ESTRELAS DO CINEMA FRANCÊS II

dezembro 8, 2022

DANIELLE DARRIEUX (1917-2017). Nome verdadeiro: Danielle Yvonne Marie Antoinette Darrieux. Local de nascimento: Bordeaux, França.

Danielle Darrieux

Seu pai era um oftalmologista de origem bordelesa e sua mãe tinha ascendência alsaciana e polonesa (família Witowski). A morte prematura do pai, quando ela tinha sete anos de idade, obrigou sua mãe a dar lições de canto para subsistir. Danielle demonstrou muito cedo o gosto pela música. Era dotada de uma voz miúda, mas afinada e límpida. Estudou piano e fez seus estudos de violoncelo no Conservatório de Música. O marido de uma das alunas de sua mãe, que trabalhava esporadicamente no cinema, sugeriu que ela levasse Danielle à presença dos produtores Charles Delac e Marcel Vandal, porque eles estavam procurando desesperadamente uma mocinha para seu próximo filme. Danielle se apresentou, foi aprovada, e estreou na tela, aos quatorze anos de idade, em Le Bal / 1931 de Wilhelm Thiele, usando o pseudônimo de Lydie Danielle. Em seguida, assinado um contrato, Delac e Vandal a emprestaram para outros produtores.

A primeira fase de sua carreira, foi marcada principalmente por comédias românticas com Albert Préjean (v. g. La Crise est Finie / 1934 de Robert Siodmak; Pequena Sapeca / Quelle Drôle de Gosse / 1935 de Leo Joannon; Cuidado com Ela / Le Controleur des Wagons-Lits / 1935 de Richard Eichberg) e Henri Garat (A Dupla do Barulho / Un Mauvais Garçon / 1936 de Jean Boyer) ou por comédias musicais ao lado do tenor polonês Jan Kiepura (Meu Coração te Chama / Mon Coeur t’appelle / 1934 de Carmine Gallone; Amo Todas as Mulheres / J’aime Toutes les Femmes / 1935 de Carl Lamac). Durante esse período, fez também Volga em Chamas / Volga en Flammes / 1933 de Victor Tourjansky e Semente do Mal / Mauvaise Graine / 1934 realizado por um cenarista austríaco exilado, fugitivo da Alemanha nazista, Billy Wilder.

Em 1935, Danielle casou-se com Henri Decoin e ele conseguiu persuadí-la de que era capaz de interpretar grandes papéis dramáticos. Assim vieram Mulher Mascarada / Le Domino Vert / 1935 de Henri Decoin (versão francêsa); Mayerling / Mayerling de Anatole Litvak; Taras Bouba / Tarass Boulba de Alexis Granowsky; Port Arthur de Nicolas Farkas (versão francêsa); Katia, a Czarina sem Corôa / Katia de Maurice Tourneur; Mulher Mascarada / Le Domino Vert / 1934, versão francesa de um filme alemão de Herbert Selpin dirigida por Henri Decoin, e Abuso de Confiança / Abus de Confiance / 1937 de Henri Decoin. Em seguida ela fez novamente com Decoin, a comédia Senhorita Minha Mãe / Mademoiselle ma Mère / 1937 e, depois de uma experiência na Universal em Sensação de Paris / The Rage of Paris / 1938 de Henry Koster, tendo como parceiro Douglas Fairbanks Jr., submeteu-se novamente ao comando de seu mentor Decoin em Retour à l’aube / 1938; Battement de Coeur / 1939 e Premier Rendez-vous / 1941.

No restante dos anos quarenta, Danielle trabalhou por exemplo com André Cayatte (La Fausse Maîtresse / 1942); Raymond Bernard (Até Logo, Querida! /Adieu Chérie / 1945); Marcel l’Herbier (Ao Petit Bonheur / 1945);  Leonide Moguy (História de um Pecado / Bethsabée / 1947); Pierre Billon (Entre o Amor e o Trono / Ruy Blas / 1947); Claude Autant-Lara (Meu Amigo, Amélia, e Eu / Occupe-toi d’Amélie / 1949), tornando-se nesse decenio e no próximo, a encarnação do charme  e da feminilidade francêsa .

Durante a Ocupação, contratada da Continental, sociedade produtora alemã instalada em Paris, Danielle foi vista em recepções e sessões de gala sob a sombra da cruz gamada e participou daquela famosa viagem a Berlim em 1942 que a cobriria de opróbio bem como a outros atores que a fizeram como Albert Préjean, Suzy Delair e Viviane Romance. A atriz explicou depois sua atitude: estava casada com oembaixador da República Dominicana na França, Porfirio Rubirosa, que fôra suspeito de espionagem, detido e internado na Alemanha. A viagem, disse ela, foi para vê-lo, e sofrendo acusações de colaboracionista, Danielle afastou-se da Continental, saindo de cena por três anos.

Na década de cinquenta, a atriz atingiu o auge de sua vida artística e fama internacional com uma série de filmes memoráveis: Conflitos de Amor / La Ronde / 1950 (como a mulher casada) (como Madame Rosa no segmento “La Maison Tellier”); O Prazer / Le Plaisir / 1951 e Desejos Proibidos / Madame de … / 1953 a trilogia de Max Ophuls; Amor Traído / La Verité sur Bébé Donge / 1951 de Henri Decoin; 5 Dedos / Five Fingers / 1951 de Joseph L. Mankiewicz; O Vermelho e o Negro / Le Rouge et le Noir / 1954 de Claude Autant-Lara, As Mulheres dos Outros / Pot Bouille / 1956 e Marie Octobre /  Marie Octobre / 1959 de Julien Duvivier; O Amante de Lady Chatterley / L’Amant de Lady Chatterley / 1955 de Marc Allegret; As Pecadoras de Paris / L’Affaire des Poisons / 1955 de Henri Decoin; Alexandre Magno / Alexander the Great /  1956 de Robert Rossen; Vício Maldito / Le Désordre et la Nuit / 1958 de Gilles Grangier, além de integrar os elencos estelares dos filmes de Sacha Guitry Napoleão /  Napoleon / 1954 e Si Paris nous était Conté / 1955.

Para mim, o melhor papel de Danielle foi Elizabeth d’Onneville, chamada de Bébé, a mulher sentimentalmente decepcionada que envenenou o marido (Jean Gabin) após dez anos de matrimônio, sendo inesquecível a cena final de Amor Traído, quando Bébé, como um autômato, acompanha o juiz de instrução que veio para prendê-la. Esse filme sombrio e desesperado, com uma construção dramática rigorosa e fiel ao universo dos romances de Georges Simenon, não teria sido tão bom sem o concurso interpretativo da grande atriz.

Dos anos sessenta em diante Danielle continuou trabalhando no cinema e seu último filme, aos 93 anos de idade, foi Pièce Monté / 2010 de Denys Granier Deferre, uma longevidade cinematográfica realmente espantosa …  sem falar na sua atividade intensa no teatro e em telefilmes e minisséries.

MARIE DÉA (1912-1992). Nome verdadeiro: Odette Alice Marie Deupès. Local de nascimento: Nanterre (Hauts-de-Seine), França.

Marie Déa

 Estudou direito e seguiu paralelamente o curso de arte dramática com Georges Le Roy e René Simon até que Gaston Baty colocou-a em algumas peças de sua trupe teatral no Théâtre Montparnasse. Ela acabara de trabalhar como figurante em La Vierge Folle / 1938 de Henri Diamant-Berger quando Maurice Cloche  lhe ofereceu o papel feminino  mais importante de Nord-Atlantique / 1939. No mesmo ano, Marie foi escolhida por Robert Siodmak para ser, em Ciladas / Pièges, Adrienne Charpentier, amiga das dançarinas vítimas de um maníaco sexual, transformada em isca para a captura do criminoso. Neste filme, Marie teve oportunidade de contracenar como Maurice Chevalier, Pierre Renoir e Erich von Stroheim, saindo-se muito bem diante de tão eminentes artistas. Porém foram os anos quarenta que consagraram a glória efêmera de Marie Dea, sobressaindo os três  filmes que lhe garantiram um lugar de prestígio no cinema francês: Premier Bal / 1941 de Christian-Jaque, no qual ela era Nicole Noblet uma das irmãs (a outra era Danielle, interpretada por Gaby Sylvia) apaixonadas por um jovem médico (Raymond Rouleau); Os Visitantes da Noite / Les Visiteurs du Soir / 1942 (mas lançado em 1945) no qual marcava sua presença como Anne,  a filha do castelão por quem o menestrel Gilles (Alain Cuny), enviado pelo Diabo, se apaixona; e Orfeu / Orphée / 1949 de Jean Cocteau,  desempenhando o papel de Eurídice  nesta transposição do mito célebre para a Saint-Germain-des-Prés do imediato pós-guerra.

Até os anos sessenta, dos filmes que Marie fez, merecem ser mencionados Le Journal tombe à cinq heures de Georges Lacombe, descrição viva do ambiente do jornalismo; Secrets / 1943 de Pierre Blanchar, filme sensível inspirado em “Un mois à la Campagne” de Tourgueniev; os dois filmes sobre Rouletabille (Rouletabille joue et Gagne  / 1947 e Rouletabille contre la Dame de Pique / 1948), por causa da fama do  jornalista-detetive criado por Gaston Leroux; e Dois São Culpados / 56 Rue Pigalle / 1949 de Willy Rozier, drama criminal envolvendo adultério, chantagem e assassinato. Dos anos sessenta até 1979, continuou trabalhando no cinema, encerrando sua carreira com Subversion de Stanislas Stanojevic. Em 29 de fevereiro de 1992, Marie visitava uns amigos, quando irrompeu um incêndio na casa deles. Hospitalizada, ela veio a falecer no dia seguinte em virtude de um ataque cardíaco.

SUZY DELAIR (1917- 2020). Nome verdadeiro: Suzanne Pierrette Delaire. Local de nascimento: Paris, França.

Suzy Delair

 Filha de um fabricante de selas e de uma costureira, foi primeiramente aprendiz de modista no ateliê de Suzanne Talbot e, aos 16 anos de idade começou a trabalhar como figurante no cinema, mas foi no music-hall que ela conheceu o sucesso, apresentando-se nos teatros Bouffes Parisiens, Bobino, Casino Montparnasse, Européen, Étoile, Folies-Bellevile, no cabaré de Suzy Solidor e nas revistas de Mistinguette ou de Marie Dubas.

Foi seu encontro com Henri-Georges Clouzot, então roteirista (e seu companheiro na vida real), que impulsionou sua carreira cinematográfica. Clouzot havia adaptado em 1941, um romance policial do belga Stanislas André Steeman que resultou no filme Les Dernier des Six, dirigido por Georges Lacombe, no qual Pierre Fresnay fazia o papel do comissário Wens e Suzy o da cantora Mila Malou, a amante do policial.

O espetáculo fez tanto sucesso que Arnold Greven, o manda-chuva da Continental (que havia ele próprio escolhido Suzy ente outras candidatas), ordenou uma continuação, O Assassino Mora no 21 / L’Assassin Habite au 21 / 1942, desta vez com Clouzot na direção. Neste filme criminal com toques de humor, semeado de tipos pitorescos e de mortes, Pierre Fresnay interpretava o comissário Wens com o fleuma de um policial britânico e Suzy Delair divertia a platéia como a sua turbulenta companheira, que também gostava de brincar de detetive, formando uma dupla parecida com aqueles casais das comédias românticas americanas dos anos trinta.

No mesmo ano, Suzy havia igualmente encantado o público no seu primeiro papel principal, cantando os refrões de Maurice Yvain, filmados por Richard Pottier em Défense d ‘aimer. Marcel l’Herbier esperava divulgar melhor as qualidades vocais de Suzy em Vie de Bohème, rodado pouco depois, porém o filme só foi lançado em 1945 e passou despercebido.

Um pouco ofuscada por Louis Jouvet no papel duplo do ladrão Isnard e do homem honesto Dupon em Estranha Coincidência / Copie Conforme / 1946 de Jean Dréville, Suzy interpretou duas sósias, Fernande e Yvette, em Par la Fenêtre / 1947 de Gilles Grangier; mas tudo isto significou pouco diante de Crime em Paris / Quai des Orfévres, que Clouzot lhe ofereceu em 1947, sem sombra de dúvida a obra-prima em comum dos dois artistas. Novamente ao lado de Louis Jouvet (como o inspetor Antoine), Suzy compôs maravilhosamente a personagem de Jenny Lamour, a cantora do music-hall suspeita de ter matado um velho produtor libidinoso, que lhe prometera emprego no mundo do cinema enquanto Clouzot inspecionava com sua câmera virtuosa o ambiente do espetáculo e os tipos humanos que nele circulam.

A atriz nunca mais fez algo melhor na tela embora tivesse participado ainda de outro filme notável, – Mulher Cobiçada / Pattes Blanches / 1948 de Jean Grémillon, como Odette, a noiva prestes a se casar, que despertava violenta paixão no aristocrata Keriadek (Paul Bernard), apelidado de Patas Brancas, e acabava sendo assassinada por ele.

Como coadjuvante, Suzy esteve ao lado da dupla Stan Laurel e Oliver Hardy no seu último filme, Utopia / Atol; K / 1950 dirigido por Leo Joannon; de Fernandel em Costureiro de Senhoras / Le Couturier de ces Dames / 1956; e se submeteu ao comando de dois grandes diretores, integrando o elenco de Gervaise – a Flor do Lôdo / Gervaise / 1955 de René Clement – como Virginie Poisson, a pérfida inimiga da protagonista (Maria Schell), que lhe dava uma surra memorável em determinada situação da trama – e de Rocco e seus Irmãos / Rocco e i suoi Fratelli / 1960 de Luchino Visconti no papel de Luisa. Seu filme derradeiro foi Oublie-moi, Mandoline / 1976 de Michel Wyn.

DANIELE DELORME (1926- 2015). Nome verdadeiro: Gabrielle Danièle Marguerite Andrée Girard. Local de nascimento: Levallois- Perret, França.

Danielle Delorme

Filha do pintor André Girard, estudou piano para se tornar concertista, mas a guerra obrigou-a a interromper suas aulas. Durante a Ocupação, sua mãe foi deportada e seu pai partiu para o Reino Unido. Ela se refugiou em Cannes, onde frequentou o curso de teatro de Jean Wall, e depois estreou na companhia teatral de Claude Dauphin. Marc Allégret contratou-a, colocando-a em três filmes sucessivos: La Belle Aventure / 1942, Félicie Nanteuil / 1942, mas lançado em 1945 e Les Petites du Quai aux Fleurs / 1944.

Após a guerra, Daniele aperfeiçoou seus conhecimentos dramáticos com Tania Balachova e René Simon, desempenhou papeís pequenos em mais sete filmes (entre eles Les Jeux sont Faits / 1947 de Jean Delannoy e Impasse des Deux-Anges / 1948 de Maurice Tourneur) e, finalmente, em 1949, ganhou renome como Miquette, a mocinha apaixonada pelo teatro em Miquette de Miquette et sa Mère, a adaptação da peça de Flers et Cavaillet por Henri-Georges Clouzot e Gigi, a personagem imaginada por Colette, em O Brotinho e as Respeitosas / Gigi de  Jacqueline Audry, que a dirigiria também em outros dois filmes baseados na célebre escritora, A Ingênua Libertina / Minne l’ingenue Libertine / 1950 e Mitsou / 1956.

Outros filmes relevantes de Daniele nos anos cinquenta foram O Último Endereço / Sans Laisser d’Adresse / 1951 de Jean-Paul le Chanois; La Jeune Folle / 1952 de Yves Allègret; O Curandeiro / Le Guérisseur / 1953 de Yves Ciampi; O Processo Negro / Le Dossier Noire / 1955 de André Cayatte; Os Miseráveis / Les Misérables / 1958 (no papel de Fantine) e aquele que marcou o auge de sua arte: o admirável Sedução Fatal / Voici les Temps des Assassins / 1956 de Julien Duvivier. Com seu rosto de anjo, sua personagem, Catherine, seduz, engana, explora, mata com consciência e frieza e acaba sendo trucidada pelo cão de uma de suas vítimas. Indubitavelmente a melhor criação dessa atriz.

Daniele foi casada com Daniel Gélin de 1945 a 1955 e em 1956 contraiu matrimônio com Yves Robert. Com ele fundou a companhia produtora La Guéville, cujo primeiro sucesso foi A Guerra dos Botões / La Guerre des Boutons / 1961. Nos anos 60 e 70 ela fez mais alguns filmes (com destaque para O 7º Jurado / Le Setième Juré / 1961 de Georges Lautner) e dividiu seu tempo entre o teatro, a atividade de produtora e o exercício de uma função pública, nomeada em 1984 pelo presidente François Mitterand, membro do Conselho Econômico, Social e Meio Ambiente, função que ela exerceu até 1994. Seu derradeiro filme como atriz foi Sortez des Rangs / 1996 de Jean-Denis Robert.

EDWIGE FEUILLÈRE (1907-1998). Nome verdadeiro: Edwige Louise Caroline Cunati Local de nascimento: Vesoul, França.

Edwige Feuillère

Filha do engenheiro Guy Cunati, de nacionalidade italiana e de Berthe Koenig, de origem lorena, após ter cursado o Conservatório de Arte Dramática – já casada com um colega de classe, Pierre Feuillère – estreou profissionalmente (sob pseudônimo de Cora Lynn porque como aluna do Conservatório era proibida de atuar na cena parisiense) em “L’Attaché” de Yves Mirande no Thêatre du Palais Royal, seguindo-se outros compromissos  na revista de Rip, “Par le temps qui Court” no Teatro Danou, “Les Aventures du Roi Pausole” de Arthur Honneger no teatro Buffes-Parisiens etc.

Laureada pelo Conservatório com o primeiro prêmio de comédia, ela foi convocada imediatamente pelo administrador, Émile Fabre, da Comédie Française, quea convenceu de adotar o nome de Edwige Feuillère. Pierre aceitou com orgulho, sem saber que o casal se separaria, porque o marido não suportou mais a notoriedade de sua mulher. Em 1945, ele se suicidou, levando consigo sua segunda esposa, e tendo o cuidado na véspera de ir dizer adeus “à sua Edwige”.

Edwige iniciou sua carreira cinematográfica em Le Cordon Bleu / 1931 do tcheco Karl Anton (rodado na Paramount de Joinville) e, após ter participado de treze filmes, entre os quais sobressaíram Topaze / 1932 de Louis Gasnier, estrelado por Louis Jouvet e duas versões francesas de filmes alemães, Stradivarius / 1935 de Géza von Bolváry e Barcarolle / 1935 de Gerhard Lamprecht, dirigidas respectivamente por Albert Valentin e Roger Le Bon, (exibidas no Brasil apenas as versões originais), Julien Duvivier deu-lhe um papel decorativo em Gólgota3/ Golgotha / 1935 como Claudia Procula, a mulher de Poncio Pilatos.

Muito mais interessante foi sua composição de Lucrécia Borgia no filme Lucrécia Borgia / Lucrèce Borgia / 1935, assinado por Abel Gance, tornando plausíveis os tormentos da personagem, vítima de sua estranha família, e tendo a coragem de sair de uma piscina nuazinha, como Vênus saindo da ondas do mar. Edwige ficou célebre e consolidou sua fama, guiada por bons diretores (v. g. Robert Siodmak (Mister Flow / 1936); Marc Allègret (A Dama de Malaca / La Dame de Malaca / 1937); Raymond Bernard (Marthe Richard, au service de la France / 1937 e J’Étais une Aventurière / 1938); Max Ophuls (Sans Lendemain / 1939 e De Mayerling a Sarajevo / De Mayerling a Sarajevo / 1940); Maurice Tourneur (Coração em Duelo /Mam’zelle Bonaparte / 1941); Jacques de Baroncelli (A Duquesa de Langeais / La Duchesse de Langeais / 1942); Marcel l’Herbier (L’Honorable Catherine / 1942); Jean Delannoy (La Part de l’Ombre / 1945).

Ela fechou a década de quarenta, interpretando dois grandes papéis: a Nastasia Philipovna, cortesã disputada pelo Príncipe Muichkine (Gérard Philipe) e Rogogine (Lucien Coedel) na excelente adaptação do romance de Dostoievski, O Idiota / L’Idiot / 1946 (Dir: Georges Lampin) e a rainha reclusa Natascha, visitada inesperadamente pelo poeta anarquista Stanislas (Jean Marais) em Águia de Duas Cabeças / L ‘Aigle a Deux Têtes / 1947 (Dir: Jean Cocteau).

Nos anos cinquenta, seus filmes marcantes foram: Olivia / Olivia / 1950 de Jacqueline Audry; Amor de Outono / Le Blé en Herbe / 1954 e Amar é Minha Profissão / En Cas de Malheur / 1958 ao lado de Jean Gabin e Brigitte Bardot, ambos dirigidos por Claude Autant-Lara. Ela deixou o cinema (La Chair de l’orchidée de Patrice Chéreau) e a televisão (telefilme La Duchesse de Langeais) em 1975, mas continuou no teatro, onde o público a aplaudiu em peças inolvidáveis como “La Dame aux Camélias” de Alexandre Dumas filho, “Le Partage de Midi” de Paul Claudel e “La Folle de Chaillot” de Jean Giraudoux. Em 1998, a morte de Jean Marais, seu amigo muito querido, afetou-a a tal ponto, que seu coração parou no dia do enterro do ator.

ODETTE JOYEUX (1914-2000). Nome verdadeiro: Odette Joyeux. Local de nascimento: Paris, França.

Odette Joyeux

 Seus pais, que não eram casados, se separaram antes do seu nascimento, e sua mãe cuidou sózinha de sua educação. Odette aprendeu a tocar violão antes de se dedicar ao estudo da dança em uma classe de balé na escola do Ballet de l’Opéra; mas foi despedida por indisciplina.

Então, voltou-se para o teatro, e deu seus primeiros passos como atriz aos 16 anos na peça “Intermezzo” de Jean Giraudoux, sob a direção de Louis Jouvet. Em 1935, ela atuou na peça “Grisou”, escrita por Pierre Brasseur, com quem se casou, nascendo dessa união, sempre tempestuosa, o futuro ator Claude Brasseur.

Odette encontrou o mundo do cinema em dois filmes de Charles de Rochefort, Une Femme a Menti / 1930 e Le Secret du Docteur / 1930. Em 1934, ela contracenou com Jean-Pierre Aumont em Lac aux Dames de Marc Allégret e filmou no mesmo ano com seu marido Valse Éternelle de Max Neufeld e Une Femme qui se Partage de Maurice Canonge. Porém somente em 1938 ascendeu à notoriedade graças a Entrée des Artistes de Marc Allégret, no qual ela era Cécile, aluna do professor Lambertin (Louis Jouvet) no Conservatório de Arte Dramática. Ao saber que o rapaz (Claude Dauphin) por quem está apaixonada, ama outra aluna (Janine Darcey), Cécile elabora sua vingança de modo melodramático: no dia da prova, ela se envenena no palco, acusando-o.

Nos anos quarenta, ela se tornou a intérprete predileta de Claude Autant-Lara, que lhe deu seus melhores papéis em Casamento de Chiffon / Le Marriage de Chiffon / 1941; Lettres d’Amour / 1942; Dulce, Paixão de uma Noite / Douce / 1943 e Silvia e o Fantasma / Sylvie et le Fantôme / 1946. No primeiro filme, Odette foi Corysande – chamada de Chiffon – a jovem que aceita desposar um duque quinquagenário, a fim de dispor de seu dote, para ajudar o rapaz que ama em segredo, e a atriz dominou muito bem esse papel complexo com o qual, segundo ela mesma disse, se identificou profundamente. Nos demais filmes, como Zélie Fontaine, a viúva de vinte anos de idade que aceita receber as cartas de amor endereçadas à mulher do prefeito; como Douce, a adolescente romântica que se apaixona pelo secretário de seu pai e sonha em partir com ele, sem saber que o próprio tem uma amante; e como Sylvie, a moça fantasiosamente apaixonada por um fantasma, Odette demonstrou repetidamente suas qualidades interpretativas.

Na década de cinquenta, Odette integrou o elenco repleto de astros de Conflitos de Amor / La Ronde / 1950 de Max Ophuls e Si Paris nous était Conté / 1955 de Sacha Guitry. Ela participou em 1957 de Le Naïf au Quarante Enfants sob a direção de seu novo marido, Philippe Agostini, e encerrou seu percurso cinematográfico. Paralelamente, seguindo os conselhos de Jean Giraudoux, levou adiante uma carreira literária, publicando vários romances, duas peças de teatro, um ensaio sobre a dança, uma biografia de Nicéphore Niepce, dois livros de memórias, exercendo ainda as funções de dialoguista e/ou adaptadora (v.g. La Mariée est trop Belle / 1956 de Pierre Gaspard-Huit; Sois Belle et Tais-Toi / 1958 de Marc Allégret), cuidando da adaptação de suas obras para a televisão (v. g. série L’Âge Heureux / 1996), e se apresentando nos palcos até 1987.

ESTRELAS DO CIEMA FRANCÊS

novembro 23, 2022

ESTRELAS DO CINEMA FRANCÊS  ANOS 30-60 – I

Este artigo é uma homenagem – de maneira sucinta, sem mencionar a filmografia completa das atrizes, limitando-se aos seus filmes principais realizados entre 1930 e 1960 – a algumas grandes estrelas do cinema francês.

Annabella

ANNABELLA (1907-1996). Nome verdadeiro: Suzanne Georgette Charpentier. Local de nascimento: La Verenne-Saint Hilaire, França.

Ainda menina e filha de um diretor de revista turística, Annabella leu um dia o poema de Edgar Allan Poe, “Annabel Lee” e foi dele que extrairia seu nome artístico. Apresentada a Abel Gance, quando tinha dezesseis anos, ele a contratou para seu filme Napoléon / 1927, entregando-lhe o pequeno papel de Violine Fleuri, jovem secretamente apaixonada por Bonaparte. Entretanto, sua carreira cinematográfica realmente se iniciou com Maldone (Jean Grémillon / 1928) e se firmaria quando ela chamou mais a atenção em O Milhão / Le Million / 1931 de René Clair e atuou em outros filmes expressivos como Sonnenstrahl / 1933 de Paul Fejos e sua versão francêsa, Gardez le Sourire / 1933; A Batalha / La Bataille de Nicolas Farkas / 1933; Quatorze Juillet /1933 de novo sob o comando de René Clair; e Lenda de Amor / Marie, Légende Hongroise /1933, novamente sob as ordens de Fejos. Com seu lindo rosto e sua meiguice, ela representou a ingênua por excelência no início do cinema falado e foi a atriz francêsa mais solicitada pelos cineastas na década de trinta.

Entre 1934 e 1936, Annabella reforçou seu prestígio em uma série de filmes importantes: Caravane de Erik Charrell, produzido pela Fox Film (não confundir com a versão americana estrelada por Loretta Young e Charles Boyer); Noites   Moscovitas / Les Nuits Moscovites de Alexis Granowsky; A Bandeira / La Bandera de Julien Duvivier; Os 3 Diabos / Variétés de Nicolas Farkas e sua versão alemã, Varieté (com Hans Albers); Tripulantes do Céu / L’Équipage de Anatole Litvak; Véspera de Combate / Veille D’Armes de Marcel l’Herbier, que lhe deu o Prêmio Volpi  de Melhor Atriz no Festival de Veneza de 1936; e  Anne -Marie / Dominadores do Espaço de Raymond Bernard.

Seguindo sua vocação internacional, Annabella participou, com Henry Fonda, do primeiro filme britânico em Technicolor, Idílio Cigano / Wings of the Morning / 1937 de Harold Schuster. Ainda na Inglaterra, esteve com Conrad Veidt no último filme dirigido pelo grande Victor Sjöstrom, O Poder de Richelieu / Under the Red Robe / 1937 e com David Niven em Ceia no Ritz / Dinner at the Ritz / 1937 de Harold Schuster.

Nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial, a atriz surgiu ainda em dois filmes francêses de peso, A Fortaleza do Silêncio / La Citadelle du Silence / 1937 de Marcel l’Herbier e Hotel do Norte / Hôtel du Nord / 1938 de Marcel Carné (contracenando com Louis Jouvet, Arletty, Jean-Pierre Aumont), e no filme americano Suez / Suez / 1938 de Allan Dwan, em cujo palco de filmagem encontrou o príncipe encantado, Tyrone Power, com quem se casaria após se divorciar do ator  Jean Murat. Annabella e Tyrone Power estiveram no Brasil em novembro de 1938. Eles se casariam em 23 de abril de 1939 e se divorciariam em 1948.

Durante  a guerra, Annabella fez dois filmes interessantes para o esforço de guerra, Esta Noite Bombardearemos Calais / Tonight We Raid Calais / 1943  de John Brahm e Noites Perigosas / Bomber’s Moon / 1943 de Edward Ludwig.  Após o fim do conflito mundial, merecem ser realçados na sua filmografia, Rua Madeleine 13 / 13 Rue Madeleine / 1946 de Henry Hathaway; Eternel Conflit / 1949 de Georges Lampin; e o filme que ela fez na Espanha ao lado de Antonio Vilar, Don Juan / 1950 de José Luis Sáenz de Heredia, encerrando seu percurso no cinema com Quema el Suelo / 1952.

Arletty

ARLETTY (1898-1992). Nome verdadeiro: Léonie Marie Julia Bathiat. Local de nascimento: Courbevoie, França.

Filha de uma família da classe trabalhadora, ela começou a estudar estenografia. A guerra de 1914 lhe fez perder seu primeiro amor, chamado Ciel, por causa da cor de seus olhos. O drama lhe faria perder todo desejo de se casar. Dois anos depois, seu pai faleceu, e ela, depois de ter sido amante de um jovem banqueiro, resolveu ser modelo, sob o pseudônimo de Arlette, inspirado na heroína do romance “Mont Oriol” de Guy de Maupassant. Seu primeiro diretor no teatro de revista, Armand Berthez, contratou-a como Arletty, para dar uma ressonância mais chique e anglo- saxã ao seu prenome.

Em 1930, Arletty aceitou a proposta de René Hervil de interpretar um papel pequeno no seu filme La Douceur  d’ Aimer ao lado de Victor Boucher. Um ano mais tarde, assumiu um papel principal no filme Un Chien qui Rapporte de Jean Choux, participando de mais sete filmes, antes se encontrar com o diretor Jacques Feyder e sua esposa, a atriz Françoise Rosay, em Pensão Mimosas / Pension Mimosas / 1935, e conhecer o assistente de Feyder, Marcel Carné. Este lhe ofereceria um papel sob medida em Hotel do Norte / Hôtel du Nord / 1938 ao lado de Louis Jouvet, Annabella e Jean-Pierre Aumont, no qual, com sua voz fanhosa e seu sotaque tipicamente parisiense ela seria, como disse Carné,  “a alma do filme”.

Dos meados dos anos 30 ao início dos anos 40, Arletty fez mais oito filmes, merecendo destaque apenas para os que foram dirigidos por Sacha Guitry (Vamos Sonhar / Faisons un Rêve / 1936, Madame e seu Mordomo / Désiré / 1937 e As Pérolas da Corôa / Les Perles de la Couronne / 1937); dois filmes com Michel Simon  (Circonstances Atténuantes / 1939 de Jean Boyer e Fric-Frac / 1939 de Claude Autant-Lara e Maurice Lehmann – neste comparecendo também Fernandel); Tempête / 1940 de Bernard Deschamps, no qual figurava Erich von Stroheim; e Madame Sans –Gêne /1941 de Roger Richebé.

Marcel Carné dirigiu-a em outros grandes filmes além de Hotel do Norte, que foram os melhores de toda a sua carreira artística: Trágico Amanhecer / Le Jour se Lève /1939; Os Visitantes da Noite / Les Visiteurs du Soir / 1942 e O Boulevard do Crime / Les Enfants du Paradis / 1945. Mais forte ainda do que suas personagens dos dois primeiros filmes, Clara, a companheira do adestrador de cães e Dominique, o menestrel (que na realidade era uma mulher) enviado pelo Diabo para um castelo medieval, a sua Garance domina por completo o último filme, amada por quatro homens: Lacenaire, o assassino-poeta (Marcel Herrand); Frédérick Lemâitre, o ator exuberante (Pierre Brasseur); Baptiste Debureau, o mímico (Jean-Louis Barrault); e o conde de Montray (Louis Salou). Na estréia triunfal de O Boulevard do Crime Arletty estava em uma prisão.

Após a Libertação, sua relação amorosa com Hans Jürgen Sohering, um militar alemão, lhe valeu uma pena de prisão de 75 semanas no castelo de La Houssaye-en-Brie. De volta a Paris, percebendo que os papéis que lhe ofereciam não possuiam a amplitude dos de outrora, ela retornou ao teatro em 1947.

Nos anos cinquenta, fez mais um filme com Carné, L’ Air de Paris / 1954 e outros filmes pouco importantes com exceção de Mercado de Amor / Gibier de Potence / 1951 de Roger Richebé e A Grande Paixão / Le Grand Jeu / 1954 de Robert Siodmak, interpretando o papel que fôra de Françoise  Rosay na primeira versão, A Última Cartada / 1934, de Jacques Feyder. No final dos anos cinquenta, Arletty ficou ameaçada de cegueira e em 1962 atuou no seu último filme, Le Voyage a Biarritz de Gilles Grangier.

Françoise Arnoul

FRANÇOISE ARNOUL (1931-  ). Nome verdadeiro: Françoise Annette Marie Mathilde Gautsch. Local de nascimento: Constantina, Franca (hoje Argélia).

