A BREVE TRAJETÓRIA ARTÍSTICA DE RUDOLPH VALENTINO

agosto 17, 2022

Ele não foi um grande ator, mas se tornou um grande astro, o ídolo romântico mais bem definido que o cinema criou, primeiro latin lover adorado pelas fãs, que não davam a mínima para o que os críticos diziam sobre ele. Neste artigo exponho sumariamente seu percurso artístico, omitindo vários episódios de sua vida particular e questionamentos sobre sua masculinidade.

Rudolph Valentino

Rodolfo Pietro Filiberto Raffaelle (1895 – 1926) nasceu em Castellaneta, comuna italiana da região de Apúlia, província de Taranto, filho de Giovanni e Gabriella Guglielmi. Sua mãe era francesa, nascida na Lorena com o sobrenome de Barbin e seu pai exercia a profissão de veterinário, muito conceituado na sua área.  Quando jovem, Rodolfo insistia que era descendente de aristocratas e acrescentava os nomes adicionais di Valentina d’ Antonguolla antes do sobrenome Guglielmi. Mas eles não constam de sua certidão de nascimento ou de batismo.

Quando Rodolfo tinha nove anos de idade, sua família se mudou de Castellaneta para Taranto, porque Giovanni queria progredir na carreira devotando mais tempo à sua pesquisa sobre a malária. Um ano depois ele faleceu quando, no curso de uma de suas experiências, contraiu a doença que esperava ajudar a erradicar.

Enquanto viveu, o prudente Giovanni havia contribuído para um fundo que qualificaria seu filho para estudar em uma escola especial em caso de sua morte. Assim, aos doze anos de idade, Rodolfo partiu para Perugia, capital da província de Umbria ao norte de Roma, onde havia sido fundado o Collegio Convitto per gli Orfani dei Santari Italiani (Colégio para Orfãos dos Profissionais de Saúde Italianos), escola técnica que preparava jovens para trabalhar como mecânicos, engenheiros ou contadores. Entretanto, seus tempos de estudante em Perugia terminaram desastrosamente por causa de sua indisciplina.

Ao saber que Rodolfo ia ser expulso, sua mãe retirou-o do internato e, como ele gostava de barcos e porque havia demonstrado habilidade em consertar motores e máquinas na escola de Perúgia, decidiu que seu filho iria prestar exame de admissão para uma escola técnica naval em Veneza.  Rodolfo passou no exame escrito, mas não no físico. Foi um golpe devastador para aquele rapaz de quinze anos de idade.

Animado pela mãe, ele se inscreveu e foi aceito pelo Istituto di Agraria di Sant’Ilario Ligure em Nervi, pequena cidade de Gênova. Rodolfo conseguiu se formar nesta escola de agricultura, porém não conseguiu emprego e passou a dormir tarde e a perambular de dia pelas praças e pelo cais de Taranto. À noite, procurava a companhia dos artistas da companhia de operetas, que se apresentava na cidade. Sua distração predileta, além dos carros, era a dança. Ele se movia pela pista de dança com uma graça rítmica elegante e, aos dezessete anos de idade, percebeu que sua habilidade como dançarino impressionava as mulheres. Outra qualidade sua era a cortesia, mas em Taranto começou a sentir cada vez mais que tal delicadeza nunca seria reconhecida plenamente e, usando o dinheiro herdado do pai, partiu de trem para Paris em 1912. Na Cidade-Luz frequentou cafés onde predominavam a dança apache e o tango argentino, apaixonando-se por este estilo musical à primeira vista.

Quando o dinheiro acabou, Rodolfo telegrafou para sua mãe pedindo refôrço financeiro e, ao receber o numerário, partiu para Monte Carlo, onde perdeu tudo no jôgo. De retorno à terra natal, voltou à vida ociosa e inútil de antes. Seus familiares então o convenceram de que devia se afastar de Taranto o mais longe possível e foi assim que ele chegou em Nova York aos dezoito anos de idade a bordo do vapor S. S. Cleveland.

