E.A. DUPONT E JOE MAY NÃO FORAM BEM SUCEDIDOS EM HOLLYWOOD

abril 7, 2023

E. A. Dupont

Após se tornar conhecido como crítico de cinema e roteirista, Edwald Andreas Dupont (1891-1956) nascido em Zeitz, Alemanha, tornou-se um dos diretores de maior sucesso do Cinema de Weimar, antes de iniciar uma carreira internacional, que incluiu alguns dos primeiros filmes sonoros europeus.

E. A. Dupont

Filho de um editor de jornal, trabalhou como jornalista em vários periódicos de Berlim desde 1911 e, a partir de 1915, escreveu regularmente uma coluna de cinema no jornal diário “B. Z. am Mittag”. Em 1916, concebeu seu primeiro roteiro de cinema, um episódio da série dirigida por Rudolf Meinert, com o detetive Harry Higgs (Hans Mierendorff), intitulado Mein Ist Die Rache. Depois teve mais onze de seus scripts filmados, entre eles episódios dirigidos por Joe May da série com o detetive Joe Deebs (Max Landa) e as duas primeiras continuações de Es Werde Licht! (Dir: Richard Oswald), filme de esclarecimento sexual abordando temas como o aborto e a sífilis. Foi então contratado pela Stern-Film e, no final de 1919, havia escrito mais onze episódios para outra série de detetive estrelada por Max Landa.

No final de 1919, ingressou na Gloria Film como diretor de melodramas de luxo, e em vários deles – tais como Der Weisse Pfau, Patiente e Kinder Der Finsternis – colaborou com o então diretor de arte Paul Leni. Dupont chamou mais atenção com seus filmes Die Geier-Wally / 1921, primeira das diversas adaptações cinematográficas do romance muito popular Heimat e com o filme de tema judaico, Das Alte Gesets / 1923.

Em 1925, realizou Varieté / Variety, melodrama de paixão e perdição envolvendo um trio de acrobatas, produzido por Erich Pommer na Ufa, com Emil Jannings, Lya de Putti e Warwick Ward nos papéis principais e excepcional trabalho de câmera de Karl Freund.

Diante do sucesso internacional do filme, o diretor germânico recebeu convite de Hollywood. Após um único trabalho, Ama -me e o Mundo Será Meu / Love Me and the World Is Mine / 1926, voltou para a Europa e se tornou diretor geral de produção no recém-inaugurado Elstree Studios em Londres.

Trabalhando como roteirista, diretor e gerente de produção na British International Pictures (B.I.P) até o final de 1930, seus melodramas sofisticados Moulin Rouge / Moulin Rouge / 1927-28) e Picadilly / Picadilly / 1928, não somente proporcionaram o estrelato para suas respectivas atrizes Olga Tschechowa e Anna May Wong, mas também ajudaram o diretor de alemão Alfred Junge e o cinegrafista Wernes Brandes a iniciar suas carreiras na Indústria Cinematográfica Britânica.

Desempenhando papel fundamental na mudança da Elstree para a produção de filmes sonoros, Dupont filmou Atlantic / Atlantic / 1929, drama inspirado no naufrágio do Titanic, em versões inglesa e alemã, sendo que a segunda foi aclamada com “o primeiro filme todo-falado alemão” e obteve um êxito financeiro colossal no continente europeu. Em 1930, alcançou novo sucesso com Two Worlds, drama de guerra (com versões inglêsa, francêsa e alemã) mostrando o romance trágico entre uma mulher judia e um oficial austríaco e Cape Forlorn / 1931, mais um drama, desta vez passado em um farol em uma costa solitária na Nova Zelândia, cujo faroleiro se casa com uma dançarina de cabaré que se relaciona com outros homens.