Filha de uma atriz de teatro, Janine Henry e de um general de artilharia, Charles Gautsch. Em 1945, quando seu pai continuou seu serviço militar em Marrocos, o restante da família transferiu-se para Paris.

Após estudar arte dramática na “Cidade-Luz”, Françoise chamou a atenção do diretor Willy Rozier, que lhe ofereceu um papel no filme Tormentos do Desejo / Épave / 1949, no qual deveria aparecer despida. Esta aparição fez dela uma estrela aos 18 anos de idade embora tivesse sido dublada na cena em que deveria mostrar a nudez de sua personagem. Sua carinha bonita e felina, sua feminilidade provocante ocultavam ainda as qualidades intrínsecas de atriz.

Ralph Habib deu-lhe papéis de moça perdida (Companheiras da Noite /  Compagnes de la Nuit  / 1953) e ninfomaníaca (Fúria de Amor / La Rage au Corps / 1954), mas ela teve melhores chances com Henri Verneuil (Fruto Proibido / Le Fruit Défendu / 1952 e O Carneiro de Cinco Patas / Le Mouton a Cinq Pates /1954, contracenando em ambos com Fernandel; Os Amantes do Tejo / Les Amants du Tage / 1955 ao lado de Daniel Gélin).

Entretanto, seus melhores filmes devem-se a Jean Renoir (que a chamou para o elenco de French Can Can / French  Can Can / 1955 , no  qual interpretava o papel de Nini, a pequena lavadeira que Danglar / Jean Gabin, o dono do Moulin Rouge,  transformava em uma estrela do cancan) e Henri Decoin (que a dirigiu ao lado novamente de Gabin em Vítimas do Destino / Des Gens Sans Importance / 1956 e a orientou na composição de Suzanne Ménersier, codinome Cora, a jovem que, durante a Ocupação, assume o lugar do marido morto pela Gestado em uma rêde de Resistência em A Gata / La  Chatte / 1958 e sua continuação, A Gata Mostra as Unhas / La Chatte Sort Ses Griffes / 1960). Com esses dois filmes, vestindo uma capa impermeável preta (confecionada por Guy Laroche), que lhe moldava o corpo perfeito, Françoise ascendeu ao topo da bilheteria.

A partir dos anos 60, Françoise apareceu menos nas telas, tendo sido seu último filme até o momento, Beau Rivage / 2011 de Julien Donada.

MIreille Balin

MIREILLE BALIN (1909-1968). Nome verdadeiro: Blanche Mireille Césarine Balin. Local de nascimento: Monte-Carlo, Mônaco.

Ela era a encarnação ideal da mulher fatal sofisticada dos anos trinta. Infelizmente, seu sucesso e sua popularidade duraram pouco, cerca de dez anos apenas. Quando a família mudou-se para Paris, Mireille tornou-se quase que naturalmente manequim da alta costura. Sua iniciação no cinema se efetivou sob o comando de G. W. Pabst, que lhe confiou um papel pequeno na versão francêsa de seu Don Quixote / 1932. Pouco depois, Robert Siodmak escolheu-a para outra intervenção modesta em Le Sexe Faible / 1933. Finalmente, na comédia Si j’étais le Patron / 1934 de Richard Pottier, ela figurou em primeiro plano.

Pouco depois, revelou-se para milhões de espectadores, formando um casal mítico com Jean Gabin em dois clássicos do cinema francês de antes da guerra: O Demônio da Algéria / Pépé le Moko / 1936 de Julien Duvivier e Gula de Amor / Gueule d’Amour / 1937 de Jean Grémillon Mireille foi chamada por Hollywood, aceitou a proposta da MGM, mas não lhe propuzeram nenhum filme, e ela voltou para seu país.

A atriz não conseguiu atingir mais o mesmo pico artístico de seus dois grandes sucessos, que ela acabara de alcançar aos vinte e cinco anos de idade. Incluída em aventuras militares (Alta Espionagem / Le Capitaine Benoît / 1938 de Maurice de Canonge; Coups de Feu / 1939 de René Barberis) e melodramas estrelados por cantores como Tino Rossi (O Ídolo das Mulheres ou O Anjo e a Pecadora / Naples, au Baiser de Feu / 1937 de Augusto Genina, no qual se encontrava também Viviane Romance) ou Tito Schipa (Terra de Fogo / Terre de Feu / 1938 de Marcel l’Herbier) surgiu duas vêzes em 1939 ao lado de Erich von Stroheim em Ménaces de Edmond T. de Gréville e Macao, o Inferno do Jôgo / Macao, l’Enfer du Jeu de Jean Delannoy.

Mireille teve um relacionamento amoroso com Tino Rossi, que terminou em setembro em1941. Após cinco filmes em 1942, entre os quais se destacaram L’Assassin a Peur la Nuit de Jean Delannoy e Dernier Atout de Jacques Becker, ela fez em 1946 sua última aparição no cinema, integrando o elenco de La Dernière Chevauchée de Léon Mathot.

Em setembro de 1944, Mireille foi presa em Beausoleil  com seu amante alemão, Birl Desbok, pelos membros da FFI (Fôrças Francêsas do Interior), quando o casal tentava ultrapassar a fronteira com a Itália. Ela foi espancada e estuprada pelos resistentes embriagados e Desbok provavelmente assassinado ao ser preso, pois ninguém mais ouviu falar dele. No tribunal, acusaram-na de ter atuado no filme fascista Alcazar / L’Assedio dell Alcazar / 1940 de Augusto Genina e nos festivais artísticos da embaixada da Alemanha em Paris. MIreille  foi libertada em janeiro de 1945.

Marie Bell

MARIE BELL  (1900 – 1985). Nome verdadeiro: Marie-Jeanne Bellon Downey. Local de nascimento: Bègles, França.

Passou sua infância na Inglaterra, onde vivia seu pai, de origem irlandesa. Aprendeu dança clássica e estreou na cena londrina aos treze anos de idade. Retornando à França, orientou-se para a arte dramática, primeiramente no Conservatório de Bordeaux e depois em Paris. Em 1921, o primeiro prêmio do Conservatório abriu-lhe as portas da Comédie Française.

Marie Bell seria membro permanente da Comédie de 1928 a 1946 e alí faria uma carreira magistral: Fernand Ledoux dirigiu-a em 1937 em “Les Affaires sont les Affaires” de Octave Mirbeau; para Pierre Dux, em 1938, ele foi a rainha de “Ruy Blas” e depois Roxane em “Cyrano de Bergerac”. As heroínas de Racine ou Corneille lhe convinham particularmente, fôsse Esther ou Chimène.  Em 1942, ela encontrou seu papel predileto: Jean-Louis Barrault dirigiu-a em “Phèdre”. André Malraux disse: “Ver Marie Bell em “Phèdre” é uma chance única de saber o que é o gênio francês”.

Sua trajetória cinematográfica também suscita entusiasmo, tendo atuado como estrela ao lado de Jean Murat em L’Homme à l’Hispano / 1933 de Jean Epstein; Amor e Lágrimas / Poliche / 1934 de Abel Gance; Véspera de Combate / Veille d’Armes / 1935 de Marcel l’Herbier; Pierre Fresnay em  A Vida de um Moço Pobre / Le Roman d’un Jeune Homme Pauvre / 1935 de Abel Gance e La Charrete Fantôme; Vagas Estrelas da Ursa / Vaghe Stelle dell’Orsa / 1939 de Julien Duvivier; Arletty em A Emancipada / La Garçonne / 1936 de Jean de Limur; Raimu e Michel Simon em Noite de Farra / Noix de Coco / 1939 de Jean Boyer.

Entretanto, foram seus dois filmes mais célebres A Última Cartada / Le Grand Jeu / 1933 de Jacques Feyder e Um Carnet de Baile / Un Carnet de Bal / 1937 de Julien Duvivier que a consagraram na História do Cinema Francês. No primeiro, Jacques Feyder confiou-lhe um papel duplo – Florence e Irma, os dois amores de Pierre (Pierre Richard-Willm) – porém Marie nos tocou mais quando, com os cabelos tingidos de preto (como Irma), falou com a voz de sua dubladora, Claude Marcy. No segundo, ela está em todos os esquetes porém, se gostamos de rever sempre esta obra admirável, é mais por causa de seus colegas, Sylvie e Pierre Blanchard, Raimu e Françoise Rosay, Fernandel e Raimu e sobretudo Louis Jouvet como o gângster Pierre Verdier, vulgo Jo, amor de juventude da bela Christine Surgère (Marie Bell), recitando melancolicamente o “Colloque Sentimental” de Verlaine.

Em 1943, no filme de René Le Hénaff, Coronel Chabert  – A Grande Perfídia / Le Colonel Chabert, ao lado de Raimu, Marie impressionou a todos por sua composição perfeita da odiosa condessa Rosine Ferraud, que se recusa a acreditar no retorno de seu marido, veterano sem braço das guerras napoleônicas. No resto de sua filmografia sobressai somente sua participação em Vagas Estrelas da Ursa / Vaghe Stelle dell’Orsa … / 1965 de Luchino Visconti como a mãe de Sandra (Claudia Cardinale) e Gianni (Jean Sorel). Seu último filme foi Les Volets Clos / 1973 de Jean-Claude Brialy.

Em junho de 1947, Marie Bell chegou ao Brasil com sua Companhia Francêsa de Comédias, estreando no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 23 com as peças “On Ne Badine Pas Avec L’Amour” de Alfred de Musset e “L’Impromtu de Versailles” de Molière.

Martine Carol

MARTINE CAROL (1920 – 1967). Nome verdadeiro: Marie-Louise Jeanne Nicolle Mourer. Local de nascimento: Saint-Mandé, Val-de-Marne, Île-de-France, França.

Estudou arte dramática com René Simon e começou a fazer testes para o teatro usando o nome de Maryse Arley. Ela obteve alguns papéis no palco inclusive, curiosamente, na peça “Phedre”. Seu amigo e colega de curso, François Périer lhe indicou uma pequena participação no filme La Ferme aux Loups / 1943 e decidiu que ela passaria a se chamar Martine Carol.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Martine apareceu em dois filmes bem recebidos pelos críticos: Le Dernier des Six / 1941 de Georges Lacombe  e Les Inconnus dans la Maison / 1942 de Henri Decoin: ela dizia apenas uma palavra ou duas, mas estava no mesmo elenco que Pierre Fresnay e Raimu!  Após uma pequena intervenção em outro filme importante, Os Amantes de Verona / Les Amants de Vérone / 1949 de André Cayatte, ela obteve seu primeiro papel principal em Cuidado com as Louras / Méfiez-vous des Blondes / 1950 de André Hunebelle.

Martine finalmente, ficou famosa com Os Amores de Carolina / Caroline Chérie / 1951, realização de Richard Pottier baseada em um romance de Cécil Saint-Laurent, no qual oferecia algumas cenas despidas (em uma das quais foi dublada por Nadine Tallier) em um ambiente pseudo-revolucionário. O filme originou uma continuação, Caprichos de uma Mulher / Un Caprice de Caroline Chérie / 1952 dirigido por Jean-Devaivre, também de enorme sucesso comercial.

Em 1953, dá-se o encontro de Martine com Christian-Jaque, seu futuro marido e mentor. Sob a direção dele, Martine foi sucessivamente Lucrécia Borgia em Os Amores de Lucrécia Bórgia / Lucrèce Borgia / 1953, Madame du Barry em Madame du Barry / Madame du Barry / 1954, Nana em Naná / Nana / 1955, Lysistrata em um dos segmentos de Destino de Mulher / Destinées / 1954, que contava com a colaboração de vários diretores.

Em 1952 um grande diretor, René Clair, solicitou a presença de Martine no seu Esta Noite é Minha / Les Belles de Nuit e, em 1955, outro cineasta emérito, Preston Sturges, colocou-a em As Memórias do Major Thompson / Les Carnets du Major Thompson. No mesmo ano, foi a vez de Max Ophuls convocá-la para Lola Montès / Lola Montès, e ela demonstrou ser uma atriz de talento, e não apenas um símbolo sexual.

No final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta, Martine ainda fez muitos filmes, inclusive em lingua inglêsa (vg. A Brutal Aventura / Action of the Tiger / 1957 de Terence Young; A Dez Segundos do Inferno / Ten Seconds to Hell / 1959 de Robert Aldrich) e Jean Gabin lhe estendeu a mão, arranjando-lhe uma participação em O Rei dos Falsários / Le Cave se Rebiffe / 1961, excelente policial de Gilles Grangier; porém a loura formosa e sensual foi ofuscada pela jovem Brigitte Bardot e pela Nouvelle Vague. Em 1967, aos 47 anos de idade, após crises de depressão e excesso de medicamentos, Martine Carol foi encontrada morta no seu quarto de hotel em Monte-Carlo. Seu último filme foi Hell is Empty / 1967 de John Ainsworth e Bernard Knowles.

Maria Casarès

MARIA CASARÈS (1922-1996). Nome verdadeiro: Maria Victoria Casares Pérez. Local de nascimento: Corunha, Galícia, Espanha.

Filha de Gloria Pérez e Santiago Casares Quiroga, Primeiro Ministro da Espanha Republicana. Em 1931, a família vai para Madrid, onde Maria inicia sua vida teatral. Ao irromper a Guerra Civil Espanhola em 1936 e com a ascenção de Franco, a família é obrigada a deixar o país, instalando-se em Paris. Maria se matricula no liceu Victor-Duruy e aprende o idioma francês. Trava conhecimento através de amigos com o ator Pierre Alcover e sua esposa Colonna Romano, membro permanente  da Comédie Française.

De origem espanhola, o casal estimula Maria a continuar fazendo teatro. Ela tenta entrar para o Conservatório, mas é reprovada por causa do sotaque. Para tentar de novo, Maria frequenta o curso de René Simon, estuda com Béatrix Dussane e finalmente consegue ser admitida no Théâtre des Mathurins, cujos patrões, Marcel Herrand e Jean Marchat montam para ela entre 1942 e 1944, peças de  Synge, Georges Neveu,  Ibsen e Camus. Em 1946, ela interpreta “Roméo et Juliette” de Jean Anouilh pela primeira vez com Jean Villar no Théâtre de l’Atelier. De 1952 a 1954, Maria é contratada  da Comédie Française e, de 1954 a 1959, passa a integrar o TNP de Jean Villar e suas atuações, notadamente como Lady Macbeth, contribuiram muito para a reputação  do Festival de Avignon.

Quatro grandes filmes marcam a carreira cinematográfica de Maria Casarès: O Boulevard do Crime / Les Enfants du Paradis / 1945) de Marcel Carné; As Damas do Bois de Boulogne / Les Dames du Bois de Boulogne / 1945 de Robert Bresson; Amores Eternos ou A Sombra do Patíbulo / La Chartreuse de Parme  / 1947 de Christian-Jaque e Orfeu / Orphée / 1950 de Jean Cocteau. Neles, Maria viveu personagens inesquecíveis pela ordem: a doce Nathalie que disputa com Garance (Arletty) o coração do mímico Baptiste Debureau (Jean-Louis Barrault); a ciumenta e vingativa Hélène que faz seu amante (Paul Bernard) se casar com uma mulher perdida; a Duquesa Gina de San Severina que nutre um amor secreto pelo sobrinho Fabricio del Dongo (Gérard Philipe) e a Princesa da Morte que se  apaixona por Orfeu (Jean Marais) e faz com sua esposa, Eurídice (Marie Déa), morra.

Dos outros filmes que fêz merecem destaque: Desonra / Roger la Honte / 1946 de André Cayatte e Bagarres / 1948 de Henri Calef. Maria continuou trabalhando na televisão até 1989 (na minissérie Les Nuits Revolutionnaires) e no cinema até 1995 (no filme Someone Else’s America de Goran Pashaljevic).

FRED ZINNEMANN

outubro 31, 2022

Ele era um contador de histórias clássico, perfeccionista, sempre buscando o realismo e explorando temas envolvendo dramas individualistas de consciência.

Fred Zinnemann

Alfred Zinnemann (1907- 1997), nasceu em Viena, Austria-Hungria, filho do Dr. Oskar e Anna (Feiwel) Zinnemann. Quando criança estudou violino, mas logo percebeu que não tinha talento para ser músico. À custa de muito tédio, ele se formou em Direito pela Universidade de Viena e logo voltou sua atenção para o cinema, impressionado por quatro filmes que viu em vez de assistir às aulas, e que mudariam sua vida: Ouro e Maldição / Greed / 1923 de Erich von Stroheim; O Encouraçado Potemkin / Bronenosets Potyomkin / 1925 de Sergei Eisenstein; O Grande Desfile / The Big Parade / 1925 de King Vidor; A Paixão de Joana D´Arc / La Passion de Jeanne D´Arc / 1928 de Carl Dreyer, obras que ilustravam o potencial criativo do novo meio de expressão. Quando seu pai e toda a família perceberam sua obstinação em penetrar no mundo cinematográfico, eles acabaram concordando, porém insistiram que, se era isso que ele queria, deveria ser propriamente treinado.

Em 1927, aos vinte anos de idade, ele acompanhou um amigo de escola, Gunter von Fritsch, à recentemente fundada École National Supérieure Louis-Lumière em Paris, onde aprendeu os fundamentos da sua futura profissão. Incapaz de conseguir trabalho na França, porque não era cidadão francês, ele foi para Berlim, onde participou de três filmes: Ich Kusse Ihre Hand, Madame / 1929 (Dir: Robert Land); Sprengbagger 1010 / 1929 Dir: Karl Ludwig Achaz-Duiberg) e Menschen am Sonntag / 1929 (Dir: Robert Siodmak, assistido por Edgar G. Ulmer). Billy Wilder escreveu o roteiro e Zinnemann desempenhava a função de assistente do fotógrafo Eugene Shufftan. O filme era uma crônica sobre um fim de semana de alguns berlinenses, rodada em esquema amador, mas ajudou a carreira dos envolvidos, que acabaram se transferindo para os Estados Unidos.

Zinnemann chegou em Nova York em outubro de 1929 com 500 dólares no bolso e uma carta de introdução para o chefão da Universal, Carl Laemmle. Este o encaminhou para o seu diretor de elenco, que o colocou como extra em Sem Novidade no Front / All Quiet on the Western Front / 1930 de Lewis Milestone. Zinnemann apareceu como um soldado alemão e como chofer de ambulância francês. Sua participação como figurante terminou quando ele foi despedido por ter se desentendido com um assistente de direção.

Um encontro importante nestes primeiros tempos em Hollywood foi com outro expatriado austríaco, Berthold Viertel, que havia se transferido para a América como roteirista de F. W. Murnau e agora estava fazendo filmes na Fox.  Zinnnemann trabalhou como assistente de Viertel entre 1931 e 1934. Foi através de Viertel que ele conheceu o homem que exerceria a maior influência artística em sua carreira, Robert Flaherty. Durante seis meses, em Berlim, Zinnemann serviu como seu colaborador em um projeto que infelizmente não foi avante, mas aprendeu muito com o grande documentarista, principalmente a importância que o mestre dava à veracidade como componente fundamental de um filme e à independência de espírito indispensável para realizá-lo.

Quando retornou à América, Zinnemann teve dificuldade de obter trabalho. Em 1932, ajudou Gregg Toland e Busby Berkeley a selecionar ângulos de câmera para as sequências de dança de uma comédia musical com Eddie Cantor, Meu Boi Morreu / The Kid of Spain, dirigida por Leo Mc Carey. Sua estréia na direção deu-se em 1934, indiretamente através de Flaherty. Através dele, ele conheceu outros diretores de documentários, inclusive Henwar Rodakiewicz, que estava previsto para fazer com o grande fotógrafo Paul Strand um documentário encomendado pelo Ministério de Belas Artes do México sobre a revolta de pescadores da região de Alvarado explorados por um negociante inescrupuloso. Como Rodakiewicz tinha outro compromisso, recomendou Zinneman. Embora nos créditos apareça o nome de Gomez Muriel como codiretor, na verdade ele atuou apenas como assistente de direção. Montado por Gunther von Fritsch, o filme revela a influência do cinema de Eisenstein, Pudovkin e Flaherty. De volta a Hollywood, Zinemann escreveu, de parceria com Henwar Roakiewicz, um roteiro intitulado Bonanza sobre um jovem índio mexicano; ele foi vendido para a MGM, mas nunca produzido. Trabalhou ainda durante três dias como “consultor técnico” no filme de William Wyler, Infâmia / These Three / 1936, supervisionando a decoração de um café em Viena e até ousando sugerir um que ângulo de câmera ao diretor.

Em 1937, ao exibir dois rolos de Redes a Jack Chertok, chefe do Departamento de Curtas-Metragens do estúdio, foi aceito e ali trabalhou de 1937 a 1942, participando de 18 curtas: 1938 – Verdadeiro Amigo / A Friend Indeed (Pete Smith Specialty); A História do Dr. Carver / The Story of Dr. Carver (Pete Smith Specialty); Salvando a Vida das Mães / That Mothers May Live (Historical Mysteries); Sono que Mata / Tracking the Sleeping Death (Carey Wilson Miniature); Enquanto a América Dorme / While America Sleeps ( O Crime Não Compensa / Crime Does Not Pay); Agência de Empregados / Help Wanted! (O Crime não Compensa); A Vida lhes Sorri de Novo / They Live Again (Historical Mysteries). 1939 – Profetas do Tempo / Weather Wizards (Pete Smith Specialty); Um Contra o Mundo / One Against the World (John Nesbitt´s Passing Parade); A Flotilha de Lança-Bombas / The Ash-Can Fleet; Vitória Esquecida / Forgotten Victory (John Nesbitt´s Passing Parade). 1940 -O Velho Sul / The Old South (MGM Miniature); Stuffie / Stuffie (Pete Smith Specialty); Um Caminho nas Selvas. / A Way in the Wilderness (John Nesbitt´s Passing Parade); O Grande Intrometido / The Great Medddler (Carey Wilson Miniature). 1941 – Caminho Perdido / Forbidden Passage (O Crime não Compensa); O Último Ato / Your Last Act (John Nesbitt´s Passing Parade). 1942 – Mulher ou Tigre? / The Lady or the Tiger? (Carey Wilson Miniature). Neste período de sua carreira, Zinnemann aprendeu realmente seu ofício. Trabalhando com orçamento reduzido, prazo muito curto e metragem previamente estabelecida (dentro dos limites de um ou dos rolos), tinha de inventar modos cinematográficos de expor o tema rápida e efetivamente. Salvando a Vida das Mães, sobre o Dr. Ignaz Phillip Semmelweiss, pioneiro no uso de antissépticos em obstetrícia, recebeu um Oscar da Academia.

Um Assassino de Luvas

Olhos na Noite

Quando Jack Chertok foi promovido do Departamento de Curtas-Metragens para a produção de filmes de longa-metragem classe B, levou Zinnemann consigo. Dois dramas criminais, modestos em orçamento, mas muito eficientes, inauguraram seu novo contrato de sete anos: Um Assassino de Luvas / Kid Glove Killer e Olhos na Noite / Eyes in the Night, ambos lançados em 1942. O primeiro filme é sobre um político corrupto e assassino. Gerry Ladimer (Lee Bowman), cujo crime e envolvimento com um gângster é eventualmente exposto por um trabalho de laboratório de polícia técnica e científica inteligente, tendo à frente o criminologista Gordon McKay (Van Heflin). No segundo filme, o herói é um detetive cego e de meia-idade, Capitão Duncan Maclain (Edward Arnold, que ajuda uma jovem, Barbara Lawry (Donna Reed) e sua madrasta, Norma (Ann Harding) envolvidas no assassinato de um ator (John Emery), e descobre um bando de espiões nazistas com a ajuda inestimável de seu cão Friday.

A Sétima Cruz

O próximo filme dirigido por Zinnemann, A Sétima Cruz / The Seventh Cross /1944 marcou a entrada do diretor na produção classe A. Baseado em um romance de Anna Seghers, é um drama de guerra contando a fuga de sete homens de um campo de concentração nazista de antes da guerra. O comandante do campo manda erguer sete cruzes e cada fugitivo capturado é torturado e crucificado. Seis homens são presos e mortos. O sétimo prisioneiro, George Heisler (Spencer Tracy), procura ajuda de várias pessoas que, por sua presença, são obrigadas a se expor, algumas aceitando vários riscos pessoais, outras simplesmente lhe virando as costas. O espectador compartilha as angústias e esperanças de Heisler de conseguir embarcar para Holanda, construindo-se um suspense permanente. A atmosfera de constante apreensão deveu-se sobretudo à fotografia de Karl Freund, mentor do expressionismo alemão e à interpretação de Tracy e de bons coadjuvantes como Hume Cronin, Jessica Tandy, Agnes Morehead, Signe Hasso, George Macready, principalmente Cronin, indicado para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.  Cronin é Paul, velho amigo de Heisler, um operário confuso que pensava que Hitler era um grande homem porque “todo mundo está trabalhando” e depois encontra coragem para salvar seu amigo arriscando a vida de sua família e a própria.

Após a experiência empolgante de A Sétima Cruz, Zinneman assumiu a direção de O Ponteiro da Saudade / The Clock / 1945 mas, depois de uma quinzena de filmagem, foi substituído por Vincente Minnelli por insistência da estrela Judy Garland. Em seguida, Zinneman recusou vários roteiros que lhe foram enviados e acabou sendo suspenso por três semanas.

Finda a suspensão, o estúdio mandou-o de volta para a área do filme B e neste período dirigiu O Pequeno Mr. Jim / Little Mr. Jim / 1946 e Meu Irmão Fala com Cavalos / My Brother Talks to Horses / 1947, ambos aproveitando a popularidade na época do ator infantil Jackie “Butch” Jenkins. Provavelmente desinteressado pelos roteiros que lhe impuzeram, Zinneman desistiu de qualquer esforço e assinou essas produções, narradas com correção, mas que nada acrescentam à sua filmografia.

Perdidos na Tormenta

O diretor teve melhor chance de mostrar sua aptidão cinematográfica quando o produtor suíço Lazar Wechsler, propôs à MGM a realização de um filme, nos moldes do neorealismo italiano, sobre crianças orfãs deslocadas da Segunda Guerra Mundial. Perdidos na Tormenta / The Search / 1949, é um drama pungente do pós-guerra, mostrando o esforço da UNRRA (United Nations Relief and Rehabilitation Administration) para reajustar aqueles menores traumatizados e, em particular, a odisséia de uma mãe (Jarmila Novotna) e de um filho (Ivan Jandl) separados pela voragem que atingiu o solo da Tchecoslováquia. Mostra também a dedicação de um soldado americano na Alemanha, Ralph Stevenson (Montgomery Clift), que ajuda o menino a encontrar sua progenitora. Conduzido em um estilo semidocumentário (sobressaindo aquele início comovente da chegada das crianças ao campo da UNRRA em vagões de gado, seus rostos iluminados pela lanterna de Mrs. Murray / Aline MacMahon), é uma visão austera e dura das consequências da guerra. Apesar do artificialismo de certas situações, o espetáculo tocou o coração do público, e garantiu a Zinneman sua primeira indicação ao Oscar, proporcionando também indicação para Montgomery Clift e de Melhor Roteiro para Richard Shweizer e David Wechsler.

Ato de Violência

O último e melhor filme de Zinnemann na década de quarenta foi Ato de Violência / Act of Violence / 1949, é um drama criminal com uma boa história. Joe Parkson (Robert Ryan) único sobrevivente de um massacre de fugitivos de um campo de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial, move uma perseguição implacável contra seu ex-companheiro de exército, Frank Enley (Van Heflin), que informara os alemães do plano de evasão. Aterrorizado, Enley foge e se refugia em um bar. Ali conhece uma prostituta (Mary Astor), que arranja um assassino de aluguel para “cuidar” de Parkson. Entretanto, atormentado pelo remorso, Enley intervém no último momento, sacrificando-se para salvar a vida de seu perseguidor. O filme é narrado por Zinnemann em ritmo nervoso, forjando um clima de permanente tensão. As consequências remotas da guerra sobre a psicologia de ex-combatentes, o defeito físico de Parkson, os sentimentos de culpa e de vingança e a notável fotografia contrastada, tanto nos exteriores – filmados realmente de noite – como nos interiores, são elementos dignos dos melhores filmes noir. O encontro de Parkinson com Enley na festa da Convenção e a fuga de Enley pelas ruas da cidade à noite até entrar no bar, onde está a prostituta; a correria de Enley pelo túnel recordando o passado e o seu grito exasperante; o momento final, quando Enley e Parkson caminham um em direção ao outro sob o barulho do trem e do vento enquanto o assassino no carro aponta a arma para matar Parkson, são exemplos veementes da aptidão cinematográfica do diretor.

Esta foi confirmada nos anos cinquenta, com destaque para os títulos que estão em negrito: 1950 – Espíritos Indômitos / The Men, drama passado em um hospital para paraplégicos com Marlon Brando, Teresa Wright, Everett Sloane, indicado Carl Foreman para o Oscar de Melhor História e Roteiro (Stanley Kramer / UA) 1951 – Teresa / Teresa, drama romântico com Pier Angeli, John Ericson, Patricia Collinge, indicados Stewart Stern e Alfred Hayes para o Oscar de Melhor História Original (MGM). 1952 – Matar ou Morrer / High Noon; Cruel Desengano / The Member of the Wedding, drama familiar com Julie Harris, Ethel Waters, Brandon de Wilde, indicada Julie Harris para o Oscar de Melhor Atriz (Stanley Kramer / Columbia). 1953 – A Um Passo da Eternidade / From Here to Eternity. 1955 – Oklahoma! / Oklahoma! musical baseado na peça da Broadway de Rodgers e Hammerstein com Gordon McRae, Shirley Jones, Gloria Grahame, Gene Nelson, Rod Steiger, premiados Robert Russel Bennett, Adolph Deutsch e Jay Blackton com o Oscar de Melhor Música (de musical) e o Departamento de Som da Tood-AO / Fred Hines com o Oscar de Melhor Som (Arthur Hornblow, Jr.  Magna / RKO). 1957 -Cárcere sem Grades / A Hatful of Rain, drama sobre um veterano da Guerra da Coréia viciado em morfina com Eva Marie Saint, Don Murray, Anthony Franciosa, indicado Anthony Franciosa para o Oscar de Melhor Ator (20th Century-Fox. 1959 – Uma Cruz à Beira do Abismo / The Nun´s Story. Em 1951, Zinnemann realizou, com a cooperação da Paramount Pictures, o documentário Benjy, narrado por Henry Fonda e destinado a angariar fundos para o Hospital Ortopédico de Los Angeles.

Matar. ou Morrer

Matar ou Morrer é uma espécie de reverso do western tradicional, não só por ter uma relação com a realidade da época em que foi feito (constituindo-se em uma alegoria do medo que tomou conta da comunidade de Hollywood durante o Macartismo) como também por apresentar um outro tipo de herói. O xerife Will Kane (Gary Cooper) não é mais aquele homem invencível, seguro de si mesmo e dos valores que representa e defende, mas um indivíduo angustiado, desencantado e traído, que finalmente conquistará a sua própria estima e jogará desdenhosamente o distintivo no chão, antes de deixar a cidade que ele salvou contra a vontade dela e que ele despreza. O rigor trágico da construção dramática (obedecendo escrupulosamente à regra clássica das três unidades) e da direção são igualmente fora do comum. A música lancinante lembra sem cessar o tema do abandono e a montagem, bastante seca, é cada vez mais rápida à medida que a tensão aumenta. Os enquadramentos são muito elaborados e carregados de sentido. Por exemplo, o admirável travelling para trás em câmera alta quando Kane caminha sozinho pela rua. Este plano, por si só, resume todo o filme.

A Um Passo da Eternidade

A Um Passo da Eternidade é um drama sobre a vida em uma base militar americana no Havaí pouco antes do ataque japonês a Pearl Harbor, lugar onde se cruzam os destinos de alguns homens e duas mulheres. O soldado Robert E. Lee Prewitt (Montgomery Clift), por ter jurado nunca mais calçar luvas desde que provocara a cegueira de um amigo durante um treinamento no ringue, não cede às pressões do Capitão Dana Holmes (Philip Ober), sendo submetido a uma punição física disfarçada de serviço extra. Karen (Deborah Kerr), esposa promíscua do Capitão, tem um caso com o Sargento Milton Warden (Burt Lancaster). O amigo de Prewitt, Angelo Maggio (Frank Sinatra) torna-se desertor, é preso, sádicamente torturado, e depois morto pelo sargento “Fatso” Judson (Ernest Borgnine). Prewitt apaixona-se pela prostituta Lorene (Donna Reed), que o ama, mas não está disposta a se juntar a um simples soldado. Zinnemann dirigiu com firmeza e sensibilidade esta obra audaciosa na sua crítica incisiva ao exército e profundamente humana na descrição dos problemas pessoais dos personagens, que culmina com a tragédia do bombardeio imprevisível da guarnição. A virtuosidade técnica e artística da produção foi devidamente recompensada com o Oscar Melhor Filme, Diretor, Ator Coadjuvante (Frank Sinatra), Atriz Coadjuvante (Donna Reed), Roteiro (Daniel Taradash), Fotografia preto e branco (Burnett Guffey), Montagem (William Lyon), Som (Departamento de som da Columbia / John P. Livadary) e indicações para Melhor Ator (Burt Lancaster), Atriz (Deborah Kerr), Música de filme não musical (George Dunning) e Figurino preto e branco (Jean Louis).