Depois que o dinheiro que trouxe acabou, ele se sustentou fazendo biscates, trabalhando como garçom, lavador de carros etc. e acabou encontrando emprego como taxi dancer (dançarino de aluguel) no Maxim´s Restaurant – Cabaret do suíço Julius Keller, encontrando ainda tempo para dar lições de dança particulares em um quarto no andar de cima do restaurante. Rodolfo ganhou tantos aplausos na pista de dança que logo teve a chance de subir para uma posição mais visível e respeitável como dançarino de exibição.

Ao longo do caminho, ele começou a conhecer pessoas no teatro e fez uma primeira e tímida incursão no mundo do cinema como movie “dress” extra (figurante que fornece seu próprio guarda-roupa, ganhando cinco dólares por cada dia de filmagem), tendo oportunidade de ver como os filmes eram feitos e conhecer alguns atores e diretores. Não se sabe exatamente quando estreou na tela. O mais provável é que seu primeiro trabalho como figurante foi como um cossaco russo no filme da Vitagraph de 1914, My Official Wife (Dir: James Young) estrelado por Clara Kimball Young. Ele trabalharia ainda como extra em: 1916 – Através da Vida / The Quest of Life (Dir: Ashley Miller); Seventeen (Dir: Robert G. Vignola); The Foolish Virgin (Dir: Albert Capellani). 1917 – Patria / Patria (seriado Dir: Leopoldo e Theodore Wharton); Alimony (Dir: Emmet J. Flynn). Todos, salvo Patria, eram de 5 ou 6 rolos.

Valentino e Mae Murray

Além de figurar nos filmes, Rodolfo continuou dançando à noite em vários restaurantes além do Maxim’s e no Knickerbocker Hotel (onde teve por parceira Mae Murray, futura estrela de A Viúva Alegre / The Merry Widow / 1925 de Erich von Stroheim), formando depois dupla com uma próspera dançarina de salão, Bonnie Glass, depois que o parceiro desta, Clifton Webb, lhe deu aviso prévio. Ele dançou com Bonnie nos clubes que ela abriu, Café Montmartre e depois Chez Fysher e, quando Bonnie se aposentou, formou par com outra rainha da dança de exibição, Joan Sawyer, excursionando por várias cidades e finalmente se apresentando diante do Presidente Wilson em Washington.

Rodolfo conheceu uma socialite chilena muito rica, Bianca de Saulles, que estava infeliz no seu casamento com um empresário, John de Saulles. Não se sabe se tiveram uma relação romântica, mas quando John de Saulles pediu o divórcio, Rodolfo prestou depoimento a favor dela. Após o divórcio, John de Saulles usou suas conexões políticas para que Rodolfo fosse preso juntamente com uma cafetina, Mrs. Thyme, acusados de serem sócios de um bordel e terem subornado um policial por proteção. As provas eram frágeis, Rodolfo pagou fiança, e foi libertado. Depois deste escândalo muito divulgado, ele não conseguiu emprego. Pouco depois do julgamento, Bianca matou seu ex-marido durante uma disputa pela guarda do filho do casal. Com medo de ser chamado para depor em outro julgamento sensacional, Rodolfo saiu da cidade e se juntou a um musical itinerante, The Masked Model, que o levou para a Califórnia. Como tinha pouca experiência teatral, começou de baixo, serviu também como substituto do ator principal. A certa altura, por razões desconhecidas, deixou o elenco e ficou em San Francisco.

Novamente desempregado, não teve outro recurso senão voltar ao seu passado de taxi dancer e professor de dança. Depois, tentou ganhar a vida como vendedor de títulos de crédito; porém, em 5 de junho de 1917 o alistamento militar começou e as pessoas só queriam comprar bônus de guerra. Como tinha tido aulas de vôo em Nova York, Rodolfo pensou em ser aceito no Royal Canadian Flying Corps; mas eles o rejeitaram como fisicamente desqualificado.