De volta para a Alemanha, realizou um melodrama de circo, Salto Mortale / 1931 e, aproveitando as Olimpíadas em Los Angeles, o filme esportivo Der Laufer Von Marathon, que despertou novamente a atenção de Hollywood sobre sua pessoa. Entretanto, uma vez lá, foi considerado como uma pessoa “difícil” e, tanto a Universal como a MGM e a Paramount lhe confiaram projetos sem brilho, que tinham poucas chances de sucesso (As Quatro Sabichonas / Ladies Must Love / 1933; Aventuras de uma Noite/ The Bishop Misbehaves / 1935; Armadilha Perfumada / Forgotten Faces / 1936; Por Culpa Alheia / A Son Comes Home / 1936; Night of Mystery / 1937; O Morto-Vivo / On Such a Night / 1937; Amor Nâo é Sopa / Love on Toast / 1937; Sucursal do Inferno / Hell´s Kitchen / 1939).

As Quatro Sabichonas

Sucursal do Inferno

 

Após uma briga com um dos astros juvenis durante a filmagem de Sucursal do Inferno, ele foi despedido e não lhe ofereceram nenhuma tarefa por mais de uma década. Com o apoio financeiro de seu colega diretor William Dieterle, tentou por um breve período voltar para o jornalismo como editor do “The Hollywood Tribune” e então passou a trabalhar como assessor de imprensa a partir de 1940.

Em 1951, Dupont dirigiu o prólogo e outros sete diretores (Luciano Emmer, Enrico Gras, Alain Resnais, Robert Hessens, Marc Sorkin, Olga Lipska, Lauro Venturi) também contribuíram para a realização do documentário Pictura – Adventure in Art; mas seu eventual retorno ao filme de ficção com Evidência Trágica / The Scarf / 1951 foi um fracasso nas bilheterias e ele foi posteriormente relegado para os filmes B (Problem Girls /1953; O Homem-Fera / The Neanderthal Man / 1953; O Tesouro do Califa / The Steel Lady / 1953; A Volta à Ilha do Tesouro / Return to Treasure Island / 1954.

Dupont ainda conseguiu escrever e dirigir alguns episódios da série criminal de televisão da CBS, Big Town / 1952-53, porém foi despedido como diretor de Miss Robin Crusoe / 1953 por embriaguez, sendo substituído por Eugene Frenke. Finalmente, despediu-se do cinema com um crédito de co-roteirista da cinebiografia de Richard Wagner, Chama Imortal / Magic Fire / 1955, dirigida por William Dieterle e fornecendo a história original de Mata-me por Favor / Please Murder Me / 1956, dirigido por Peter Godfrey.

Joe May

Filho de uma rica família industrial, Julius Otto Mandl (1880-1954) desperdiçou a fortuna da família com sua vida de playboy, casando-se com a cantora Hermine Pfleger em 1902. Ela subsequentemente adotou o nome artístico de Mia May, e então ele se autodenominou Joe May.

Joe May

Após filmar um prólogo curto para uma revista teatral em Hamburgo, na qual Mia era a atriz principal, Joe estreou no longa-metragem na Continental-Kunstfilm em Berlim com o romance trágico In Der Tiefe Des Schachtes / 1912, que marcou também a primeira aparição de Mia na tela. Ele inaugurou a série de detetive Stuart Webbs da companhia com Die Geheimnisvolle Villa / 1913-14 e em 1915 fundou sua própria produtora, May-Film, lançando uma série concorrente com o detetive Joe Debbs. Simultaneamente, impulsionou a carreira de Mia como atriz dramática e deu chances para novos talentos incluindo Thea von Harbou, Fritz Lang e Ewald André Dupont nos seus estúdios nos subúrbios de Berlim Weissensee e Woltersdorf. O sucesso de seu espetáculo histórico luxuoso de três horas de duração Veritas Vinci – A Verdade Vence / Veritas Vincit / 1918-19) em três episódios (o primeiro tendo lugar na Roma Antiga, o segundo na Idade Média e o terceiro na Atualidade) e estrelado por Mia May, levou-o a empreender um exótico seriado de aventura novamente com Mia, A Soberana do Mundo / Die Herrin Der Welt / 1919, em oito episódios, outro grande êxito,  inclusive no Brasil. Em nosso país o seriado foi exibido com os seguintes títulos dos episódios: 1 – A Amiga do Homem Amarelo 2. A História de Maud Gregaard 3. A procura do Rabino de Kuan-Fu 4. O Rei Macombe 5. Ophir, a Cidade do Pecado 6. A Senhora Milliardaria 7. A Benfeitora da Humanidade 8. A Vingança de Maud Gregaard.