Uma Cruz à Beira do Abismo

Uma Cruz à Beira do Abismo é uma descrição pungente da vocação religiosa de uma jovem belga, Gabrielle Van der Mal (Audrey Hepburn), desenvolvida com amplitude e profundidade, evoluindo de um convento na Bélgica a um hospital no Congo para finalmente voltar à Bélgica no momento da ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial. O filme expõe suas dúvidas, seus erros, seu individualismo, sua resistência à obediência absoluta e cega que se exige dela. A câmera penetra na intimidade de uma comunidade religiosa enclausurada com suas cerimônias, suas práticas, suas regras, seus sacrifícios. Zinneman trata magistralmente este tema delicado e complexo e não deixa cair o interesse um só instante durante o longo desenrolar da narrativa. O espetáculo suscitou Indicações ao Oscar de Melhor Filme, Atriz (Audrey Hepburn), Som (George Groves Montagem (Walter Thompson), Música de filme não musical (Franz Waxman).

Nos anos 60 e 70, Zinnemann continuou fazendo bons filmes, sobressaindo os dois cujo títulos estão escritos com traços mais grossos: 1960 – Peregrino da Esperança / The Sundowners, drama com Robert Mitchum, Deborah Kerr, Peter Ustinov, Glynis Johns e indicações ao Oscar de Melhor Filme, Diretor, Roteiro (Isobel Lennart), Atriz (Deborah Kerr) Atriz Coadjuvante (Glynis Johns). 1964 – A Voz do Sangue / Behold a Pale Horse, drama com Gregory Peck, Anthony Quinn, Omar Shariff, Raymond Pellegrin. 1966 – O Homem Que Não Vendeu Sua Alma / A Man For All Seasons. 1973 – O Dia do Chacal / The Day of the Jackal. 1977 – Julia / Julia. 1982 – Cinco Dias de um Verão / Five Days One Summer, drama com Sean Connery, Betsy Brantley, Lambert Wilson, Jennifer Hilary.

O Homem Que Nâo Vendeu Sua Alma

O Homem Que Não Vendeu Sua Alma é um drama histórico-biográfico realçando a personalidade de um homem, coerente e íntegro, fiel a seus princípios e à sua fé. Thomas More (Paul Scofield) se opõe a Henrique VIII (Robert Shaw), que quer se divorciar de Catarina de Aragão para se casar com sua amante Ana Bolena (Vanessa Redgrave). Quando o Cardeal Wolsey (Orson Welles) e depois o terrível ministro Cromwell (Leo McKern) lhe pedem para interceder junto ao Papa para anular o primeiro casamento, Thomas, então nomeado Chanceler do Reino, recusa e passa a correr grande perigo. Zinnemann consegue tornar atraente o que poderia ter sido apenas uma tediosa reconstituição histórica, retratando e analizando com inteligência e moderação o conflito ao mesmo tempo moral, filosófico e político que opõe o rei ao humanista católico, de vida piedosa e tranquila, deixando de lado a vida amorosa tumultuada do soberano. À virtuosidade técnica do diretor somam-se a interpretação de um elenco de grandes atores e um primoroso trabalho fotográfico, cenográfico. A produção ensejou

Oscar de Melhor Filme, Diretor, Ator (Paul Scofield), Roteiro Adaptado (Robert Bolt), Fotografia em cores (Ted Moore) e Figurino em cores (Elizabeth Haffenden, Joan Bridge) além de indicações para Ator Coadjuvante (Robert Shaw) e Atriz Coadjuvante (Wendy Hiller).

O Dia do Chacal

O Dia do Chacal é um thriller de espionagem excelente, baseado no livro best seller de Frederick Forsythe sobre uma tentativa de assassinato do presidente De Gaule por um misterioso matador de aluguel, conhecido como Chacal (Edward Fox). Para vencer o desafio de manter o interesse do espectador por uma história cujo fim ele já sabia (DeGaulle obviamente não foi assassinado) Zinneman usa sua reconhecida virtuosidade técnica com uma precisão matemática. Filmando em estilo de cinejornal, ele mostra os meticulosos preparativos do assassino profissional em paralelo com a investigação do serviço secreto francês, particularmente o Comissário de Polícia Claude Lebel (Michael Lonsdale), sem que o menor detalhe destas duas ações nos escape, mantendo sempre o nível de suspense e o interesse do espectador por uma trama recheada de detalhes, construída com um relógio suíço, com milhões de minúsculas peças que Zinnemann juntou com uma habilidade incrível, propiciando ao montador Ralph Kemplen uma indicação ao Oscar.

Julia

Julia é um drama baseado em um capítulo de “Pentimento: A Book of Portraits”, livro de memórias da renomada dramaturga Lillian Hellman, no qual ela descreve um episódio marcante de sua vida, envolvendo Júlia, nome fictício de uma amiga de infância de família rica que se transformou em uma ativista contra o nazismo. No filme, a certa altura da trama, Lillian (Jane Fonda) reencontra Julia (Vanessa Redgrave) na Rússia e é recrutada por esta para uma missão perigosa: transportar dinheiro clandestinamente para a resistência a Hitler na Alemanha. O roteiro de Alvin Sergeant pula para frente e para trás no tempo à medida em que a história da amizade de Lillian com Julia é contada e, paralelamente, mostra a ligação da dramaturga como escritor Dashiell Hammett (Jason Robards). Zinnemann manipula com esmero estilístico esta estrutura narrativa complexa e cria uma sensação de melancolia que se sustenta ao longo de toda a narrativa. O requinte visual é fortalecido pela fotografia de Douglas Slocombe e o sonoro pela música de Georges Delerue enquanto um conjunto de ótimos atores transmite perfeitamente as emoções de cada personagem. Resultaram Oscar para Jason Robards (Ator Coadjuvante, Vanessa Redgrave (Atriz Coadjuvante), Alvin Sargent (Roteiro Adaptado) e indicações para Melhor Filme, Atriz (Jane Fonda), Ator Coadjuvante (Maximilian Shell), Diretor, Fotografia (Douglas Slocombe), Montagem (Walter Murch, Marcel Durham), Música (Georges Delerue) e Figurino (Anthea Sylbert).

CEM ANOS DE CRONOLOGIA DO CINEMA AMERICANO II

setembro 29, 2022

PARTE 2: 1960-2005

1960 – Fusão da Screen Directors Guild com a Radio and TV Directors Guild, resultando o Directors Guild of America; esta associação confere o D. W. Griffith Award. Herbert Kalmus se aposenta. Dalton Trumbo primeiro dos “Dez de Hollywood” a ter novamente o nome nos créditos de um filme. Introduzida a versão em 70mm do technirama como super technirama 70 em Spartacus / Spartacus (Dir: Stanley Kubrick).

1961 – Estúdio da 20th Century-Fox vendido para a Aluminium Corporation of America (Alcoa) e a área transformada na Century City. Inaugurada a Hollywood Walk of Fame. Formada a Solar Productions (Steve McQueen e Robert E. Relyea). TWA primeira companhia aérea a exibir regularmente filmes a bordo de suas aeronaves (somente para passageiros da 1ª classe). Martin Rackin chefe da produção na Paramount.

1962 – Fusão da MCA com Universal International e Decca, voltando o nome Universal; Lew Wasserman presidente. Darryl Zanuck retorna à 20th Century-Fox como presidente; seu filho Richard Zanuck, chefe da produção.

1963 – As majors estão produzindo 70% da programação de televisão no horário nobre. Introduzida a televisão em cores nos Estados Unidos. Parkway Twin em Kansas City, primeiro cinema com duas salas. Devido a uma ação antitruste, a MCA deixa de ser agência de talentos. Estréia do New York Fim Festival, patrocinado pelo Lincoln Center for the Performing Arts.

1964 – Início do Universal City Studio Tour. Fusão da Association of Motion Picture Producers com Alliance of Television Film Producers resultando na Association of Motion Pictures and Television Producers. Primeiro telefilme apresentado regularmente: See How They Run (Dir: David Lowell Rich).

1965 – O sucesso de A Noviça Rebelde / The Sound of Music (Dir: Robert Wise) inaugura um ciclo de superproduções. O Homem do Prego / The Pawnbroker (Dir: Sidney Lumet) primeiro filme que apresenta uma breve cena de nu feminino que passou sem cortes pela Production Code Administration. Introduzido o filme Super 8mm. Fusão do Theaters Owners of America com Allied States Association of Motion Picture Exhibitors, resultando na National Association of Theatre Owners (NATO). Legião da Decência muda seu nome passando a ser chamada de National Catholic Office of Motion Pictures.

1966 – Paramount comprada pelo conglomerado Gulf+ Western Industries, Inc. (auto-peças, mineração, serviços financeiros); Charles Bluhdorn presidente, Robert Evans chefe da produção. Jack Valenti presidente da MPAA. Código de Produção é revisto. Walt Disney morre; seu irmão Roy Oliver Disney assume o controle da empresa. Criada a National Society of Film Critics.

1967 – United Artists torna-se uma subsidiária da Transamerica Corporation (companhia holding de várias seguradoras). Firma canadense Seven Arts Productions, Ltd. compra a Warner Bros. Formadas a Rastar Productions (Ray Syark); a Cannon Films (Dennis Friedland e Chris Dewey); a New Line Cinema (Robert Shaye); e a Malpaso Productions (Clint Eastwood). Hearst-Metrotone e Universal News cessam suas atividades. Criado o American Film Institute; a partir de 1973, conferidos os Life Achievements Awards.

1968 – Avco Corporation compra a Embassy Pictures, resultando na Avco-Embassy; Joseph E. Levine presidente até 1974. MPAA adota o sistema classificatório, que será imposto pela Code and Ratings Administration (CARA). Formadas a B.B.S. Productions (Berton Schneider, Bob Rafelson e Stephen Blauer), produtora dos films independentes mais importantes de 1969 a 1971 e a Lorimar Productions (Lee Rich e Merv Adelson), produtora de séries de televisão; em 1976, passa a produzir filmes.

1969 – Kinney National Services, Inc. (estacionamentos, casas funerárias), presidida por Steve J. Ross, compra a Warner Bros. – Seven Arts; Ted Ashley chefe da produção. Kirk Kirkorian (magnata dos hotéis) compra a MGM; James T. Aubrey chefe da produção. Formadas a American Zoetrope (Francis Ford Coppola) e a Wildwood Enterprises (Robert Redford e Richard Gregson). Astros da década: Alan Bates, Julie Andrews, Warren Beatty, John Cassavetes, Julie Christie, Faye Dunaway, Mia Farrow, Jane Fonda, James Garner, Elliott Gould, Richard Harris, Rex Harrison, Lawrence Harvey, Dustin Hoffman, Steve McQueen, Shirley MacLaine, Lee Marvin, Walter Matthau, Liza Minnelli, Jack Nicholson, David Niven, Peter O´Toole, George Peppard, Christopher Plummer, VIncent Price, Anthony Quinn, Robert Redford, Katherine Ross, George C. Scott, Peter Sellers, Omar Shariff, Barbra Streisand, Jon Voight, Natalie Wood e Susannah York.

1970 – Formadas a New World Pictures (Roger Corman) e a First Artists Production Company (Sidney Poitier, Paul Newman e Barbra Streisand). O sistema IMAX (abreviatura de maximum image), desenvolvido no Canadá, é apresentado na Exposição de Osaka no Japão. MGM promove leilão de seus adereços e vestuário, e vende parte do estúdio em Culver City. Ted Turner compra a UHF TV Station de Atlanta, que ele batizou de WTBS para a sua companhia Turner Broadcasting System, Inc.; através de sua subsidiária Turner Entertainment Co., a companhia controla os direitos de todos os filmes da MGM de 1924 a junho de 1986; o acervo de filmes da RKO de 1930 a 1957; todos os filmes da Warner Bros. de 1918 a 950.

1971 – Cresce a Hollywood Renaissance (período do final dos anos 60 a meados dos anos 70, quando Hollywood produziu uma quantidade relativamente alta de filmes ousados e inovadores, que pareciam ultrapassar os limites da produção convencional dos estúdios). Tanto o cinema “de arte” da Hollywood Renaissance como o fenômeno quase totalmente oposto dos dispendiosos blockbusters dos gigantescos conglomerados foram definidos pelo termo Nova Hollywood. Inaugurada a Walt Disney World na Flórida. Formada a Lion´s Gate (Robert Altman). Gordon Stulberg, presidente da 20th Century-Fox. Introdução do Sistema Dolby NR (Noise Reduction). Frank Yablans presidente da Paramount. Formada a Viacom, Inc., subsidiária da CBS. Vanished (Dir: Buzz Kulik), filme de televisão de quatro horas planejado para ser exibido em duas noites, inspira as minisséries. Firma japonesa Canon desenvolve as lentes macro zoom.

1972 – Ned Turner chefe de produção na Universal. Kinney forma a Warner Communications, Inc. para supervisionar suas atividades no campo do entretenimento, inclusive a Warner Bros. Criado o Burbank Studios (TBS) quando a Warner Bros. convidou a Columbia Pictures para compartilhar as suas instalações em Burbank. Concebido, por Ely A. Landau, o American Film Theatre, para oferecer versões cinematográficas dos grandes clássicos do palco (v.g. The Iceman Cometh, Rhinoceros, Three Sisters); os direitos de distribuição mundial foram subsequentemente adquiridos pela Telepictures Corporation. Formadas a Zanuck-Brown Productions (Richard Zanuck e David Brown) e a Lucas Film, Ltd. (George Lucas).

1973 – MGM vende seu estúdio e passa a distribuir seus filmes pela United Artists. United Artists adquire os direitos de distribuição dos filmes da MGM para os próximos dez anos. Estréia do sistema OMNIMAX. Início da Home Box Office (HBO), filial da Time, Inc., primeiro serviço de distribuição de programas pagos pela televisão a cabo. O Vigilante / The Blue Knight (Dir: Robert Butler), primeira minissérie, exibida em quatro dias. Crescimento da Mann Theatres Corporation (Ted Mann); em 1986 a companhia foi vendida para a Gulf+ Western. Formadas a Time-Life Films, Inc. conhecida principalmente por ter sido a distribuidora exclusiva das produções da BBC Television nos Estados Unidos.

1974 – Estréia do Sensurround, sistema de efeitos especiais desenvolvido pela Universal Pictures, inicialmente para produzir os tremores de terra em Terremoto / Earthquake (Dir: Mark Robson). Michael Medavoy chefe de produção na United Artists. Câmera Panaflex, usada pela primeira vez por Vilmos Zsigmond em A Louca Escapada / The Sugarland Express (Dir: Steven Spielberg). Barry Diller presidente da Paramount. Inaugurado, por Bill Pence, o Teluride Film Festival no Colorado.

1975 -s Formação da Industrial Light and Magic (George Lucas). Inferno na Torre / The Towering Inferno (Dir: John Guillermin) é a primeira co-produção entre dois grandes estúdios, 2Oth Century-Fox e Warner Communications. Formadas a International Creative Management, Inc. (pela fusão da Creative Management Associates com a International Famous Agency de Marvin Josephson), e a Creative Artists Agency (Michael Ovitz, Ron Meyer, e outros ex-agentes da William Morris). Criada a Los Angeles Film Critics Association. Formada por David P. Cook a locadora de vídeos Blockbuster Entertainment Corporation, com uma loja em Dallas, Texas; em 1987, H. Wayne Huizenga assumiria o controle da companhia e daria início à sua expansão.

1976 – Introduzidos os sistemas VHS e Betamax. Michael Eisner presidente da Paramount. E. Cardon Walker CEO (chief executive officer) da Disney. Introdução do Dolby Stereo, sistema de som ótico estereofônico de quatro canais. Usado pela primeira vez o Steadicam por Haskell Wexler em Esta Terra é Minha Terra / Bound for Glory. Criado o canal acabo Showtime, rival do HBO.

1977 – Formada pela Universal e Paramount, a Cinema International Corporation (CIC), para distribuir filmes fora dos Estados Unidos. MPAA cria o Office of Film Security, para combater a pirataria. Formada a Carolco Service, Inc. (Mario Kassar, Andy Vajna), depois Carolco Pictures, Inc. conhecida como a produtora-distribuidora da série Rambo, estrelada por Sylvester Stallone.

1978 – Formadas a Orion Pictures (Arthur Krim, Robert Benjamin, e outros) e a Goldwyn Company (Samuel Goldwyn Jr.). Os laser-discs da Philips-MCA são comercializados. David Begelman e Al Hirschfield deixam a Columbia após um escândalo financeiro causado por Begelman. Daniel Melnick presidente da Columbia Pictures; Sherry Lansing chefe da produção. Formada a Plitt Theatres, Inc. quando Henry C. Plitt e um grupo de investidores adquiriram a cadeia de cinemas da ABC Television. Alan Ladd Jr. presidente da 20th Century-Fox. Um novo Copyright Act protege a maioria dos filmes por 75anos. Retirado o velho letreiro formando a palavra Hollywoodland, para ser substituído por um novo com a inscrição Hollywood.

1979 – Comprada a Cannon Films por Menahem Golan e Yoram Globus. Formadas a Ladd Company (Alan Ladd Jr., Jay Kanter e Gareth Wigan) e a Miramar Films Corporation (Harvey e Bob Weinstein). Defecção de um grupo de desenhistas da Disney, liderado por Don Bluth, em protesto contra a deteriorização dos padrões artísticos da companhia; um novo presidente, Rn Miller, promoveria mudanças importantes na empresa. Fusão da American International Pictures com a Filmways, Inc. Criado o canal a cabo The Movie Channel. David Begelman presidente da MGM. Cineplex abre seu cinema com 18 salas em Toronto. Desenvolvido, por Ralph Weinger, o processo computadorizado de colorização, usado pela Color Systems Technology de Los Angeles. Astros da década: Woody Allen, Alan Bates, Jacqueline Bisset, Jeff Bridges, Charles Bronson, Ellen Burstyn, Michael Caine, Richard Chamberlain,  Jill Clayburgh, Sean Connery, Robert De Niro, Bruce Dern, Shelley Duval, Clint Eastwood, Richard Gere, Joel Grey, Harrison Ford, Gene Hackman, Goldie Hawn, Diane Keaton, Kris Kristofferson, Jessica Lange, Ali McGraw, Nick Nolte, Ryan O´Neal, Warren Oates, Al Pacino, Vanessa Redgrave, Christopher Reeves, Burt Reynolds, Roy Scheider, George Segal, Sissy Spacek, Sylvester Stallone, John Travolta, e Michael York.

1980 – O Portal do Paraíso / Heaven´s Gate (Dir: Michael Cimino) dá um prejuízo de 40 milhões de dólares, levando a Transamerica a se retirar da indústria e vender a United Artists. Sherry Lansing presidente da 20thCentury-Fo. Criado o canal a cabo Cinemax, complemento do HBO. Raphael Erkes presidente da American International Pictures, que passa a se chamar Filmways Pictures. Formada pelo Polygram Group a PolyGram Pictures; Peter Guber e John Peters produtores associados. Ted Turner cria o canal Cable News Network (CNN). Fundado o Sundance Institute (Robert Redford). Columbia Pictures, MCA / Universal, Paramount e 2Oth Century-Fox anunciam uma parceria com a Getty Oil Company, para criar o canal a cabo Première. Formada a American Marketing Association como associação comercial para pequenos produtores e distribuidores. Lorimar compra a Allied Artists. Dawn Steel vice-presidente encarregada da produção na Paramount.

1981 – 20th Century-Fox comprada pelo magnata do petróleo Marvin Davis; Al Hirshfield presidente. Kirk Kirkorian compra a United Artists da Transmamerica e forma a MGM / UA Entertainment Company. MGM / UA une-se à CIC para criar a United International Pictures (UIP) com a finalidade de distribuir filmes no exterior. Norman Lear e Jerry Parenchio compram a Avco Embassy Pictures e mudam seu nome para Embassy Comunications. David Begelman presidente da United Artists. Orion compra a Filmways. Jeffrey Katzenberg chefe de produção na Paramount.

1982 – Coca-Cola compra a Columbia. Formada a Tri-Star Pictures pela Columbia, HBO e CBS. Os drive-ins entram em declínio porque seus locais se valorizam como imóveis. Peter Guber e Jon Peters deixam a PolyGram e formam Guber-Peters Co. Criada a Island Pictures (Chris Blackwell); de 1983 a 1985, a companhia foi associada com a Alive Films sob a denominação Island / Alive. Lançado pela Eastman Kodak o filme de baixa descoloração. Disney abre o Epcot Center na Flórida. Formada a dupla de produtores independentes Don Simpson / Jerry Bruckheimer, responsáveis juntamente com Steven Spielberg e George Lucas, pelos blockbusters de maior sucesso da década.

1983 – Os contratos de longo prazo estão de volta; os estúdios os celebram com Eddie Murphy, Richard Pryor e Michael Keaton. HBO e CBS unem-se à Columbia Pictures para formar a produtora de filmes Nova, a fim de garantir um fluxo regular de filmes na televisão. Introdução do THX Motion Picture Loudspeaker System, que aumentou a qualidade do som nos cinemas.

1984 – Michael Eisner presidente do Conselho de Administração da Disney; Frank Wells presidente; Jeffrey Katzemberg gerente do estúdio. Disney Productions anuncia a formação da Touchstone Pictures, para produzir filmes destinados às platéias adultas. Cineplex adquire 297 cinemas da cadeia Odeon no Canadá e se torna Cineplex Odeon. LucasFilm, Ltd. Introduz o Edit-Droid (edição digital de imagem); alguns anos depois surgirá o Sound Droid (edição digital de som). Formada a Amblin Entertainment (Steven Spielberg e Kathleen Kennedy).

1985 – Decisão judicial, que obrigou as majors a se desligarem dos ramos de exibição após 1984, é revertida, e ela começam a adquirir cadeias de cinema. News International de Rupert Murdoch compra a 2Oth Century-Fox; Barry Diller chefe da produção. Magnata da TV, Ted Turner, compra a MGM / UA. Dino De Laurentiis forma a Larentiis Entertainment e compra a Embassy Pictures. Formada a Concorde Pictures Corporation (Roger e Julie Corman). Viacom compra a MTV e a Showtime Network, Inc. Publicados Film History: Theory and Practice de Robert C. Allen e Douglas Gomery e The Classical Holllywood Cinema: Film Style and Mode of Production to 1960 de David Bordwell, Janet Staiger e Kristin Thompson.

1986 – Cineplex Odeon compra a cadeia de cinemas Plitt. Alan Ladd jr. presidente da MGM /UA. Ted Turner vende a MGM / UA de volta para Kirk Kirkorian, mas mantém o acervo de filmes. MGM torna-se MGM-UA. Commun ication. George Lucas vende a divisão de computação gráfica da LucasFilm, Ltd. (Pixar Computer) para Steve Job, e ela se torna Pixar Animation. Ted Turner vende o estúdio de Culver City para Lorimar -Telepictures. Dawn Steel presidente da Columbia Pictures. Formada a White Eagle Enterprise, companhia produtora de Sylvester Stallone.

1987 – Fusão da Columbia com a Tri-Star, resultando na Columbia Pictures Entertainment. Formada a Castle Rock Entertainment (Rob Reiner, Alan Horn, Andrew Scheinman, Glenn Padnick e Martin Shafter). Introdução do Dolby SR (Spectral Recording), sistema ótico de quatro canais mais aperfeiçoado, no filme Robocop, o Policial do Futuro / Robocop. Giancarlo Perretti compra o Cannon Group, Inc., que teve sua origem na Cannon Films.

1988 – Após a falência da De Laurentiis Entertainment, Dino De Laurentiis forma com Giancarlo Parretti a Dino De Laurentiis Communications; criada uma produtora subsidiária, Onyx Entertainment.

1989 – Columbia é comprada pela Sony Corporation; presidentes Jon Peters e Peter Guber. Gulf+Western torna-se Paramount Communications, Inc. Fusão da Warner Communications com a Time Inc. para criar a Time-Warner. Formada a Cinergi Prods., Inc. (Andy Vajna). Fusão da Columbia com a Tri-Star para formar a Columbia Pictures Entertainment. Giancarlo Parretti muda o nome do Cannon Group Inc. para Pathé Entertainment Inc. 2Oth Century – Fox muda o nome para Fox Film Corporation. Formada a Turner Pictures, Inc. (Ted Turner) para produzir filmes para o canal a cabo TNT. Astros da década: Rosanna Arquette, Dan Ackroyd, Tom Berenger, Chevy Chase, Cher, William Dafoe, Danny De Vito, Richard Gere, Jeff Goldblum, Harrison Ford, Michael J. Fox, Danny Glover, Ed Harris, Barbara Hershey, Anthony Hopkins, William Hurt, Anjelika Huston, Jeremy Irons, Kevin Kline, Jessica Lange, John Malkovich, Kelly McGillis, Steve Martin, Dudley Moore, Eddie Murphy, Bill Murray, Chuck Norris, Sean Penn, Dennis Quaid, Mickey Rourke, Kurt Russell, Meryl Streep, Donald Sutherland, Kagtleen Turner, Debra Winger e James Woods.

1990 – MCA abre o Universal Studios Park em Orlando, na Flórida. Matsushita Corporation compra a MCA e, com ela, a Universal. Anunciada, por Martin Scorcese, Sidney Poitier, Steven Spielberg, George Lucas, Francis Ford Coppola, Woody Allen, Stanley Kubrick e Robert Redford, a criação da Film Foundation, dedicada à preservação de filmes. Fundada a Fine Line Features, divisão da New Line Cinema para filmes de arte. Giancarlo Parretti compra a MGM – UA de seu acionista majoritário Kirk Kirkorian e forma a MGM – Pathé Communications.

1991 – Sony muda o nome da Columbia para Sony Pictures Entertainment. Giancarlo Parretti é obrigado pelo Banco Crédit Lyonnais, o maior credor de seu estúdio, a entregar as rédeas da MGM – Pathé para Alan Ladd Jr. Formadas a distribuidora October Films (Jeff Lipsky) e a A Band Apart Productions (Quentin Tarantino e Lawrence Bender).

1992 – Time Warner forma uma aliança com a Toshiba Corporation e Itochu& Co. Inaugurada a EuroDisney em Paris.Vídeos são lançados no formato widescreen. Introdução do sistema de som estereofônico digital Dolby com seis canais em Batman, o Retorno / Batman Returns (Dir: Tim Burton) Formadas a Alphaville (Sean Daniel e Jim Jacks) e a Savoy Pictures Entertainment (Victor A. Kaufman e Lewis J. Korman). Crédit Lyonnais assume formalmente o controle da MGM-Pathé Communications, mudando seu nome para Metro-Goldwyn- Mayer. Sherry Lansing presidente da Paramount.

1993 – Disney compra a Miramax Picture. Frank Mancuso presidente da MGM. LucasFim, Ltd. vende o Edit Droid e o Sound Droid (Droid Works) para Avid Technology. Ted Turner compra a New Line e a Castle Rock. Fundada a Digital Domain (James Cameron, IBM, Stan Winston e Scott Ross).

1994 – Viacom compra a Paramount Communications e promove uma fusão com a Blockbuster Entertainment Corporation, a maior locadora de vídeo dos Estados Unidos. Formada a Dreamworks SKG por Steven Spielberg, David Geffen e Jeffrey Katzenberg.

1995 – Disney compra a Capitol Cities / ABC, com a rede de televisão ABC. Seagram´s compra a MCA e a Universal da Matsushita. Michael Ovitz presidente da Disney. Primeiro filme em 3-D IMAX: Asas da Coragem / Wings of Courage (Dir: Jean-Jacques Annaud). Formada a Phoenix Pictures (Mike Medavoy e Arnold W. Messer).

1996 – Time-Warner compra a Turner Broadcasting System, Inc. e a New Line. Disney assina um contrato de licenciamento de 100 milhões de dólares por ano com a McDonald´s. John Kluge compra a Orion Pictures e a Samuel Goldwyn Company, resultando no Metromedia Entertainment Group, Inc. Criada a Intertainer (serviço Video on Demnand).

1997 – Universal adquire a distribuidora October Films. Dreamworks é o primeiro estúdio a oferecer a participação nos lucros a roteiristas e membros da equipe técnica. Ron Miller presidente da Disney. Os DVDs começam, a ser vendidos.

1998 – Seagram´s compra a PolyGram. O Sonny Bono Copyright Term Extension Act estende o período de proteção de direitos autorais.

1999 – A Bruxa de Balir / The Blair Witch Project (Dir: Daniel Myrick e Eduardo Sanchez), produzido por 35 mil dólares, e famoso pelo seu pré-lançamento através da Internet, torna-se o filme de baixo orçamento mais bem-sucedido financeiramente na história do cinema. Criada a CinemaNow (serviço Vídeo on Demand). Toy Story 2 / Toy Story 2 (Dir: John Lasseter, Ash Brannon, Lee Unkrich) primeiro filme produzido e exibido digitalmente. Astros da década: Ben Affleck, Kim Basinger, Annette Bening, Hale Berry, Kenneth Branagh, Pierce Brosnan, Sandra Bullock, Nicholas Cage, Jim Carrey, Cher, Glenn Close, George Clooney, Kevin Costner, Russell Crowe, Tom Cruise, Billy Cristal, Jamie Lee Curtis, Matt Damon, Daniel Day Lewis, Johnny Depp, Cameron Diaz, Leonardo Di Caprio, Michael Douglas, Albert Finney, Bridget Fonda, Harrison Ford, Jodie Foster, Morgan Freeman, Mel Gibson, Whoopi Goldberg, Melanie Griffith, Tom Hanks, Jeremy Irons, Samuel L. Jackson, Tommy Lee Jones, Michael Keaton, Uma Thurman, Denzel Washington, Sigourney Weaver, Robin Williams, Bruce Willis, Nicole Kidman, Kevin Kline, Gwyneth Paltrow, Sean Penn, Michele Pfeiffer, Brad Pitt, Keanu Reeves, Julia Roberts, Wynona Ryder, Meg Ryan, Susan Sarandon, Arnold Schwarzenegger, Steven Segal, Will Smith, Kevin Spacey, Sharon Stone, Emma Thompson.

2000 – Fusão da America Online com a Time-Warner, Vivendi compra a Seagram´s e a Universal, para formar a Vivendi Universal.  Robert Iger presidente da Disney. Imagens geradas por computador em Matrix / The Matrix (Dir: Lana e Lilly Wachowski) criam sequências de feitos especiais até então impossíveis de encenar.

2001 – Projeção digital nos cinemas torna-se disponível no mercado e as vendas de filmes em DVD aumentam rapidamente.

2002 – Sony Pictures Entertainment, MGM Studios, Paramount Pictures, Universal Studios e Warner Bros. formam a Movielink (Serviço Video on Demand). Primeiro filme a faturar mais de 100 milhões de dólares no seu lançamento de fim de semana: O Homem-Aranha / Spider Man (Dir: Sam Raimi).

2003 – As receitas dos estúdios cinematográficos no mercado de vídeo são mais lucrativas do que as arrecadas nas bilheterias dos cinemas. Disney anuncia que não fará mais os tradicionais filmes de animação desenhados à mão, adotando a 3-D e o estilo CGI total, popularizado originariamente pela Pixar.

2004 – Farenheit 11 de setembro / Farenheit 9/11, de Michael Moore, bate o recorde de renda para um documentário em um lançamento de fim de semana. Shrek 2 / Schrek 2 (Dir: Andrew Adamson, Kelly Asbury, Conrad Vernon) torna-se, em três semanas, o filme de animação mais lucrativo de todos os tempos.

2005 – Apresentado ao Congresso Americano o Family Entertainment and Copyright Act, que legaliza a censura para proteger as crianças da violência, sexo e profanação indesejáveis nos filmes (v. g. tal como faz a locadora Clean Flicks, que aluga DVDs remontados com cortes), torna disponível para os pais a tecnologia necessária (v. g. tal como os aparelhos DVD oferecidos pela firma Clear Play) que penaliza a prática de pirataria. Star Wars: episódio III – A Vingança dos Sith / Star Wars: episode III – Revenge of the Sith, é o primeiro dos filmes da série  a receber a classificação PG-13 e George Lucas é criticado por comercializar brinquedos e outros produtos correlatos para os jovens fãs, negando-lhes ao mesmo tempo o direito de ver o filme. As bilheterias da temporada de verão foram desastrosas para Hollywood – menor rentabilidade desde 2001. Sugestões para resolver o problema: fazer filmes melhores e mais baratos, suprimir os comerciais e proibir o uso de celulares nas salas de projeção. Paramount Pictures compra a Dreamworks SKG.

 

CEM ANOS DE CRONOLOGIA DO CINEMA AMERICANO

setembro 18, 2022

CEM ANOS DE CRONOLOGIA DO CINEMA AMERICANO (1905-2005)

1ª parte: 1905-1959

1905 – Harry Davis abre a primeira sala chamada de nickelodeon em Pittsburgh. Inaugurado o primeiro Hale´s Tour (outra forma de exibição de filmes, que surgiu simultaneamente com os Nickelodeons), idealizada por George C. Hale em Kansas City. Hale construiu uma sala como se fosse um vagão ferroviário, decorada internamente como um carro de passageiros. Essa atração denominada de Hale´s Tour and Scenes of the World, começava com uma batida de sinos e o balanço mecânico da sala, simulando o movimento de um trem. As luzes se apagavam e filmes de paisagens, que haviam sido filmados da plataforma traseira de uma composição verdadeira em alta velocidade, apareciam na tela. Os irmãos Warner (Albert, Harry, Sam e Jack) entram no campo da exibição itinerante. Surge o Variety, para cobrir notícias sobre vaudeville, juntamente com as publicações já existentes Billboard e New York Dramatic Mirror. Instaladas na Biograph as lâmpadas elétricas de tubos de vapor de mercúrio Cooper-Hewitt.