Na ocasião em que um dos filmes de propaganda de Mary Pickford, A Intrépida Americana / The Little American / 1917, estava sendo parcialmente filmado em San Francisco, Rodolfo reencontrou seu antigo colega na escola de aviação em Nova York, Norman Kerry, que lhe prestou ajuda financeira e o apresentou a pessoas importantes nos estúdios, mas os papéis na tela demoraram a se materializar e ele voltou a se apresentar como dançarino de exibição. Quando Fanchon, da dupla Fanchon e Marco (seus verdadeiros nomes eram Fanny e Mike Wolff) perdeu seu parceiro para o exército, Rudy substituiu-o nas suas apresentações no Tait´s Café em Los Angeles.

Posteriormente formou um par com outras dançarinas como Marjorie Tain e Kitty Phelps e por fim voltou aos estúdios, agora já fazendo ora figuração, ora pequenos papéis nos filmes: 1918 – A Sensação Social / Society Sensation (Dir: Paul Powell); Uma Idéia Feliz ou Uma Noite Como Poucas / All Night (Dir: Paul Powell); The Married Virgin (Dir: Joseph Maxwell). 1919 – Irresistível Helena ou Nos Cabarés de Nova York / Delicious Little Devil (Dir: Robert Z. Leonard); Virtuous Sinners (Dir: Emett J. Flynn); Repudiada / The Big Little Person (Dir: Robert Z. Leonard); Amores de um Ladrão ou Romance de um Apache / A Rogue’s Romance (Dir: James Young); Pacto Astucioso / The Homebreaker (Dir: Victor Schertzinger); Negra Profecia / Out of Luck / Nobody Home (Dir: Elmer Clifton); Olhos da Juventude / Eyes of Youth (Dir: Albert Parker). 1920 – Ilha dos Amores / An Adventuress, originariamente intitulado Over the Rhine, estrelado pelo travesti Julien Eltinge em papel duplo masculino-feminino como Jack Perry e Elsa Von Bohm (Dir: Fred J. Balshofer); Paixões Indomáveis / Passion´s Playground (Dir: J. A. Barry); A Embusteira / The Cheater (Dir: Henry Otto); Ambição / Once to Every Woman (Dir: Allen Holubar); The Wonderful Chance (Dir: George Archainbaud); Stolen Moments (Dir: James Bennet). Todos de 5 ou 6 rolos. Neles, Rodolfo começou a constar nos créditos sob vários nomes: Rodolpho De Valentina, Rodolfo di Valentina, Rodolfo De Valentini, Rudolpho De Valintine, Rodolphe De Valentina, Rudolph Valentino, Rodolph Valentine, Rudolfo Valentino, Rodolpho de Valentina, Rudolphe Valentine, Rodolfo di Valentino, Rudolph de Valentino, Rudolph Valentine.

Jean Acker e Valentino

Outros acontecimentos neste período de sua vida foram uma aparição no palco como dançarino ao lado de Carol Dempster em um prólogo para o filme de D. W. Griffith, O Tambor da Vitória / The Greatest Thing in Life e seu primeiro encontro com Jean Acker, jovem atriz da Metro. O casamento misterioso deles foi objeto de muito mexerico (Jean teria batido a. porta no nariz de seu noivo na noite de núpcias, dizendo que tudo fôra um erro horrível). Confuso e infeliz com o fracasso de seu matrimônio Valentino continuou trabalhando e tentando se tornar mais conhecido.

Valentino e Clara Kimball Young em Olhos da Juventude

O papel que o tirou de seu aprendizado e o colocou em primeiro plano foi o de um parasita frequentador de cabaré chamado Clarence Morgan, contratado por um marido a armar uma cilada a fim de colocar sua virtuosa esposa em uma situação comprometedora. Foi apenas uma breve intervenção em Olhos da Juventude, mas ele convenceu a roteirista June Mathis de que poderia interpretar um papel importante em uma próxima grande produção da Metro Pictures Corporation.