A Verdade Vence

A Soberana do Mundo

Joe frequentemente atuava como supervisor artístico, designando seus assistentes para assumir a direção. Afiliado à Ufa durante três anos, ele se transferiu para a Europäische Film Allianz (EFA) em 1921 e se tornou o maior realizador de filmes de prestígio da companhia depois de Ernst Lubitsch. Seus trabalhos para a EFA incluíram Dono e Senhor / Das Indische Grabmal / 1921, roteirizado por Thea von Harbou e Fritz Lang e o drama criminal na alta sociedade A Divina Comédia do Amor / Tragödie Der Liebe / 1922-23).

Dono e Senhor

A Divina Comédia do Amor

Face à inflação desenfreada em 1923,  Mia, que administrava a May-Film, foi obrigada a reestruturar a companhia e se retirou da tela após o suicídio da filha do casal, Eva May, também atriz. Uma tentativa de fazer sucesso internacional, O Fazendeiro do Texas / Der Farmer aus Texas / 1924-25, tornou-se um desastre financeiro e, depois disso, ele realizou uma série de filmes menores.

Flor do Asfalto

Um retorno ao primeiro plano profissional seguiu-se sob os auspícios da unidade de produção de Erich Pommer na Ufa, com Joe dirigindo sucessivamente alguns dos clássicos da última fase do cinema mudo e início do período sonoro, incluindo O Canto do Prisioneiro / Heimkehr / 1928 e Flor do Asfalto / Asphalt / 1928-29, e escrevendo o roteiro com Hans Székely de Rapsódia Húngara / Ungarische Rhapsodie / 1928, dirigido por Hanns Schwarz. Além disso, produziu o musical de Gustav Ucicky, Der Unsterbliche Lump e a balada militar de Kurt Bernhardt, O Último Batalhão / Die Letzte Kompagnie, ambos de 1929-30, antes de sua estréia sonora com Sua Majestade, o Amor / Ihre Majestät Die Liebe / 1930, considerado um ápice da comédia cinematográfica germânica.

Após a pré-estréia do musical de Jan Kiepura, Uma Canção para Você / Ein Lied Für Dich / 1932-33, Joe emigrou via Paris e Londres para Hollywood, onde Pommer designou-o para fazer Música no Ar / Music in the Air / 1934 na Fox. Primeira produção cujo elenco e equipe técnica foi composta principalmente por emigrados da Alemanha nazista, o filme fracassou terrivelmente, assim como seu drama de tribunal Confession / 1937, refilmagem de Mazurka / Mazurka (Dir: Willi Forst) que a Warner não trouxe para o Brasil.

A Casa das Sete Torres

Depois disso, Joe dirigiu filmes B na Universal como: 1939 – Os Mandamentos Sociais / Society Smugglers; Casa Mal-Assombrada / The House of Fear. 1940 – A Volta do Homem Invisível / The Invisible Man Returns; A Casa das Sete Torres / The House of the Seven Gables; Valente de Ocasião / You´re Not So Tough; Hit the Road. 1944 – Agarre Seu Homem / Johnny Doesn´t Live Here Anymore.

Ele ganhou a reputação de ser uma pessoa “difícil” quando foi despedido como diretor do filme anti-nazista A Estranha Morte de Adolf Hitler / The Strange Death of Adolph Hitler / 1943. Com a ajuda financeira de amigos, Joe e Mia May abriram um restaurante vienenense em Los Angeles em 1949, que fechou depois de apenas algumas semanas.

One Response to “E.A. DUPONT E JOE MAY NÃO FORAM BEM SUCEDIDOS EM HOLLYWOOD”

  1. Impressionante como Hollywood era um lugar difícil. Seguramente ainda o é. É notável a quantidade de estrangeiros brilhantes que não conseguiram ou puderam adaptar-se aos cânones de produção dos estúdios americanos deste período.

Leave a Reply