1906 – Vitagraph é pioneira no uso de técnicas de animação como nos filmes Humorous Phases of Funny Faces e Mid-Winter Night´s Dream Surge o primeiro trade paper dedicado somente aos filmes: Views and Film Index. Carl Laemmle abre seu primeiro cinema em Chicago e a sua distribuidora Laemmle Film Service.

1907 – As patentes de Edison e da Biograph são consideradas válidas, e Edison inicia novas ações contra os rivais. Formadas a Kalem Film Company (George Kleine, Samuel Long e Frank Marion) e a Essanay Film Manufacturing Company (George K. Spoor e Gilbert M. Anderson). Organizada a primeira associação comercial da indústria, United Film Protective Service Association. Surge o trade paper Moving Picture World, destinado aos exibidores. As primeiras companhias produtoras chegam a Los Angeles.

1908 – A Guerra das Patentes termina e é criada a Motion Pictures Patents Company (MPPC). Sob a liderança conjunta de Edison-Biograph, as companhias se associaram neste consórcio e fizeram um pool de 16 patentes pertencentes a todos os produtores, que cobriam filmes, câmeras e projetores, estabelecendo o pagamento de royalties em troca de licenças para o uso destas patentes. Formada a primeira produtora independente, Centaur Film Manufacturing Company (David Horsley).

1909 – Formadas as companhias independentes: New York Motion Picture Company com as marcas registradas Bison e depois Kay-Bee (Fred Balshofer, Adam Kessel e Charles Baumann); Independent Moving Picture Company – IMP (Carl Laemmle) e Powers Company (Pat Powers). Primeira apresentação do Sistema kinemacolor em Nova York. Criadas a Film Renter Protective Association, presidida por John J. Murdoch, e a National Board of Censorhip of Motion Pictures. Colocada no mercado a câmera Bell and Howell (Donald J. Bell e Albert Howell), que se tornaria a mais usada durante o período da cena muda.

1910 – Os independentes começam a enfrentar a MPPC. Formadas a Thanhouser Company (Edwin Thanhouser); Reliance Pictures (Charles Baumann e Adam Kessel); Nestor Film Company (David Horsley); Defender Film Company, com a marca Rex Pictures (William Swanson, Edwin S. Porter e Joseph Engel); Champion Film Company (Mark Dintenfass); American Film Manufacturing Company com a marca Flying A (John R. Freuer, Samuel Hutchinson), oferecendo também as comédias Beauty e Vogue, os westerns Mustang e os dramas Clipper; Solax Company (Alice e Herbert Blaché e George A. Magie). Criadas a General Film Company (MPPC) e a Motion Picture Distributing and Sales Company (Laemmle, Kessel e Baumann). Formada a Loew´s Consolidated Enterprises (Marcus Loew, Joseph e Nicholas Schenck), abrangendo cinemas e outros centros de diversões. Edison faz uma demonstração do cinetofone. O negativo da Eastman Kodak domina o mercado mundial. Carl Laemmle cria a primeira personalidade do cinema a ser conhecida pelo nome, Florence Lawrence, que vinha sendo chamada de “A Garota da Biograph”.

1911 – Los Angeles torna-se o segundo centro de produção nos Estados Unidos depois de Nova York. Nestor constrói o primeiro estúdio localizado em Hollywood. Formada a Majestic (Harry Aitken e Thomas Cochrane). Surgem as primeiras revistas de fãs, Motion Picture Story e Photoplay. Inventada a câmera Bell and Howell. Surge o primeiro jornal cinematográfico americano, The Pathé Weekly. Pennsilvânia é o primeiro Estado a aprovar uma lei de censura. Formada a Motion Picture Exhibitor´s League, primeiro grupo nacional de donos de cinema.

1912 – O governo dos Estados Unidos move uma ação antitruste contra a MPPC e a General Film. A Motion Pictures Distributing and Sales Company se divide em duas distribuidoras concorrentes, a Mutual-Film Supply Company (John R. Freuler e Harry Aitken) e a Universal Manufacturing Company (Carl Laemmle). Formadas a Famous Players Company (Adolph Zukor); a Keystone Company (Mack Sennett); e a Universal Film Manufacturing Company (Carl Laemmle), esta última resultante da fusão da IMP com outras companhias independentes. O Copyright Act protege especificamente os filmes.

1913 – Formadas a Jesse L. Lasky Feature Play Company (Jesse Lasky) e a Warner ´s Features Inc. (Harry, Albert, Sam e Jack Warner). Lançado o primeiro filme de exploração ou filme apelativo (exploitation film), O Tráfico de Almas / Traffic in Souls (Dir: George Loane Tucker). Mary Pickford vai para a Famous Players, onde recebe o apelido de “A Namorada da América”. Charles Chaplin inicia sua carreira cinematográfica na Keystone. Inaugurado, por William H. Clune, o Tec-Art Studio, um dos principais estúdios de aluguel nos anos 20; deixou de existir em 1931. Estréia do jornal cinematográfico Universal Animated Weekly, mais tarde, Universal News. Formada a L-KO (Lehrman-Knock Out) Motion Picture Company Inc. (Henry “Pathé” Lehrman).

1914 – Formadas a Paramount Distribution Company (W.W. Hodkinson) e a Box Office Attraction Film Rental Company (William Fox). A Max Factor introduz a primeira maquilagem especial para o cinema: Supreme Greasepaint, necessária para a filmagem em interiores com luz artificial. Charlie Chaplin cria o personagem Carlitos. Inaugurado o primeiro palácio do cinema, The Strand, em Times Square. Surge o primeiro desenho animado propriamente dito, Gertie the Dinossaur. Sessue Hayakawa é um dos primeiros artistas estrangeiros a construir uma carreira em Hollywood. Mary Pickford proclamada a “Principal Atriz de Cinema da América”. Formada a World Film Corporation (E. Mandelbaum, Philip Gleichman e alguns banqueiros de Wall Street; Lewis J. Selznick, pai de Myron e David O. Selznick, vice-presidente e gerente geral. Formadas Peerless Feature Fim Company (Jules Brulatour) e Educational Pictures, Inc. (George A. Skinner e Earl Wooldrige Hammons). Entra em circulação o trade paper Exhibitor´s Herald. Publicada a primeira História do Cinema nos Estados Unidos: Theatre of Science, de Robert Grau. Introduzida a “Rembrandt Lighting”, por Cecil B. De Mille e seu cinegrafista Alvin Wycoff.

1915 – A Corte Suprema dos Estados Unidos decide que a censura instituída pelo Estado de Ohio é constitucional e que a exibição de filmes não está protegida pela liberdade de expressão garantida pela Primeira Emenda porque considerava-a um “negócio, puro e simples” e não como parte da imprensa do país ou de órgãos de opinião pública. Somente em 1952 estenderia esta proteção à indústria cinematográfica. Inaugurada a Universal City. Formadas a V-L-S-E para distribuir os filmes das companhias Vitagraph, Lubin, Selig e Essanay; a Triangle (Harry Aitken, Adam Kessel e Charles Baumann), para distribuir os filmes de D. W. Griffith, Thomas Ince e Mack Sennett; a Metro Pictures Corporation (Richard Rowland, Joseph Engel e Louis B. Mayer); e a Fox Film Corporation (William Fox). Fundada a Technicolor Motion Picture Company (Herbert Kalmus). Formada a Vim Comedy Company (Louis Burstein e Mark Dintenfass). A estréia da coluna de Julian Johnson, “Department of Comment and Criticism on Current Photoplays”, na revista Photoplay e a publicação do livro The Art of the Moving Picture pelo poeta Vachel Lindsay representam o começo do reconhecimento do cinema como uma forma de arte. As distribuidoras americanas começam a abrir suas filiais na América Latina; no Brasil, a Fox Fim foi a primeira, seguida pela Paramount (1916), Universal (1917), MGM (1925), Warner (1927), e Columbia (1929). Criada a associação comercial Motion Picture Board of Trade of America, substituída no ano seguinte pela National Association of the Motion Picture Industry (NAMPI). National Board of Censorship of Motion Pictures muda seu nome para National Board of Review of Motion Pictures, Inc.; ficou mais conhecida pela sua “Lista dos 10 Melhores Filmes” e por sua revista Films in Review. Surge a revista de fã Motion Picture Classic.

1916 – Fusão da Famous Players com a Feature Play Company, resultando a Famous Players-Lasky Corporation, que assume o controle da Paramount Pictures Corporation; Zukor é o presidente e Lasky, o vice- presidente. Fundada a Goldwyn Pictures Corporation (Samuel Goldfish, Edgar e Archibald Selwyn).; Goldfish para a usar o sobrenome Goldwyn. Formnda a cadeia de cinemas Balaban & Katz, quando os irmãos Barney e Abraham Balaban uniram suas salas com as de Sam Katz. Formadas a Lewis J. Selznick Productions, Inc. (Lewis J. Selznick) e a Christie Film Company (Al Christie).

1917 – Surge a primeira cineautobiografia, Just me, de Pearl White. Zukor compra 50% das ações da Lewis J. Selznick Productions e a denominação desta é mudada para Select Pictures Corporation. Formada a First National Exhibitor´s Circuit, Inc., que se lança na produção (contratando Chaplin) e distribuição. Metro Pictures começa a produzir. Formadas a Paralta Plays, Inc. (Carl Anderson e Robert T. Kane); a Sunshine Comedy Company (presidente William Fox; vice-presidente Harry “Pathé” Lehrman); a Comique Film Corporation (Joseph Schenck), para produzir filmes de Fatty Arbuckle e Buster Keaton; e a Jewel Productions, Inc. (Harry M. Berman e Leon J. Bamburger). Inventada a câmera Akeley (Carl E. Akeley), usada em newsreels (jornais cinematográficos) e depois nos estúdios nos meados dos anos 20. The Gulf Between (Dir: Wray Bartlett Physioc), primeiro filme em technicolor é apresentado para convidados em Nova York, mas dificuldades técnicas impedem que seja lançado comercialmente.

1918 – A MPPC é dissolvida. O controle americano do mercado mundial do filme aumenta enormemente durante a Primeira Guerra Mundial. “Hollywood” é agora uma palavra genérica, que descreve a indústria de cinema americana. Formadas a Robertson-Cole Company (Harry F. Robertson e Rufus Sidman Coe) e a Cosmopolitan Productions (William Randolph Hearst); a Paramount distribuiu os filmes da Cosmopolitan de 1919 a 1922; e, em 1923, eles foram distribuídos pela Goldwyn; de 1924 a 1934, pela MGM; e, finalmente, de 1935 a 1937, pela Warner Bros. Formada a Micheaux Fim Corporation como Micheaux Film and Book Corporation (Oscar Micheaux), a mais conhecida das companhias independentes de proprietários negros.

1919 – Formada a United Artists Corporation (Douglas Fairbanks, Mary Pickford, Charles Chaplin e D. W. Griffith). Adolph Zukor entra no ramo da exibição. Os grandes estúdios começam a formar cadeias de cinemas de primeiro lançamento, que irão eventualmente torná-los alvo da ação antitruste. Formadas a Selznick Pictures Corporation (Myron Selznick) e a Louis B. Mayer Pictures (Louis B. Mayer). Constituída a Loew´s, Inc. para consolidar todo o patrimônio de Marcus Loew. Loew´s, Inc. compra a Metro Pictures Corporation. Lewis J. Selznic recupera todo o controle da Select Pictures. Os diretores Thomas Ince, Allan Dwan, Marshall Neilan e George Loane Tucker formam a Associated Producers para distribuir seus próprios filmes. Formada a Hal Roach Studios, Inc. (Hal Roach). Estréia do jornal cinematográfico Fox News. Fundada a American Society of Cinematographers (ASC). Publicado pela primeira vez o Film Daily Yearbook. Astros da década: Fatty Arbuckle, Theda Bara, Carlyle Blackwell, Hobart Bosworth, Alice Brady, John Bunny, Francis X. Bushman, Harry Carey, Marguerite Clark, Ethel Clayton, Maurice Costello, Dorothy Dalton, Viola Dana, Priscilla Dean, Marie Doro, Dustin Farnum, William Farnum, Geraldine Farrar, Elsie Ferguson, Pauline Frederick, Robert Harron, William S. Hart, Alice Joyce, Annette Kellerman, J. Warren Kerrigan, Florence Lawrence, Elmo Lincoln, Harold Lockwood, Barbara Prevost, Wallace Reid, Ruth Roland, Anita Stewart, Lewis Stone, Blanche Sweet, George Walsh, Pearl White, Earle Williams, Kathlyn Williams, Lois Wilson e Clara Kimball Young.

1920 – Os filmes americanos arrecadam um terço de suas receitas no mercado externo. Formada a CBC Sales Corporation (Harry e Jack Cohn e Joe Brandt). Irving Thalberg chefe de produção da Universal. Inaugurado em Nova York o Astoria Studios (também conhecido como Kaufman Astoria) como centro de produção da Famous Players-Lasky; entre 1940 -1946 o Astoria tornou-se o U.S. Army Pictorial Center. Formada a Preferred Pictures (B. P. Schulberg, J. G. “Jack” Bachmann e Al Litchman). Inventada, por George A. Mitchell, a câmera Mitchell, durante muitos anos a câmera padrão da indústria de cinema americano. Formada a Western Associated Motion Picture Advertisers (WAMPAS), que selecionava (entre 1922 e 1934) anualmente 13 jovens atrizes com possibilidade de se tornarem estrelas; entre as escolhidas como Wampas Baby Stars: Jean Arthur, Mary Astor, Joan Blondell, Clara Bow, Joan Crawford, Frances Dee, Dolores Del Rio, Janet Gaynor, Ginger Rogers, Fay Wray, Lupe Velez, Loretta Young etc.

1921 – Fusão da First National com Associated Producers, resultando Associated First National. Formadas a Inspiration Pictures, Inc. (Charles H. Duell e J. Boyce Smith Jr.) e a Tiffany Productions; de 1927 a 1929 o diretor John M. Stahl foi associado com a companhia, que se tornou conhecida como Tiffany-Stahl Productions. Estréia de Leo, o primeiro leão que serviu de logotipo para a MGM após ter sido capturado com um ano de idade no deserto da Núbia; ele morreria em 1935. Usado o sistema de som photokinema (Orland E. Kellum) em um filme de D. W. Griffith, A Rua dos Sonhos / Dream Street. Inauguração da boate Cocoanut Grove em Hollywood. Roscoe “Fatty” Arbuckle preso pelo assassinato de Virginia Rapper durante uma orgia no St. Francis Hotel em San Francisco. Arbuckle foi indiciado por homicídio culposo e passou por três julgamentos, sendo finalmente absolvido por falta de provas em 1923.

1922 – Organizada a Motion Pictures Producers and Distributors of America, Inc. (MPPDA), para substituir a NAMPI como associação comercial das majors; Will H. Hays presidente. Hays era um republicano ultraconservador, maçom, rotariano e líder presbiteriano de Indiana, e sua presença tornou o gesto de auto-regulação da indústria convincente tanto para o público quanto para o governo. Inicialmente a MPPDA foi chamada de Hays Office. Samuel Goldwyn destituído da presidência da Goldwyn Pictures Corporation, deixa a companhia e forma. A Samuel Goldwyn, Inc.  Robertson-Cole reorganizada como Film Booking Office of America (FBO). Flor de Lótus / The Toll of the Sea (Dir: Chester M. Franklin)  é o primeiro filme de longa-metragem em technicolor de duas cores. Formadas a Buster Keaton Productions, Inc. (Joseph Schenck) como sucessora da Comique Film Corporation, e a Principal Productions, Inc (Sol Lesser). Inaugurado em Los Angeles o cinema Egyptian de Sid Grauman. O diretor William Desmond Taylor encontrado morto em sua casa

1923 – Formada a Warner Bros. Pictures (Harry Warner presidente; Jack Warner chefe da produção. Walt Disney, seu irmão Roy e Ub Iwerks formam o Disney Bros. Cartoon Studio e produzem o primeiro desenho de uma série, Alice in Cartoonland. Introduzido o filme de 16mm. Companhia construtora coloca um letreiro na Hollywood Hills, com a palavra “Hollywoodland”, para anunciar uma incorporação de imóveis em Beachwood Canyon. Morte de Wallace Reid, viciado em drogas. Irving Thalberg deixa a Universal, para ser assistente do produtor independente Louis B. May

1924 – CBS Sales Company torna-se Columbia Pictures; Harry Cohn chefe da produção. Loew´s, Inc. compra a Goldwyn Pictures Corporation e, promovendo sua fusão com a Metro Pictures Corporation e a Louis B. Mayer Pictures, forma a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM); Louis B. Mayer chefe do estúdio, Irving Thalberg chefe da produção. Criada a Association of Motion Picture Producers. Joseph Schenck reorganiza a United Artists. Formada a Producers Distributing Corporation – PDC (Jeremiah Milbank). Vendida a primeira moviola (Iwan Serrurier) para o Douglas Fairbanks Studio. Formada a Harold Lloyd Film Corporation (Harold Lloyd). Fundado o laboratório Consolidated Film Industries depois adquirido por Herbert J. Yates. Thomas Ince morre em circunstâncias misteriosas no iate de William Randolph Hearst.

1925 – Warner Bros. compra a Vitagraph. Samuel Goldwyn entra para a United Artists. Cecil B. De Mille torna-se sócio da PDC. Criada a Central Casting Corporation. Fundada a Astor Pictures, mais lembrada por suas reprises de filmes clássicos; nos anos 30 operou três subsidiárias (Vigilant Pictures, B n’ B Film Corporation e Promotional Films, Inc) e, em 1936, formou a Astor Productions, Inc.  Introduzida a câmera Eyemo, destinada para a filmagem de jornais cinematográficos; seria muito usada pelos cameramen de combate durante Segunda Guerra Mundial.

1926 – Formadas a Electrical Research Products, Inc. (ERPI) e a Vitaphone Corporation. Estréia do vitafone: Don Juan / Don Juan (Dir: Alan Crosland). Organizado o Walt Disney Studio, que se transformaria depois na Walt Disney Productions. A Fragata Invicta / Old Ironsides (DIr: James Cruze) apresenta duas cenas em um processo chamado magnascope, no qual uma lente especial é colocada no projetor, produzindo uma imagem mais larga. Joseph Schenck assume o controle da United Artists. Joseph P. Kennedy compra a FBO. As companhias americanas Paramount e MGM emprestam 4 milhões de dólares para a Ufa em troca da utilização dos estúdios, cinemas e pessoal da firma alemã; o efeito mais imediato do acordo Parufamet foi a migração de artistas e técnicos alemães para Hollywood. Outros acordos parecidos: Universal / Terra, United Artists / Rex, MGM / Phebus. Publicado A MIllion and One Nights, de Terry Ramsaye.

1927 – A Warner Bros. lança o cinema falado com O Cantor de Jazz / The Jazz Singer (Dir: Alan Crosland). Fox-Movietone News é o primeiro jornal cinematográfico sonoro. A MPPDA estabelece um “Código de Pureza” (administrado pelo seu Studio Relations Committee – SRC, sob a direção de Jason J. Joy) baseado na fórmula conhecida como “Don´ts and Be Carefuls, porque enumerava 11 itens que “não poderiam aparecer nos filmes sem consideração da maneira pela qual fossem tratados” e 26 outros assuntos “com respeito aos quais os produtores teriam de tomar um cuidado especial para que a vulgaridade e e a sugestionabilidade pudessem ser eliminadas”. Criada a Academy of Motion Picture Arts and Sciences (AMPAS). Formada a Mascot Pictures. Formada a Mascot Pictures Corporation (Nat Levine). Inaugurado em Los Angeles o cinema Chinese de Sid Grauman. Marcus Loew morre e Nicholas M. Schenck torna-se presidente da Loew´s, Inc. Reorganizada a Educational Films Corporation agora com o nome de Educational Films, Inc., para produzir comédias.  Filme pancromático substitui o filme ortocromático, que esteve em uso durante a maior parte da era silenciosa. Fundada a Mole-Richardson Co. (Peter Mole), a mais conhecida fabricante de equipamentos de iluminação para os estúdios. Surgem os jornais cinematográficos falados Paramount News, Fox-Movietone News e Hearst-Metrotone News, depois News of the Day.

1928 – Paramount, Loew´s e United Artists adotam o sistema movietone de som ótico. Formada pela RCA (Radio Corporation of America) a Radio-Keith-Orpheum Corporation (RKO), pela fusão da FBO com o circuito de cinemas Keith-Albee-Orpheum; William LeBaron chefe da produção. William Fox tenta comprar a Loew´s, Inc. para criar a maior companhia da indústria. Darryl Zanuck chefe da produção na Warner Bros., que compra a cadeia de cinemas Stanley. Realizada a primeira cerimônia de entrega dos Oscar. Luzes de Nova York / Lights of New York (DIr: Brian Foy), primeiro filme inteiramente falado. Walt Disney lança seu primeiro filme com o camundongo Mickey, a princípio chamado Mort

1929 – Warner Bros. compra a First National Pictures. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos impede a fusão da Fox com a Loew´s. A Fox experimenta o sistema de tela larga Grandeur, desenvolvido por Earl Sponable; a MGM introduz o Realife; a Warner, o Vitascope 65mm; a Paramount, o Magnafilm 56mm; a RKO, o Spoor-Berggren 63.5mm. Formada a SonoArt-World Wide Pictures, Inc. (J. Douglas Watson); a partir de 1932 denominada apenas World Wide Pictures e presidida por E. W. Hammons. Carl Laemmle Jr. C hefe da produção da Universal. Primeirofilme inteiramente iluminado por lâmpadas de tungstênio, substituindo os arcos de carbono conhecidos como Klieg Lights: Broadway / Broadway (Dir: Paul Fejos). Sai o primeiro International Motion Picture Almanac. Astros da década: Renée Adorée, Agnes Ayres, Vilma Banky, John Barrymore, Richard Barthelmess, Monte Blue, Eleanor Boardman, Clara Bow, Evelyn Brent, Betty Bronson, Nancy Caroll, Charles Chaplin, Lon Chaney, Betty Compson, Dolores Costello, Dolores Del Rio, Richard Dix, Billie Dove, Douglas Fairbanks, Charles Farrell, Pauline Frederick, Janet Gaynor, John Gilbert, Dorothy Gish, Lillian Gish, Jetta Goudal, Corinne Griffith, William Haines, Buck Jones, Leatrice Joy, Buster Keaton, Norman Kerry, Laura La Plante, Bert Lytell, Harold Lloyd, Thomas Meigham, Adophe Menjou, Tom Mix, Colleen Moore, Owen Moore, Mae Murray, Pola Negri, Ramon Novarro, Mary Pickford, Marie Prevost, Rod La Roque, Gloria Swanson, Milton Sills, Norma Talmadge, Estelle Taylor, Alice Terry, Rudolph Valentino e Florence Vidor.

1930 – William Fox perde o controle da Fox Film Corporation. Paramount-Famous-Lasky Corporation torna-se Paramount Publix e estende sua cadeia de cinemas. Formadas a Majestic Pictures Corporation (Phil Goldstone e Larry Darmour) e a Monogram Productions, Inc.  (a origem da companhia data de 1924 quando W. Ray Johnston, em colaboração com um grupo de exibidores independentes, criou a Rayart Productions, agora reorganizada); W. Ray Johnston presidente, Trem Carr chefe da produção. Hollywood Reporter começa a ser publicado. De 1930 aos meados dos anos 50, a Paramount, Loew´s, Fox, Warner Bros. e RKO dominariam a indúst

1931 – A Depressão começa a afetar a indústria do cinema. Por causa de suas dívidas com aquisição de cinemas as majors cortam seus custos. RKO compra a Pathé. Publicado History of the American Film de Benjamin B. Hampton.

1932 – Inaugurado o Radio City Music Hall. Formada a Mayfair Pictures Corporation (Ralph N. Like). Lillian “Peg” Entwhistle, jovem artriz de teatro malsucedida no cinema, comete suicídio saltando do topo da letra “H” do letreiro Hollywoodland. Introduzido o filme e a câmera de 8mm. O desenho animado curto de Walt Disney, Flores e Árvores / Flowers and Trees, é o primeiro em technicolor de três cores. Introduzido o rotambulator da Bell & Howell (uma grua colocada sobre uma plataforma de tripé sobre rodas).

1933 – Darryl Zanuck deixa a Warner Bros. e forma (com a ajuda financeira de Nicholas Schenck e Louis B. Mayer) a Twentieth Century; Joseph Schenck, irmão de Nicholas, presidente, William Goetz, genro de Mayer, executivo do estúdio. Formada a Pioneeer Pictures, Inc. (John Hay “Jock” Whitney), para produzir filmes em technicolor, que serão distribuídos pela RKO. Surge o primeiro drive-in em New Jersey. Formada a Lone Star Productions (Paul W. Malvern). Criada a Screen Writers Guild. Introduzido o Fox Velocitator, rotambulator mais aperfeiçoado, construído pela Fearless Camera Company.

1934 – Organizada a National Legion of Decency. O Federal Council of the Churches of Christ in America e a Conference of American Rabbis recomendam respectivamente aos protestantes e judeus todo apoio à cruzada católica, nos seus esforços de condenar os filmes imorais. A MPPDA designa Joseph Breen para chefiar a Production Code Admistration. Inaugurado o Café Trocadero em Hollywood. Formada a Ambassador Pictures, Inc. (Maurice Conn). Short da Pioneer, La Cucaracha / La Cucaracha (Dir: Jack Perez) é primeiro filme de ação ao vivo em technicolor de três cores.

1935 – Paramount é reorganizada, tornando-se Paramount Pictures, Inc. Fusão da Twentieth Century com a Fox Film Corporation, resultando a 20th Century-Fox; Joseph Schenck presidente do Conselho de Administração, Darryl Zanuck chefe da produção. Ernest Lubitsch chefe da produção na Paramount. Formada a Selznick International Pictures (David O. Selznick, distribuindo seus filmes pela United Artists. RCA vende metade de suas ações da RKO para Floyd Odlum da Atlas Corporation. Herbert J. Yates promove a fusão da Monogram com a Mascot, resultando a Republic Pictures Corporation. Nat Levine presidente. Criado o New York Film Critics Circle. Primeiro filme de longa-metragem no processo technicolor de três cores: Vaidade e Beleza / Becky Sharp (Dir: Rouben Mamoulian).  Formada a Victory Pictures Corporation (Sam Katzman). Sai a legendária manchete de primeira página de Variety, anunciando que os habitantes do Meio-Oeste estavam dispostos a pagar para ver filmes mais sofisticados: “Sticks Nix Hick Pix”.

1936 – Morre Irving Thalberg. Carl Laemmle vende a Universal para a Standard Capital Company. Formadas a Grand National Films, Inc. (por ex-executivos da Pathé) e a Walter Wanger Productions, Inc (Walter Wanger). Fusão da Pioneer Pictures, Inc. com a Selznick International. Barney Balaban presidente da Paramount. Walt Disney muda a distribuição de seus filmes da United Artists para a RKO. Fundada a Screen Directors Guild. As características do rotambulator e do velocitator são combinadas na Panoram Dolly. Patenteado o processo de filme duas cores hirlicolor (George HIrliman), depois de chamado de magnacolor.

1937 – Lançamento do primeiro desenho animado de Walt Disney em longa-metragem, Branca de Neve e os Sete Anões / Snow White and the Seven Dwarfs; na dublagem brasileira: Dalva de Oliveira, Carlos Galhardo, Almirante e Os Trovadores. Herbert J. Yates presidente da Republic; Trem Carr e W. Ray Johnston saem para ressuscitar a Monogram. Pandro S. Berman chefe de produção na RKO. O processo cinerama é visto pela primeira vez na New York World´s Fair como nome de vitarama. Walt Disney usa pela primeira vez a câmera multiplana no desenho curto O Velho Moinho / The Old Mill. Organizada a Frontier Films como uma companhia sem fins lucrativos para a produção de documantários com tendência esquerdista. Fox é o primeiro estúdio a explorar sistematicamente o rádio para promover filmes.

1938 – O Departamento de Justiça dos Estados Unidos inicia uma ação antitruste contra as majors, que fica conhecida como “caso Paramount” porque esta companhia encabeça o pólo passivo da lide. Formada a Edward Small Productions, Inc. (Edward Small). George Schaefer presidente e chefe da produção na RKO.

1939 – “O Grande Ano de Hollywood”. A indústria de cinema emprega 177.420 pessoas. Frequência média semanal de 85 milhões de espectadores. Publicado The Rise of the American Film, de Lewis Jacobs. Astros da década: Fred Astaire, Warner Baxter, Wallace Beery, James Cagney, Eddie Cantor, Ruth Chatterton, Maurice Chevalier, Claudette Colbert, Ronald Colman, Joan Crawford, Bette Davis, Marlene Dietrich, Melvyn Douglas, Marie Dressler, Irene Dunne, Nelson Eddy, Alice Faye, W. C. Fields, Errol Flynn, Kay Francis, Clark Gable, Greta Garbo, Oliver Hardy, Jean Harlow, Olivia de Havilland, Helen Hayes, Sonja Henie, Katharine Hepburn, Miriam Hopkins, Al Jolson, Stan Laurel, Vivien Leigh, Carole Lombard, Myrna Loy, Jeanette MacDonald, Fredric March, Herbert Marshall, Marx Brothers, Edward G. Robinson, Ginger Rogers, Will Rogers, Norma Shearer, Sylvia Sidney, Barbara Stanwyck, Margaret Sullavan, Robert Taylor, Shirley Temple, Spencer Tracy, Loretta Young, Johnny Weissmuller e Mae West.

1940 – A ação antitruste é suspensa por um acordo judicial (Consent Decree), pelo qual as majors se comprometem a reduzir o tamanho dos pacotes vendidos aos exibidores. Hays Office forma o Motion Picture Committee Cooperating for National Defense. House Committee of Un American Activities (HUAC) do Congresso Americano conduz sua primeira investigação em Hollywood. Formada a Producers Releasing Corporation – PRC como subsidiária da Pathé Laboratories. Inc. MGM lança o primeiro desenho de Tom e Jerry. Formada a Pine-Thomas Corporation (William C. Thomas e William H. Pine). Inaugurada a boate Ciro´s em Hollywood. Mike Romanoff, com ajuda financeira de Cart Grant, Jock Whitney, Jack Warner, Robert Benchley e Darryl Zanuck, abre o restaurante Romanoff´s em Rodeo Drive, Beverly Hills; outros restaurantes famosos: Brown Derby, Chasen, Cock and Bull, Perino´s etc. Mills Novelty Company de Chicago introduz as máquinas do tipo jukebox com pequenas telas nos restaurantes e bares, para exibirem os Soundies, filmes musicais de três minutos, produzidos pela R.C. M. Productions (James Roosevelt, Sam Coslov e Gordon Mills).

1941 – O presidente Roosevelt declara que os filmes não serão objeto de censura durante a guerra. Após o ataque japonês, é constituído o War Activities Committee (WAC). Joseph Schenck condenado a um ano de prisão por fraude fiscal e corrupção de dirigentes sindicais; Spyros Skouras presidente da 20th Century-Fox. Samuel Goldwyn encerra sua associação com a United Artists e passa a distribuir seus filmes pela RKO. Walt Disnet usa o processo fantasound em Fantasia / Fantasia, uma forma de som estereofônico. Linwood Dunn concebe uma truca (optical printer), construída pela Acme Tool and Manufacturing Company; o invento de Dunn foi tão significativo que mereceu um Oscar em 1944, e outro, por uma versão mais aperfeiçoada, em 1980. William Randoplph Hearst tenta impedir o lançamento de Cidadão Kane / Citizen Kane (DIr: Orson Welles); Louis B. Mayer propõe à RKO comprar o negativo, para destruí-lo. David O. Selznick torna-se sócio da United Artists. Desenvolvido na Europa pelo Dr. Bela Gaspar, o processo gasparcolor é introduzido nos Estados Unidos, tornando-se conhecido através dos Puppetoons (animação como bonecos de madeira). Inauguração da boate Mocambo em Hollywood. Bette Davis é a primeira mulher eleita presidente da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas.

1942 – Organizado o Bureau of Motion Pictures como parte do Office of War Information (OWI), para promover a produção de filmes sobre os Estados Unidos e as “outras” Américas, distribuindo-os nos países latino-americanos. Floyd Odlum compra o controle da RK). Joseph Breen volta para o Hays Office.

1943 – Os cinemas participam da venda de bônus de guerra. A contribuição para o esforço de guerra inclui a realização de filmes pró-Rússia. Fomadas a International Pictures (William Goetz e Leo Spitz) e a Film Classics, Inc. (Irving Shapiro). Criada a Hollywood Foreign Press Association, Inc. como Hollywood Foreign Press Correspondents Association que, em 1946, intituirá os Golden Globes Awards.

1944 – Departamento de Justiça reativa a ação antitruste. Hal Wallis Productions distribui seus filmes pela Paramount. Criada a Motion Picture Alliance for the Preservation of American Ideals. Formada a Lippert Pictures (Robert L.  Lippert).