Alice Terry e Valentino em Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse

Quando Valentino leu em um dos jornais especializados que a Metro havia adquirido os direitos de filmagem do best seller de Vicente Blasco Ibanez The Four Horsemen of the Apocalypse e contratado June Mathis para cuidar da adaptação do romance para a tela, pensou que poderia haver um papel para ele no segmento passado na Argentina, porque o tango figurava com destaque na trama. Ao chegar no estúdio, ficou surpreso ao saber que Mathis estava à procura dele para desempenhar o papel principal do libertino Julio Desnoyers, neto favorito de Madariaga, o Centauro (Pommeroy Cannon), dono de várias fazendas na Argentina. O filme de 1921, com título brasileiro de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, tornou-se um empreendimento monumental: um milhão de dólares gastos, seis meses de filmagem, doze assistentes de diretores, quatorze cinegrafistas, milhares de figurantes. A intuição de June Mathis de colocar um ator desconhecido no papel principal (ao lado de Alice Terry) resultou em um dos filmes mais bem sucedidos de sua época, que deu um lucro de quatro milhões de dólares e lançou Rodolfo Valentino como “The Great Lover”, transformando-o em um grande ídolo da tela.

Outra Cena de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse

A direção de Ingram, um dos grandes pictorialistas do cinema mudo – que soube descrever com sensibilidade pictórica as ruas de Paris, a entrada dos alemães na aldeia destruída de Villebranche, a histeria e o terrores da guerra, os horrores do campo de batalha, o meio social, as visões do místico Tchernoff (Nigel De Brulier) quando ele tem a visão apocalíptica e a cena final impressionante no cemitério de guerra militar com suas fileiras de cruzes brancas – complementada pela pungência das cenas de guerra e pela fotografia sutil de John F. Seitz no mesmo nível das produções germânicas muito apreciadas na América, deu ao filme uma qualidade extraordinária.

Ainda em 1921, Valentino fez na Metro: Corações Cegos / Uncharted Seas (Dir: Wesley Rugles) com Alice Lake; Dama das Camélias / Camille (Dir: Ray C. Smallwood), adaptação do romance La Dame aux Camélias de Alexandre Dumas com Alla Nazimova (produtora do filme), agora definitivamente creditado como Rudolph Valentino; Eugenia Grandet / The Conquering Power (Dir: Rex Ingram), adaptação do romance Eugénie Grandet de Honoré de Balzac com Alice Terry.

Valentino e Alice Terry em Eugenia Grandet

Cena de Eugenia Grandet

O melhor destes foi Eugenia Grandet. Contando novamente com a colaboração de June Mathis, John F. Seitz e do par romântico Rudoph Valentino e Alice Terry, Ingram realizou outro filme plasticamente impecável e com belas cenas de amor. Porém é uma história intimista bem distante da linha espetacular do filme anterior. A velha casa decadente e claustrofóbica de Grandet com suas entradas e corredores escuros, quartos escuros e tristes, sótãos e porões empoeirados (com o detalhe da aranha andando sobre as cartas roubadas) espelha a atmosfera deprimente e grotesca do lugar e o estado d´alma dos personagens. Uma das cenas mais intensas da narrativa é a da alucinação do Père Grandet (Ralph Lewis), na qual dele vê mãos esqueléticas saindo das paredes e o fantasma da sua falecida esposa, até ser esmagado pelo cofre.  Gosto muito da cena em que Charles Grandet chega à casa dos Grandet. As famílias de Grandet e os pretendentes estão vestidos com roupas simples, a porta se abre, e surge Valentino com um terno muito bem cortado e um chapéu de coco suave, fumando um cigarro, carregando uma bengala magnífica e, na outra mão, segurando um pequeno poodle com uma correia. A tomada dura um certo tempo, para que o público possa contemplá-lo de alto a baixo e apreciar suas vestimentas e a sua postura elegante.

