero  (Vincent Price, Peter Lorre, Basil Rathbone, Boris Karloff) e uma breve participação do “Boca Larga” (Joe E. Brown) como um coveiro. Esta farsa cômica, misturando humor negro e burlesco, explora uma única idéia: o dono de uma empresa funerária falida, o beberrão e inescrupuloso Waldo Trumbull (Vincent Price), não podendo pagar os aluguéis atrasados reclamados pelo senhorio, Sr. John F. Black (Basil Rathbone), decide matar algumas pessoas com a ajuda de seu empregado Felix Gillie (Peter Lorre), para aumentar a clientela, inclusive o cobrador – porém este sofre de catalepsia (citando Shakesperare após cada ataque) e ressuscita diversas vezes, levando o desespero aos seus desatinados matadores. Boris Karloff é Amos Hinchley, velho senil, surdo e glutão, fundador da empresa funerária e sogro de Trumbull, cuja maltratada esposa, Amarylis (Joyce Jameson), tem mania de cantora e acaba fugindo com seu eternamente apaixonado Felix, deixando o marido em depressão. O espetáculo se excede por vezes no grotesco e vira uma chanchada, mas é bem divertido.

Vincent Price emO Uivo da Bruxa

Nos anos setenta e oitenta Price fez: 1970 – Agonia do Terror / Scream and Scream Again. O Uivo da Bruxa / Cry of the Banshee. 1971 – O Abominável Dr. Phibes / The Abominable Dr. Phibes. 1972 – A Câmara de Horrores do Diabólico Dr. Phibes / Dr. Phibes Rises Again. The Aries Computer. 1973 – As Sete Máscaras da Morte / Theater of Blood. A Casa dos Rituais Satânicos / Madhouse. 1974 – Após o Transplante, o Super-Homem / Percy´s ProgressIt´s Not The Size That Counts. 1975 – Jornada do Pavor / Journey Into Fear. 1977 – The Butterfly Ball. 1979 – Scavenger’s Hunt. 1981 – O Clube dos Monstros / The Monster Club. 1983 – A Mansão da Meia-Noite / House of the Long Shadows. 1984 – Banho de Sangue na Casa do Terror / Bloodbath in the House of Death. 1987 – Do Sussurro ao Grito / The OffspringFrom a Whisper to a Scream. Baleias de Agosto / The Whales of August.1988 – Um Tira do Outro Mundo / Dead Heat. O Abominável Dr. Phibes e As Sete Máscaras da Morte foram os mais importantes.

Vincent Price em O Abominável Mr.Phibes

No primeiro, dirigido por Robert Fuest e baseado em personagens criados por James Whiton e William Goldstein, em Londres, na década de 30, vários médicos são mortos de modo brutal. O Dr. Anton Phibes (Vincent Price) e sua assistente muda Vulnavia (Virginia North) são os responsáveis. Phibes fora horrivelmente desfigurado em um acidente, dado como morto, e procede à vingança contra os nove médicos nas mãos dos quais morreu sua esposa Victoria (Caroline Munro), cujo corpo está conservado em uma cripta, utilizando as Dez Pragas do G’Tach que os hebreus usaram contra os egípcios. Assim um médico é morto por picadas de abelhas; outro estraçalhado por morcegos; um terceiro sufocado por uma máscara de sapo em uma festa; o quarto deixado sem uma gota de sangue; o quinto congelado por um aparelho que produz granizo; o sexto mutilado por ratos; o sétimo empalado pelo chifre de um unicórnio de bronze. A enfermeira Allen (Susan Travers) acaba devorada por gafanhotos; e o médico-chefe Vesalius (Joseph Cotten) tem seis minutos para extrair uma chave implantada no peito de seu filho, chave com que poderá libertá-lo e impedir que um ácido caia sobre ele. Vesalius salva o filho in extremis e o ácido mata Vulnavia. Phibes se junta ao cadáver da esposa na cripta e se auto-embalsama. Quando a polícia espera a última praga – a Maldição das Trevas – as luzes se apagam e ouvimos uma gargalhada sob o som de ”Over the Rainbow”. O sucesso comercial do fime propiciou o lançamento da continuação  A Câmara dos Horrores do Diabólico Dr. Phibes, do mesmo diretor.