1945 – Will Hays se aposenta; seu sucessor, Eric Johnston. Muda o nome da associação comercial da indústria para Motion Picture Association of America (MPAA). Organizada a Screen Extras Guid. Formadas a Liberty Films, Inc. (Frank Capra, William Wyler, George Stevens e Sam Briskin); a Vanguard Films, Inc. (David O. Selznick e Daniel T.O’ Shea); e a Mark Hellinger Productions, Inc. (Mark Hellinger). Confronto de dois organismos sindicais rivais, International Alliance of Theatrical Stage Employees (IATSE) e Conference of Studio Unions (CSU). Formada a United Productions of America (Stephen Bosustow), responsável pelos cartoons de Gerald McBoing Boing e Mister Magoo; em 1956 a companhia mudou seu nome para UPA Pictures, Inc.

1946 – Ano mais lucrativo da indústria, com 232 milhões de dólares de receitas domésticas. Fusão da Universal com a Internatioal Pictures, resultando na Universal International; William Goetz e Leo Spitz, chefes de produção. Formadas a Emterprise Productions, Inc. (David Loew e Charles Einfeld); a Diana Productions (Walter Wanger, Joan Bennett e Fritz Lang); a Allied Artists, subsidiária da Monogram (Steve Broidy); e a Eagle-Lion Films, Inc., distribuidora da companhia inglesa J. Arthur Rank; o nome Eagle-Lion será comprador depois por Arthur Krim e Robert Young, para uma companha produtora formada no mesmo ano (Brian Foy, chefe da produção).

1947 – HUAC prossegue suas investigações sobre a “infiltração comunista na indústria de cinema”. O governo federal move uma ação antitruste contra a Technicolor. Warner Bros. compra o jornal cinematográfico RKO-Pathe´. Dore Schary chefe da produção na RKO. David O. Selznick vende suas ações da United Artists e passa a distribuir seus filmes por conta própria. Formadas a Argosy Pictures Corporation (John Ford e Merian C. Cooper) e a Horizon Pictures (Sam Spiegel e John Huston). Fundação do Actor´s Studio, Inc. (Cheryl Crawford, Robert Lewis e Elia Kazan); Lee Strasberg diretor artístico de 1952 a 1982.

1948 – Decisão da Suprema Corte sobre o “caso Paramount”, ordenando o “divórcio” dos cinemas das majors de suas operações de produção e distribuição. Dore Schary chefe da produção na MGM. Eagle-Lion absorve a PRC. RKO Theatres Corp. Sucessora dos cinemas da RKO. O cinema Pantages em Hollywood exibe em sua tela a transmissão pela TV das corridas de cavalos de Santa Monica. Howard Hughes assume o comando da RKO. Formada a Rampart Productions, Inc. (William Dozier). Todos os estúdios fazem três minutos de silêncio durante o funeral de D. W. Griffith, ao qual compareceram, entre outros, Charles Chaplin, John Ford e Erich von Stroheim.

1949 – Formado o Motion Picture Industry Council, para manter Hollywood livre do comunismo, membros mais ativos: Roy Brewer (presidente da IATSE), Ronald Reagan, Dore Schary e Cecil B. De Mille. United Paramount Theatres, Inc. sucessora dos cinemas da Paramount. Astros da década: June Allyson, Don Ameche, Dana Andrews, Gene Autry, Anne Baxter, Joan Bennett, Ingrid Bergman, Humphrey Bogart, Charles Boyer, Gary Cooper, Jeanne Crain, Bing Crosby, Linda Darnell, Deanna Durbin, Douglas Fairbanks Jr., Henry Fonda, Joan Fontaine, Ava Gardner, John Garfield, Judy Garland, Greer Garson, Paulette Goddard, Cary Grant, Betty Grable, Rita Hayworth, Bob Hope, Jennifer Jones, Danny Kaye, Alan Ladd, Veronica Lake, Hedy Lamarr, Dorothy Lamour, Burt Lancaster, Ida Lupino, Fred MacMurray, Ray Milland, Robert Mitchum, Robert Montgomery, Maureen O´Hara, Laurence Olivier, John Payne, Gregory Peck, Roy Rogers, Mickey Rooney, Robert Ryan, Lizabeth Scott, Ann Sheridan, Red Skelton, Gene Tierney, Lana Turner, John Wayne e Esther Williams.

1950 – Os “Dez de Hollywood” são encarcerados. Ação antitruste contra a Technicolor termina com um acordo judicial; a firma de Herbert Kalmus se obriga a colocar suas patentes ao dispor de outras companhias. Formadas a American Cinema Editors, Inc. (ACE) e a Screen Producers Guild. Filme de acetato (triacetate safety film) substitui o filme de nitrato (nitrate film). Frank Freeman chefe de produção na Paramount. Introduzido o eastmancolor. Formada a Filmakers, Inc. (Collier Young e Ida Lupino).

1951 – Louis B. Mayer pede demissão da MGM; Dore Schary chefe do estúdio. Arthur Krim e Robert Benjamin assumem o controle da United Artists. Fusão da Eagle-Lin Films, Inc. com a Film Classics, Inc. para formar a Eagle-Lion Classics; no ano seguinte cessa a produção e o acervo de filmes é absorvido pela United Artists. Formada a Batjac Productions, Inc. (John Wayne e Robert Fellows). National General Corp. e Stanley Warner Corp. respectivamente sucessoras dos cinemas da 20th Century-Fox e da Warner Bros. Testado o phonevision, primeira experiência de exibição de filmes em TV paga. Criado o Patsy Awards pela American Humane Association, para homenagear os astros animais do cinema.

1952 – A Suprema Corte decide que os filmes são protegidos pela Primeira Emenda. Columbia forma a subsidiária Screen Gems, para produzir filmes para a televisão. Decca Records compra a Universal; Milton Rackmill presidente, Edward Muhl chefe da produção. United Artists lança o primeiro filme em 3-D, Bwana, o Demônio / Bwana Devil (DIr: Arch Oboler). Formada a Filmways, Inc. (Martin Ransohoff). Cinerama estréia em Nova York como Isto é Cinerama / This is Cinerama, surgindo depois o thrillerama, wonderama, circarama e quadrivision. Screen Actors Guild negocia o primeiro contrato propiciando o pagamento de direitos residuais aos atores que participaram de filmes vendidos para a televisão. O programa de televisão de Edward R. Murrow, See it Now, é o primeiro a mostrar o making of de um filme, Hans Christian Andersen / Hans Christian Andersen (Dir: Charles Vidor).

1953 – 20th Century-Fox apresenta o primeiro filme em CinemaScope, O Manto Sagrado / The Robe (Dir: Henry Koster) Walt Disney forma sua própria companhia distribuidora, Buena Vista Distribution Company, Ltd. Monogram reorganizada como Allied Artists. Fundada a Magna Pictures Corporation para produzir, distribuir e exibir filmes no processo Todd-AO. Primeiro desenho curto de Walt Disney em CinemaScope, O Tatá, o Fifi, o Plin e o Chibun / Toot, Whistle, Pluck and Boom.

1954 – Screen Writers Guild torna-se Writers Guild of America. Formada a American Releasing Company (Samuel Z. Arkoff e James Nicholson). Paramount lança Natal Branco / White Christmas (Dir: Michael Curtiz) em Vistavision. Joseph Breen se aposenta: seu successor é Geoffrey Shurlock. Formada a Panavision, Inc. (Robert Gottschalk). Introduzido pela. Eastman Kodak o filme pancromático negativo Tri-X. Bausch & Lomb (fundada em 1853 como fabricante de óculos) fornece lentes para o CinemaScope; outras contribuições para o cinema foram as lentes do cinetoscópio de Edison; as lentes Cinephor para projeção; as lentes para câmeras Raytar e Baltar etc.

1955 – O processo Todd-AO estréia com Oklahoma! / Oklahoma! (Dir: Fred Zinnemann). Howard Hughes vende a RKO para a General Teleradio, Inc., subsidiária da General Tire and Rubber Company; William Dozier chefe da produção. Mary Pickford e Charles Chaplin vendem suas últimas ações da United Artists. Arthur Loew, filho de Marcus Loew, assume a presidência da Loew´s, Inc. Formada a Bryna Company (Kirk Douglas). Inauguração da Disneyland em Anaheim, Califórnia.

1956 – O Código de Produção é revisado para permitir referências a drogas, prostituição, aborto e sequestro em certas circunstâncias. Darryl Zanuck produtor independente; Buddy Adler chefe da produção na 20th Century-Fox. Harry e Albert Warner vendem suas ações da Warner Bros.; Jack Warner fica com as suas e é eleito presidente da companhia. Jornal cinematográfico Warner-Pathé encerra suas atividades. Joseph Vogel presidente da Loew´s, Inc.  American Releasing Corporation reorganizada como American International Pictures (AIP). Formada a Hetch-Hill-Lancaster (Harold Hetch, James Hill, Burt Lancaster). Schwab´s Drugstore, legendário ponto de encontro das celebridades de Hollywood, faz um leilão de vários de seus acessórios.

1957 – RKO encerra suas atividades como produtora de filmes para os cinemas. United Artists adquire os direitos de distribuição dos filmes da Warner Bros. anteriores a 1948. Formada a Hanna-Barbera Productions (William Hanna, Joseph Barbera, ex-chefes do departamento de desenhos animados da MGM, responsáveis pelos cartoons de Tom e Jerry). Paramount News cessa suas atividades. Primeiro filme em technirama: Aconteceu em Monte Carlo / The Monte Carlo Story (Dir: Samuel Taylor).

1958 – Estúdio da RKO comprado pela Desilu Productions.  Formada a Mirisch Corporation (Harold, Walter e Marvin Mirisch). Republic Pictures encerra suas atividades. MCA, Inc (Music Corporation of America) compra o acervo de filmes da Paramount. Introdução do gravador portátil Nagra (Stefan Kudelski), que se tornaria o equipamento de preferência em Hollywood nos anos 60.

1959 – Loew´s última companhia a completar o “divórcio” entre exibição e produção. Fusão da Decca com a MCA. Sam Briskin escolhido para dirigir a Columbia Pictures. Sol C. Siegel chefe da produção na MGM. Formada a Embassy Pictures Corporation (Joseph E. Levine). Astros da década: Carrol Baker, Stephen Boyd, Marlon Brando, Richard Burton, Jeff Chandler, Cyd Charisse, Montgomery Clift, Tony Curtis, Doris Day,Yvonne De Carlo, James Dean, Sandra Dee, Kirk Douglas, Glenn Ford, Stewart Granger, Susan Hayward, Audrey Hepburn, Charlton Heston, William Holden, Judy Holliday, Rock Hudson, Jeffrey Hunter, Grace Kelly, Gene Kelly, Deborah Kerr, Janet Leigh, Jack Lemmon, Jerry Lewis, Joel McCrea, Dean Martin, Victor Mature, Marilyn Monroe, Audie Murphy, Don Murray, Paul Newman, Kim Novak, Eleanor parker, Anthony Perkins, Jean Peters, Sidney Poitier, Elvis Presley, Lee Remick, Debbie Reynolds, Eva Marie Saint, Randolph Scott, Frank Sinatra, Jean Simmons, James Stewart, Elizabeth Taylor, Robert Wagner, Richard Widmark,  Cornel Wilde, Natalie Wood e Joanne Woodward.

 

A BREVE TRAJETÓRIA ARTÍSTICA DE RUDOLPH VALENTINO

agosto 17, 2022

Ele não foi um grande ator, mas se tornou um grande astro, o ídolo romântico mais bem definido que o cinema criou, primeiro latin lover adorado pelas fãs, que não davam a mínima para o que os críticos diziam sobre ele. Neste artigo exponho sumariamente seu percurso artístico, omitindo vários episódios de sua vida particular e questionamentos sobre sua masculinidade.

Rudolph Valentino

Rodolfo Pietro Filiberto Raffaelle (1895 – 1926) nasceu em Castellaneta, comuna italiana da região de Apúlia, província de Taranto, filho de Giovanni e Gabriella Guglielmi. Sua mãe era francesa, nascida na Lorena com o sobrenome de Barbin e seu pai exercia a profissão de veterinário, muito conceituado na sua área.  Quando jovem, Rodolfo insistia que era descendente de aristocratas e acrescentava os nomes adicionais di Valentina d’ Antonguolla antes do sobrenome Guglielmi. Mas eles não constam de sua certidão de nascimento ou de batismo.

Quando Rodolfo tinha nove anos de idade, sua família se mudou de Castellaneta para Taranto, porque Giovanni queria progredir na carreira devotando mais tempo à sua pesquisa sobre a malária. Um ano depois ele faleceu quando, no curso de uma de suas experiências, contraiu a doença que esperava ajudar a erradicar.

Enquanto viveu, o prudente Giovanni havia contribuído para um fundo que qualificaria seu filho para estudar em uma escola especial em caso de sua morte. Assim, aos doze anos de idade, Rodolfo partiu para Perugia, capital da província de Umbria ao norte de Roma, onde havia sido fundado o Collegio Convitto per gli Orfani dei Santari Italiani (Colégio para Orfãos dos Profissionais de Saúde Italianos), escola técnica que preparava jovens para trabalhar como mecânicos, engenheiros ou contadores. Entretanto, seus tempos de estudante em Perugia terminaram desastrosamente por causa de sua indisciplina.

Ao saber que Rodolfo ia ser expulso, sua mãe retirou-o do internato e, como ele gostava de barcos e porque havia demonstrado habilidade em consertar motores e máquinas na escola de Perúgia, decidiu que seu filho iria prestar exame de admissão para uma escola técnica naval em Veneza.  Rodolfo passou no exame escrito, mas não no físico. Foi um golpe devastador para aquele rapaz de quinze anos de idade.

Animado pela mãe, ele se inscreveu e foi aceito pelo Istituto di Agraria di Sant’Ilario Ligure em Nervi, pequena cidade de Gênova. Rodolfo conseguiu se formar nesta escola de agricultura, porém não conseguiu emprego e passou a dormir tarde e a perambular de dia pelas praças e pelo cais de Taranto. À noite, procurava a companhia dos artistas da companhia de operetas, que se apresentava na cidade. Sua distração predileta, além dos carros, era a dança. Ele se movia pela pista de dança com uma graça rítmica elegante e, aos dezessete anos de idade, percebeu que sua habilidade como dançarino impressionava as mulheres. Outra qualidade sua era a cortesia, mas em Taranto começou a sentir cada vez mais que tal delicadeza nunca seria reconhecida plenamente e, usando o dinheiro herdado do pai, partiu de trem para Paris em 1912. Na Cidade-Luz frequentou cafés onde predominavam a dança apache e o tango argentino, apaixonando-se por este estilo musical à primeira vista.

Quando o dinheiro acabou, Rodolfo telegrafou para sua mãe pedindo refôrço financeiro e, ao receber o numerário, partiu para Monte Carlo, onde perdeu tudo no jôgo. De retorno à terra natal, voltou à vida ociosa e inútil de antes. Seus familiares então o convenceram de que devia se afastar de Taranto o mais longe possível e foi assim que ele chegou em Nova York aos dezoito anos de idade a bordo do vapor S. S. Cleveland.

Depois que o dinheiro que trouxe acabou, ele se sustentou fazendo biscates, trabalhando como garçom, lavador de carros etc. e acabou encontrando emprego como taxi dancer (dançarino de aluguel) no Maxim´s Restaurant – Cabaret do suíço Julius Keller, encontrando ainda tempo para dar lições de dança particulares em um quarto no andar de cima do restaurante. Rodolfo ganhou tantos aplausos na pista de dança que logo teve a chance de subir para uma posição mais visível e respeitável como dançarino de exibição.

Ao longo do caminho, ele começou a conhecer pessoas no teatro e fez uma primeira e tímida incursão no mundo do cinema como movie “dress” extra (figurante que fornece seu próprio guarda-roupa, ganhando cinco dólares por cada dia de filmagem), tendo oportunidade de ver como os filmes eram feitos e conhecer alguns atores e diretores. Não se sabe exatamente quando estreou na tela. O mais provável é que seu primeiro trabalho como figurante foi como um cossaco russo no filme da Vitagraph de 1914, My Official Wife (Dir: James Young) estrelado por Clara Kimball Young. Ele trabalharia ainda como extra em: 1916 – Através da Vida / The Quest of Life (Dir: Ashley Miller); Seventeen (Dir: Robert G. Vignola); The Foolish Virgin (Dir: Albert Capellani). 1917 – Patria / Patria (seriado Dir: Leopoldo e Theodore Wharton); Alimony (Dir: Emmet J. Flynn). Todos, salvo Patria, eram de 5 ou 6 rolos.

Valentino e Mae Murray

Além de figurar nos filmes, Rodolfo continuou dançando à noite em vários restaurantes além do Maxim’s e no Knickerbocker Hotel (onde teve por parceira Mae Murray, futura estrela de A Viúva Alegre / The Merry Widow / 1925 de Erich von Stroheim), formando depois dupla com uma próspera dançarina de salão, Bonnie Glass, depois que o parceiro desta, Clifton Webb, lhe deu aviso prévio. Ele dançou com Bonnie nos clubes que ela abriu, Café Montmartre e depois Chez Fysher e, quando Bonnie se aposentou, formou par com outra rainha da dança de exibição, Joan Sawyer, excursionando por várias cidades e finalmente se apresentando diante do Presidente Wilson em Washington.

Rodolfo conheceu uma socialite chilena muito rica, Bianca de Saulles, que estava infeliz no seu casamento com um empresário, John de Saulles. Não se sabe se tiveram uma relação romântica, mas quando John de Saulles pediu o divórcio, Rodolfo prestou depoimento a favor dela. Após o divórcio, John de Saulles usou suas conexões políticas para que Rodolfo fosse preso juntamente com uma cafetina, Mrs. Thyme, acusados de serem sócios de um bordel e terem subornado um policial por proteção. As provas eram frágeis, Rodolfo pagou fiança, e foi libertado. Depois deste escândalo muito divulgado, ele não conseguiu emprego. Pouco depois do julgamento, Bianca matou seu ex-marido durante uma disputa pela guarda do filho do casal. Com medo de ser chamado para depor em outro julgamento sensacional, Rodolfo saiu da cidade e se juntou a um musical itinerante, The Masked Model, que o levou para a Califórnia. Como tinha pouca experiência teatral, começou de baixo, serviu também como substituto do ator principal. A certa altura, por razões desconhecidas, deixou o elenco e ficou em San Francisco.

Novamente desempregado, não teve outro recurso senão voltar ao seu passado de taxi dancer e professor de dança. Depois, tentou ganhar a vida como vendedor de títulos de crédito; porém, em 5 de junho de 1917 o alistamento militar começou e as pessoas só queriam comprar bônus de guerra. Como tinha tido aulas de vôo em Nova York, Rodolfo pensou em ser aceito no Royal Canadian Flying Corps; mas eles o rejeitaram como fisicamente desqualificado.

Na ocasião em que um dos filmes de propaganda de Mary Pickford, A Intrépida Americana / The Little American / 1917, estava sendo parcialmente filmado em San Francisco, Rodolfo reencontrou seu antigo colega na escola de aviação em Nova York, Norman Kerry, que lhe prestou ajuda financeira e o apresentou a pessoas importantes nos estúdios, mas os papéis na tela demoraram a se materializar e ele voltou a se apresentar como dançarino de exibição. Quando Fanchon, da dupla Fanchon e Marco (seus verdadeiros nomes eram Fanny e Mike Wolff) perdeu seu parceiro para o exército, Rudy substituiu-o nas suas apresentações no Tait´s Café em Los Angeles.

Posteriormente formou um par com outras dançarinas como Marjorie Tain e Kitty Phelps e por fim voltou aos estúdios, agora já fazendo ora figuração, ora pequenos papéis nos filmes: 1918 – A Sensação Social / Society Sensation (Dir: Paul Powell); Uma Idéia Feliz ou Uma Noite Como Poucas / All Night (Dir: Paul Powell); The Married Virgin (Dir: Joseph Maxwell). 1919 – Irresistível Helena ou Nos Cabarés de Nova York / Delicious Little Devil (Dir: Robert Z. Leonard); Virtuous Sinners (Dir: Emett J. Flynn); Repudiada / The Big Little Person (Dir: Robert Z. Leonard); Amores de um Ladrão ou Romance de um Apache / A Rogue’s Romance (Dir: James Young); Pacto Astucioso / The Homebreaker (Dir: Victor Schertzinger); Negra Profecia / Out of Luck / Nobody Home (Dir: Elmer Clifton); Olhos da Juventude / Eyes of Youth (Dir: Albert Parker). 1920 – Ilha dos Amores / An Adventuress, originariamente intitulado Over the Rhine, estrelado pelo travesti Julien Eltinge em papel duplo masculino-feminino como Jack Perry e Elsa Von Bohm (Dir: Fred J. Balshofer); Paixões Indomáveis / Passion´s Playground (Dir: J. A. Barry); A Embusteira / The Cheater (Dir: Henry Otto); Ambição / Once to Every Woman (Dir: Allen Holubar); The Wonderful Chance (Dir: George Archainbaud); Stolen Moments (Dir: James Bennet). Todos de 5 ou 6 rolos. Neles, Rodolfo começou a constar nos créditos sob vários nomes: Rodolpho De Valentina, Rodolfo di Valentina, Rodolfo De Valentini, Rudolpho De Valintine, Rodolphe De Valentina, Rudolph Valentino, Rodolph Valentine, Rudolfo Valentino, Rodolpho de Valentina, Rudolphe Valentine, Rodolfo di Valentino, Rudolph de Valentino, Rudolph Valentine.

Jean Acker e Valentino

Outros acontecimentos neste período de sua vida foram uma aparição no palco como dançarino ao lado de Carol Dempster em um prólogo para o filme de D. W. Griffith, O Tambor da Vitória / The Greatest Thing in Life e seu primeiro encontro com Jean Acker, jovem atriz da Metro. O casamento misterioso deles foi objeto de muito mexerico (Jean teria batido a. porta no nariz de seu noivo na noite de núpcias, dizendo que tudo fôra um erro horrível). Confuso e infeliz com o fracasso de seu matrimônio Valentino continuou trabalhando e tentando se tornar mais conhecido.

Valentino e Clara Kimball Young em Olhos da Juventude

O papel que o tirou de seu aprendizado e o colocou em primeiro plano foi o de um parasita frequentador de cabaré chamado Clarence Morgan, contratado por um marido a armar uma cilada a fim de colocar sua virtuosa esposa em uma situação comprometedora. Foi apenas uma breve intervenção em Olhos da Juventude, mas ele convenceu a roteirista June Mathis de que poderia interpretar um papel importante em uma próxima grande produção da Metro Pictures Corporation.

Alice Terry e Valentino em Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse

Quando Valentino leu em um dos jornais especializados que a Metro havia adquirido os direitos de filmagem do best seller de Vicente Blasco Ibanez The Four Horsemen of the Apocalypse e contratado June Mathis para cuidar da adaptação do romance para a tela, pensou que poderia haver um papel para ele no segmento passado na Argentina, porque o tango figurava com destaque na trama. Ao chegar no estúdio, ficou surpreso ao saber que Mathis estava à procura dele para desempenhar o papel principal do libertino Julio Desnoyers, neto favorito de Madariaga, o Centauro (Pommeroy Cannon), dono de várias fazendas na Argentina. O filme de 1921, com título brasileiro de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, tornou-se um empreendimento monumental: um milhão de dólares gastos, seis meses de filmagem, doze assistentes de diretores, quatorze cinegrafistas, milhares de figurantes. A intuição de June Mathis de colocar um ator desconhecido no papel principal (ao lado de Alice Terry) resultou em um dos filmes mais bem sucedidos de sua época, que deu um lucro de quatro milhões de dólares e lançou Rodolfo Valentino como “The Great Lover”, transformando-o em um grande ídolo da tela.

Outra Cena de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse

A direção de Ingram, um dos grandes pictorialistas do cinema mudo – que soube descrever com sensibilidade pictórica as ruas de Paris, a entrada dos alemães na aldeia destruída de Villebranche, a histeria e o terrores da guerra, os horrores do campo de batalha, o meio social, as visões do místico Tchernoff (Nigel De Brulier) quando ele tem a visão apocalíptica e a cena final impressionante no cemitério de guerra militar com suas fileiras de cruzes brancas – complementada pela pungência das cenas de guerra e pela fotografia sutil de John F. Seitz no mesmo nível das produções germânicas muito apreciadas na América, deu ao filme uma qualidade extraordinária.

Ainda em 1921, Valentino fez na Metro: Corações Cegos / Uncharted Seas (Dir: Wesley Rugles) com Alice Lake; Dama das Camélias / Camille (Dir: Ray C. Smallwood), adaptação do romance La Dame aux Camélias de Alexandre Dumas com Alla Nazimova (produtora do filme), agora definitivamente creditado como Rudolph Valentino; Eugenia Grandet / The Conquering Power (Dir: Rex Ingram), adaptação do romance Eugénie Grandet de Honoré de Balzac com Alice Terry.

Valentino e Alice Terry em Eugenia Grandet

Cena de Eugenia Grandet

O melhor destes foi Eugenia Grandet. Contando novamente com a colaboração de June Mathis, John F. Seitz e do par romântico Rudoph Valentino e Alice Terry, Ingram realizou outro filme plasticamente impecável e com belas cenas de amor. Porém é uma história intimista bem distante da linha espetacular do filme anterior. A velha casa decadente e claustrofóbica de Grandet com suas entradas e corredores escuros, quartos escuros e tristes, sótãos e porões empoeirados (com o detalhe da aranha andando sobre as cartas roubadas) espelha a atmosfera deprimente e grotesca do lugar e o estado d´alma dos personagens. Uma das cenas mais intensas da narrativa é a da alucinação do Père Grandet (Ralph Lewis), na qual dele vê mãos esqueléticas saindo das paredes e o fantasma da sua falecida esposa, até ser esmagado pelo cofre.  Gosto muito da cena em que Charles Grandet chega à casa dos Grandet. As famílias de Grandet e os pretendentes estão vestidos com roupas simples, a porta se abre, e surge Valentino com um terno muito bem cortado e um chapéu de coco suave, fumando um cigarro, carregando uma bengala magnífica e, na outra mão, segurando um pequeno poodle com uma correia. A tomada dura um certo tempo, para que o público possa contemplá-lo de alto a baixo e apreciar suas vestimentas e a sua postura elegante.

Valentino e Natacha Rambova

Durante a filmagem de Dama das Camélias, Valentino conheceu e se apaixonou pela exótica Natacha Rambova, que criou os figurinos e cenários bizarros e expressionistas e desta versão curiosa e estática do romance de Dumas. Embora fosse uma talentosa diretora de arte e estilista (além de bailarina), Rambova, segunda esposa de Valentino, é mais lembrada pelo efeito destrutivo que teve sobre sua carreira, fazendo exigências tão impossíveis aos estúdios e distorcendo seu julgamento pessoal a tal ponto, que foi depois – por fôrça do contrato – obrigada a cessar tal interferência. Eles se divorciaram em 1925.

Descontente com seu contrato com a Metro, Valentino transferiu-se para a Famous Players – Lasky (futura Paramount), atuando em: 1921 – Paixão de Bárbaro ou O Sheik / The Sheik (Dir: George Melford) com Agnes Ayres. 1922 – De Marujo a Comandante ou A Ferro e Fogo / Moran of the Lady Letty (Dir: George Melford) com Dorothy Dalton; Esposa Mártir / Beyond the Rocks (Dir: Sam Wood) com Gloria Swanson; Sangue e Areia / Blood and Sand (Dir: Fred Niblo) com Lila Lee, Nita Naldi; O Jovem Rajá / The Young Rajah (Dir: Philip Rosen) com Wanda Hawley. 1924 – Monsieur Beaucaire / Monsieur Beaucaire (Dir: Sidney Olcott) com Bebe Daniels, Lois Wilson, Doris Kenyon; O Pecador Divino / A Sainted Devil (Dir: Joseph Henaberry) com Nita Naldi.

Valentino e Agnes Ayres em Paixão de Bárbaro

Valentino estreou na Famous Players em Paixão de Bárbaro como o Sheik Ahmed Ben Hassan, que sequestra uma inglesa, Lady Diana (Agnes Ayres), mulher supostamente moderna e independente, e depois de tratá-la barbaramente, se apaixona por ela. Baseado em um romance de Edith M. Hull, este drama romântico passado no deserto do Sahara, continha cenas ridículas e uma interpretação falsa e exagerada de Valentino, mas foi o filme mais famoso e o papel mais memorável do ator, com o qual, graças a seu enorme carisma e sensualidade, ele atingiu um status legendário.

Valentino e Nita Naldi em Sangue e Areia

Tal como Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, Sangue e Areia foi baseado em um romance de Vicente Blasco Ibanez. Na trama, Valentino é o toureiro impetuoso Juan Gallardo, indeciso entre a devoção à sua santa esposa Carmen (Lila Lee) e o desejo por Doña Sol (Nita Naldi) uma mulher fatal, que encontra um fim trágico na arena. O filme foi outro grande sucesso, ainda mais lucrativo do que Paixão de Bárbaro, sendo muito lembrada a magnífica pantomima na cena da sedução entre Valentino e Nita Naldi.

Seu filme seguinte, O Jovem Rajá, foi um fracasso e Valentino começou a se voltar contra o estúdio, culpando-o pela produção de segunda classe e exigindo maior controle artístico sobre a realização de seus filmes. Ele entrou de greve e processou a Famous Players na Justiça. Precisamente porque seu astro valia muito dinheiro para empresa, ela contestou a ação e decidiu reunir toda a sua força para manter Valentino sob contrato enquanto outros estúdios o cortejavam. Joseph Schenck queria colocá-lo ao lado de sua esposa Norma Talmadge em uma versão de Romeu e Julieta e June Mathis, agora na Goldwyn Pictures e encarregada do projeto de Ben-Hur, desejava incluí-lo no elenco no papel principal depois concedido a Ramon Novarro.  Entretanto, a Famous Players exerceu judicialmente seu direito contratual que impedia Valentino de trabalhar para qualquer outro. Ele recorreu e seu recurso foi provido em parte: o tribunal decidiu que, embora não pudesse trabalhar como ator, poderia aceitar quaisquer outros tipos de emprego.

Em 1922, Valentino conheceu George Ullman, diretor de uma campanha de publicidade para uma companhia de cosméticos, Mineralava Beauty Clay Company. Ullman convenceu Valentino e Natasha a participar como dançarinos de uma tournée nos Estados Unidos e Canadá para promover os produtos e atuarem como juízes nos concursos de beleza patrocinados pela firma. Um destes concursos foi filmado por um jovem David O. Selznick, que o intitulou Rudolph Valentino and his 88 Beauties. Ullman tornou-se administrador financeiro de Valentino e começou a articular uma reaproximação com a Famous Players através de uma nova companhia formada por J. D. Williams, chamada Ritz-Carlton Pictures, resultando um acordo pelo qual Valentino cumpriria o resto de seu contrato estrelando mais dois filmes produzidos pela Famous Players e depois celebraria um contrato com a Ritz-Carlton. Os dois filmes da Famous Players, Monsieur Beaucaire e O Pecador Divino e o filme da Ritz-Carlton, Cobra (Dir: Josef Henabery), decepcionaram, porém os dois últimos filmes de Valentino, A Águia / The Eagle / 1925 (Dir: Clarence Brown) e O Filho do Sheik / The Son of the Sheik / 1926 (Dir: George Fitzmaurice), ambos produzidos por John Considine Jr. / Art Finance Corp. e distribuídos pela United Artists) foram os melhores de sua carreira ao lado de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse e Eugenia Grandet, principalmente A Águia, certamente porque tinham melhores diretores.

Valentino em A Águia

Na trama de A Águia, Vladimir Dubrovski (R. Valentino), jovem tenente cossaco, rejeita os avanços amorosos da Czarina Catarina II (Louise Dresser), torna-se “A Águia Negra”, defensor dos pobres e oprimidos e jura vingança contra Kyrilla Troekourov (James Marcus), que se apoderou dos bens de sua família. Disfarçando-se como o professor particular francês da filha de Kyrilla, Masha (Vilma Banky), apaixona-se pela moça. Aprisionado pelas tropas do govêrno, é sentenciado à morte, casa-se com Masha na prisão e no último momento ele e Masha são salvos graças à Czarina.

O script de Hans Kraly tomou emprestado a máscara negra do Zorro, a audácia física e o tema da dupla identidade; mas foi além, dando ao herói não duas, mas três personas: o tenente cossaco da Guarda Imperial Vladmir Dubrovski, o bandido mascarado tártaro Águia Negra, e o professor particular francês Marcel le Blanc de cartola e colete. Kraly e Brown temperam o romantismo da história com um leve humor satírico (Valentino zomba de sua imagem fílmica – tentando um anel que ficou tirar com dificuldade um anel que ficou emperrado no seu dedo ou quando põe pimenta demais na sua sopa porque está olhando estupidamente para a sua deslumbrante pupila etc.) William Cameron Menzies caprichou na decoração de interiores, Adrian fez o mesmo com o vestuário, o astro encarnou um herói de ação em movimento perpétuo (perseguindo uma carruagem conduzida por os cavalos desembestados, escapando por uma janela, lutando contra um urso ameaçador), e Vilma Banky formou com ele uma dupla romântica ideal.

Valentino e Vilma Banky em O Filho do Sheik

Logo após a estréia de O Filho do Sheik, Valentino, aos 31 anos de idade, morreu subitamente de peritonite depois de ter sofrido uma ruptura de úlcera. Sua morte causou uma histeria mundial, vários suicídios (uma mulher de Nova York, Agatha Hearn, mãe de família, atirou em si mesma enquanto segurava um maço de fotografias de Valentino; em Londres, uma atriz de 27 anos deprimida chamada Peggy Scott tomou veneno cercada por fotografias dele) e tumultos no seu velório, que atraiu uma multidão que se estendia por onze quarteirões. Segundo relatos, mais de 80 mil fãs compareceram ao seu funeral. Cada ano após sua morte e até os meados dos anos 50 uma misteriosa “Mulher Vestida de Preto”, algumas vezes “Mulheres Vestidas de Preto”, apareceram diante de sua sepultura.