Valentino e Natacha Rambova

Durante a filmagem de Dama das Camélias, Valentino conheceu e se apaixonou pela exótica Natacha Rambova, que criou os figurinos e cenários bizarros e expressionistas e desta versão curiosa e estática do romance de Dumas. Embora fosse uma talentosa diretora de arte e estilista (além de bailarina), Rambova, segunda esposa de Valentino, é mais lembrada pelo efeito destrutivo que teve sobre sua carreira, fazendo exigências tão impossíveis aos estúdios e distorcendo seu julgamento pessoal a tal ponto, que foi depois – por fôrça do contrato – obrigada a cessar tal interferência. Eles se divorciaram em 1925.

Descontente com seu contrato com a Metro, Valentino transferiu-se para a Famous Players – Lasky (futura Paramount), atuando em: 1921 – Paixão de Bárbaro ou O Sheik / The Sheik (Dir: George Melford) com Agnes Ayres. 1922 – De Marujo a Comandante ou A Ferro e Fogo / Moran of the Lady Letty (Dir: George Melford) com Dorothy Dalton; Esposa Mártir / Beyond the Rocks (Dir: Sam Wood) com Gloria Swanson; Sangue e Areia / Blood and Sand (Dir: Fred Niblo) com Lila Lee, Nita Naldi; O Jovem Rajá / The Young Rajah (Dir: Philip Rosen) com Wanda Hawley. 1924 – Monsieur Beaucaire / Monsieur Beaucaire (Dir: Sidney Olcott) com Bebe Daniels, Lois Wilson, Doris Kenyon; O Pecador Divino / A Sainted Devil (Dir: Joseph Henaberry) com Nita Naldi.

Valentino e Agnes Ayres em Paixão de Bárbaro

Valentino estreou na Famous Players em Paixão de Bárbaro como o Sheik Ahmed Ben Hassan, que sequestra uma inglesa, Lady Diana (Agnes Ayres), mulher supostamente moderna e independente, e depois de tratá-la barbaramente, se apaixona por ela. Baseado em um romance de Edith M. Hull, este drama romântico passado no deserto do Sahara, continha cenas ridículas e uma interpretação falsa e exagerada de Valentino, mas foi o filme mais famoso e o papel mais memorável do ator, com o qual, graças a seu enorme carisma e sensualidade, ele atingiu um status legendário.

Valentino e Nita Naldi em Sangue e Areia

Tal como Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, Sangue e Areia foi baseado em um romance de Vicente Blasco Ibanez. Na trama, Valentino é o toureiro impetuoso Juan Gallardo, indeciso entre a devoção à sua santa esposa Carmen (Lila Lee) e o desejo por Doña Sol (Nita Naldi) uma mulher fatal, que encontra um fim trágico na arena. O filme foi outro grande sucesso, ainda mais lucrativo do que Paixão de Bárbaro, sendo muito lembrada a magnífica pantomima na cena da sedução entre Valentino e Nita Naldi.

Seu filme seguinte, O Jovem Rajá, foi um fracasso e Valentino começou a se voltar contra o estúdio, culpando-o pela produção de segunda classe e exigindo maior controle artístico sobre a realização de seus filmes. Ele entrou de greve e processou a Famous Players na Justiça. Precisamente porque seu astro valia muito dinheiro para empresa, ela contestou a ação e decidiu reunir toda a sua força para manter Valentino sob contrato enquanto outros estúdios o cortejavam. Joseph Schenck queria colocá-lo ao lado de sua esposa Norma Talmadge em uma versão de Romeu e Julieta e June Mathis, agora na Goldwyn Pictures e encarregada do projeto de Ben-Hur, desejava incluí-lo no elenco no papel principal depois concedido a Ramon Novarro.  Entretanto, a Famous Players exerceu judicialmente seu direito contratual que impedia Valentino de trabalhar para qualquer outro. Ele recorreu e seu recurso foi provido em parte: o tribunal decidiu que, embora não pudesse trabalhar como ator, poderia aceitar quaisquer outros tipos de emprego.