Vincent Price emAs Sete Máscaras da Morte

No segundo iludido por um telefonema, o crítico teatral Maxwell (Michael Hordern) é morto a facadas em um beco por uma turba de mendigos, enquanto um homem recita um texto de “Júlio Cesar”; pouco depois, seu colega Snipe (Dennis Price) é traspassado por uma lança e seu corpo arrastado por uma biga, tal como Heitor em  “Troilus e Cressida”. O inspetor Boot  (Milo O’ Shea) e o presidente da associação de críticos teatrais Devlin (Ian Hendy) suspeitam de que o supostamente  morto ator shakespereano Edward Lionheart (Vincent Price) perpetra uma vingança contra  os críticos que lhe recusaram o prêmio de melhor ator.  Ajudado por sua filha Edwina (Diana Rigg), o alucinado Lionheart mata os críticos baseando os crimes em passagens de peças de Shakespeare. A mulher de Sprout (Joan Hickson) depara-se de manhã com o marido  (Arthur Lowe) decapitado tal como Margarida em “Cymbeline”. Dickman (Harry Andrews) tem o coração arrancado e pesado pelo Shylock de “O Mercador de Veneza”. Larding (Robert Coote) se afoga em um barril de vinho (“Ricardo III”). Psaltery (Jack Hawkins) se enciúma  da mulher a ponto de matá-la (“Othelo”). A srta Moon (Coral Browne) é eletrocutada  (paródia de “Henrique VI”). Merridew (Robert Morley) devora sem querer sues cães de estimação (“Tito Andrônico”). Devlin, ferido ao esgrimar no estilo de “Romeu e Julieta”, é poupado para o final: ter seus olhos vazados (“Rei Lear”) se não entregar o prêmio a Lionheart. O crítico recusa e a polícia chega em tempo para salvá-lo, enquanto o ator faz uma derradeira apresentação e se lança do alto do teatro.

Vincent Price em Edward Mãos de Tesoura

Em 1990 a trajetória cinematográfica de Price encerrou-se com dois filmes,  Atraída pelo Perigo / Catchfire  e Edward Mãos de Tesoura / Edward Scissorshands, no qual fez o papel do criador de Edward, que morreu sem terminar sua criação. Foi seu último papel no cinema.

Price esteve sempre ativo no teatro (v .g. na companhia La Jolla Playhouse); no rádio em novelas, radioteatros ou séries radiofônicas (v. g. como Simon Templar na série imensamente popular The Saint); na televisão (v. g. aparecendo em inúmeros teleteatros, telefilmes, documentários, sitcons, séries (quem não se lembra dele como Cabeça de Ovo no seriado Batman ou como convidado de Here´s Lucy, do Carol Burnett Show, do Muppet Show entre outros?), game shows (v. g. o controvertido $64.000 Challenge, no qual disputou o prêmio, respondendo sobre arte, com Edward G. Robinson) ou animando vários talk shows com o seu irresistível senso de humor; emprestando sua voz para filmes ou vídeos (v. g. o inolvidável Thriller de Michael Jackson).

Vincent Price como O Cabeça de Ovo na série Batman

Além disso, com o seu diploma de História da Arte na Yale e um ano de estudos na Courtauld, Price foi aceito na comunidade artística de Los Angeles como um connoisseur de arte legítimo. Ele abriu uma galeria de arte de parceria com seu colega George Macready; organizou um museu de arte moderna em Los Angeles, The Modern Institute of Art; foi curador do Los Angeles County Museum e membro do UCLA Arts Council; deu palestras sobre arte em universidades e prefeituras,  sendo às vezes solicitado para declamar poemas com sua dicção impecável, acompanhado às vezes por orquestras sinfônicas; preparou com Mary, “The Michelangelo Bible”, livro luxuoso com reproduções do artista para ser vendido pela Sears; ajudou o The White House Art Committee, presidido por Jacqueline Kennedy, a comprar obras de Arte Americana; escreveu livros sobre arte “The Vincent Price Treasury of American Art), culinária (“A Treasury of Great Recipes”), uma autobiografia visual, “A Visual Autobiography – I Like What I Know” e manteve uma coluna semanal sobre arte no Chicago Tribune.

Price e sua coleção de obras de arte

Ele se casou três vezes: com Edith Barrett (1930 – div. 1948), Mary Grant (1949- 1973) e Coral Browne (1974 – 1991, quando ela faleceu). Em “Vincent Price – A Daughter’s Biography” (reeditado pela Dover em 2018) Victoria termina o epílogo do livro, contando uma história sobre seu pai, narrada por Alan Bates, que estava presente quando o fato ocorreu. “Estavamos jantando com Coral e Vincent. No final da refeição uma mulher se aproximou e pediu para Vincent, ‘O senhor pode me dar seu autógrafo?’. E ele respondeu: ‘certamente’ e assinou com o nome ‘Dolores del Rio’. Eu disse, ‘Vincent, você não pode fazer isto. Daqui a um minuto ela vai voltar enraivecida.  Ela vai derramar uma tijela de sopa na sua cabeça’. Ele virou-se para mim e falou, ‘Antes de falecer, Dolores me disse, “Nunca deixe que eles me esqueçam.” ’ ”

2 Responses to “VINCENT PRICE”

  1. Parabéns Mestre
    Estamos firmes ai apesar da pandemia e gostei muito deste texto pois Vincent Price sempre foi um dos meus preferidos astros pela inteligência e por trabalhar em qualquer mídia sem preconceito.
    Eu já vi quase todos seus filmes e participações em séries e o acho muito bom.
    Parabéns e continue firme com seus belos textos
    abs

  2. Prezado Eustáquio.É sempre um prazer ouví-lo.

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