WILLIAM DIETERLE NA AMÉRICA

agosto 5, 2022

Depois de atuar como ator de teatro (dirigido várias vezes por Max Reinhardt) e cinema (v. g. como Valentin, o soldado impetuoso que, manipulado por Mefistófeles, apunhala Fausto no célebre filme de Murnau baseado na obra de Goethe) e como diretor de cinema alemão (v. g. Die Heilige und ihr Narr / 1928, grande sucesso popular no seu país), Wilhelm Dieterle (1893 – 1972) nascido em Ludwigshafen am Rhein na Renânia-Palatinado, fez carreira no cinema americano.

William Dieterle

Com o advento do cinema sonoro, como o mercado estrangeiro representava 45% das receitas totais, Hollywood resolveu rodar diretamente na língua do país os filmes destinados às telas de além-mar e importou um punhado de atores, diretores e roteiristas europeus para realizar estas versões em idioma estrangeiro. Em julho de 1930, Wilhelm e sua esposa Charlotte, também atriz, embarcaram para os Estados Unidos, convidados para atuar em quatro versões alemãs de filmes americanos produzidos pela First National Pictures, que fôra comprada pela Warner Bros. em outubro de 1928, mas manteve seu logotipo e seus próprios estúdios em Burbank, onde iriam trabalhar as equipes européias.

As quatro versões foram: 1930 – O Baile da Morte / Der Tanz geht weiter (versão alemã de Those Who Dance (Dir: William Beaudine); Die Maske fällt (versão alemã de The Way for All Men (Dir: Frank Lloyd); Kismet (versão alemã de Kismet (Dir: John Francis Dillon). 1931 – Die heilige Flamme (versão alemã de The Sacred Flame (Dir: Archie Mayo). Charlotte atuou em Die Maske fällt e Die heilige Flamme. Dieterle interpretou o papel do Capitão Ahab em Moby Dick / Dämon des Meeres (versão alemã de Moby Dick (Dir: Lloyd Bacon) dirigido por Michael Curtiz e o substituiu na filmagem de algumas cenas.

Quando o processo de dublagem foi desenvolvido, a produção das onerosas versões estrangeiras foi interrompida e os artistas europeus dispensados. Entretanto, satisfeito com o trabalho de Dieterle, Blanke recomendou-o entusiasticamente a seu superior, o chefe de produção Hal B. Wallis e este, surpreso com a celeridade do trabalho do jovem realizador, lhe ofereceu um contrato de sete anos com a Warner Bros-First National.

Wilhelm mudou o nome para William, passou a usar sempre luvas brancas durante a filmagem e, à sua estatura imponente (1.94m de altura), acrescentou um comportamento autoritário e uma voz que podia se tornar estrondosa. Além das luvas brancas, outra peculiaridade de Dieterle foi sua crença absoluta na astrologia e na numerologia, compartilhada com sua esposa, que era astróloga. Ele mantinha um contato permanente com Charlotte e cuidava para que o primeiro dia de filmagem ocorresse sempre em um dia astrologicamente favorável. Quando testava um ator ou atriz para um papel, não deixava de estudar seu horóscopo e o levava em conta na sua decisão final.

Dieterle tinha confiança absoluta na sua mulher, que ia ao estúdio todos os dias. Como relatou Don Siegel, então estagiário do departamento de montagem da Warner (A Siegel Film – An Autobiography, Faber and Faber, London, 1993), ao fim de cada tomada, “ele olhava para Charlotte para ver se ela estava de acordo”.

De 1931 a 1935 Dieterle dirigiu 17 filmes, sobressaindo os marcados em negrito: 1931 – O Último Vôo / The Last Flight; Her Majesty Love, comédia romântica musical com Marilyn Miller, Ben Lyon, W.C. Fields. 1932 – Precisa-se de um Homem / Man Wanted, comédia romântica com Kay Francis, David Manners, Uma Merkel; Ladrão Romântico / Jewel Robbery; A Derrocada / The Crash, drama com Ruth Chatterton, George Brent, Lois Wilson; Seis Horas de Vida / Six Hours to Live, drama político misturado com ficção científica com Warner Baxter, Miriam Jordan, John Boles; Alvorada Rubra / Scarlet Dawn, drama histórico com Douglas Fairbanks Jr., Nancy Carroll, Lilyan Tashman; O Direito de Errar / Lawyer Man, drama com William Powell, Joan Blondell, Helen Vinson; 1933 – Grand Slam, comédia satírica com Paul Lukas, Loretta Young, Frank McHugh; Adorável / Adorable, comédia romântica musical com Janet Gaynor, Henri Garat, C. Aubrey Smith; Vidas sem Rumo / The Devil´s in Love, drama com Victor Jory, Loretta Young, Vivienne Osborne; O Rastro Invisível / From Headquarters, drama criminal de mistério com George Brent, Margaret Lindsay, Eugene Pallettte. 1934. – Modas de 1934. / Fashions of 1934; Névoa de Mistério / Fog Over Frisco, drama criminal de mistério; Madame du Barry / Madame du Barry, drama histórico com Dolores del Rio, Reginald Owen, Victor Jory; Ave de Fogo / The Firebird, drama criminal de mistério com Verree Teasdale, Ricardo Cortez, Lionel Artwill; Casados em Segredo / The Secret Bride, drama criminal com Barbara Stanwyck, Warren William, Glenda Farrell. Neste período, Dieterle prestou algum serviço, sem ser creditado, em Tu és Mulher / Female e Monica / Doctor Monica, dirigidos respectivamente por Michael Curtiz e William Keighley.

Cena de O Último Vôo

O Último Vôo, é um drama psicológico, baseado no romance de John Monk Saunders, adaptado por ele mesmo, que se constituiu em uma das produções mais originais de Hollywood no início dos anos 30. Após o armistício da guerra 1914-1918, quatro pilotos (Richard Barthelmess, Johnny Mack Brown (creditado como John), David Manners, Elliott Nugent), física ou mentalmente enfermos, desiludidos com o porvir, preferem ficar em Paris, em um clima daquela “geração perdida” descrita por Fitzgerald e Hemingway. Essa atmosfera é perfeitamente traduzida em termos fílmicos por Dieterle na sua estréia no cinema americano. A relação entre os ex-pilotos e o pivô feminino, Nikki (Helen Chandler), é explorada de forma pouco convencional e avançada para a época.

William Powell e Kay Francis em Ladrão Romântico

Ladrão Romântico, é uma comédia romântica excelente, baseada em uma peça de Ladislaus Fodor, sobre uma dama da alta sociedade, Baronesa Teri (Kay Francis), esposa adúltera de um milionário que percebeu o vazio de sua vida e se curou de seu tédio com um ladrão de jóias audacioso, elegante e requintado (William Powell) – parecido com Arsène Lupin de Maurice Leblanc. Dotado de uma técnica incomparável para esvaziar as joalherias da Ringstrasse de Viena nas barbas das autoridades, ele ridiculariza os representantes da lei e até o prefeito sucumbe aos cigarros de marijuana oferecidos pelo charmoso larápio. Outra dose parecida de amoralidade – pois trata-se de um filme anterior ao Código Hays – é o decote escandalosamente ousado nas costas de Teri e, no final, o oferecimento de seu marido para uma cura de descanso em Nice, onde a espera o irresistível gatuno.

Bette Davis e William Powell em Modas de 1934

Modas de 1934 é uma comédia musical interessante, com um argumento original para ligar os números musicais coreografados por Busby Berkeley. Sherwood Nash (William Powell), vigarista do mundo da moda, chega com seus cúmplices Lynn Mason e Snap (Bette Davis e Frank McHugh) a Paris, onde encontram um jovem compositor (Philip Reed), um comerciante da Califórnia (Hugh Herbert) que está tentando induzir os costureiros a usarem mais plumas em suas criações, e uma velha conhecida (Verree Teasdale), disfarçada de condessa russa. Esta está de amores com um costureiro famoso (Reginald Owen), cujos modelos o vigarista pretende roubar. No final vem o número “Spin a Little Web of Dreams”, que é um desfile suntuoso de garotas – formando uma decoração de harpas humanas e em seguida carregando leques de plumas de avestruz, até formarem uma grande rosa – fotografadas com a fluência característica de Busby.

De 1935 a 1939 Dieterle, impulsionado pelo seu antigo diretor de teatro Max Reinhardt, Dieterle fez 13 filmes, todos de classe A, entre os quais estão os melhores de sua carreira: 1935 – Sonho de uma Noite de Verão / A Midsummer Night´s Dream; Dr. Sócrates / Dr. Socrates, drama criminal com Paul Muni, Ann Dvorak, Barton MacLane; A História de Louis Pasteur / The Story of Louis Pasteur. 1936 – Satan Met a Lady, drama criminal com Bette Davis, Warren William, Alison Skipworth; Anjo de Piedade / The White Angel, drama biográfico com Kay Francis, Ian Hunter, Donald Woods. 1937 – O Grande O´Malley / The Great O´Malley, drama com Pat O´Brien, Humphrey Bogart, Ann Sheridan; Outra Aurora / Another Dawn, drama com Kay Francis, Errol Flynn, Ian Hunter; Émile Zola / The Life of Emile Zola. 1938 – Bloqueio / Blockade (Prod: Walter Wanger/ UA), drama de guerra com Madeleine Carroll, Henry Fonda, Leo Carrillo. 1939 – Juarez / Juarez; O Corcunda de Notre Dame / The Hunchback of Notre Dame (Prod: RKO Radio). Em 1937 Dieterle prestou serviço momentaneamente nas filmagens de O Príncipe e o Mendigo / The Prince and the Pauper (substituindo William Keighley) e As Aventuras de Robin Hood /The Adventures of Robin Hood, (ocupando o lugar de Keighley antes de Michael Curtiz assumir a direção).

James Cagney e Anita Louise em Sonho de uma Noite de Verão

Sonho de uma Noite de Verão é uma adaptação da peça de William Shakespeare, realizada por Max Reinhardt com a ajuda de Dieterle, seu antigo discípulo dos palcos da Alemanha. Sobressai a fotografia deslumbrante de Hal Mohr, que entrou no lugar de Ernest Haller e deu um jeito de iluminar a imensa floresta erguida no estúdio pelo diretor de arte Anton Grot. Ele alterou os sets de Grot, pintou as folhas das árvores com tinta alumínio e resolveu usar apenas uma fonte de luzem vez de várias como ia fazer Haller. Mohr arrebatou o Oscar sem ter sido indicado, caso único na história da Academia, em virtude da aplicação do write-in vote, prática então vigente, que permitia ao votante incluir na cédula de votação um candidato próprio. Reinhardt trouxe o compositor austríaco Erich Wolfgang Korngold para providenciar o arranjo da música de Mendelsohn. O filme foi indicado para o Oscar.

Paul Muni em A História de Louis Pasteur

A História de Louis Pasteur é a cinebiografia do célebre químico francês, narrada de maneira direta e acessível, incorporando alguns acontecimentos fictícios aos fatos históricos para dramatizar o confronto entre a sociedade tradicional e as mudanças engendradas pelo progresso científico. O filme apresenta a luta entre Pasteur e seu rival poderoso, o arrogante Dr. Charbonnet (Fritz Leiber), eminente membro da área médica, que deseja desacreditar o grande cientista. Paul Muni personificou soberbamente o biografado, conquistando o Oscar, também entregue a Pierre Collings e Sheridan Gibney pelo Melhor Roteiro e História Original. O filme, conciso e emocionante, foi indicado para o troféu da Academia Agradou aos críticos e ao público, convencendo Jack Warner e o produtor Hal Wallis de que novas cinebiografias com o ator seriam do agrado popular.

 

Paul Muni em Émile Zola

Émile Zola é a cinebiografia do combativo escritor francês. Concorrente ao Oscar em várias categorias, ganhou como Melhor Filme e deu também estatuetas aos roteiristas Norman Reily Raine, Heinz Herald e Geza Herczeg e ao ator coadjuvante Joseph Schildkraut, que faz o papel de Alfred Dreyfus.  A cena mais contundente é a do julgamento de Dreyfus, na qual Paul Muni, no papel de Zola, brilha intensamente, discursando em favor do oficial judeu injustamente acusado. Graças ao extraordinário talento do ator, bastou um único take para que Dieterle se desse por satisfeito. Muni leu tudo o que encontrou a respeito de Zola, cada palavra das transcrições do julgamento de Dreyfus e muitos romances do escritor em traduções. Na sua pesquisa descobriu alguns gestos famosos e idiosincrasias de Zola: seu andar com os ombros caídos, uma risada excêntrica, o modo como o qual ele enfiava seu guardanapo sob seu colarinho, como colocava suas mãos para a frente e dava uma batidinha no seu estômago pensativamente. Seu esforço foi compensado com mais uma indicação para o Oscar de Melhor Ator.

Paul Muni em Juarez

Juarez é um drama histórico, sóbrio e majestoso, com a colaboração de John Huston no roteiro, dando igual importância às figuras do líder revolucionário mexicano e do Imperador Maximiliano. Brian Aherne quase consegue ofuscar Paul Muni – responsável pelo papel de Juarez -, personificando com muita propriedade o trágico Príncipe austríaco que Napoleão III colocou no trono do México, obtendo indicação para o Oscar. O cenógrafo Anton Grot e o fotógrafo Tony Gaudio também contribuem notavelmente para o espetáculo, o último dando um show de iluminação em muitas cenas, entre ela, aquela quando a louca Carlota (Bette Davis) sente que está próxima a execução do marido.

Charles Laugthon e Maureen O´Hara em O Corcunda de Notre Dame

O Corcunda de Notre Dame é refilmagem do célebre romance de Victor Hugo, que tem como centro das atenções o grotesco Quasimodo e a bela cigana Esmeralda. A Paris do tempo de Louis XI é reconstituída com autenticidade pelos sets de Van Nest Polglase, que evocam de modo fascinante o clima de superstição, horror e miséria do romance de V. Hugo. Charles Laughton impressiona tanto como o corcunda quanto Lon Chaney na versão muda e Maureen O´Hara, fotografada por Joseph August, é a própria beleza em pleno êxtase. Há, porém, um final feliz insustentável.

Em 1940, Dieterle fez mais dois filmes na Warner (A Vida do Dr. Ehrlich / Dr. Ehrlich’s Magic Bullet e Uma Mensagem de Reuter / A Dispatch from Reuters,    drama biográfico com Edward G. Robinson, Edna Best, Eddie Albert) e nos dois anos seguintes tentou se tornar independente, criando sua própria companhia de produção, Wiliam Dieterle Productions, firmando primeiramente uma parceria com a RKO Radio Pictures em dois filmes: O Homem Que Vendeu sua  Alma / The Devil and Daniel Webster e Cavalgada de Melodias / Syncopation, comédia musical histórica com Adolphe Menjou, Jackie Cooper e Bonita Granville.

Edward G. Robinson em A

A Vida do Dr. Ehrlich é a cinebiografia do Dr. Paul Ehrlich, o bacteriologista que descobriu a cura para a sífilis, tema audacioso para ser levado à tela sob a vigência do Código Hays que Dieterle tratou, focalizando mais os fatos, sem preocupação de criar mais dramaticidade. Contando com a colaboração de John Huston como coautor do roteiro, a música de Max Steiner e a fotografia de James Wong Howe, o diretor conduziu a narrativa de maneira ao mesmo tempo sólida e sensível e Edward G. Robinson dominou o espetáculo com uma de suas melhores interpretações no cinema.

Walter Huston e James Craig em O Homem Que Vendeu Sua Alma

O Homem Que Vendeu Sua Alma é um drama fantástico e faustiano baseado no conto de Stephen Vincent Benet. A história gira em torno de Jabez Stone (James Craig), fazendeiro endividado do século XIX, que vende sua alma ao Diabo, Mr. Scratch (Walter Huston), em troca de sete anos de prosperidade. À medida em que sua situação financeira melhora, Jabez se torna impiedoso e cruel, caindo sob o feitiço de uma jovem fascinante, Belle (Simone Simon), enviada por Mr. Scratch para desencaminhá-lo. Quando os sete anos estão quase terminando quem vem em socorro do rapaz é o famoso político e orador Daniel Webster (Edward Arnold) que, no julgamento de sua alma por um júri de fantasmas de vilões famosos da História, consegue salvá-lo das garras de Satanás. Adotando, com o auxílio do fotógrafo Joseph August, um estilo cinematograficamente parecido com o cinema alemão expressionista e contando ainda com a música estridente de Bernard Hermann (premiada com o Oscar), os efeitos especiais de Vernon L. Walker e a performance deliciosa de Walter Huston (que lhe valeu uma indicação para o prêmio da Academia), Dieterle realizou um espetáculo estranho, que muitos consideram sua obra-prima. E tem aquele final inesperado com Mr. Scratch, consultando seu caderninho de notas e nos apontando como sua próxima vítima.

Antes de encerrar suas atividades na América em 1957, Dieterle fez, para várias companhias: 1942 – Campeão de Liberdade / Tennessee Johnson, drama biográfico com Van Heflin, Lionel Barrymore, Ruth Hussey (MGM). 1944 – Kismet / Kismet, aventura com Ronald Colman, Marlene Dietrich, James Craig; (MGM); Ver-te-ei Outra Vez / I´ll Be Seing You (Selznick), drama romântico com Ginger Rogers, Joseph Cotten, Shirley Temple (Selznick). 1945 – Um Amor em Cada Vida / Love Letters (Paramount); Sublime Indulgência / This Love of Ours (Universal), drama romântico com Merle Oberon, Charles Korvin, Claude Rains (Universal). 1946 – Duelo ao Sol / Duel in the Sun (Selznick). Obs. Dieterle refez 20% do filme após a saída de King Vidor; A Esperança não Morre / The Searching Wind, drama de guerra com Robert Young, Sylvia Sidney, Ann Richards (Paramount). 1948 – Jennie / Portrait of Jennie, drama de mistério e fantasia com Jennifer Jones, Joseph Cotten, Ethel Barrmore (Selznick). 1949 – Acusada / The Accused (Paramount); Zona Proibida / Rope of Sand, aventura com Burt Lancaster, Paul Henreid, Claude Rains (Paramount). 1950 – Amei Até Morrer / Paid in Full, drama com Robert Cummings, Lizabeth Scott, Diana Lynn (Paramount); Vulcano / Volcano (filme italiano); Paraíso Proibido / September Affair, drama romântico com Joan Fontaine, Joseph Cotten, Françoise Rosay (Paramount); Cidade Negra / Dark City, drama criminal noir com Charlton Heston, Lizabeth Scott, Viveca LIndfors (Paramount). 1951 – O Expresso de Pequim / Peking Express, drama político com Joseph Cotten, Corinne Calvert, Edmund Gwenn (Paramount); O Último Caudilho / Red Mountain, western com Alan Ladd, Lizabeth Scott, Arthur Kennedy (Paramount). 1952 – O Trapaceiro / Boots Malone, drama esportivo com William Holden, Stanley Clements, Basyl Ruysdael; (Columbia); Tributo de Sangue / The Turning Point (Paramount). 1953 – Salomé / Salome, drama histórico com Rita Hayworth, Carles Laughton, Stewart |Granger (Columbia). 1954 – No Caminho dos Elefantes / Elephant Walk, aventura com Elizabeth Taylor, Dana Andrews, Peter Finch (Columbia). 1955 – Chama Imortal/ Magic Fire, drama biográfico com Yvonne De Carlo, Carlos Thompson, Rita Gam (Republic). 1957 – Aventuras de Omar Khayam / Omar Khayyam, aventura biográfica com Cornel Wilde, Michael Rennie, Debra Paget (Paramount).

Jennifer Jones e Joseph Cotten em Um Amor Em Cada Vida

Um Amor em Cada Vida é um melodrama ultraromântico de mistério com um vestígio de sobrenatural, que tem início durante a Segunda Guerra Mundial. O soldado Alan Quinton (Joseph Cotten) concorda em escrever cartas de amor para a jovem Victoria (Jennifer Jones) em nome de seu companheiro de armas, Roger Morland (Robert Sully), tal como Cyrano de Bergerac fazia para Christian na peça de Edmond Rostand. Quando Alan retorna para casa, descobre que Victoria e Roger haviam se casado, mas ele estava morto, apunhalado pelas costas e o assassino pode ter sido Victoria, agora sofrendo de amnésia e atendendo pelo nome de Singleton. Apaixonado por ela, Alan procura descobrir o que realmente ocorreu. A esplêndida fotografia de Lee Garmes e o score persistente de Victor Young reforçam o aspecto sombrio do tema enquanto Dieterle se encarrega de manter a verdade oculta até os últimos instantes do filme. Foram indicados ao Oscar: Jennifer Jones, Victor Young (Melhor Música e Melhor Canção (esta de parceria com Edward Heyman) e Hans Dreier e Roland Anderson (Dir. Arte).

Robert Cummings e Loretta Young em Acusada

Acusada é um drama criminal e psicológico noir no qual Loretta Young faz o papel de Wilma Tuttle, professora de psicologia, forçada a matar seu aluno Bill Perry (Douglas Dick), que tentara violentá-la. Intimada pelo Tenente Ted Dorgan (Wendell Corey) a entregar a polícia as composições escritas de seus alunos, lê a dissertação de Bill e verifica que ele a analisara, descrevendo seu tipo psicológico, mas sem identificá-la. Wilma então muda sua imagem e começa a sair com Warren (Robert Cummings), advogado e guardião do rapaz. Este acaba descobrindo a verdade e tenta ajudá-la. Após o crime, Wilma se transforma quase que em uma mulher fatal: torna-se poderosa, calculista, desembaraçada e sensual, e começa a jogar com as emoções dos dois homens. Um aspecto interessante do enredo é a paixão recolhida de Dorgan, que o próprio revela a Wilma depois do julgamento. O visual noir transparece sobretudo nos retrospectos apresentados sob a forma de pesadelos e alucinações da protagonista, cheios de simbolismo freudiano, principalmente as cenas passadas no estádio de boxe, quando a luta lhe traz a lembrança os acontecimentos que ela quer apagar da memória. Outra passagem marcante é a da reconstituição do crime. O perito (Sam Jaffe) mostra uma maquete do local onde Bill teria caído e sua máscara mortuária. Warren pede que Wilma golpeie o molde de gesso com uma barra de ferro e ela, lembrando-se da tentativa de estupro, se descontrola espatifando-o violentamente.

Edmond O´Brien, Alexis Smith e Willaim Holden em Tributo de Sangue

Tributo de Sangue é um drama criminal, pondo em evidência um promotor de Los Angeles, John Conroy (Edmond O´Brien), designado para investigar um sindicato do crime dirigido pelo riquíssimo Echelberger (Ed Begley). Ele conta com o apoio de seu amigo de infância, jornalista Jerry McKibbon (William Holden), e de sua assistente e namorada Amanda (Alexis Smith). O caso se complica quando Amanda se apaixona por Jerry e, ao mesmo tempo, este descobre que o pai de John – tido como um policial honesto – está macomunado com os bandidos. Dieterle expõe a intriga com sobriedade e grande senso de cinema, criando boas sequências como o assalto simulado a uma loja, cujo objetivo é atrair o velho policial e eliminá-lo, já que ele já não serve aos interesses do Sindicato; as cenas noturnas do incêndio, ordenado por Eichelberger, de um prédio, causando a morte atroz de muitas pessoas; o clímax no qual um assassino de aluguel procura alvejar o jornalista do teto e depois nos corredores do estádio de boxe no meio da multidão de espectadores,  todos estes momentos  muito bem captados pela câmera de Lionel Lindon.

No final dos anos 50, Dieterle voltou para a Europa, onde – sofrendo alguns contratempos – trabalhou no cinema, teatro e televisão entre 1958 e 1972. Em 1964, retornou aos EUA para fazer The Confession, comédia satírica com Ginger Rogers, Ray Milland, e Barbara Eden, produzida pela William Marshall Productions of Jamaica e Kay Lewis Enterprises, e distribuído pela Golden Eagle (USA). O filme foi uma tentativa de reativar a carreira de Ginger Rogers, então casada com Marshall, teve uma produção conturbada (com o diretor original Victor Stoloff sendo substituído por Dieterle) e ficou na prateleira por muitos anos, até ser relançado em 1971 como Quick, Let´s Get Married! Um ano depois Dieterle deixaria este mundo aos 72 anos de idade. Em junho-julho de 1973, o Festival de Berlim prestou uma homenagem póstuma ao cineasta, consagrando-lhe uma pequena retrospectiva.

 

 

 

A CARREIRA GLORIOSA DE LAURENCE OLIVIER

julho 22, 2022

Consagrado como ator, produtor e diretor no teatro, no cinema e na televisão, ele teve uma carreira gloriosa em todos estes campos de expressão artística., sobressaindo suas estupendas encenações e adaptações para a tela das peças de Shakespeare.

Laurence Olivier

Laurence Kerr Olivier (1907-1989) nasceu em Dorking, Surrey na Inglaterra, filho do reverendo Gerard Kerr Olivier e de Agnes Crookender. Em 1910 a família se mudou para Londres onde Olivier cursou três escolas preparatórias, a última das quais foi a Francis Holland School em Chelsea. Em 1916, quando tinha nove anos de idade, foi para a All Saints, Margaret Street, onde recebeu rigorosa educação musical (Mozart, Handel, Bach, Beethoven, Schubert, Mendelssohn, Gounod, Dvorak, Palestrina, Tallis), cantou em missas e hinos, aprendeu Latim, Língua Francêsa e Inglêsa, História, Matemática.

A All Saints também proporcionou a Olivier seu primeiro gôsto pelos palcos de Londres e depois por Shakespeare. Em uma produção escolar de Julius Caesar em 1917, seu desempenho como Brutus impressionou o público. Entre as personalidades presentes estava a famosa atriz shakespeareana da época, Ellen Terry, que teria escrito sobre Olivier no seu diário: “Aquele menino de dez anos de idade já é um grande ator”. No seu último ano na escola, Olivier desempenhou o papel de Katharina em The Taming of the Shrew, ganhando mais elogios de Ellen Terry. Da All Saints Laurence passou para a St. Edwards School, Oxford, onde ficou de 1920 a 1924, e brilhou novamente interpretando Puck na produção da escola de A Midsummer´s Night Dream.

Em 1924, seu pai aconselhou-o a ingressar na Central School of Speech Training and Dramatic Art e tentar obter uma bolsa a fim de custear seus estudos. Após um ano de aprendizado, Olivier encontrou emprego em pequenas companhias teatrais e finalmente foi admitido na companhia de Lewis Casson e sua esposa, a atriz Sybil Thorndike, uma das personalidades presentes na representação escolar de Julius Caesar quando Laurence se distinguiu como Brutus.

Em 1927, Olivier ingressou na Birmingham Repertory Company, fundada pelo milionário Barry Jackson, onde teve a chance de interpretar, aos dezenove anos de idade, o papel título de Tio Vânia na peça de Anton Tchekov e trabalhar ao lado de uma ainda mais jovem Peggy Ashcroft na comédia Bird in Hand de John Drinkwater, atraindo a atenção dos críticos.

Em 1928, Barry Jackson reprisou Bird in Hand, mas desta vez a parceira de Olivier foi uma jovem atriz, Jill Esmond. O espetáculo ficou meses em cartaz, mas Laurence almejava algo mais e conseguiu o papel principal na peça de R.C Sherriff, Journey´s End e na adaptação teatral do romance Beau Geste de P.C. Wren.  A primeira fez sucesso, a segunda fracassou. Ele propôs casamento a Jill, mas ela contemporizou e foi para os Estados Unidos. Então, quando Olivier foi convidado para fazer um papel em Murder in the Second Floor na Broadway, partiu com todo prazer para Nova York a bordo do Aquitania. Entretanto, a peça não foi bem e ele voltou para Londres, desta vez no Lancastria, um navio menor, mais lento e mais barato. Em Nova York, Jill ficou feliz por ele ter ido à América e sentiu que eles ficaram mais unidos e que o amor deles era calmo e firme.

Laurence Olivier e Jill Esmond

Em Londres, Olivier, depois de ter sido elogiado pelos críticos por sua atuação na peça The Last Enemy, passou um longo período desempregado, porém fez seus dois primeiros filmes: The Temporary Widow / 1930 (versão inglesa do filme alemão Hokuspokus de Gustav Ucicky e estrelado por Lilian Harvey) e Too Many Crooks / 1930, quota quickie de 38 minutos (Dir: George King), comédia criminal com Dorothy Boyd. Em The Temporary Woman  Olivier fazia o papel que coubera a Willy Fritsch na versão original. Em 25 de julho de 1930, Olivier e Jill se casaram, porém dentro de poucas semanas perceberam que haviam cometido um erro.

Pouco antes, Noel Coward ofereceu a Olivier o papel de Victor Prynne, um dos papéis secundários de sua nova comédia Private Lives, na qual ele e Gertrude Lawrence interpretariam os papéis principais. A peça fez uma carreira brilhante e poderia ter ficado um ano em cartaz, mas Coward resolveu levá-la para Broadway. Quando a peça   estava no último mês em. cena, Olivier estava filmando de dia em Elstree, Potiphar´s Wife / 1931(Dir: Maurice Elvey), drama romântico com Nora Swinburne.

No mesmo ano, a RKO ofereceu a Olivier um contrato de dois anos, ele aceitou, e foi para Hollywood. Seu primeiro filme na RKO foi Amigos e Amantes / Friend´s and Lovers / 1931 (Dir: Victor Schertzinger), drama romântico com Adolphe Menjou, Lili Damita, Erich von Stroheim. Emprestado para a Fox, ele fez O Passaporte Amarelo / The Yellow Ticket / 1931 (Dir: Raoul Walsh), drama passado na Rússia czarista com Elissa Landi, Lionel Barrymore, Boris Karloff e, de volta à RKO, Westward Passage / 1932 (Dir: Robert Milton), drama romântico com Ann Harding, ZaSu Pitts, seu último filme em Hollywood até 1939.

Lionel Barrymore, L.O. e Elissa Landi em Passaporte Amarelo

Gloria Swanson e L.O. em Casamento Liberal

L.O. em Elizabeth Bergner em Como Gostais

No período 1933-1939, filmou na Inglaterra: 1933 – Casamento Liberal / Perfect Understanding (Dir: Cyril Gardner), drama romântico cômico com Gloria Swanson; No Funny Business (DIr:  Victor Hanbury), comédia com Gertrude Lawrence, Jill Esmond. 1935 – Noites de Moscou / Moscow Nights (Dir:  Anthony Asquith), drama romântico com Penelope Dudley Ward, Athene Seyler; Conquest of the Air (Dir: Alexander Esway, Zoltan Korda, John Monk Saunder), documentário histórico. 1936 – Como Gostais / As You Like It (Dir: Paul Czinner), seu primeiro filme Shakespereano ao lado de Elizabeth Bergner. 1937 – Fogo Sobre a Inglaterra / Fire Over England (Dir: William K. Howard), aventura histórica com Flora Hobson, Vivien Leigh; Três Semanas de Loucura / Twenty-one Days (Dir: Basil Dean), com Vivien Leigh, Leslie Banks. 1938 – O Divórcio de Lady X / The Divorce of Lady X (Dir: Tim Whelan), comédia dramática com Merle Oberon, Binnie Barnes Ralph Richardson. 1939 – Nuvens sobre a Europa / Q Planes (Dir: Tim Whelan), drama de espionagem com Ralph Richardson, Valerie Hobson.  Em 1933, Olivier recebeu uma proposta da MGM para ser o leading man de Greta Garbo em Rainha Cristina / Queen Christina, porém Garbo o rejeitou e o papel foi entregue a John Gilbert.

L.O. em Noites de Moscou

Vivien Leigh e L.O. em Fogo sobre a Inglaterra

Em 1936, Olivier aceitou convite para ingressar na Old Vic, companhia de repertório especializada em peças de Shakespeare sediada no teatro do mesmo nome, que constituiria o núcleo do National Theatre of Great Britain, quando de sua formação em 1963. Nesta ocasião começou seu romance com Vivian Leigh, embora ele ainda estivesse casado com Jill Esmond e ela com o advogado Leigh Holmes e os casais convivessem socialmente. Ambos já divorciados, Olivier se casaria com Vivien em 31 de agosto de 1941.

L.O. e Merle Oberon em O Morro dos Ventos Uivantes

Joan Fontaine, L.O. e Judith Anderson em Rebecca, a Mulher Inesquecível

Greer Garson e L.O. em Orgulho e Preconceito

L.O. e Vivien Leigh em Lady Hamilton, a Divina Dama

De volta a Hollywood, Olivier trabalhou para Samuel Goldwyn em O Morro dos Ventos Uivantes / Wuthering Heigths / 1939 (Dir: William Wyler), adaptação do romance de Emily Bronte com Merle Oberon, David Niven, Donald Crisp; para David O. Selznick em Rebecca, a Mulher Inesquecível / Rebecca / 1940 (Dir: Alfred Hitchcock), adaptação do romance de Daphne du Maurier com Joan Fontaine, Judith Anderson, George Sanders,  para a MGM em Orgulho e Preconceito / Pride and Prejudice / 1940, adaptação do romance de Jane Austen com Greer Garson, Maureen O´Sullivan, Edna May Oliver e para Alexander Korda  Lady Hamilton, a Divina Dama /  That Hamilton Woman / 1941 (DIr: A. Korda), drama romântico-histórico servindo à propaganda de guerra com Vivien Leigh, Gladys Cooper, Alan Mowbray. Por sua atuação como Heathcliff em O Morro dos Ventos Uivantes e como Maxim de Winter em Rebecca, Olivier foi indicado para o Oscar de Melhor Ator.