Em 1922, Valentino conheceu George Ullman, diretor de uma campanha de publicidade para uma companhia de cosméticos, Mineralava Beauty Clay Company. Ullman convenceu Valentino e Natasha a participar como dançarinos de uma tournée nos Estados Unidos e Canadá para promover os produtos e atuarem como juízes nos concursos de beleza patrocinados pela firma. Um destes concursos foi filmado por um jovem David O. Selznick, que o intitulou Rudolph Valentino and his 88 Beauties. Ullman tornou-se administrador financeiro de Valentino e começou a articular uma reaproximação com a Famous Players através de uma nova companhia formada por J. D. Williams, chamada Ritz-Carlton Pictures, resultando um acordo pelo qual Valentino cumpriria o resto de seu contrato estrelando mais dois filmes produzidos pela Famous Players e depois celebraria um contrato com a Ritz-Carlton. Os dois filmes da Famous Players, Monsieur Beaucaire e O Pecador Divino e o filme da Ritz-Carlton, Cobra (Dir: Josef Henabery), decepcionaram, porém os dois últimos filmes de Valentino, A Águia / The Eagle / 1925 (Dir: Clarence Brown) e O Filho do Sheik / The Son of the Sheik / 1926 (Dir: George Fitzmaurice), ambos produzidos por John Considine Jr. / Art Finance Corp. e distribuídos pela United Artists) foram os melhores de sua carreira ao lado de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse e Eugenia Grandet, principalmente A Águia, certamente porque tinham melhores diretores.

Valentino em A Águia

Na trama de A Águia, Vladimir Dubrovski (R. Valentino), jovem tenente cossaco, rejeita os avanços amorosos da Czarina Catarina II (Louise Dresser), torna-se “A Águia Negra”, defensor dos pobres e oprimidos e jura vingança contra Kyrilla Troekourov (James Marcus), que se apoderou dos bens de sua família. Disfarçando-se como o professor particular francês da filha de Kyrilla, Masha (Vilma Banky), apaixona-se pela moça. Aprisionado pelas tropas do govêrno, é sentenciado à morte, casa-se com Masha na prisão e no último momento ele e Masha são salvos graças à Czarina.

O script de Hans Kraly tomou emprestado a máscara negra do Zorro, a audácia física e o tema da dupla identidade; mas foi além, dando ao herói não duas, mas três personas: o tenente cossaco da Guarda Imperial Vladmir Dubrovski, o bandido mascarado tártaro Águia Negra, e o professor particular francês Marcel le Blanc de cartola e colete. Kraly e Brown temperam o romantismo da história com um leve humor satírico (Valentino zomba de sua imagem fílmica – tentando um anel que ficou tirar com dificuldade um anel que ficou emperrado no seu dedo ou quando põe pimenta demais na sua sopa porque está olhando estupidamente para a sua deslumbrante pupila etc.) William Cameron Menzies caprichou na decoração de interiores, Adrian fez o mesmo com o vestuário, o astro encarnou um herói de ação em movimento perpétuo (perseguindo uma carruagem conduzida por os cavalos desembestados, escapando por uma janela, lutando contra um urso ameaçador), e Vilma Banky formou com ele uma dupla romântica ideal.

Valentino e Vilma Banky em O Filho do Sheik

Logo após a estréia de O Filho do Sheik, Valentino, aos 31 anos de idade, morreu subitamente de peritonite depois de ter sofrido uma ruptura de úlcera. Sua morte causou uma histeria mundial, vários suicídios (uma mulher de Nova York, Agatha Hearn, mãe de família, atirou em si mesma enquanto segurava um maço de fotografias de Valentino; em Londres, uma atriz de 27 anos deprimida chamada Peggy Scott tomou veneno cercada por fotografias dele) e tumultos no seu velório, que atraiu uma multidão que se estendia por onze quarteirões. Segundo relatos, mais de 80 mil fãs compareceram ao seu funeral. Cada ano após sua morte e até os meados dos anos 50 uma misteriosa “Mulher Vestida de Preto”, algumas vezes “Mulheres Vestidas de Preto”, apareceram diante de sua sepultura.

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