Antes de retornar para a Inglaterra, Olivier passou o ano anterior aprendendo a pilotar e tinha completado quase 250 horas de vôo quando deixou a América. Ele pretendia se alistar na Royal Air Force, mas em vez disso, fez Invasão de Bárbaros / 49th Parallel / 1941 (Dir: Michael Powell), outro drama de propaganda de guerra com Leslie Howard, Eric Portman, serviu na Fleet Air Arm, ramo da aviação naval da Marinha e fez ainda outro filme de propaganda de guerra, O Coração não Tem Fronteiras / The Demi-Paradise / 1943 (Dir:  Anthony Asquith), com Penelope Dudley Ward, Margareth Rutherford.

L.O. de farda ao lado de Vivien Leigh

No decorrer da década de quarenta, sob o patrocínio do produtor Filippo del Giudice, Olivier realizou seus dois primeiros grandes filmes shakespereanos, Henrique V / Henry V / 1944 e Hamlet / Hamlet / 1948.

L. O. em Henrique V

Encarregado do comando de todo o projeto (como diretor, ator principal, coautor do roteiro e coprodutor), ele percebeu que o texto shakespeareano (embora dizendo respeito a uma outra invasão da França bem menor, mas igualmente famosa, levada a efeito por um rei inglês em 1415), devidamente ajustado, poderia servir ao esforço de guerra. Com esta compreensão, concebeu ao mesmo tempo uma peça de propaganda estimulante e uma obra de arte cinematográfica, misturando habilmente teatro e cinema, em uma profusão de cores e efeitos técnicos surpreendentes. Sua idéia mais fértil foi começar e terminar o filme pela descrição realista de uma representação do teatro elisabetano. O espetáculo começa com a panorâmica de uma maquete da Londres Elizabetana e em seguida a câmera nos conduz pelo Tâmisa até uma réplica do Globe Theater. Após as cenas de abertura, filmadas como se estivéssemos diante de uma performance da peça de Shakespeare no Globe, o filme volta no tempo para a França no final da Idade Média, mostrada por cenários pintados e paisagens construídos no palco de filmagem de um estúdio. Finalmente, Olivier transporta a narrativa para uma locação na Irlanda, onde filma a Batalha de Agincourt. Transcorridos alguns acontecimentos na côrte francesa, o espetáculo retorna ao Globe para o final. Nas cenas de batalha – empolgantes por seu movimento, sua montagem e pela música agitada de William Walton, – com a câmera ao ar livre, o filme se torna totalmente cinematográfico, salientando-se outro grande momento, como a alocução feita aos soldados por Henrique, finalizada quando o rei, sobre uma carreta e, cercado por todos, faz a incitação ao combate. O idílio dele no fim com a princesa Catherine (Renée Asherson) encanta pela graça do diálogo e comportamento dos atores. A produção acarretou indicações para o Oscar de Melhor Filme, Ator, Direção de Arte em cores, Música de filme não musical e Olivier recebeu uma Estatueta Especial “por seu grande desempenho como ator, produtor e diretor levando Henrique V ao Cinema”.

Por ocasião do lançamento de Henrique V, Olivier tornou-se codiretor (juntamente com Ralph Richardson e John Burrell) da Old Vic. Quando os alemães começaram a mandar bombas voadoras sobre Londres, os ensaios da Old Vic tinham lugar nas salas da National Gallery, das quais todos os quadros haviam sido removidos para um lugar seguro e os atores se deitavam no chão para não serem atingidos por estilhaços de madeira ou de vidro. A maior performance de Olivier na Old Vic foi como Richard III, aclamada unanimemente pelos críticos.

Laurence Olivier, Eileen Herlie e Basil Sidney em Hanlet

Apesar da eliminação drástica de várias personagens da peça como Fortimbrás, Reinaldo e a dupla Rosencrantz e Guildenstein e da alteração de vários trechos até em sua colocação em cena, como foi o caso do monólogo “To be or not to be”, recitado após o encontro com Ofélia (Jean Simmons), quando devia precedê-lo, Hamlet foi uma adaptação soberba da obra-prima de Shakespeare, feita pelo melhor especialista. Olivier optou por uma leitura Edipiana do texto e, embora enunciado como a história de um homem indeciso, o filme mostra um Hamlet em ação, quase sempre impulsivo e violento, que trama sua vingança com forte determinação. O diretor abandonou o Technicolor brilhante de Henrique V, para explorar, com a fotografia em preto e branco contrastada, a atmosfera sombria e profundamente psicológica de Elsinore, onde se desenvolve o drama do atormentado Príncipe da Dinamarca. Combinando profundidade de campo com a movimentação incessante da câmera pelos cenários tenebrosos do castelo, com suas escadas gigantescas e corredores intermináveis, Olivier cria uma espécie de paralelismo com o que se passa no âmago de Hamlet, sondando sua inteligência secreta, que se manifesta por vezes através de solilóquios em voz over como monólogos interiores. Avultam, pela sua dramaticidade, as cenas da representação dos comediantes na côrte reconstituindo o crime nefando de Claudio (Basil Sidney), a visita incestuosa de Hamlet ao quarto de sua mãe (Eileen Herlie) ocasionando a morte de Polônio (Felix Aylmer), e o duelo final trágico. A produção arrebatou quatro Oscar – Melhor Filme, Ator, Direção de Arte preto e branco (Roger K. Furse / decoração de Carmen Dillon), Figurino (preto e branco (Roger K. Furse) – e três indicações: Melhor Direção, Melhor Atriz Coadjuvante (Jean Simmons) e Melhor Música de filme não musical (William Walton).

No final de 1949, afastado (tal como Richardson e Burrell) do cargo de codiretor do Old Vic, Olivier resolveu formar a Laurence Olivier Productions, iniciando uma carreira de ator-administrador. Entre outras peças, ele encenou A Streetcar Named Desire de Tennnesse Williams com Vivien Leigh no papel de Blanche Dubois, papel que levaria a atriz a interpretar o mesmo personagem no filme de Elia Kazan de 1951. Outro grande sucesso foi Macbeth, no qual ele assumiu o papel principal ao lado de Vivian como Lady Macbeth, firmando-se de uma vez por todas como um grande ator shakespeareano. Seu próximo plano era filmar a peça e Alexander Korda estava pronto para financiá-lo, porém Korda faleceu em 23 de janeiro de 1956 de um ataque do coração e o projeto não foi adiante.

L.O., Jennifer Jones e Eddie Albert em Perdição por Amor

Marilyn Monroe e L. O. em O Príncipe Encantado

Durante os anos cinquenta, Olivier continuou aparecendo nas telas britânicas e americanas: 1951 – The Magic Box da British Lion (Dir: John Boulting), em um cameo de dois minutos como um policial na história do pioneiro do cinema, William Friese-Greene, interpretado por Robert Donat. 1952 – Perdição por Amor / Carrie (Dir: Wiliam Wyler), drama baseado no romance de Theodore Dreiser com Jennifer Jones, Miriam Hopkins, Eddie Albert. 1953 – A coração da Rainha Elizabeth II da Inglaterra / A Queen is Crowned, como narrador neste documentário sobre a coroação da rainha Elizabeth; Ao Pé do Cadafalso / The Beggars Opera (Dir: Peter Brook), adaptação da ópera de John Gay com Stanley Holloway, Hugh Griffith, George Rose. 1955 – Ricardo III / Richard III. 1956 – O Principe Encantado.  The Prince and the Showgirl (Dir: Laurence Olivier), comédia romântica com Marilyn Monroe, Sybil Thorndike. 1959 – O Discípulo do Diabo/ The Devil´s Disciple (Dir: Guy Hamilton), adaptação da peça de Bernard Shaw com Burt Lancaster, Kirk Douglas.

L. O. e Ralph Richardson em Ricardo III

Tal como nas suas precedentes transposições para a tela das obras shakespeareanas, em Ricardo III Olivier logrou, de forma admirável, traduzir o pensamento do dramaturgo elisabetano com os recursos da câmera cinematográfica. Suprimindo personagens (como a rainha Margaret), acrescentando outros (como Jane Shore, apenas mencionada na peça) ou refazendo cenas (Ricardo seduz Anne não diante do caixão de seu sogro Henrique VI, mas do seu esposo), sobre traçar um retrato perfeito do ambicioso e diabólico Duque de Gloucester (Laurence Olivier) e sua conspiração contra o rei para se apoderar da corôa que, em primeiro plano, abre e fecha o espetáculo.  Uma das originalidades do filme é que Ricardo é um vilão disforme e carismático que, confidenciando seus planos para os espectadores, os faz cúmplices de suas tramas e crimes; ele acaba manipulando o público tão habilmente quanto faz com seus rivais pelo trono da Inglaterra. O diretor usa por vezes a sombra de Ricardo como uma metáfora visual, refletindo o defeito físico e moral do protagonista e sua perversidade. Como ator, Olivier compõe magnificamente (tal como fizera memoravelmente no palco) esta figura envolvente e sinistra, cercado por um elenco de apoio notável, no qual se destacam Cedric Hardwicke (Eduardo VI), Ralph Richardson (Duque de Buckingham), John Gielguld (Duque de Clarence) e Claire Bloom (Lady Anne). Olivier foi indicado para o Oscar de Melhor Ator.

Jean Simmons e L.O. em Spartacus

L. O. e Maggie Smith em Otelo

Nos anos sessenta, Olivier continuou acumulando teatro e cinema, aparecendo, nos seguintes filmes, às vezes em pequenos papéis: 1960 – Spartacus / Spartacus (Dir: Stanley Kubrick), The Entertainer (Dir: Tony Richardson), adaptação da peça de John Osborne com Joan Plowright, Alan Bates, Brenda de Banzie, Roger Livesey. 1962 – Mentira Infamante / Term of Trial (Dir: Peter Glenville), drama criminal com Simone Signoret, Sarah Miles. 1965 – Bunny Lake Desapareceu / Bunny Lake is Missing (Dir: Otto Preminger), drama de mistério com Keir Dullea, Carol Lynley; Otelo / Othello (Dir: Stuart Burge), filmagem da peça de Shakespeare encenada no National Theatre, com Maggie Smith, Joyce Redman, Frank Finlay. 1966 – Khartoum / Khartoum (Dir: Basil Dearden), drama histórico com Charlton Heston, Richard Johnson, Ralph Richardson. 1968 – As Sandálias do Pescador / The Shoes of the Fisherman (Dir:  Michael Anderson), drama com Anthony Quinn, Oskar Werner, Vittorio De Sica; Romeu e Julieta / Romeo and Juliet (Dir: Franco Zefirelli), produção ítalo-britânica na qual Olivier apenas fala no prólogo e no epílogo). 1969 – Oh! Que Bela Guerra! / Oh! What a Lovely War (Dir: Richard Attenborough), adaptação do musical de John Littlewood com John Mills, Dirk Bogarde, Jack Hawkins, Maggie Smith; A Batalha da Grã-Bretanha / The Battle of Britain (Dir: Guy Hamilton) com Trevor Howard, Michael Redgrave, Ralph Richardson, Susannah York, Kenneth Moore, Christopher Plummer, Curd Jurgens, Kenneth More, Michael Caine, Robert Shaw; A Dança da Morte (na TV) / The Dance of Death (Dir: David Giles), filmagem da peça de August Strindberg encenada no National Theatre. Olivier teve indicação para o Oscar de Melhor Ator por seu trabalho em The Entertainer e Otelo.

Na mesma década, Olivier dedicou-se à direção do Chischester (teatro regional de reputação internacional) e depois do National Theatre, onde obteve um triunfo com a encenação de Tio Vânia de Anton Tchekov, na qual fazia o papel de Astrov, cercado por um elenco que incluía Michael Redgrave, Joan Greenwood, Sybil Thorndike e Joan Plowright, com quem se casou em 1961, após o fim de seu casamento de vinte anos com Vivien Leigh e viveu até o fim de sua vida.

L. O. e Joan Plowright em As Três Irmãs

L. O. e Michael Caine em Jogo Mortal

L.O. em Maratona da Morte

Olivier esteve ainda bastante ativo na tela e no palco nos anos setenta. No cinema, quase sempre como coadjuvante, ele participou de: 1970 – As Três Irmãs (na TV) / Three Sisters (Dir: L. Olivier, John Sichel), versão cinematográfica da produção do National Theatre da peça de Anton Tchekov com Joan Plowright, Derek Jacobi, Alan Bates; Nicholas e Alexandra / Nicholas and Alexandra (Dir: Franklin J. Schaffner), drama histórico biográfico com Michael Jayston, Janet Suzman, Tom Baker. 1972 – Os Amantes de Lady Caroline / Lady Caroline Lamb (Dir: Robert Bolt), drama romântico histórico com Sarah Miles, Richard Chamberlain, John Finch, John Mills; Jogo Mortal / Sleuth (Dir: Joseph L. Mankiewicz), adaptação da peça de Anthony Shaffer com Michael Caine. 1976 – Maratona da Morte / Marathon Man (Dir: John Schlesinger), adaptação do romance de William Goldman com Dustin Hoffman, Roy Scheider, Marthe Keller, William Devane; Visões de Sherlock Holmes / The Seven-Per-Cent Solution (Dir: Herbert Ross), aventura criminal envolvendo Sherlock Holmes e Sigmund Freud com Nicol Williamson, Robert Duvall, Alan Arkin. 1977 – Uma Ponte Longe Demais / A Bridge Too Far (Dir: Richard Attenborough), drama de guerra com Dirk Bogarde, Michael Caine, Sean Connery, Anthony Hopkins. 1978 – Carlitos, o Genial Vagabundo / The Gentleman Tramp como narrador deste documentário biográfico de Charles Chaplin; Os Desalmados / The Betsy, (DIr: Daniel Petrie), drama baseado no romance de Harold Robbins com Robert Duvall, Katharine Ross; Meninos do Brasil / The Boys from Brazil (Dir:  Franklin J. Schaffner) adaptação do romance de Ira Levin com Gregory Peck, James Mason, Lili Palmer. 1979 – Um Pequeno Romance / A Little Romance (Dir: George Roy Hill), comédia romântica com Diane Lane, Thelonius Bernard; Dracula / Drácula (DIr: John Badham) com Frank Langella, Donald Pleasance.

Olivier foi indicado para o Oscar de Melhor Ator por seu trabalho em Jogo Mortal e Meninos do Brasil e de Melhor Ator Coadjuvante em Maratona da Morte.

L.O. em Fúria de Titãs

Incansável, Olivier compareceu na tela em papéis secundários: 1980 – Nasce um Cantor / The Jazz Singer (Dir: Richard Fleischer), refilmagem do primeiro filme falado estrelado por Al Jolson, com Neil Diamond, Lucie Arnaz. 1981 – Inchon (Dir: Terence Young), drama de guerra com Toshiro Mifune, Ben Gazarra, Jacqueline Bisset; Fúria de Titãs / The Clash of Titants (Dir: Desmond Davis, aventura mitológica com Claire Bloom, Maggie Smith, Ursula Andress, Harry Hamlin. 1984 – Rebelião em Alto-Mar / The Bounty (Dir: Roger Donaldson), segunda refilmagem de O Grande Motim / Mutiny on the Bounty, com Mel Gibson, Anthony Hopkins. 1985 – Caçado pelos Cães de Guerra / Wild Geese II (Dir: Peter R. Hunt), aventura focalizando uma tentativa para tirar o criminoso de guerra nazista Rudolf Hess (L.O.) da prisão de Spandau, com Scott Glenn, Edward Fox.

L. O. em The Moon and Six Pence

L.O. em O Poder e a Glória

urante muito anos Olivier resistiu às ofertas para trabalhar na televisão. Entretanto, no final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta, precisando de dinheiro, ele fez duas telepeças para a televisão americana, adaptações dos romances The Moon and Six Pence / 1959 de Somerset Maugham e O Poder e a Glória / The Power and the Glory / 1961 de Graham Greene. Como Charles Strickland (o protagonista do primeiro telefilme inspirado em Paul Gauguin) que, atormentado pela necessidade de pintar, abandona esposa e filhos e a profissão de corretor para se tornar pintor nos Mares do Sul, ele ganhou seu primeiro Emmy.

L. O. em Long Day´s Journey into Night

Seguiram-se outras realizações para a tela pequena, destacando-se:  Uncle Vanya / 1963 de Anton Theckov com Olivier como Astrov, Michael Redgrave como Vanya, Joan Plowright como Sonya; Long Day´s Journey into Night / 1973 de Eugene O´Neill com Olivier como James Tyrone, Sr. (papel que lheu deu seu segundo Emmy) e Constance Cummings como Mary Tyrone; O Mercador de Veneza /  The Merchant of Venice / 1973 com Olivier como Shylock, Joan Plowright como Portia e Jeremy Brett como Bassanio; Amor entre Ruínas / Love Among the Ruins  com Olivier como o advogado Sir Arthur Glanville e Katharine Hepburn como Jessica Medlicott, uma atriz envelhecida, sua cliente e amor perdido de sua juventude, ambos ganhando um Emmy (o terceiro de Olivier), Brideshead Revisited / 1981, como Lord Marchmain (papel que lhe deu seu quarto Emmy) com  Jeremy Irons, Diana Quirk, Anthony Andrew e várias peças para a Granada Television / 1976 com destaque para The Collection e King Lear de Shakespeare

Katharine Hepburn e L. O. em Amor entre Ruínas

Em The Collection, adaptação da peça de Harold Pinter, Olivier dá uma interpretação tocante como um estilista de moda envelhecido, envolvido em um quadrângulo romântico, quando seu jovem amante (Malcolm McDowell) é acusado de ter seduzido a mulher (Helen Mirren) de outro homem (Alan Bates).

Olivier recebeu seu quinto Emmy pela sua última colaboração com o Bardo. Aos setenta e cinco anos de idade ele se sentiu compelido a assumir o papel do monarca egoísta e autoritário que descobre na adversidade a verdadeira natureza humana. Reduzido à miséria, traído por aqueles pelos quais pensava ser mais amado, sua alma é iluminada pela dor e a confusão invade seu espírito. Após sofrer a provação da loucura ele passará de uma atitude orgulhosa e intransigente a uma compreensão profunda e angustiante dos valores e dos afetos humanos. Nesta apresentação emocionante e melancólica da tragédia shakespeareana o grande ator foi cercado por um elenco formidável que comprendia Diana Rigg como Regan, John Hurt como o Bobo, Leo McKern como Gloucester, Robert Lindsay como Edmund, Colin Blakely como Kent, Dorothy Tutin como Goneril, Anna Calder-Marshall como Cordelia.

L. O. em KIng Lear

Nos anos setenta e oitenta Olivier ainda integrou o elenco de várias minisséries e telefilmes (Jesus de Nazaré / Jesus of Nazareth, A Voyage Round My Father, A Talent for Murder, The Ebony Tower, Peter the Great, Lost Empires) e ainda encontrou tempo e fôlego para narrar The World at War, superdocumentário de 26 capítulos sobre a Segunda Guerra Mundial.

HOWARD HAWKS

julho 15, 2022

Ele foi um dos grandes diretores do cinema de Hollywood. Com uma escritura clássica direta e econômica, versátil nos mais variados gêneros, acumulou muitos filmes de alta qualidade e sucesso comercial no seu currículo cinematográfico.

Howard Hawks

Howard Winchester Hawks (1896 – 1977) nasceu em Goshen, Indiana, filho de Frank Winchester Hawks, próspero fabricante de papel e sua esposa Helen Howard, filha de um grande industrial. Seu ancestral paterno John Hawks emigrara da Inglaterra para Massachussets em 1630. Eventualmente a família se instalou em Goshen e nos anos 1890 era uma das mais ricas do Meio Oeste, devido principalmente à altamente lucrativa Goshen Milling Company. O avô materno de Hawks, C. W. Howard, tinha uma propriedade em Neenah, Wisconsin, onde fez fortuna na fábrica de papel da cidade e em outros empreendimentos industriais.

Em 1910 a família se transferiu para Pasadena, Califórnia. Em 1914, após estudar em vários colégios, Hawks entrou para a Cornell University em Ithaca, Nova York. Em 1916 ele trabalhou nas férias de verão como prop boy para Cecil B. DeMille – sua função era acender um fogo quando ouvisse um toque de corneta uma vez e apagá-lo quando ouvisse dois toques. Sem conseguir uma transferência para a Stanford University na Costa Leste, Hawks voltou para Cornell. Quando os EUA entraram na guerra em 1917, prestou serviço militar. Com já tinha experiência como piloto de avião, serviu como tenente, ensinando os aviadores do U.S. Signal Corps a voar.

Apesar de ter perdido o restante das aulas na universidade, Hawks conseguiu o diploma de engenheiro mecânico apesar de sua ausência. Antes de ser convocado para guerra, voltou a trabalhar para DeMille por coincidência em The Little American, filme sobre a Primeira Guerra Mundial, estrelado por Mary Pickford, desta vez cuidando de uma cena de demolição de um castelo alemão bombardeado pelos francêses. Nesta ocasião, funcionou em mais dois filmes antes de ingressar nas forças armadas, em um dos quais (A Princesinha / The Little Princess) teve a chance de dirigir pela primeira vez, substituindo o diretor Marshal Neilan, quando este faltou ao trabalho por embriaguez. O outro filme era Contrastes da Vida / Amarilly of Clothes-Line Alley. Hawks nunca partiu para o além-mar, porque foi mantido como instrutor de vôo no Texas e depois em Fort Monroe, Virginia e após o Armistício foi desligado no posto de segundo tenente.

Depois da guerra, Hawks foi para Hollywood, onde fez amizade com Allan Dwan, também engenheiro, e obteve seu primeiro emprego importante quando, usando seu dinheiro de família, emprestou dinheiro para Jack Warner. Este o contratou como produtor para supervisionar a realização de uma nova série de comédias de um rolo (Wellcome Comedies) com o cômico italiano Mario Bianchi, conhecido nos EUA como Monty Banks.

Posteriormente, Hawks fundou sua própria companhia produtora, Associated Producers, uma joint venture (empreendimento conjunto) entre ele e os diretores Allan Dwan, Marshal Neilan e Allan Hollubar, firmando contrato de distribuição com a First National. A companhia produziu 14 filmes entre 1920 e 1923, quando eles se separaram e Hawks decidiu que não queria mais ser produtor, mas sim diretor.

Hawks morou algum tempo em uma casa alugada com um grupo de amigos (entre os quais Jack Conway, Victor Fleming, Eddie Sutherland) e nesta época conheceu Irving Thalberg, vice-presidente encarregado da produção na MGM. Em 1923, Jesse Lasky estava procurando um novo supervisor de produção (responsável pela aquisição de obras literárias, escolha de diretores, roteiristas e elenco, montagem e apresentação dos créditos dos filmes) e Thalberg sugeriu o nome de Hawks. Lasky contratou-o, para cuidar de quarenta produções, prometendo promovê-lo depois a diretor, mas não cumpriu a promessa. Desiludido, Hawks foi exercer a mesma função na MGM, onde Thalberg lhe fez a mesma promessa, também não cumprida. Frustrado, ele deixou a MGM e foi para Fox e seu irmão Kenneth, que estava trabalhando como assistente de diretor de Clarence Badger na Paramount, acompanhou-o, tornando-se um dos principais supervisores de produção do estúdio.

Na Fox Hawks dirigiu: 1926 – Espelhos d´Alma / The Road to Glory, drama com May McAvoy, Rockliffe Fellowes, Leslie Fenton; Sua Majestade, a Mulher / Fig Leaves, comédia romântica com George O´Brien, Olive Borden, Phyllis Haver. 1927 – Elas por Elas / The Cradle Snatchers, comédia com Louise Fazenda, Ethel Wales, Dorothy Phillips; Paga para Amar / Paid to Love, comédia romântica com George O´Brien, Virginia Valli, J. Farrell MacDonald. 1928 – Uma Noiva em Cada Porto / A Girl in Every Port, comédia com Victor McLaglen, Robert Armstrong, Louise Brooks; Príncipe Fazil / Fazil, drama romântico com Charles Farrell, Greta Nissen, John Boles; Conquistando os Ares / The Air Circus, drama com Arthur Lake, David Rollins, Sue Carol. 1929 – Quem é o Culpado / Trent´s Last Case, melodrama de mistério com Donald Crisp, Raymond Griffith, Marceline Day.

Victor McLaglen e Louise Brooks em Uma Noiva em cada Porto

Uma Noiva em cada Porto é uma comédia banal, mas importante, porque antecipa temas e personagens típicos de Hawks, a amizade viril entre homens e a mulher forte e independente. Dois marujos, Spike Madden (Victor McLaglen) e Salami (Robert Armstrong) disputam suas namoradas em vários portos, mas acabam ficando amigos. Quando Spike se apaixona por uma vampe sedutora (Louise Brooks), Salami deve decidir se vai contar para o amigo a verdade sobre ela. Pabst viu o filme e convidou Louise para ser a sua Lulu em A Caixa de Pandora / Die Büchse der Pandora / 1929.

Em maio de 1929, Hawks saiu da Fox contrariado com certas atitudes de seus patrões e, após vários meses desempregado, renovou sua carreira com o seu primeiro filme falado, iniciando um período de grande fertilidade artística, que se estendeu por toda a década de trinta, destacando-se os filmes assinalados em negrito: 1930 – A Patrulha da Madrugada / The Dawn Patrol, drama de guerra com Richard Barthelmess, Douglas Fairbanks Jr., Neil Hamilton (First National -WB) 1931 – O Código Penal / The Criminal Code, drama criminal de prisão com Walter Huston, Phillips Holmes, Constance Cummings (Columbia); 1932 – Scarface, a Vergonha de uma Nação / Scarface (Caddo Company-Atlantic Pictures / UA); Delirante / The Crowd Roars, drama esportivo com James Cagney, Joan Blondell,  Eric Linden (FN-WB); O Tubarão / Tiger Shark, drama romântico com Edward G. Robinson, Zita Johann, Richard Arlen (FN- VItaphone-WB).1933 – Vivamos Hoje / Today We Live, drama romântico com Joan Crawford, Gary Cooper, Robert Young (MGM). 1934 – Suprema Conquista / Twentieth Century (Columbia).1935 – Duas Almas se Encontram / Barbary Coast, aventura, drama e romance com Edward G. Robinson, Miriam Hopkins, Joel Mc Crea; Heróis do Ar / Ceiling Zero, aventura de aviação com James Cagney, Pat O´Brien, June Travis (Cosmopolitan -FN-WB). 1936 – O Caminho da Glória / The Road to Glory, drama com Fredric March, Warner Baxter, Lionel Barrymore (20th Century-Fox); Meu Filho é Meu Rival / Come and Get It (Samuel Goldwyn, Howard Productions / UA). 1938 – Levada da Breca / Bringing up Baby (RKO). 1939 – Paraíso Infernal / Only Angels Have Wings (Columbia).

Paul Muni em Scarface, a Vergonha de uma Nação

Scarface, a Vergonha de uma Nação é um drama criminal escrito por um quarteto notável de roteiristas – Bem Hecht, W.R. Burnett, John Lee Mahin, Seton I. Miller – que adaptou o romance de Armitage Trail, baseado na vida de Al Capone, aqui rebatizado de Tony Camonte e interpretado magnificamente por Paul Muni. Hecht declarou que pretendia mostrar Camonte e a irmã, Casca (Ann Dvorak), como equivalentes na Era da Lei Sêca a César e Lucrécia Borgia, embora no filme esta analogia nunca se torne explícita.  A fotografia de Lee Garmes, o elenco afinadíssimo, que inclui ainda Boris Karloff e Osgood Perkins (o pai de Anthony Perkins), e a vivacidade cinematográfica de Hawks são outros trunfos do espetáculo produzido por Howard Hughes. Inquestionavelmente um clássico do filme de gângster, súmula de tudo o que já havia sido feito e modelo do que ainda se faria no gênero.

Carole Lombard e John Barrymore em Suprema Conquista

Suprema Conquista é uma comédia amalucada espirituosa, baseada na peça de Ben Hecht e Charles MacArthur, com roteiro deles mesmos, sobre o egocêntrico e arrogante produtor-diretor da Broadway (John Barrymore) que transforma em estrela uma vendedora de loja desconhecida (Carole Lombard) e depois, quando, aceitando convite para Hollywood, ela se liberta de sua tirania, faz tudo para convencê-la a participar de uma nova produção, durante uma viagem no famoso trem expresso de Chicago e Nova York. O filme todo concentra-se em Barrymore e ele dá um show com seus acessos de raiva, mudanças bruscas de temperamento, fingimentos e imitações – inclusive a mais hilariante, de um camelo. Carole é a companheiro ideal para o maravilhoso ator e tem chance de demonstrar sua enorme aptidão para o gênero.

Walter Brennan, Edward Arnold e Francis Farmer em Meu Filho é meu Rival

Meu Filho é Meu Rival / Come and Get It (co-dir: William Wyler) é um drama romântico baseado em um romance de Edna Ferber, sobre o magnata de uma indústria madeireira, Barney Glasgow (Edward Arnold), que se torna rival do próprio filho (Joel Mc Crea) no amor pela filha da mulher que ele conhecera anos antes e rejeitara por dinheiro e posição. Entre as melhores cenas, a da briga de bandejas no bar e a do corte das árvores, esta em forma de documentário, filmada por Robert Rosson, em segunda unidade. Walter Brennan ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante como Swan Bostrom, o melhor amigo de Glasgow que se casara com Lotta, quando Barney a rejeitara e Francis Farmer, ao mesmo tempo como mãe e filha (também chamada Lotta), teve o melhor desempenho de sua carreira (Samuel Goldwyn, Howard Productions / UA.)

Cary Grant e Katharine Hepburn em Levada da Breca

Levada da Breca é uma comédia na qual Cary Grant e Katharine Hepburn se entregam de corpo e alma ao slapstick (pastelão) – ela, como Susan Vance, a garota rica impetuosa cujo cãozinho rouba o raro e valioso osso que faltava para ele, o tímido paleontólogo David Huxley, completar o esqueleto de um dinossauro. Huxley depende do dinheiro da tia de Susan para levar adiante seu trabalho no museu e a jovem é dona de um leopardo domesticado chamado “Baby”, a certa altura confundido com outro, que fugira de um circo. As confusões se sucedem muito bem conduzidas por Hawks.

Jean Arthur e Cary Grant em Paraiso Infernal

Paraiso Infernal é uma aventura sobre o correio aéreo feito – a partir de uma base em cidade fictícia da América do Sul – por uma pequena companhia endividada, cujos aviadores voam quase sempre em más condições através de passagens de montanha perigosas. Geoff Carter (Cary Grant) comanda os pilotos na sua dífícil missão e a situação se complica quando aparece Bat McPherson (Richard Barthelmess) e sua esposa Judy (Rita Hayworth), ex-amante de Geoff. McPherson é um piloto rejeitado pelos outros, porque saltou de paraquedas de seu avião em chamas, deixando o mecânico – irmão de “Kid” Darby (Thomas Mitchell), melhor amigo de Geoff – morrer no acidente. Com pilotos fora do serviço ou mortos, Geoff tem que usar McPherson, mas o adverte de que ele só vai incumbí-lo das missões mais perigosas. No local surge ainda Bonnie Lee (Jean Arthur), uma corista de férias na região, que se apaixona por Geoff e pretende conquistá-lo. Tratando de temas de sua predileção tais como companheirismo entre os homens e a heroína decidida, Hawks incutiu densidade dramática ao espetáculo, que transcorre praticamente o tempo todo em um espaço restrito, sem cansar o espectador.

No mesmo decênio, Hawks trabalhou na filmagem do drama esportivo O Pugilista e a Favorita / The Prizefighter and the Lady / 1933 (substituído por W.S. Van Dyke) e na cinebiografia Viva Villa! / Viva Villa! / 1934 Hawks (substituído por Jack Conway). Devido à interferência do estúdio em ambas as filmagens, Hawks rompeu com a MGM, sem completar nenhum dos dois filmes.

A fecundidade criativa de Hawks continuou nos anos 40: 1940 – Jejum de Amor /His Girl Friday, comédia amalucada com Cary Grant, Rosalind Russell, Ralph Bellamy (Columbia).  1941 – Sargento York / Sergeant York (Warner Bros.); Bola de Fogo / Ball of Fire, comédia amalucada com Gary Coper, Barbara Stanwyck, Oscar Homolka (Samuel Goldwyn / UA). 1943 – Águias Americanas / Air Force, drama de guerra com John Garfield, John Ridgely, Gig Young (Warner Bros.). 1944 – Uma Aventura na Martinica / To Have and Have Not (Warner Bros.). 1946 – À Beira do Abismo / The Big Sleep (Warner Bros.). 1948 – Rio Vermelho / Red River (Monterey Prod. / UA); A Canção Prometida / A Song is Born, comédia musical com Danny Kaye, Virginia Mayo, Hugh Herbert (Samuel Goldwyn / RKO.) 1949 – A Noiva Era Ele / I Was a Male War Bride, comédia romântica com Cary Grant, Ann Sheridan, Marion Marshall (20thCentury-Fox).

Em 1943 Hawks dirigiu, sem ser creditado, cenas do western O Proscrito / The Outlaw (Howard Hughes Prod./ UA) e do drama de guerra Corvetas em Ação / Corvette K-225 (Universal), tendo sido mencionados como diretores respectivamente Howard Hughes e Richard Rosson.

Gary Cooper em Sargento York

Sargento York é a cinebiografia de Alvin Cullon York, o maior herói da Primeira Guerra Mundial, mostrando com algumas imprecisões para fins edificantes (v. g. o episódio da revelação sob a tempestade é fictício) e propagandísticos, a luta interior de um matuto do Tennesseee cuja fé cristã entra em conflito com seu patriotismo. Com seu estilo simples, Hawks conseguiu produzir um bom entretenimento e Gary Cooper (escolhido pelo próprio York) com sua interpretação fleumática, deu credibilidade ao personagem. Houve 11 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor, Ator, Ator Coadjuvante (Walter Brennan), Atriz Coadjuvante (Margaret Wycherly), Fotografia, Roteiro Original, Montagem, Direção de arte, Som, Música. Saíram vencedoras as categorias de Melhor Ator (Gary Cooper) e Melhor Montagem (William Holmes.

Humphrey Bogart e Lauren Bacall em Uma Aventura na Martinica

Uma Aventura na Martinica é uma aventura de guerra vagamente baseada em um romance de Ernest Hemingway. O roteiro, escrito por Wiliam Faulkner e Jules Furthman, focaliza o envolvimento com a resistência francêsa de Harry Morgan (Humphrey Bogart), americano cínico e individualista que ganha a vida levando para a pesca turistas ricos e seu encontro com Marie (Lauren Bacall), conterrânea aventureira linda e insolente. Com seu estilo visualmente sêco Hawks conduz a narrativa com habilidade, entremeando-a com interlúdios musicais, tirando bom partido dos subentendidos picantes e pondo em relevo o encontro Bogart-Bacall, formando-se assim um dos casais mais célebres de Hollywood.

Lauren Bacall e Humphrey Bogart em À Beira do Abismo

À Beira do Abismo é um filme noir com enredo muito complicado, que se desenvolve em ritmo veloz, forçando o espectador a assimilar os fatos e avaliar as situações rapidamente, para não fica confuso. Porém Hawks não se preocupou com isso, porque sua intenção primordial, como ele próprio declarou, era fazer com que cada cena, por si mesma, se tornasse a mais divertida possível. Entre os momentos mais atraentes: o primeiro encontro de Marlowe (Humphrey Bogart) com as irmãs Sternwood, Carmen (Martha Vickers)) tentando seduzí-lo … à primeira vista; o assassinato por envenenamento do patético Harry Jones (Elisha Cook Jr.); Vivian (Lauren Bacall) cantando “And her tears flowed like wine …”; o climático tiroteio no final; e, melhor do que todas, a cena da livraria, quando Marlowe sugere um drinque e a atendente (Dorothy Malone) com aparência de intelectual desce as persianas e fecha a porta, com uma tabuleta do lado de fora que diz: Fechado. O fascínio do espetáculo não está na sua história, mas sim na atmosfera de mistério, no erotismo, nos duelos verbais insolentes e, como pretendeu Hawks, na qualidade de cada cena. Não sabemos quem são os assassinos, quem é aliado de quem, quem fala a verdade e quem mente ou porque certas pessoas estão em determinado lugar em um determinado momento. Cada nome, cada situação é um enigma e a proposta dos roteiristas não é solucioná-los, mas incrementar ainda mais o clima de suspeita e incerteza.

John Wayne e Montgomery Clift em Rio Vermelho

Rio Vermelho é um western com John Wayne como o vaqueiro Tom Dunson, cuja obstinação e autoridade quase patológicas são utilizadas por Hawks para enriquecer a ação. O filme impressiona pelo seu classicismo, sua simplicidade e uma fotografia excepcional proporcionada por Russell Harlan. Em poucos planos o diretor expõe o cenário e a atmosfera. Movendo-se rapidamente pelas planícies sem horizontes e cobrindo o vasto território que os vaqueiros devem percorrer na sua odisséia, a câmera capta as tempestades, os rios, os desfiladeiros e as montanhas distantes com grande senso de beleza. O diretor não se ocupa somente com as relações humanas e suas tensões, como também com a ação e o espetáculo. Um impressionante estouro de boiada e o salvamento de uma caravana sitiada pelos índios são cenas bastante movimentadas, mas o filme também é peculiarmente eficiente ao mostrar o detalhe quase documentário da rotina diária de uma cattle drive.

Nos anos 50 e 60, Hawks ainda estava em plena atividade fílmica oferecendo ao público: 1952 – O Rio da Aventura / The Big Sky (Winchester Prod. / RKO; O Inventor da Mocidade / Monkey Business, comédia amalucada com Cary Grant, Ginger Rogers, Charles Coburn (20thCentury-Fox); Páginas da Vida / O. Henry´s Full House (episódio The Ransom of the Red Chief com Fred Allen, Oscar Levant, Lee Aaker (20thCentury-Fox). 1953 – Os Homens Preferem as Louras / Gentlemen Prefer Blondes, comédia musical com Jane Russell, Mariyn Monroe, Charles Coburn (20thCentury-Fox).  1955 – Terra dos Faraós / Land of the Pharaohs (Continental Company / Warner Bros.). 1959 – Onde Começa o Inferno / Rio Bravo (Armada Prod. / Warner Bros.). 1962 – Hatari! / Hatari, aventura com John Wayne, Elsa Martinelli, Hardy Kruger (Malabar Prod. / Paramount). 1964 – O Esporte Favorito do Homem / Man´s Favorite Sport, comédia com Rock Hudson, Paula Prentiss, Maria Perschy Gibraltar-Laurel Prod. / Universal). 1965 – Faixa Vermelha 7000 / Red Line 7000, drama esportivo com James Caan, Laura Devon, Gail Hire (Laurel Prod. / Paramount). 1967 – El Dorado / El Dorado (Laurel Prod. / Paramount). 1970 – Rio Lobo / Rio Lobo, western com John Wayne, Jorge Rivero, Jennifer O´Neill (Malabar Prod. and Cinema Center Films / National General). Em 1951, Hawks concebeu, produziu e supervisionou a realização de O Monstro do Ártico / The Thing from Another World, tendo sido a direção creditada a Christian Nyby.

KIrk Douglas (no centro) em O Rio da Aventura

O Rio da Aventura é um western no qual dois amigos, Jim Deakins (Kirk Douglas) e BooneCaudill (Dewey Martin), juntamente com o velho Zeb (Arthur Hunnicut), tio de Boone, são contratados por caçadores franceses para subir o rio Missouri em uma barca até as montanhas de Montana. Eles levam uma enorme carga de uísque, pólvora e balas e uma jovem índia, Teal Eye (Elizabeth Threatt), que pretendem repatriar para sua tribo longínqua, os Blackfoot, esperando com isso estabelecer laços comerciais com aqueles índios. No percurso enfrentam uma multiplicidade de perigos. Hawks celebra o espírito de aventura, o livre empreendimento e a amizade tempestuosa, porém sólida, entre os corajosos pioneiros. A ação é lenta, no ritmo da difícil navegação, mas em vários momentos se anima ao sabor das numerosas peripécias da viagem, ao fim da qual um jovem adquire a maturidade. A música de Dimitri Tiomkin e a fotografia de Russel Harlan contribuem para o `êxito do espetáculo.

Jack Hawkins e Joan Collins em Terra dos Faraós 

Terra dos Faraós é um drama de aventura histórico, com roteiro de Wiliam Faulkner, Harry Kurnitz e Harold Jack Bloom, imaginando – além das intrigas da corte – como teria sido construída a construção a pirâmide de Queops e os prováveis métodos que os egípcios teriam empregado para fechá-la, utilizando-se areia. As melhores sequências do filme são as da construção do edifício monumental com grande deslocamento de figurantes e a cerimônia do sepultamento do faraó, na qual o grão sacerdote Hamar (Alexis Minotis) conduz Nellifer (Joan Collins), a ambiciosa e traiçoeira esposa do soberano morto ao interior da pirâmide e ela é encerrada viva na câmara mortuária quando o mecanismo inventado pelo arquiteto Vashtar (James Robertson Justice) é acionado e os grãos de areia vão caindo e lacrando o recinto para sempre. A música de Dimitri Tiomkin, a direção de arte de Alexandre Trauner e a fotografia de Lee Garmes e Russell Harlan e a direção austera de Hawks conjugam-se harmoniosamente para a criação desta produção majestosa.

Rick Nelson, John Wayne e Dean Martin  em Rio Bravo

Onde Começa o Inferno é um western dentro da melhor tradição do gênero, que retira toda a sua força da sobriedade com que foi elaborado. A intriga é simples: em Rio Bravo um xerife, John T. Chance (John Wayne) aprisiona o irmão de um poderoso da localidade e espera a vingança infalível, contando apenas como auxílio de um velho coxo, Stumpy (Walter Brennan), um bêbado, Dude (Dean Martin) e um jovem pistoleiro, Colorado Ryan (Rick Nelson). Hawks mostra os temas do Oeste com seus temas pessoais, a amizade viril, o homem em ação, o profissionalismo, a aventura. Todas as peripécias se concentram no interior claustrofóbico dos bares, hotel e cadeia. Não há uma abertura para o exterior, nada de paisagens e cavalgadas. O cineasta preocupa-se somente com o essencial, que para ele são os personagens. Se o ritmo do filme é lento é porque a lentidão é própria da estratégia que permitirá aos defensores da lei sobrepujar seus ferozes e maquiavélicos adversários. Entretanto, não se trata de uma lentidão pesada, teatral, e de qualquer modo o diretor soube entremear a narrativa com acontecimentos inesperados e cenas de humor de maneira que não cansem o espectador. Hawks torna esplêndidas as situações mais clássicas e inventa cenas de antologia como, por exemplo, a célebre gota de sangue no copo de cerveja para denunciar o esconderijo do facínora.

John Wayne, Robert Mitchum, James Caan e Arthur Hunnicut e em El Dorado

El Dorado é quase uma refilmagem de Onde Começa o Inferno. O xerife Cole Thornton (John Wayne) encontra seu assistente J. P. Harrah (Robert Mitchum, alcoólatra por causa de uma decepção amorosa. Ele consegue recuperá-lo e, com o auxílio do jovem “Mississipi” (James Caan) e do velho Bull Harris (Arthur Hunnicut), enfrenta o poderoso criador de gado Bart Jason (Edward Asner) e seus pistoleiros. Os ataques e contra-ataques se sucedem, e como é que Thornton (parcialmente paralisado), Harrah (de muletas, “Mississipi” (ferido na cabeça) e Bull (armado de arco e flecha) conseguirão se livrar dos bandidos? Mesmos personagens, mesmas situações, mesmo cenário, o tema da lealdade e amizade viril que Hawks gosta de abordar em sua obra, cenas de combate brutais alternados com episódios humorísticos (v. g. o tratamento do alcoolismo de Harrah). A novidade é a idéia da momentânea incapacidade física dos defensores da lei.

Em 1962, Hawks recebeu o David Wark Griffith Award do Director´s Guild of America e em 1974 a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas lhe concedeu um Oscar Honorário “como um mestre realizador de filmes americanos cujos esforços criativos ocupam um lugar de destaque no cinema mundial”.

ELEMENTOS DE LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA CLÁSSICA II

julho 6, 2022

Vamos falar agora do Ritmo Cinematográfico, para o qual influem a Montagem e a Pontuação. Montagem (Editing) é a organização dos planos filmados de acordo com uma ordem e um tempo estabelecidos pelo diretor. Pontuação (ou Transição) são as diversas modalidades pelas quais os planos são ligados entre si. É um processo de articulação da narrativa. Com a montagem e a pontuação é que o diretor vai criar o ritmo do filme.

Cada plano tem o seu momento certo de saturação. Se o diretor bobear, o filme pode perder o fôlego, estrebuchar e morrer. Um corte deve ser feito no pico, no auge da Curva de Contentamento (Content Curve). O que vem a ser isso?  É a quantidade de tempo necessária para que o espectador médio possa assimilar a informação contida em um plano, ou seja, o significado, o conteúdo de um plano. É o que chamamos de Momento de Saturação. O corte feito antes deste momento de saturação frustraria a assimilação do significado do plano pelo espectador; o corte feito após este momento de saturação produziria o tédio. Michelangelo Antonioni, por exemplo, em muitos de seus filmes corta após o pico da curva de contentamento. Quando A Aventura. / L’ Avventura / 1960   foi exibido em Cannes, os críticos presentes na platéia começaram a gritar “Corta! Corta!”, porque pensavam que ele não soubera montar o filme. Só que não era nada disso. O ritmo estava de acordo com o tema e a proposta do diretor de desdramatizar a narrativa. Ele desrespeitou a curva de contentamento exatamente para dar a impressão de exaustão, de abatimento, de infelicidade que tomava conta dos personagens.

Existem dois tipos de montagem: Montagem Narrativa ou Dramática e Montagem Intelectual ou Dialética.

Na Montagem Narrativa ou Dramática, que é a forma mais simples, sistematizada por David Wark Griffith, ajuntam-se os planos para narrar uma história ou lhe dar dramaticidade.

Como subdivisões da montagem narrativa ou dramática nós temos:

Montagem Cronológica, quando se organiza um filme em uma ordem lógica e cronológica.

Montagem Acronológica, quando passado, presente e futuro se misturam geralmente por meio de Flash Backs ou Flash Forwards, isto é, retrospectos ou reminiscências do que já aconteceu ou visões do que vai acontecer. Exemplos de filmes que adotam este tipo de montagem: Cidadão Kane / Citizen Kane / 1941 de Orson Welles; Hiroshima meu Amor / Hiroshima mon Amour / 1959 de Alain Resnais. Existem filmes nos quais existem vários flashbacks (v. g. Passagem para Marselha / Passage to Marseille / 1994 de Michael Curtiz) e uns com até onze retrospectos como no filme noir Os Assassinos / The Killers / 1946 de Robert Siodmak. No filme A Morte do Caixeiro Viajante / Death of a Saleman / 1951 de Laslo Benedek, há um emprego curioso do flashback: a ação do passado e do presente ocorrem simultaneamente. Há, por exemplo, uma cena na qual vemos o presente na frente do quadro (a esposa sentada na mesa da copa) e, ao fundo, o pretérito (o marido abraçando a amante que tivera no passado).

Montagem Paralela (Cross Cutting), quando se mostra em alternância duas ou mais ações ocorrendo ao mesmo tempo em lugares diferentes. O exemplo mais comum é o da caravana de pioneiros sendo atacada pelos índios e o regimento de cavalaria que avança para socorrê-los. Exemplo mais complexo encontramos em A Ponte do Rio Kwai / The Bridge on the River Kwai / 1957 de David Lean: nós vemos alternadamente o trem que se aproxima da ponte, o coronel inglês descobrindo o fio do detonador de dinamite e os sabotadores na expectativa. São três ações paralelas, obtendo-se um grande suspense. Às vezes, porém, o paralelismo começa desde o início do filme e vai até o desenlace. Diz- se então que é uma Montagem por Sincronismo. É o que ocorre, por exemplo, no filme Retratos da Vida / Les Uns et les Autres / 1981 de Claude Lelouch ou em Os Deuses Vencidos / The Young Lions / 1958 de Edward Dmytryk.

Montagem por Estribilho ou Refrão, quando se faz uma repetição da imagem que contém uma idéia que se quer sublinhar. Em literatura refrão é a repetição de versos; no cinema, repetição de imagens. Exemplo: Em Intolerância / Intolerance /1916 de David Wark Griffith vemos a repetição da imagem do berço entre as quatro histórias para sublinhar a esperança que sempre renasce, apesar de ter havido tanta intolerância através dos tempos. Outro exemplo encontramos no filme Le Journal d´un Curé de Campagne / 1951 de Robert Bresson, no qual há o retôrno frequente da imagem do diário e da caneta na mão do padre, para sublinhar a idéia de que os acontecimentos narrados são os que estão no pensamento do padre quando está escrevendo o seu diário.

Montagem Intelectual ou Dialética, que é a forma mais complexa, e que foi inventada por Serguei Eisenstein, quando se ajunta os planos com a intenção de sugerir uma imagem ou conceito abstrato pelo choque entre estes planos, pela colisão entre os planos. Eisenstein comparava a montagem intelectual ou dialética, que ele chamava também de Montagem de Atração, com as explosões de um motor de combustão interna que impele um automóvel ou um trator. E, dizia ele, a montagem convencional comanda as emoções, mas a montagem intelectual comanda o pensamento. Um exemplo desta montagem intelectual está no filme A Greve / Stachka / 1925, no qual se vê em uma sequência imagens de operários sendo dizimados pelos soldados do tsar e, intercaladas entre elas, imagens de bois abatidos em um matadouro. A idéia sugerida pelo choque dos planos é a de de que os operários são abatidos como s fossem gado.

Como subdivisões da montagem intelectual ou dialética nós temos:

Montagem por Analogia, quando se relaciona planos de forma ou conteúdo semelhantes. Em Tempos Modernos / Modern Times / 1936, Charles Chaplin compara os operários de uma fábrica a um rebanho de ovelhas. No filme O Ídolo Caído / Fallen Idol / 1948 de Carol Reed, o diretor mostra uma mulher furiosa e depois uma leoa. Em Fúria / Fury / 1936 de Fritz Lang, vemos mulheres mexericando e depois galinhas cacarejando.

Montagem por Contraste, quando se relaciona planos de forma ou conteúdo diferentes. Exemplo: o diretor mostra a fachada de uma bela mansão e depois um mendigo.

Mas, com relação à montagem intelectual, temos que verificar o seguinte: se, de um lado os diretores conseguiam sugerir uma idéia ou um conceito com o choque de imagens, por outro, a verdade dramática era falseada. Porque, por exemplo, no filme A Greve já citado, a ação se passava nas fábricas e nas ruas e não no matadouro, cujas imagens foram inseridas arbitrariamente em um acontecimento e em um espaço da ação com os quais nada tinha a ver. Entretanto, naquele tempo, a novidade da montagem intelectual surpreendia, e o espectador esquecia a razão dramática captando apenas a razão dialética. Hoje, a gente percebe o artificialismo daquela justaposição de planos, como também a sua frequente obscuridade: nem sempre dava para entender qual era a idéia ou o conceito que o diretor estava querendo sugerir. Isto, aliás, veio a ser reconhecido pelo próprio Eisenstein.

Ligada de certa forma à montagem, nós temos o que se chama de Continuidade Direcional (Directional Continuity) ou seja, a montagem de planos de uma forma suave, de modo que a ação em uma sequência pareça ser contínua. A montagem continuativa estabelece relações espaciais e temporais entre os planos, de tal modo que o espectador possa “ler” o filme sem nenhum esforço consciente, precisamente porque a montagem é “invisível”. Para isso respeitam-se algumas regras tais como: a) a do Match on Action (ao cortar no meio da ação, tomar todo cuidado  para que o momento da ação correspondente ao fim do primeiro plano seja o instante inicial do segundo, para que ela pareça ininterrupta – assim, se um personagem começa a sentar em um plano médio, um montador cortará para um plano mais próximo enquanto a ação continua); b) a dos 30º (evitar toda mudança de ângulo de menos de 30º, pois isto resulta  em um “salto”, que causa um certo desconforto no espectador); c) a dos 180º (a câmera não pode ultrapassar a linha imaginária de 180º ou eixo da ação – se a câmera  cruzar o eixo da ação após uma tomada e filmar o próximo plano do outro lado da linha de 180º, a posição original dos personagens será invertida nesta segunda tomada, dando a impressão de que eles mudaram de posição, quando se corta de um plano para outro); d) a dos planos de referência (sempre que uma nova sequência apresente um novo local, deve-se dar uma visão geral da cena, antes de cortar para os planos mais próximos – que dirigem o olhar do espectador para os momentos mais significativos da ação -, seguindo-se novos planos gerais para restabelecer as relações espaciais).

Outro princípio, é o da preservação do sentido de direção, cumprido por procedimentos chamados de Eyeline Match  (quando dois planos mostram duas pessoas diferentes que supostamente estão olhando uma para a outra, a pessoa A deve olhar para a direita e a pessoa B para a esquerda ou vice-versa, porque, se ambos olharem para a mesma direção em dois planos sucessivos, o espectador terá a impressão de que elas não estão olhando uma para a outra e sentirá que perdeu sua orientação no espaço cênico) e Matching Screen Direction (alguém que sai do quadro pela esquerda deve retornar pela direita; se isto não ocorrer, vai parecer que houve uma mudança na direção para a qual a pessoa está se movimentando).

Vejamos agora a Pontuação. Nós temos os seguintes recursos de pontuação, que podem ser de passagens rápidas ou lentas.

Passagens Rápidas:

Corte ou Corte Seco (Cut), que é a passagem instantânea de um plano para outro. É a transição mais elementar, simples mudança de ponto de vista.

Desfoque ou Mudança de Foco (Focus Shift). Por exemplo: em vez do corte, o diretor mostra um personagem dentro do foco e este depois sai de foco e entra em foco um outro personagem que está mais afastado da câmera. Enfim, o diretor guia o olho do espectador de um plano para outro.

Cortina (Wipe), quando linhas se movem na tela varrendo a imagem antiga e instalando a nova.  Podem ser em sentido horizontal, vertical, em leque, em íris etc. As cortinas eram muito usadas no cinema mudo, no início do cinema falado e nos jornais cinematográficos. No cinema moderno é mais raro o seu uso.

Fiadura ou Chicote (Zip Pan), quando a câmera abandona uma imagem e vai colher a seguinte em uma panorâmica rapidíssima. Por exemplo, em Cidadão Kane, na cena do almoço de Kane com a esposa, onde uma série de cenas curtas unidas por chicotes, nos mostra a deterioração do casamento deles.

Corte Interrompido ou Salto de Montagem (Jump Cut), quando interrompe a ação de uma sequência. Acossado / À Bout de Souffle / 1960 de Jean-Luc Goddard contém cortes interrompidos que desafiam intencionalmente a continuidade.

 Cutaway Shot é a interrupção de uma ação filmada continuamente para inserir uma visão de outra coisa. Exemplo: um homem andando em um beco e corta para um gato ou uma pessoa que olha pela janela.

Passagens lentas:

Clareando (Fade-In) e Escurecimento (Fade-Out), quando a tela vai se clareando ou escurecendo.

Fusão ou Dissolvência (Lap Dissolve), quando uma imagem vai desaparecendo e outra surgindo, superpondo-se as duas momentaneamente na tela. Exemplo: em Um Lugar ao Sol / A Place in the Sun / 1951 de George Stevens; em Passagem para a Índia / A Passage to India / 1984 de David Lean. A fusão é o recurso de pontuação mais elegante de todos.

Então, como já dissemos, é com a montagem e pontuação, e com o senso de Minutagem, isto é, a noção do tempo em que cada imagem deve permanecer na tela, do exato momento de saturação de cada plano, que o diretor vai criar o ritmo cinematográfico. Este é uma espécie de sangue que circula no filme e o anima. O ritmo é um elemento vital para o filme.

 Convém lembrar que não devemos confundir Montagem com Montage ou Sequência de Montagem que é uma série de cenas rápidas condensando acontecimentos. Don Siegel, quando era chefe do departamento de montagem da Warner Bros., produziu várias sequências de montagem inclusive a cenas em Casablanca / Casablanca / 1942 de Michael Curtiz nas quais Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Bergman) se apaixonaram no passado em Paris.

Vejamos agora os Efeitos da Montagem que são as figuras de linguagem ou de estilo que podem ser produzidas pela montagem.

Elipse. Na teoria literária, é a omissão de palavras em uma frase, que facilmente se subentende. Por exemplo na frase não posso cair. Subentende-se facilmente que foi omitida a palavra eu (eu não posso sair). É a chamada elipse do sujeito. Há também a elipse do verbo (no mar tanta tormenta, ou seja, no mar há tanta tormenta) e a elipse de conjunção (peço-lhe me deixe ir, ou seja, peço-lhe que me deixe ir).

Já no cinema, a elipse é a omissão, a supressão das imagens, geralmente com três finalidades:

1) abreviar a narrativa, mostrando apenas os momentos mais expressivos. O diretor mostra apenas uma parte da ação como símbolo significativo de todo um acontecimento. Por exemplo, ele mostra apenas uma aliança que passa para o dedo da noiva, suprimindo a cerimônia nupcial. É a chamada Elipse Simbólica.

2) abreviar os tempos inúteis da ação. Exemplo: um personagem sai do escritório e vai para a sua residência. O diretor mostra apenas um plano dele fechando a porta do escritório e em seguida outro plano dele abrindo a porta da casa, sem mostrar o percurso. É a chamada Elipse Cronológica, da qual nós temos um exemplo sensacional no filme de Stanley Kubrick, 2001, Uma Odisséia no Espaço quando o macaco joga o osso para o alto e ele vai girando e se transforma em uma espaçonave. É a maior elipse cronológica do cinema, pois com ela foram suprimidos vários séculos, passando-se da pré-história ao século 21.

3) ocultar um instante decisivo da ação para manter o interesse ou o suspense.  Por exemplo, no final do filme No Tempo das Diligências / Stagecoach / 1939 de John Ford há um duelo entre o mocinho (John Wayne) e o bandido (Tom Tyler). Em vez de mostrar a briga, a câmera vai para o saloon, onde os fregueses aguardam ansiosos o desfecho do acerto de contas. Ouvem-se tiros e logo depois abre-se a porta do saloon e aparece o bandido, que dá uns passos e cai morto. Depois entra o mocinho, são e salvo. Esta é a chamada Elipse Artística. Um outro exemplo nós encontramos no filme O Boulevard do Crime / Les Enfants du Paradis / 1945 de Marcel Carné. Quando Lacenaire (Marcel Herrand) vai dar uma punhalada, não vemos a morte do conde de Montray (Louis Salou), mas a fisionomia de uma testemunha do crime, cuja expressão é muito mais sugestiva do que o próprio gesto do criminoso.

Metáfora. É o que na teoria literária se chama tropo (do grego tropos, desvio de sentido). Quando eu digo, o pé da mesa, os dentes do pente, a primavera da vida, a luz da inteligência, estou fazendo uma metáfora. No cinema, é o emprego de uma imagem no sentido figurado. O exemplo mais corriqueiro é o do casal se abraçando em uma cama e a câmera que vai deslizando discretamente para as chamas crepitantes de uma lareira, para mostrar o fogo da paixão. O Símbolo é uma variação da Metáfora. No filme Rashomon / Rashômon / 1950, Akira Kurosawa usa água como símbolo da purificação. Alegoria é algo maior do que o símbolo. É uma metáfora que se repete e se univerdsaliza. Às vezes todo o filme é uma alegoria como, por exemplo, O Processo / Le Procès / 1962 de Orson Welles, que é uma alegoria da Justica. A Lista de Schindler / Schindler´s List / 1993 pode ser visto como uma alegoria da bondade.

Rima. Na teoria da literatura a rima é a semelhança de sons em determinados lugares dos versos. A rima no cinema é a semelhança visual ou auditiva de imagens subsequentes. No filme Rio 40 Graus / 1955 de Nelson Pereira dos Santos, as pernas dos transeuntes que param ao redor do corpo de um menino atropelado fundem-se com as pernas dos jogadores de futebol no Maracanã.  Esta é uma rima visual. No mesmo filme há uma rima auditiva: o ruído dos freios do automóvel transforma-se na gritaria dos torcedores no estádio. No filme Os 39 Degraus / The 39 Steps / 1935 de Alfred Hitchcock, o diretor passa do plano da boca de uma mulher gritando ao descobrir o corpo da vítima para o plano de um trem entrando velozmente em um túnel.

Estiramento ou Expansão do Tempo. É um procedimento oposto ao da elipse. É quando o diretor estica o tempo necessário ao conhecimento das circunstâncias de determinado acontecimento. Por exemplo, no filme O Encouraçado Potemkin / Bronenosets Potemkin / 1925 de Serguei Eisenstein, na famosa sequência das escadarias de Odessa e na sua citação no filme Os Intocáveis / The Untouchables / 1987 de Brian de Palma. O que de fato levaria frações de segundo para o espectador entender, aparece na tela como duração bem superior. A narrativa é minuciosa e repetitiva. Outro exemplo nós temos no filme O Homem Que Sabia demais / The Man Who Knew Too Much / 1956 de Alfred Hitchcock na cena do Royal Albert Hall, quando o criminoso se prepara para cometer o assassinato. O diretor estica o tempo necessário ao conhecimento da circunstância do disparo da arma, a fim de aumentar o suspense.

Para terminar nossa exposição dos elementos de cinestética, vejamos os vários tipos de tempo no cinema:

Tempo do Filme, que é o da projeção do filme e por isso é chamado de Tempo Real.

Tempo da Ação do Filme, chamado de Tempo Dramático, que pode ser: Tempo Condensado ou Diegético, quando, por exemplo, vemos em duas horas o que se deu em dez, vinte ou trinta anos ou Tempo Fiel quando, por exemplo, o tempo de projeção é igual ao tempo da ação do filme como aconteceu em Matar Ou Morrer / High Noon / 1952 de Fred Zinnemann, Punhos de Campeão / The Set- Up / 1949 de Robert Wise ou Festim Diabólico / Rope / 1948 de Alfred Hitchcock.

Tempo Psicológico, que é o tempo percebido pelo espectador. A impressão subjetiva, emocional da duração que o espectador experimenta ao assistir o filme, conforme esteja ou não interessado ou participando da história. Se estamos entretidos, o tempo “passa depressa”, se estamos entediados, o tempo “custa a passar”. Assim como há o tempo psicológico, há o Ritmo Psicológico do Espectador. Por exemplo, a maioria dos espectadores de hoje não gosta de ver filmes mudos ou antigos, pois o seu ritmo psicológico é mais veloz; por outro lado, uma pessoa idosa tem muitas vezes dificuldade de acompanhar os filmes de hoje.

Tempo Abolido, que é quando um personagem age ao mesmo tempo no presente e no passado. No filme A Morte do Caixeiro Viajante / Death of a Saleman / 1951 de Laslo Benedek, o personagem Willy Loman (Fredrich March) está jogando cartas com um vizinho e se lembra do irmão. De repente o irmão aparece e os dois conversam como se estivessem no passado, sem que o vizinho perceba alguma coisa.

Condensação do Tempo. Exemplo: uma pessoa pode ser mostrada em plano americano começando a pintar o portão de um jardim. Em seguida vemos um primeiríssimo plano do rosto desta pessoa enquanto trabalha. Depois, voltamos ao plano americano.  Finalmente, somos levados ao plano geral e vemos que a pintura está completa. Um trabalho que duraria vinte minutos foi comprimido em trinta segundos.

Finalmente há o que se chama de Variações na Cadência das Imagens, que são:

Ação Suspensa (Freezing), cujo exemplo mais famoso é a cena do baile no filme Os Visitantes da Noite / Les Visiteurs du Soir / 1942 de Marcel Carné, quando fica parado, tanto a música como as pessoas, e só os emissários do Diabo se movem. Depois, tudo se descongela. Usa-se também o termo Freeze Frame quando a imagem projetada na tela parece congelada, parada, travada. Ex: no final de Os Incompreendidos / Les Quatre Cents Coups /1959 de Françis Truffaut ou no final de Thelma e Louise / Thelma and Louise / 1991 de Ridley Scott).

Ação Acelerada (Fast Motion), que é geralmente usada para efeitos cômicos em cenas de correria ou então em filmes científicos, para mostrar, por exemplo, o crescimento de uma planta em poucos segundos, e aí a ação é Superacelerada (Extreme Fast Motion ou Time Lapse Photography.

Ação Lenta (Slow Motion), cujo exemplo mais célebre é do filme Zero de Conduta / Zéro de Conduite / 1933 de Jean Vigo, na sequência do dormitório com os meninos de camisola e o ar cheio de penas durante uma luta de travesseiros ou então as cenas de violência no filme de Sam Peckinpah, Meu Ódio Será Tua Herança / The Wild Bunch / 1969. Na sequência final da explosão em Zabriskie Point / Zabriskie Point / 1970   de Michelangelo Antonioni nós temos um exemplo de Ação Superlenta (Extreme Low Motion).

Ação Inversa (Reverse Action). Exemplo: o mergulhador que sai da água e volta ao trampolim. No filme Outubro / Oktyabr / 1927 de Serguei Eisestein há uma cena na qual a estátua do tsar, que fôra quebrada, se recompõe para significar simbolicamente o perigo da volta ao antigo regime.

Durante a maior parte do século XX, o cinema foi um meio analógico mas, a partir dos anos 1980, foi se tornando cada vez mais digital. O filme Tron – Uma Odisséia Eletrônica / Tron / 1982 de Steven Lisberger mostrou que os computadores podiam criar imagens rudimentares, porém continuava difícil reproduzir formas mais detalhadas, Assim, por algum tempo, os realizadores se restringiram ao uso de miniaturas, matte-shots, e outros efeitos óticos com o apoio da câmera. Entretanto, à medida que a memória e a velocidade dos computadores aumentaram, mais efeitos puderam ser manipulados digitalmente. No final dos anos 1990, os cineastas estavam usando rotineiramente software para pôr em ordem os planos ou gerar imagens, como, por exemplo, quando um grupo pequeno de pessoas foi multiplicado em uma multidão no estádio de futebol de Forrest Gump / Forrest Gump / 1994 de Robert Zemeckis. Graças à técnica que ficou conhecida como Computer-Generated Imagery – CGI, qualquer imagem concebível podia ser transformada em realidade.